História Boa É Aquela Que Nos Encanta Em Todas As Mídias Possíveis...

em segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Sei o que alguns de vocês devem estar pensando: lá vem ela de novo com A Bela e a Fera... Mas, gente, não tem como não falar disso.
Já vimos a review do desenho da Disney de 1991, e uma resenha da versão live-action de 2017, protagonizada por Emma Watson e Dan Stevens, mas ainda estava faltando uma peça nesse conto de fadas: o livro.
Sobre a obra original – aliás, as obras originais, duas versões escritas pelas francesas Madame de Beaumont e Madame de Villeneuve – falaremos em outra oportunidade – sim, isso é um sinal de que ainda teremos mais menções a esse conto de fadas aqui no blog; me ature se puder, hehe. Hoje vamos falar sobre uma versão bem mais recente, encomendada pela Disney, e que conta exatamente a história que vimos no filme.
Melhor dizendo, não exatamente a história que vimos no filme...
Vou reformular mais uma vez: é a história do filme, só que com uma magia totalmente diferente.
Elizabeth Rudnick – nova estrela no meu hall de autoras favoritas – ficou responsável por pegar o roteiro dos dois filmes – o desenho e o live-action – e transformar num romance. Daí vocês podem perguntar: mas que graça tem ler um livro sobre dois filmes que eu já vi um zilhão de vezes cada? Ok, o live-action só tem dois anos, então eu ainda não vi um zilhão de vezes. Foram só umas duas mil.
Acreditem em mim: vocês também precisam ler esse livro.
Porque Lizzie – vou chamá-la assim porque, depois de ler dois livros dela em coisa de dois meses, e classificá-la como nova favorita já me sinto íntima – simplesmente pegou um dos meus filmes favoritos e transformou numa das obras mais preciosas da minha estante.
Esqueçam aquela visão de um roteiro cinematográfico ou teatral publicado em formato livro. Não é como Romeu & Julieta, nem como Animais Fantásticos – Os Crimes de Grindelwald. Estamos falando de um romance, em toda a definição do gênero.
Elizabeth Rudnick poderia ter feito o simples: podia ter pegado o roteiro, transcrito todos os diálogos, apenas acrescentando alguma narrativa só para preencher as lacunas. Mas Lizzie não é uma mera ghost writer preguiçosa.
Em A Bela e a Fera, Elizabeth Rudnick nos presenteia com uma narrativa extremamente envolvente. Ela pegou uma história que eu conheço e amo desde que me entendo por gente, e transformou num livro tão cativante, que foi como se eu estivesse tendo contato com esta história pela primeira vez.


A BELA E A FERA
Título Original: Beauty And The Beast Novelization
Autora: Elizabeth Rudnick – Baseado no roteiro para cinema de Evan Spiliotopoulos, Stephen Chbosky e Bill Condon
Editora: Universo dos Livros
Páginas: 204
Gênero: Romance & Fantasia

Sinopse:


“Sentimentos são fáceis de mudar mesmo entre quem não vê que alguém pode ser seu par...”
Bela deseja para sua vida muito mais do que a pequena cidade provinciana de Villeneuve pode oferecer. Lá, ela se destaca da multidão com um ponto de vista único, uma independência vigorosa e um notável amor pelos livros. Ela anseia por viagens e aventuras, e por uma vida tão empolgante quanto as histórias que lê, mas, quando seu amado pai é aprisionado por uma fera em um castelo encantado, o destino de Bela muda para sempre.
Ao arriscar sua liberdade e seu futuro, ela assume o lugar do pai, jurando-lhe que escaparia em segredo. No entanto, conforme aprende mais sobre a Fera e seu misterioso castelo, Bela descobre que pode haver mais sobre a história dele – e sobre a sua própria – do que ela jamais poderia ter imaginado.

EEEEE ❤

 



A história é a mesma que vimos em ambos os filmes. Primeiro conhecemos o Príncipe arrogante e grosseiro que só via valor na aparência, que escolhia a dedo aqueles que julgava dignos de estarem em sua presença – geralmente aqueles cuja beleza pudesse impressioná-lo –, e que acabou amaldiçoado após negar abrigo a uma mendiga que não tinha nada a lhe oferecer exceto uma rosa. A mulher, revelando-se uma poderosa feiticeira, transformou o belo Príncipe numa fera horrenda, e condenou seus criados a viverem sob a forma de objetos domésticos, até que o Príncipe aprendesse a amar e conseguisse ser correspondido apesar de sua aparência. Se isso não ocorresse antes que a última pétala da rosa encantada caísse, todos seriam condenados a permanecer sob o feitiço para sempre.
Então conhecemos Bela, uma mocinha independente e sonhadora, que vive na aldeia provinciana de Villeneuve, onde ela simplesmente não consegue se encaixar. As pessoas da aldeia têm uma mentalidade pequena e retrógrada, escandalizando-se inclusive pelo fato de Bela gostar de ler. Bela se sente exatamente como é tratada, como uma estranha, alguém que não combina com um lugar tão pequeno e opressor. Diante da pequenez do lugar, ela só pode encontrar conforto nos livros que pega emprestado com père Robert, e que lhe permitem escapar, ainda que momentaneamente, daquela vida tão sem graça.
Até o dia em que seu pai vai à cidade vizinha para vender as caixinhas de música que fabricara, e depois de ser atacado pelos lobos na floresta, acaba se refugiando num misterioso castelo encravado num bosque congelado – embora Villeneuve fique numa latitude incomum para um inverno tão rigoroso, e estejam no auge do verão.
Ao tentar apanhar uma rosa no jardim do castelo para presentear sua filha, Maurice acaba sendo capturado pelo monstruoso dono do castelo, para desespero de Bela, que não vê outra saída, senão oferecer-se em sacrifício: trocar sua liberdade pela do pai – prometendo a ele secretamente que escaparia assim que possível.
Enquanto Bela descobre um mundo totalmente novo por trás dos muros do castelo encantado – um mundo que inclui nossos amados objetos falantes, Lumière, Horloge, Madame Samovar e aquela coisinha fofa do Zip –, e começa lentamente a se solidarizar com a história trágica de seu anfitrião, Maurice busca, sem sucesso, aliados para resgatá-la, esbarrando na incredulidade dos aldeões a respeito de uma Fera e de um Castelo que eles nunca viram nem jamais ouviram falar, e principalmente, na cruel ambição de Gaston, o herói da aldeia, cuja arrogância é do tamanho de seus músculos – senão maior –, e que deseja somente uma coisa: casar-se com Bela – apesar de ela já ter deixado bem claro que jamais consentiria nisso.
O livro tem poucos diálogos, mas a autora preenche as pouco mais de duzentas páginas com uma narrativa elegante, fluida, simples e muito gostosa de ler. É possível entrar em contato com os personagens, com os cenários e com toda a trama. E mesmo conhecendo cada passo desta história e sabendo exatamente o que vai acontecer, nos deliciamos com uma leitura extremamente agradável e gratificante.
Encantadora é uma palavra modesta para descrever esta obra.
Enquanto lemos, conseguimos nos emocionar com a trajetória dos personagens, com a maneira singela com que a Fera conquista o coração de Bela, depois de alguma relutância em esconder as garras, e também com a maneira delicada com que Bela aprende a reconhecer o homem por trás da Fera.
Já comentei certa vez que a principal lição que vejo neste conto é aprender a olhar além das aparências. Bela se sentia oprimida em sua aldeia, cercada de pessoas ignorantes, sendo constantemente assediada por Gaston, um homem que era a síntese de tudo o que ela detestava – arrogante, machista, dissimulado –, e que acabou descobrindo no ser mais aparentemente repugnante que poderia ter encontrado, uma alma muito mais grandiosa, um coração mais aberto, e acima de tudo, alguém que tinha muito mais a oferecer do que simplesmente um rosto bonito. A Fera não era bonita de se ver, mas ele compreendia como ela se sentia: aprisionada num lugar ao qual não pertencia, ao lado de pessoas que não estavam dispostas a aceitá-la como ela era. No fundo, a Bela e a Fera eram absolutamente iguais. A única diferença é que Bela sempre foi generosa, ao passo que a Fera precisou aprender com os próprios erros.
Outro detalhe a destacar nesta história é a inversão de papéis em relação ao formato original dos contos de fadas: em vez de uma mocinha que precisa ser salva por um príncipe num cavalo branco, aqui é Bela quem tem nas mãos o destino não apenas de seu Príncipe, mas também de todos os moradores do castelo, que acabaram compartilhando sua maldição. Aqui é o Príncipe quem precisa ser salvo, e Bela é a única pessoa que pode salvá-lo. Numa época em que o empoderamento feminino é tópico frequente, Bela se torna uma firme representante da mulher forte e independente, que sabe se virar, que pode cuidar de si, e resolver seus problemas por conta própria – exceto quando está desarmada e cercada de lobos na floresta, mas também, seria pedir demais, né?!
A Bela e a Fera é um romance maravilhoso e atemporal. Não é, de forma alguma, a mesma história. É possível mergulhar e se encantar, apesar de saber exatamente para onde a autora está nos levando, e nos surpreender com novas nuances e com cenas muito bem escritas e elaboradas.
Coloque para tocar a trilha sonora do filme durante a leitura, e deixe-se levar pela magia de uma história que marcou uma geração.
* O outro livro da Lizzie que eu li foi Aladdin, e que também adapta a história do filme da Disney, mas esse é um assunto para outra resenha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita!
E já que chegou até aqui, deixe um comentário ♥
Se tiver um blog, deixe o link para que eu possa retribuir a visita.



Apoie o Blog Comprando Pelo Nosso Link




Topo