Hoje
vamos relembrar uma das sagas mais queridas – e infelizmente incompleta – do
Chapolin Colorado: Os Piratas, de 1975. Além da história divertidíssima, essa
saga carrega um dos maiores mistérios do programa: seu episódio final é
totalmente desconhecido.
Juro
que eu pretendia fazer essa postagem em fevereiro, mas aconteceram uma série de
coisinhas, e o meu cronograma de postagens acabou totalmente comprometido e
atrasado.
Mas,
como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”.
O
termo “Perdido Mundial” foi criado para designar episódios que a Televisa não
mais possui para distribuição. Isso não significa necessariamente que o
episódio não possa ser “encontrado”. Como o programa foi distribuído para um
sem-número de países ao redor do globo, é possível que algumas emissoras
possuam cópias deles em seus arquivos. O SBT, por exemplo, possui e ainda exibe
alguns episódios que não são mais distribuídos pela Televisa, sendo portanto
considerados “Perdidos Mundiais”, como “Ser Pintor é Uma Questão de Talento
(1976)” – o Multishow, por exemplo, somente exibiu a continuação “Pintando o
Sete” –; a primeira parte da saga mais conhecida das Novas Vizinhas “Errar é
Humano – Parte 1 (1978)” – que, dizem por aí, o Multishow conseguiu que fosse
liberado pela emissora de Silvio Santos –, e “Com Essas Pulgas Não Se Brinca de
Pula-Pula (1978)”, do Chapolin.
Em
alguns casos, Perdidos Mundiais que já foram exibidos pelo SBT em algum momento
nos últimos 35 anos, cujas cópias nem a emissora de Silvio Santos possui
atualmente – qualquer que seja o motivo: incêndio, enchente, mofo, descaso, foi
roubado pelo Duende das Meias, ou Tchuim Tchuim Tchum Claim –, podem ser
encontrados no YouTube – com qualidade de imagem da Idade da Pedra –, postado
por fãs que os tinham gravados em VHS. É o caso de “O Planeta Vênus (1973)”,
que é a primeira versão de “Planeta Selvagem (1975)”, que por algum tempo
também figurou a lista dos Episódios Perdidos que o SBT engavetou, e depois
retornou à programação, sem o estardalhaço que passaram a fazer nos últimos dez
anos em cima disso – porque não é de hoje que episódios desaparecem e
reaparecem na emissora de Silvio Santos sem qualquer razão aparente, mas só
depois que o fã clube descobriu que a internet era um bom veículo para
reclamar, a emissora começou a tratar o retorno desses episódios à programação
como um evento cinematográfico –, “Quem Não Tem Cão Caça Com Rato – Parte 2
(1977)”, que é a segunda parte da segunda versão da saga do Madruguinha – que
não é exibida pelo SBT desde 1900 e guaraná de rolha –, e “Os Toureiros
(1973)”, que é a primeira versão de “Os Toureadores”.
Mas
de todos os episódios Perdidos Mundiais, nenhum desperta tanta curiosidade
quanto a conclusão da saga “Os Piratas”, do Chapolin. Eu tenho uma vaga
lembrança de o SBT ter exibido ao menos uma vez o segundo capítulo com a cena
em que Florinda Meza faz a chamada da terceira e última parte. Tenho
praticamente certeza disso, porque, embora muito se diga na internet que só se
tem conhecimento da existência de um terceiro capítulo porque a cena da chamada
acompanhou o desfecho do segundo episódio quando a saga foi lançada em VHS, eu
estou certa de nunca ter tido contato com essa fita, e mesmo assim, me lembro
de ter assistido à chamada quando era pequena.
Mas
não importa. Tendo o SBT exibido isso ou não, o fato é que hoje a Televisa
distribui o segundo episódio sem a chamada, e com créditos que não pertencem
àquele capítulo. Alguém postou um vídeo no Youtube, comentando esse mistério, e
mostrando que os créditos que acompanhavam a chamada de Florinda eram
diferentes dos atuais. Considerando que a cena mostrada nos créditos geralmente
tem a ver com a trama exibida no episódio, e a atual não pertence ao primeiro
capítulo, tudo leva a crer que os créditos atuais do segundo capítulo
pertenciam originalmente ao capítulo final. Nela, vemos uma caveira – muito
semelhante àquela que apareceu em “O Tesouro do Pirata Fantasma (1975)”, que
foi gravado no mesmo ano, e mais ou menos no mesmo cenário – usando o chapéu do
Pirata Alma Negra. A partir disso, podemos deduzir que o pirata morreu ou foi
morto no final da saga.
Podemos
deduzir... Mas não temos 100% de certeza.
Em
certa ocasião, Edgar Vivar comentou em entrevista a um programa de TV, como
resposta ao misterioso desaparecimento de episódios de Chaves e Chapolin, que
às vezes episódios eram gravados por cima de outros que já haviam sido
transmitidos.
Todos
sabemos que no início do programa, a Televisa disponibilizava praticamente
nenhuma verba para a produção de Chaves e Chapolin – reza a lenda que Bolaños
colocou dinheiro do próprio bolso para construir os cenários; talvez um dos
motivos de muita coisa ter sido feita com isopor, além da praticidade nas cenas
de luta e quebra-quebra; e temos como fato de conhecimento público que a maior parte dos figurinos foram trazidos pelos próprios atores; e corre uma lenda
urbana que Chespirito às vezes tomava emprestados cenários e objetos de cena de
outras produções da emissora, como novelas –, de modo que é realmente possível
que tenham reaproveitado algumas fitas de episódios que já tivessem sido
exibidos. Todavia, isso justificaria o sumiço de episódios da primeira
temporada – para quem gosta de números, foram identificados ao menos doze
episódios perdidos mundiais gravados ou reprisados em 1973; quando o programa
se tornou independente, fora do antigo programa Chespirito, alguns episódios de
1972 foram reprisados –, e talvez da segunda – da qual são conhecidos oito
episódios desaparecidos. Mas 1975 foi o terceiro ano do programa; a qualidade
dos cenários e figurinos, muito superior às anteriores, dá a entender que a verba
investida nas séries havia melhorado consideravelmente, e os programas já
haviam se tornado relativamente conhecidos em outros países da América Latina,
o que inviabilizaria a destruição de episódios já exibidos – especialmente em
se tratando de continuações de sagas. Portanto, a explicação fornecida pelo
ator é, neste caso, no mínimo improvável.
Outras
explicações já foram especuladas por aí, como por exemplo, que a fita tenha se
estragado – por descuido, armazenamento inadequado, incêndio, enchente, abdução
alienígena, foi embora para Pasárgada, ou à Disneylândia com o Polegar
Vermelho... Que se perdeu, sumiu, evaporou, virou fumaça, etc., etc., etc.
O
mais provável é... Quem sabe...?
O
fato é que nunca se localizou uma gravação caseira sequer desse episódio, nem
com áudio original, ou dublado em japonês, alemão, russo, swahili, búlgaro,
atlante, jupiteriano... Nada. É como se o episódio nunca tivesse sido gravado.
E os atores parecem ter sido acometidos de amnésia coletiva a respeito do que
pode ter sido contado no capítulo final.
Mas
se o episódio nunca tivesse sido gravado, então por que Florinda fez a chamada?
E,
considerando o número exorbitante de remakes produzidos em ambas as séries
(Chaves e Chapolin), é pouco provável que Bolaños tenha jogado fora o roteiro
do capítulo final.
Uma
última hipótese que já foi levantada a respeito desse misterioso final da saga
dos Piratas, é que o episódio possa ter sido censurado. Isso já aconteceu com o
Chaves aqui no Brasil: durante muito tempo, o episódio “O Atropelamento (1975)” foi considerado inadequado, por causa da
cena em que Chiquinha despeja esmalte de unha no rosto do Quico para fingir que
ele havia sido atropelado. Na época, algum órgão responsável pela classificação
indicativa do conteúdo exibido na televisão argumentou que a cena poderia
incentivar crianças a brincarem com os esmaltes das mães, o que poderia ser
perigoso, caso derramado próximo aos olhos de alguém. Depois que o Cartoon
Network passou a exibir o episódio em 2011, o assunto parece ter sido
descartado, e o próprio SBT voltou a exibi-lo, sem qualquer problema.
No
caso do episódio dos Piratas, a hipótese é de que a morte de Alma Negra possa
ter ocorrido de forma violenta demais para os padrões da série na época da
exibição original na Televisa, e ele tenha se tornado, de algum modo, proibido.
Essa hipótese levanta questões a respeito da possibilidade de a terceira parte
sequer ter ido ao ar – a exibição original deveria ter ocorrido no dia 10 de
Abril de 1975, mas isto é apenas um
supositório (como diria o Chaves), pois, de duas uma: ou o Tele-Guía
daquela semana, que poderia talvez elucidar o mistério acerca da existência ou
não do episódio, ainda não foi localizado; ou ele não continha a sinopse do
episódio que seria exibido no programa Chapolin Colorado daquela semana. Caso o
episódio não tenha realmente ido ao ar, é possível que a emissora tenha exibido
uma reprise naquele dia.
Considerando
que Chapolin Colorado já exibiu diversas cenas violentas, esta hipótese parece
improvável. Mas em se tratando de televisão, tudo é possível. Às vezes um
mínimo detalhe – como um esmalte de unha derramado na cara – pode ter vetado a
exibição do programa. “Mas, neste caso,
não seria mais fácil cortar a cena e exibir o restante do capítulo?” Seria.
A menos que a tal cena vetada fosse de vital importância para a compreensão da
história, como o final. É claro que essa hipótese se torna controversa quando
lembramos que no episódio “O Cofre do
Pirata (1976)” um personagem morre – embora não cheguemos a ver a cena
fatal – ao cair em sua própria armadilha. E isso também não explicaria por que
Bolãnos não escreveu uma nova cena que pudesse substituir a suposta parte
censurada do episódio, para que ele pudesse ser exibido em outro momento. Mas
se levarmos em conta que o clima nos bastidores da série nunca foi dos melhores
– já vieram à tona diversas rusgas entre os atores, e não sabemos como era o
relacionamento entre os demais membros da produção –, é sempre possível que
Chespirito tenha considerado mais fácil descartar o capítulo do que mexer na
história.
Seja
lá como for, qualquer possível explicação que alguém tente dar ao sumiço deste
episódio em particular provavelmente virá cercada de controvérsias.
Foi
pensando nisso, para tentar responder a essa questão intrigante, que eu fiz um
levantamento hipotético da trama do capítulo final da saga dos Piratas, e
acredito ter chegado bem perto da verdade.
Hoje,
o Admirável Mundo Inventado trará a vocês, provavelmente, a resolução deste
grande mistério: o final da saga “Os Piratas”, do Chapolin Colorado.
Mas
antes de contar o fim, é preciso relembrar o começo.
Então,
sigam-me os bons!
O início do episódio faz parecer que estamos diante
de um grupo bastante unido e animado, com os piratas e a taverneira cantando
orgulhosamente na taverna. Pelo menos, até chegar o Pirata Alma Negra e escolher
Lagartixa e Pança Louca para enterrar o tesouro. E como todos sabem, depois de
concluir o serviço, para que ninguém saiba onde o baú foi enterrado, Alma Negra
manda matar aqueles que ajudaram a enterrá-lo. E é por isso que eles convocam o
Chapolin Colorado.
E
então descobrimos que a reputação do Pirata Alma Negra já chegou aos cantos
mais longínquos da Terra.
Bem,
mas antes de se comprometer a salvar a vida desses homens, é bom esclarecer o
seguinte, Chapolin: eles também são piratas. Lagartixa tem até um barquinho
tatuado com esferográfica na barriga.
Só
para entender, Pança Louca: ambos hemisférios do mundo, ou da sua poupança?
Enfim...
Como
piratas, eles admitem já terem participado de várias abordagens. Por exemplo,
acabam de regressar de alto-mar com uma pilhagem fabulosa – provavelmente a
mesma que agora coloca suas vidas em risco. Além disso, fizeram quarenta
prisioneiros, mas os pobrezinhos foram todos morrendo conforme eles iam
matando.
Eis
que nesse momento se aproxima o Matadouro, o braço direito do Alma Negra,
encarregado de matar aqueles que enterram o tesouro. E com uma notícia tensa
para dar ao Chapolin.
Mas
por que você fez uma maldade dessa com o sujeito, seu moço?
Ah,
sim, claro... Por ordem do Alma Negra.
A
propósito, seu chefe quer ter uma conversinha com o Chapolin, mas ele já está
de saída.
Como
Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé. Alma Negra vai pessoalmente
ao encontro do Chapolin Colorado, para conferir se o nosso herói é realmente
tudo o que dizem dele.
Bem,
depois de travarem os respectivos reconhecimentos, Alma Negra manda Chapolin
encher sua caneca de vinho, mas, naturalmente, nosso herói se atrapalha
ligeiramente com as torneiras – abria uma, o vinho escapava da outra. Demorou
um tempo, mas depois que conseguiu se entender com os barris e encher a caneca
de seu inimigo de vinho, Chapolin aproveitou enquanto ele bebia para quebrar
uma cadeira em sua cabeça.
Convencido
de ter derrotado tão facilmente o bandido, Chapolin se apresenta para comemorar
com os piratas bonzinhos, mas Matadouro não está nada contente por ele ter
nocauteado seu chefe.
E
logicamente, depois de recobrar os sentidos, o Capitão também fica furioso com
o Chapolin.
Agora
que estão em três, Lagartixa tem certeza de que juntos eles podem derrubar o
Matadouro. Porém, Chapolin prefere uma luta justa, um contra um, e deseja boa
sorte ao Lagartixa.
Então
Chapolin e Alma Negra começam um espancamento gratuito em cima de seus supostos
campeões, para provar quem aguenta mais pancada. Matadouro, naturalmente, nem
estremece, enquanto que o Lagartixa quase vai a óbito.
Mas
aí quando Alma Negra decide partir para as coronhadas, Chapolin mostra que não
é tão burro quanto parece.
Pena
que o Pança Louca foi se preocupar que os bandidos tivessem outras armas
escondidas, e o neurônio do Chapolin não funcione duas vezes no mesmo dia. Ou
seja, a quem ele pediu que segurasse a pistola enquanto ele os revistava?
Assim,
Chapolin, Lagartixa e Pança Louca vão parar no calabouço, com bolas de ferro
presas nos pés, até que chegue o momento de enterrar o tesouro.
Mas
calma, calma, não criemos pânico, pois a taverneira tem todos os seus
movimentos friamente calculados. Apenas espera Alma Negra e o Matadouro virarem
as costas, para contrabandear uma marreta e uma talhadeira para ajudar os
prisioneiros a romper as correntes.
Naturalmente,
ela sabe que está arriscando o próprio pescoço com essa atitude, mas uma mulher
apaixonada é capaz de tudo.
E
só tem que comprar um presente no dia dos namorados. Olha o custo-benefício da
coisa...
E
como não quer ser pega com a boca na botija, ela entrega a muamba e cai fora.
Então,
mãos na sobra!
Digo,
mãos à obra!
Chapolin
começa imediatamente a tentar romper as correntes de Lagartixa, e a cada
pancada equivocada – e em se tratando do Chapolin, elas são bem frequentes –,
ele ouve uma história fascinante sobre as peças de reposição que já instalaram
no rapaz.
Segunda
martelada vai bem no queixo.
Cuidado
com os olhos! Martelada nos olhos pode ser bem perigoso.
Quanto
ao cérebro, só metade é postiço. A outra metade é o anormal que o assistente biruta do Dr. Frankenstein roubou errado na universidade.
Mas
acho melhor vocês deixarem para colocar a fofoca em dia mais tarde, quando
estiverem bem longe dessa prisão. Afinal, o Alma Negra prometeu voltar assim que
terminar de ler o gibi do Chaves lá no fundo à direita.
Era
melhor ter continuado a dar marteladas no Lagartixa, Chapolin!
Mais
tarde, e muitas marteladas erradas depois, com todos os dedos remendados,
Chapolin termina de remover todas as bolas de ferro dos prisioneiros. E até já
começaram a examinar as paredes da prisão, em busca de uma rota de fuga.
Claro
que o Lagartixa quis dizer que encontrou uma pedra que pode ser removida, e por
cuja abertura podem escapar. Mas depois de fazer uma força danada para desentalar
o Pança Louca do buraco, nossos amigos se dão conta de que caíram numa
armadilha. A abertura dava no salão da taverna, onde Alma Negra, Matadouro e os
outros piratas estavam prontinhos para rendê-los.
O
que eles não sabiam é que...
E
caso queira salvar a pele de sua garota, ele tem que voltar rapidinho, mesmo! E
muito bem armado.
Mas
enquanto isso, Lagoa Seca passará a jogar em seu lugar. Afinal, o time não pode
entrar em campo sem goleiro, não é mesmo?
Uma
coisa, pelo menos, Alma Negra tem que admirar – além do fato de dois membros de
sua tripulação não saberem que a prisão dividia a parede com o salão da taverna
–, o esforço que fizeram para tirar aquela pedra. Afinal, a bicha devia estar
mais pesada que o Seu Barriga depois de almoçar o frango sem orelha no
restaurante da Dona Florinda. E, sobretudo, levando em conta que não usaram
mais que uma talhadeira e uma marreta para romper as correntes. O que nos leva
a uma questão ainda mais importante: quem foi que deu essas ferramentas para os
prisioneiros?
Além
disso, o capanga sabe muito bem o que seu Capitão faz com os traidores.
Tomara
que seja o líder do movimento anti Podolski. Porque, convenhamos, não faz sentido
dizer que joga nada um cara que quase não entra em campo, e ainda consegue
marcar mais gols na temporada que o artilheiro do brasileirão.
A
não ser que a frase venha associada com a afirmação de que o nosso campeonato
tá na merda!
Enfim...
Melhor deixar os vilões continuarem confessando os pecados.
Cadê
o pessoal dos direitos humanos, que não está vendo isso?
Mas,
voltando àquela questão de como as ferramentas foram parar na cela dos
prisioneiros, alguém tem algo a dizer?
Hein,
Dona Florinda???
Naturalmente,
Alma Negra suspeita logo que o cálice esteja envenenado. Afinal, taverneiras
vemos, costumes não sabemos. E namorados desaparecemos, né, não, Pança Louca? E
larga a garota sozinha na maior roubada. Que coisa feia...
Alma
Negra sabe que um homem prevenido vale por dois. Ele, por exemplo, não confia
nem em sua própria sombra. Que, a propósito, está tentando atacá-lo pelas
costas, provando ter fundamento a sua desconfiança.
Simples
assim. Só tem um probleminha...
Ao
que a taverneira corre para preparar o pedido. Afinal, a eficiência é o que fez
a fama do seu estabelecimento.
Neste
momento, temos uma cena do hall das piadas que não fizeram sentido na tradução:
Chapolin insiste em tomar o suco que a taverneira trouxe, Alma Negra insiste
que ele beba o vinho, começa a dizer “eu
sinto muito” e Chapolin lhe dá uma paulada na cabeça. Por quê? “É pra doer mesmo...”.
Não
entendeu?
Pois
é, nem eu.
Acontece
que essa piada só faz sentido em espanhol: Alma Negra não diz “eu sinto muito”, ele pede o copo do
Chapolin, dizendo “Dame tu vaso”, mas
como em espanhol as letras “v” e “b” têm praticamente o mesmo som, o
Chapolin entende “Dame tubazo”, ou
seja, uma paulada.
Trívia...
Porém, estamos aqui pra isso.
Neste
momento começa uma das cenas mais icônicas desse episódio, quando Chapolin
aponta uma coisa atrás do Alma Negra, para que ele se vire, e lhe dê
oportunidade de trocar os copos. Mas aí o Alma Negra percebe o truque, e começa
a usá-lo também para destrocá-los, cada um usando de um artifício diferente
para fazer o outro se virar. Numa dessas, até um tubarão passou voando pela
janela.
Felizmente,
o neurônio do Chapolin resolveu funcionar pela segunda vez no dia, fazendo-o
ter a ideia de sugerir que Alma Negra brinde com a senhorita que está atrás
dele, mas em vez de trocar os copos, simplesmente os bate na mesa, fazendo o
pirata acreditar que foram trocados. Desse modo, foi só fingir que acreditou na
outra senhorita que o pirata apontou às suas costas, e esperar que o vilão
trocasse os copos, e ficasse com o vinho envenenado... com sonífero.
Nossos
heróis só esqueceram de um detalhezinho pequenininho do tamanho de um caminhão:
Matadouro!
Volta
o cão arrependido, direto para o calabouço, e agora sem nenhum cúmplice do lado
de fora para facilitar sua fuga – porque obviamente, ao contrário do que Lagoa
Seca insiste em apregoar, é provável que o Pança Louca já esteja para lá de
Tchuim Tchuim Tchum Claim a esta altura.
E
para garantir que os prisioneiros não fujam, Matadouro está disposto a
vigiá-los até a hora em que Alma Negra se decidir a enterrar o tesouro. E já
sabem o que acontece com os que o ajudam nessa tarefa, não é?
Pena
que ela não selecionou uma testemunha na hora, porque noutros carnavais, essa
conversa voltará à baila, mas desta vez Alma Negra será o interessado, e ela
preferirá morrer do que perder a vida.
Desta
vez, como seguro morreu de velho, depois de passar a chave na porta, Alma Negra
botou uma pitadinha de sal e mandou-a pra dentro.
Bem,
Alma Negra, já dizia o sábio Chapolin Colorado: uma das maiores virtudes do homem é saber esperar...
Enquanto
isso, os prisioneiros começam a pensar em alguma maneira de escapar da cela.
Para começar, quando isso acontecer, Chapolin sairá devidamente disfarçado.
O
mais importante é que tentem chegar ao barco. E já começam a distribuir
instruções sobre o lado que cada um escalará para abordá-lo, embora ainda nem
tenham pensado em como vão sair do calabouço.
E
então eles são informados de que vão sair agora mesmo... mas para enterrar o tesouro.
Podem
falar o que quiser do Alma Negra:
–
Que ele é feio?
– Sim! E daí?
–
Que ele é malvado?
– Sim! E daí?
– Que
ele parece lombriga de água suja?
– Bom, sim! E daí?
Mas
uma coisa precisamos reconhecer: ele não explora seus condenados. Em vez de
mandar os piratas carregarem o baú do tesouro, preferiu ele mesmo transportar o
peso.
Afinal,
se vai matar os homens, ao menos, que não seja de cansaço.
Curiosamente,
ninguém contava com a astúcia – ou falta dela – do Lagartixa, que sem querer
querendo, quase rachou a cuca do Alma Negra – notaram o trocadilho com os nomes
dos vilões do Valdés? – com a pá, ao se virar para perguntar à taverneira aonde
ela estava indo, depois de ter tomado outro fora do pirata.
E
como o primeiro já estava caído, não foi difícil nocautear o outro, o
Matadouro.
Bora, galera! Hora de fugir!
E
essa é outra piada que perdeu o sentido na tradução. Em espanhol, a taverneira
disse “huyamos” (fujamos), e
Lagartixa entendeu “aullemos”
(uivemos), pois, como no caso anterior, “Y”
e “LL” têm o mesmo som no espanhol
falado na América Latina. Por isso, quando Florinda os apressou a fugir,
Lagartixa se pôs a uivar como um coiote.
De novo, trívia.
Enfim,
eles se embrenham na caverna: Chapolin vai na frente, enquanto Lagoa Seca cuida
da retaguarda. Sobretudo da dele, que Chapolin quase esfolou com a pá, ao
confundi-lo com um dos vilões.
A
boa notícia, é que dali já podem ouvir o mar, o que significa que a saída está
próxima. A má notícia é que estão andando em círculos. E para piorar, as
paredes estão a ponto de desmoronar. Qualquer grito pode provocar um
deslizamento de terra.
A
segunda e a terceira vez também. Mas o pior em ficarem testando a teoria do
Lagoa Seca é que esses gritos podem guiar o Pirata Alma Negra até eles. E é
justamente por isso que a taverneira decide picar a mula.
Eles
não queriam deixar o grupo se separar, mas afinal ela tinha razão, e o Pirata
Alma Negra já estava pisando em seus calcanhares.
***
Fiz
questão de colocar a chamada de Florinda Meza, para demarcar o fim da review
dos episódios conhecidos, e para que sirva como prova irrefutável de que
especular a respeito de uma terceira parte não é loucura. A parte final existe!
E hoje vamos conhecer o seu provável conteúdo.
Por
sorte, apesar do desaparecimento da fita, Bolaños nos presenteou com outras
histórias a respeito do Pirata Alma Negra, e a partir da trama desses episódios
é possível supor algumas coisas. Por exemplo, que Alma Negra, provavelmente,
morreu no final da saga de 1975, por isso apareceu como fantasma nos episódios
“O Tesouro do Pirata Fantasma (1975)” e “O Cofre do Pirata (1976)”. Além deles,
Alma Negra ainda foi visto vivo no episódio duplo “Os Piratas do Caribe
(1978)”, cuja trama não é um remake da saga de 1975 – ou, ao menos, não da saga
inteira. Se eu tiver que arriscar um palpite, diria que a saga de 1978 é o
remake, talvez não exato, do capítulo final perdido da saga original. Mas
Bolaños ainda traria seus piratas de volta após o fim dos programas
independentes de Chaves de Chapolin.
Em
1982, quando nosso herói voltara a ser esquete do Programa Chespirito – que
incluía muitos outros personagens criados por Bolaños, como Dr. Chapatin,
Pancada Bonaparte, Chômpiras (Chaveco, de acordo com a tradução do esquete pelo
SBT), La Chicharra (inédito na televisão brasileira), e muitos outros –,
Bolaños filmou uma nova versão da história dos piratas, em dois episódios de
quarenta minutos cada, intitulados “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” e “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” – provavelmente os títulos foram
ajustados pela dublagem brasileira, na época em que foram lançados em DVD, para
combinar com a franquia da Disney, embora tenham caído como uma luva. E esta
saga É O REMAKE – talvez não completamente exato – da saga de 1975, INCLUINDO
SEU FINAL.
Assim,
com base em todas as informações extraídas dos episódios mencionados, e
principalmente da saga de 1982, apresento agora o enredo – no mínimo aproximado
– do capítulo final de “Os Piratas”.
Só
para enfatizar: o texto a seguir NÃO é, de forma alguma, a review absoluta do
terceiro episódio da saga dos Piratas! Estou apenas especulando – talvez com
alguma propriedade – qual pode ter sido a história deste episódio infelizmente perdido, ok?!
OK?!
E
ignorem os cenários das fotos, porque isso vai ser uma salada danada. Afinal,
na falta do episódio correto para printar,
as imagens serão meramente ilustrativas.
Pois
bem. O que eu acredito que tenha sido o desfecho da saga, levando em conta as
informações extraídas dos outros episódios e do remake, é o seguinte:
Depois
de terem sido recapturados pelo Pirata Alma Negra, todos se fizeram de
desentendidos a respeito da fuga. Afinal, o que os levaria a fugir – fora a
ameaça de morte iminente –, quando serem prisioneiros do Seu Madruga e do Professor
Girafales é tão divertido?
Mas
é claro que, na contagem dos fugitivos, os Piratas não demoraram a dar pela
falta da taverneira – que em outras versões foi nomeada como Flor Marina. E
como ninguém quer se responsabilizar pelo desaparecimento da moça, Chapolin vai
enrolando para não ter que contar que eles foram tão burros em deixar uma
trilha de gritos para o Alma Negra seguir, que a mocinha preferiu dar linha na
pipa completamente sozinha.
Mas
afinal, que diferença faz encontrá-la? Ela não vai mesmo cavar a terra para
enterrar o tesouro... A mão de obra dos dois piratas, mais o trapalhão do
Chapolin – cujo talento para manobrar uma pá nós conhecemos de outros carnavais
–, dá e sobra.
Só
para ficar claro que acusamos com motivo:
Quanto
ao interesse do Alma Negra em recapturar a moça, pode ser explicado com algo
que ele disse na segunda parte da saga: a taverneira seria executada por
traição; porque se ele não puni-la como exemplo, logo o Matadouro pode começar
a ter ideias, e assim poderemos imaginar como foi que Alma Negra virou fantasma
para instruir seu tata-tata-tata-tata-tata-tata-tataraneto onde escavar para
encontrar o tesouro alguns episódios mais tarde.
Mas
não contávamos com a astúcia dessa mocinha, que, silenciosa como aquela sombra
que Alma Negra afugentou com um rosnado antes de brindar com o Chapolin,
conseguiu se esgueirar de volta por entre as colunas de pedra da caverna, e se
apoderar da pistola do Matadouro, que, a princípio, nem se dá conta do roubo.
De
acordo com o remake de 1982, os personagens se envolvem numa discussão sobre
não haver um homem em cena para enfrentar o Alma Negra, ao que alguém decide
bancar o Jack Sparrow e votar no Matadouro, e este, orgulhoso do título, parte
pra ignorância para cima de seu patrão, metendo-lhe um belo de um soco na cara.
Nesse
momento, um dos prisioneiros aproveita que os dois vilões estão de guarda
baixa, para render Matadouro pelas costas, usando o dedo como se fosse uma
pistola. Pena que o Girafão não nasceu ontem, e aproveitou enquanto o resto dos
prisioneiros comemoravam para se virar e descobrir com o quê estava sendo
ameaçado.
Na confusão,
os prisioneiros não conseguem repetir a proeza, antes de serem informados de
que foi a taverneira quem atirou, mas um deles aproveita a confusão para pegar
a pistola do Capitão, de modo que a situação se inverte, e agora os
prisioneiros mantém os vilões na mira das armas.
Mas
não vamos esquecer que isso é um episódio do Chapolin. E com o Q.I. dessa
galera, já podem imaginar que a situação confortável não vai durar nem meio
minuto.
Não
querendo dar dedos, nem apontar nomes, foi a taverneira quem teve a brilhante
ideia de recompensar o Chapolin com um beijo, e nós sabemos muito bem como isso
costuma ter um efeito narcótico sobre os personagens do Bolaños.
Assim
sendo, os vilões aproveitam a cena romântica para recuperar suas armas e voltar
ao plano original de executar os mocinhos após enterrarem o tesouro.
Tudo
leva a crer – inclusive uma cena do segundo episódio – que o tesouro seria
enterrado na própria taverna – ou talvez no quintal dos fundos.
É
provável que os nossos amigos tenham se atrapalhado no manejo das pás –
sobretudo com o Chapolin em cena para fazer besteira –, o que certamente forçou
Alma Negra a distribuir sopapos em todo mundo.
Também
é provável que tenha ocorrido certa discussão sobre onde exatamente deveriam
cavar, com uns votando por começar ali mesmo, outros querendo cavar mais pra
lá. Mas já que estão ali, por que devem cavar do outro lado? Mas terão que ir
até o outro lado buscar as pás, então, por que não cavar lá? Porém gostam muito
mais daqui...
Ok,
assim resolvidos, podem cavar onde lhes der na telha. MAS CAVEM DE UMA VEZ!
E
na verdade, é muito conveniente que cavem vários buracos, afinal, além do
tesouro, em algum lugar terão que enterrar seus cadáveres.
Sim,
claro, ele é um bandido consciente.
Ainda
no remake, os prisioneiros conseguem fugir pela segunda vez depois que
Lagartixa acidentalmente nocauteia o Capitão Pirata com a pá, mas como isso já
havia acontecido no segundo episódio da primeira versão, é provável que esta
fuga – se é que houve – tenha ocorrido de outra forma. Provavelmente com algum
outro tipo de pancada.
Finalmente,
nossos amigos alcançam o barco, e de repente se dão conta de um novo problema:
nenhum deles sabe manejar a embarcação.
A
partir daqui, existem duas possibilidades: a primeira é que o episódio tenha
tomado mais ou menos o mesmo rumo do remake, em que Chapolin não consegue
compreender patachongas no manual de
instruções do barco, e cada um dos companheiros caia ao mar em sua vez, graças
à tentativa do Lagartixa de pescar suprimentos para a viagem, até que o barco
fosse abordado por Matadouro e Alma Negra, que vinham nadando em seu encalço. A
segunda é que eles tenham sido recapturados antes mesmo de alcançar o barco.
Claro
que sempre podemos considerar a hipótese de que esta terceira fuga só tenha
existido no remake, e que no episódio original, depois de todo mundo se
desentender com as pás, a taverneira tenha simplesmente lembrado ao Alma Negra
que ele não era o único que saberia onde o tesouro seria enterrado, pois
Matadouro também assistiria esta ação.
Particularmente,
eu acredito nesta possibilidade, pois ela justifica o fantasma do Pirata nas
aventuras posteriores.
No
remake, quando a moça faz essa intriga, o Capitão conta que Matadouro ganhou o
posto de Imediato derrotando seu braço direito anterior numa briga, ao que
todos elegem Chapolin o concorrente do pirata grandalhão, e os dois saem no
tapa, com o Capitão rindo solto, e prometendo passar o posto de Capitão ao
Chapolin, se por qualquer milagre ele conseguir derrotar o Matadouro. E ainda
se compromete a jurar obediência ao vermelhinho, o que acaba por lhes render o
posto de criados de bordo depois que Chapolin surpreendentemente leva Matadouro
a nocaute.
Mas,
como já foi dito à exaustão, é possível que Alma Negra tenha sido morto nesse
episódio, e eu só vejo uma maneira de isso ter acontecido.
Na
luta do remake, vemos Matadouro erguer uma pedra enorme para tentar ferir o
Chapolin, que consegue se esquivar. Mas, e se no episódio original, numa das
tradicionais trapalhadas do Chapolin, o Matadouro tivesse acidentalmente
acertado a pedrona em seu chefe?
Ou
ainda, se a intriga da taverneira tivesse colocado Alma Negra contra Matadouro
e vice-versa, com a admissão do Capitão de que seu braço direito deveria contar
entre os condenados à morte após enterrar o tesouro?
Isso
poderia perfeitamente ter levado Matadouro a lutar em legítima defesa e, muito
provavelmente, dar cabo de seu chefe, que provavelmente acabaria por ser
sepultado no buraco que cavaram para o tesouro.
E
claro, sempre podemos contar com a hipótese daquele deslizamento de terra
provocado pelos gritos dos prisioneiros, que poderia perfeitamente ter sido responsável
pelo desfecho trágico do Capitão Pirata – fosse com gritos coletivos entre
todos os personagens, ou do próprio Alma Negra, tentando pôr ordem no
galinheiro, ou tentando chamar de volta os piratas fugitivos, o que pode ou não
incluir o Matadouro entre eles.
São
possibilidades. Que tal votarem no seu desfecho favorito?
No
que todas as sagas envolvendo os piratas concordaram, foi que a história devia terminar
em música. Assim sendo, com Alma Negra morto ou vivo; rebaixado a criado, sob o
comando do novo Capitão Chapolin; com Matadouro se bandeando para o lado bom da
força, ou simplesmente salvando o próprio rabo; com os vilões varrendo a taverna
e servindo as mesas, ou simplesmente participando da cantoria; é provável que a
saga tenha se encerrado com os mocinhos de volta à taverna, cantando
alegremente a canção do início:
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