Por Talita Vasconcelos
Estava organizando os meus armários e gavetas,
me desfazendo de coisas velhas que já não me servem, e me alegrando por
encontrar aquele suéter de linho branco há muito perdido, e um trocado
completamente esquecido no bolso de uma calça jeans…
É engraçado as coisas de que nos esquecemos
com o tempo. Eu abro esse armário todos os dias, mas não consigo me lembrar
quando foi a última vez que eu realmente reparei naquele gato de pelúcia que
você me deu, embora ele esteja sempre ali, apoiado na prateleira, sombreado por
um dos meus casacos de inverno. Mas hoje, por alguma razão eu reparei nele, ao
tocar o pelo suave e macio. Lembro exatamente do dia em que você apareceu com
ele, com um laço vermelho no pescoço, e disse que nosso amor iria durar até o
dia em que esse gato de pelúcia morresse. Esse foi seu jeito bobo e
extremamente adorável de me dizer que nosso amor iria durar para sempre.
Por que será que não deu certo? Às vezes eu me
pergunto isso. Se eu não fosse tão teimosa… Se você não fosse tão certinho… Se
tivéssemos nos esforçado mais… Não há nada errado em lutar com uma peça que não
se encaixa para completar nosso quebra-cabeça. Talvez a beleza esteja
exatamente nisso: em juntar nossas diferenças, e ir ajustando aos poucos, até
colocar tudo em ordem, num encaixe perfeito.
Infelizmente, as coisas não aconteceram como a
gente planejou. Nós demos importância demais a algumas manias bobas; eu ficava
irritada com os seus planos que insistiam em não se ajustar aos meus; e em
algum momento você também se cansou da minha teimosia. Só o que restou foi o
gato, com o pelo branco e macio guardado no meu armário, protegido do desgaste
do tempo, com suas sete vidas intactas; aquelas sete vidas imortais que
deveriam durar o tempo do nosso amor.
“E agora?” A voz de Caetano
vem do rádio, ecoando nos versos da canção as palavras que meu tolo coração
decidiu ressuscitar com as nossas lembranças. “Que faço eu da vida sem você?” Porque antes de te conhecer, eu só sabia do amor o que diziam os
poetas. E agora não sei o que fazer com esse espaço vazio que você deixou no
meu peito.
É tolice querer voltar atrás, e corrigir
aqueles pequenos erros? Mandar para o inferno aquelas diferenças banais que nos
fizeram abrir mão de tudo o que tínhamos? Será que você, alguma vez, também já
se perguntou isso?
Sei lá… Talvez eu só esteja procurando um
pretexto para chorar. E um lembrete de que o amor foi maior que os nossos
defeitos bobos. Mas, infelizmente, acabou.
Talvez um dia eu consiga me desfazer desses
arrependimentos, como das roupas velhas que não me cabem mais. Mas esse dia não
é hoje. Hoje eu vou terminar esta carta, e guardá-la no armário, junto com as
nossas lembranças.
Afinal, o gato ainda não morreu…
* Conto publicado também no Wattpad, como parte do
livro “Encontros & Encantos Em Contos”,
que traz uma série de contos e cartas para mostrar que o amor pode surgir nos
momentos e nas formas mais inesperadas. *♥*
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