Quarentena Faz Coisa - Décima Quarta Semana – King Kong Não Respeita Confinamento

em segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Por Talita Vasconcelos

Quarentena, Dia 92

Corrigindo: a taxa de separações por corneamento no condomínio acaba de cair para três. O corno do apartamento 36 voltou com a mulher.

Quarentena, Dia 93

Tô com medo de outubro chegar ainda na pandemia, e eu não ter grana para me dar aquela meia dúzia de livros novos de presente que são minha tradição particular (fica a dica para quem quiser me presentear 😉)

Quarentena, Dia 94

Acabo de notar que talvez seja uma boa ideia dizer para o porteiro dar uma olhada se o vizinho de cima está vivo. Já faz uma semana que ele desligou o rádio. Estou começando a ficar preocupada.

Quarentena, Dia 95

O vizinho está bem! O rádio é que enguiçou. Milagres acontecem.

Quarentena, Dia 96

De repente eu comecei a reparar em quanta maquiagem eu estou economizando desde que o uso da máscara se tornou obrigatório. Estou até pensando em manter o hábito depois que a pandemia acabar.

Quarentena, Dia 97

O problema de não ter mais dia certo para lavar roupa, é chegar àquela situação em que a única calça limpa no armário é aquele jeans manchado de cândida – 90% mancha de cândida, 10% jeans –, que não estaria mais no meu armário se eu praticasse o desapego com mais regularidade. Daí eu me lembro que preciso comprar um novo par de chinelos, pois o que eu tinha arrebentou anteontem, e eu já fui ao mercado duas vezes depois disso e esqueci de comprar um novo; então eu apelo para a estratégia de ir ao mercado usando o pé inteiro que restou do meu chinelo, e um pé do chinelo da Cristiana – que por sinal é dois números maior – para servir como lembrete para comprar um novo. E como se da cintura para baixo o carro alegórico já não estivesse bem encaminhado, eu paro e penso que a única forma de evitar que alguém preste atenção na mancha de cândida quilométrica no meu jeans, é tentar desviar com uma peça ainda mais esdrúxula na parte de cima – no caso, uma camiseta do Pikachu, que, por sinal, é do meu irmão, esquecida em casa muito antes de o termo coronavírus surgir no nosso vocabulário. A única peça não ridícula no meu vestuário era a máscara – obviamente, eu não podia passar a pandemia toda usando uma ecobag na cabeça; depois de duas saídas, eu criei vergonha na cara e comprei algumas máscaras bem charmosinhas; a de hoje exibe uma coleção de beijos bem vermelhinhos na estampa, uma graça.

Mas aí, como a Lei de Murphy não respeita quarentena, justamente no dia de hoje, que eu gostaria – rezava e fazia promessa – de não encontrar ninguém conhecido na rua, eu ponho o pé na portaria, dou de cara com quem? Com o vizinho que é a cara do Podolski!

Por favor, não me reconheça! Por favor...

– E aí, Manu? – cumprimentou ele, meio segundo depois de dar uma bela filmada no meu figurino exótico.

– Não pergunte – avisei, erguendo uma mão na defensiva.

– Não pretendia. Mas, taí um pijama interessante...

Eu gostaria de esclarecer que nenhuma peça do meu vestuário de hoje fazia parte de um pijama – nem mesmo a camiseta do Pikachu –, mas lembrei-me a tempo de que já estava pagando mico – ou King Kong – suficiente.

E quer saber o que foi o pior em tudo isso? Acredita que ainda assim eu esqueci de comprar a porcaria do chinelo?

Quarentena, Dia 98

O tédio é tanto que duas ou três – ou oito – Itaipavas mais tarde, eu me vi fazendo a infeliz constatação de que nunca tinha visto um bagulho xing ling durar tanto... 


[Continua...]


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