Quem Poderá Ajudar o Alma Negra?

em domingo, 21 de abril de 2019

Hoje vamos relembrar uma das sagas mais queridas – e infelizmente incompleta – do Chapolin Colorado: Os Piratas, de 1975. Além da história divertidíssima, essa saga carrega um dos maiores mistérios do programa: seu episódio final é totalmente desconhecido.
Juro que eu pretendia fazer essa postagem em fevereiro, mas aconteceram uma série de coisinhas, e o meu cronograma de postagens acabou totalmente comprometido e atrasado.
Mas, como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”.
O termo “Perdido Mundial” foi criado para designar episódios que a Televisa não mais possui para distribuição. Isso não significa necessariamente que o episódio não possa ser “encontrado”. Como o programa foi distribuído para um sem-número de países ao redor do globo, é possível que algumas emissoras possuam cópias deles em seus arquivos. O SBT, por exemplo, possui e ainda exibe alguns episódios que não são mais distribuídos pela Televisa, sendo portanto considerados “Perdidos Mundiais”, como “Ser Pintor é Uma Questão de Talento (1976)” – o Multishow, por exemplo, somente exibiu a continuação “Pintando o Sete” –; a primeira parte da saga mais conhecida das Novas Vizinhas “Errar é Humano – Parte 1 (1978)” – que, dizem por aí, o Multishow conseguiu que fosse liberado pela emissora de Silvio Santos –, e “Com Essas Pulgas Não Se Brinca de Pula-Pula (1978)”, do Chapolin.
Em alguns casos, Perdidos Mundiais que já foram exibidos pelo SBT em algum momento nos últimos 35 anos, cujas cópias nem a emissora de Silvio Santos possui atualmente – qualquer que seja o motivo: incêndio, enchente, mofo, descaso, foi roubado pelo Duende das Meias, ou Tchuim Tchuim Tchum Claim –, podem ser encontrados no YouTube – com qualidade de imagem da Idade da Pedra –, postado por fãs que os tinham gravados em VHS. É o caso de “O Planeta Vênus (1973)”, que é a primeira versão de “Planeta Selvagem (1975)”, que por algum tempo também figurou a lista dos Episódios Perdidos que o SBT engavetou, e depois retornou à programação, sem o estardalhaço que passaram a fazer nos últimos dez anos em cima disso – porque não é de hoje que episódios desaparecem e reaparecem na emissora de Silvio Santos sem qualquer razão aparente, mas só depois que o fã clube descobriu que a internet era um bom veículo para reclamar, a emissora começou a tratar o retorno desses episódios à programação como um evento cinematográfico –, “Quem Não Tem Cão Caça Com Rato – Parte 2 (1977)”, que é a segunda parte da segunda versão da saga do Madruguinha – que não é exibida pelo SBT desde 1900 e guaraná de rolha –, e “Os Toureiros (1973)”, que é a primeira versão de “Os Toureadores”.
Mas de todos os episódios Perdidos Mundiais, nenhum desperta tanta curiosidade quanto a conclusão da saga “Os Piratas”, do Chapolin. Eu tenho uma vaga lembrança de o SBT ter exibido ao menos uma vez o segundo capítulo com a cena em que Florinda Meza faz a chamada da terceira e última parte. Tenho praticamente certeza disso, porque, embora muito se diga na internet que só se tem conhecimento da existência de um terceiro capítulo porque a cena da chamada acompanhou o desfecho do segundo episódio quando a saga foi lançada em VHS, eu estou certa de nunca ter tido contato com essa fita, e mesmo assim, me lembro de ter assistido à chamada quando era pequena.
Mas não importa. Tendo o SBT exibido isso ou não, o fato é que hoje a Televisa distribui o segundo episódio sem a chamada, e com créditos que não pertencem àquele capítulo. Alguém postou um vídeo no Youtube, comentando esse mistério, e mostrando que os créditos que acompanhavam a chamada de Florinda eram diferentes dos atuais. Considerando que a cena mostrada nos créditos geralmente tem a ver com a trama exibida no episódio, e a atual não pertence ao primeiro capítulo, tudo leva a crer que os créditos atuais do segundo capítulo pertenciam originalmente ao capítulo final. Nela, vemos uma caveira – muito semelhante àquela que apareceu em “O Tesouro do Pirata Fantasma (1975)”, que foi gravado no mesmo ano, e mais ou menos no mesmo cenário – usando o chapéu do Pirata Alma Negra. A partir disso, podemos deduzir que o pirata morreu ou foi morto no final da saga.
Podemos deduzir... Mas não temos 100% de certeza.
Em certa ocasião, Edgar Vivar comentou em entrevista a um programa de TV, como resposta ao misterioso desaparecimento de episódios de Chaves e Chapolin, que às vezes episódios eram gravados por cima de outros que já haviam sido transmitidos.
Todos sabemos que no início do programa, a Televisa disponibilizava praticamente nenhuma verba para a produção de Chaves e Chapolin – reza a lenda que Bolaños colocou dinheiro do próprio bolso para construir os cenários; talvez um dos motivos de muita coisa ter sido feita com isopor, além da praticidade nas cenas de luta e quebra-quebra; e temos como fato de conhecimento público que a maior parte dos figurinos foram trazidos pelos próprios atores; e corre uma lenda urbana que Chespirito às vezes tomava emprestados cenários e objetos de cena de outras produções da emissora, como novelas –, de modo que é realmente possível que tenham reaproveitado algumas fitas de episódios que já tivessem sido exibidos. Todavia, isso justificaria o sumiço de episódios da primeira temporada – para quem gosta de números, foram identificados ao menos doze episódios perdidos mundiais gravados ou reprisados em 1973; quando o programa se tornou independente, fora do antigo programa Chespirito, alguns episódios de 1972 foram reprisados –, e talvez da segunda – da qual são conhecidos oito episódios desaparecidos. Mas 1975 foi o terceiro ano do programa; a qualidade dos cenários e figurinos, muito superior às anteriores, dá a entender que a verba investida nas séries havia melhorado consideravelmente, e os programas já haviam se tornado relativamente conhecidos em outros países da América Latina, o que inviabilizaria a destruição de episódios já exibidos – especialmente em se tratando de continuações de sagas. Portanto, a explicação fornecida pelo ator é, neste caso, no mínimo improvável.
Outras explicações já foram especuladas por aí, como por exemplo, que a fita tenha se estragado – por descuido, armazenamento inadequado, incêndio, enchente, abdução alienígena, foi embora para Pasárgada, ou à Disneylândia com o Polegar Vermelho... Que se perdeu, sumiu, evaporou, virou fumaça, etc., etc., etc.
O mais provável é... Quem sabe...?
O fato é que nunca se localizou uma gravação caseira sequer desse episódio, nem com áudio original, ou dublado em japonês, alemão, russo, swahili, búlgaro, atlante, jupiteriano... Nada. É como se o episódio nunca tivesse sido gravado. E os atores parecem ter sido acometidos de amnésia coletiva a respeito do que pode ter sido contado no capítulo final.
Mas se o episódio nunca tivesse sido gravado, então por que Florinda fez a chamada?
E, considerando o número exorbitante de remakes produzidos em ambas as séries (Chaves e Chapolin), é pouco provável que Bolaños tenha jogado fora o roteiro do capítulo final.
Uma última hipótese que já foi levantada a respeito desse misterioso final da saga dos Piratas, é que o episódio possa ter sido censurado. Isso já aconteceu com o Chaves aqui no Brasil: durante muito tempo, o episódio “O Atropelamento (1975)” foi considerado inadequado, por causa da cena em que Chiquinha despeja esmalte de unha no rosto do Quico para fingir que ele havia sido atropelado. Na época, algum órgão responsável pela classificação indicativa do conteúdo exibido na televisão argumentou que a cena poderia incentivar crianças a brincarem com os esmaltes das mães, o que poderia ser perigoso, caso derramado próximo aos olhos de alguém. Depois que o Cartoon Network passou a exibir o episódio em 2011, o assunto parece ter sido descartado, e o próprio SBT voltou a exibi-lo, sem qualquer problema.
No caso do episódio dos Piratas, a hipótese é de que a morte de Alma Negra possa ter ocorrido de forma violenta demais para os padrões da série na época da exibição original na Televisa, e ele tenha se tornado, de algum modo, proibido. Essa hipótese levanta questões a respeito da possibilidade de a terceira parte sequer ter ido ao ar – a exibição original deveria ter ocorrido no dia 10 de Abril de 1975, mas isto é apenas um supositório (como diria o Chaves), pois, de duas uma: ou o Tele-Guía daquela semana, que poderia talvez elucidar o mistério acerca da existência ou não do episódio, ainda não foi localizado; ou ele não continha a sinopse do episódio que seria exibido no programa Chapolin Colorado daquela semana. Caso o episódio não tenha realmente ido ao ar, é possível que a emissora tenha exibido uma reprise naquele dia.
Considerando que Chapolin Colorado já exibiu diversas cenas violentas, esta hipótese parece improvável. Mas em se tratando de televisão, tudo é possível. Às vezes um mínimo detalhe – como um esmalte de unha derramado na cara – pode ter vetado a exibição do programa. “Mas, neste caso, não seria mais fácil cortar a cena e exibir o restante do capítulo?” Seria. A menos que a tal cena vetada fosse de vital importância para a compreensão da história, como o final. É claro que essa hipótese se torna controversa quando lembramos que no episódio “O Cofre do Pirata (1976)” um personagem morre – embora não cheguemos a ver a cena fatal – ao cair em sua própria armadilha. E isso também não explicaria por que Bolãnos não escreveu uma nova cena que pudesse substituir a suposta parte censurada do episódio, para que ele pudesse ser exibido em outro momento. Mas se levarmos em conta que o clima nos bastidores da série nunca foi dos melhores – já vieram à tona diversas rusgas entre os atores, e não sabemos como era o relacionamento entre os demais membros da produção –, é sempre possível que Chespirito tenha considerado mais fácil descartar o capítulo do que mexer na história.
Seja lá como for, qualquer possível explicação que alguém tente dar ao sumiço deste episódio em particular provavelmente virá cercada de controvérsias.
Foi pensando nisso, para tentar responder a essa questão intrigante, que eu fiz um levantamento hipotético da trama do capítulo final da saga dos Piratas, e acredito ter chegado bem perto da verdade.
Hoje, o Admirável Mundo Inventado trará a vocês, provavelmente, a resolução deste grande mistério: o final da saga “Os Piratas”, do Chapolin Colorado.
Mas antes de contar o fim, é preciso relembrar o começo.
Então, sigam-me os bons!

O início do episódio faz parecer que estamos diante de um grupo bastante unido e animado, com os piratas e a taverneira cantando orgulhosamente na taverna. Pelo menos, até chegar o Pirata Alma Negra e escolher Lagartixa e Pança Louca para enterrar o tesouro. E como todos sabem, depois de concluir o serviço, para que ninguém saiba onde o baú foi enterrado, Alma Negra manda matar aqueles que ajudaram a enterrá-lo. E é por isso que eles convocam o Chapolin Colorado.
E então descobrimos que a reputação do Pirata Alma Negra já chegou aos cantos mais longínquos da Terra.
Bem, mas antes de se comprometer a salvar a vida desses homens, é bom esclarecer o seguinte, Chapolin: eles também são piratas. Lagartixa tem até um barquinho tatuado com esferográfica na barriga.
Só para entender, Pança Louca: ambos hemisférios do mundo, ou da sua poupança?
Enfim...
Como piratas, eles admitem já terem participado de várias abordagens. Por exemplo, acabam de regressar de alto-mar com uma pilhagem fabulosa – provavelmente a mesma que agora coloca suas vidas em risco. Além disso, fizeram quarenta prisioneiros, mas os pobrezinhos foram todos morrendo conforme eles iam matando.
Eis que nesse momento se aproxima o Matadouro, o braço direito do Alma Negra, encarregado de matar aqueles que enterram o tesouro. E com uma notícia tensa para dar ao Chapolin.
Mas por que você fez uma maldade dessa com o sujeito, seu moço?
Ah, sim, claro... Por ordem do Alma Negra.
A propósito, seu chefe quer ter uma conversinha com o Chapolin, mas ele já está de saída.
Como Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé. Alma Negra vai pessoalmente ao encontro do Chapolin Colorado, para conferir se o nosso herói é realmente tudo o que dizem dele.
Bem, depois de travarem os respectivos reconhecimentos, Alma Negra manda Chapolin encher sua caneca de vinho, mas, naturalmente, nosso herói se atrapalha ligeiramente com as torneiras – abria uma, o vinho escapava da outra. Demorou um tempo, mas depois que conseguiu se entender com os barris e encher a caneca de seu inimigo de vinho, Chapolin aproveitou enquanto ele bebia para quebrar uma cadeira em sua cabeça.
Convencido de ter derrotado tão facilmente o bandido, Chapolin se apresenta para comemorar com os piratas bonzinhos, mas Matadouro não está nada contente por ele ter nocauteado seu chefe.
E logicamente, depois de recobrar os sentidos, o Capitão também fica furioso com o Chapolin.
Agora que estão em três, Lagartixa tem certeza de que juntos eles podem derrubar o Matadouro. Porém, Chapolin prefere uma luta justa, um contra um, e deseja boa sorte ao Lagartixa.
Então Chapolin e Alma Negra começam um espancamento gratuito em cima de seus supostos campeões, para provar quem aguenta mais pancada. Matadouro, naturalmente, nem estremece, enquanto que o Lagartixa quase vai a óbito.
Mas aí quando Alma Negra decide partir para as coronhadas, Chapolin mostra que não é tão burro quanto parece.
Pena que o Pança Louca foi se preocupar que os bandidos tivessem outras armas escondidas, e o neurônio do Chapolin não funcione duas vezes no mesmo dia. Ou seja, a quem ele pediu que segurasse a pistola enquanto ele os revistava?
Assim, Chapolin, Lagartixa e Pança Louca vão parar no calabouço, com bolas de ferro presas nos pés, até que chegue o momento de enterrar o tesouro.
Mas calma, calma, não criemos pânico, pois a taverneira tem todos os seus movimentos friamente calculados. Apenas espera Alma Negra e o Matadouro virarem as costas, para contrabandear uma marreta e uma talhadeira para ajudar os prisioneiros a romper as correntes.
Naturalmente, ela sabe que está arriscando o próprio pescoço com essa atitude, mas uma mulher apaixonada é capaz de tudo.
E só tem que comprar um presente no dia dos namorados. Olha o custo-benefício da coisa...
E como não quer ser pega com a boca na botija, ela entrega a muamba e cai fora.
Então, mãos na sobra!
Digo, mãos à obra!
Chapolin começa imediatamente a tentar romper as correntes de Lagartixa, e a cada pancada equivocada – e em se tratando do Chapolin, elas são bem frequentes –, ele ouve uma história fascinante sobre as peças de reposição que já instalaram no rapaz.
Segunda martelada vai bem no queixo.
Cuidado com os olhos! Martelada nos olhos pode ser bem perigoso.
Quanto ao cérebro, só metade é postiço. A outra metade é o anormal que o assistente biruta do Dr. Frankenstein roubou errado na universidade.
Mas acho melhor vocês deixarem para colocar a fofoca em dia mais tarde, quando estiverem bem longe dessa prisão. Afinal, o Alma Negra prometeu voltar assim que terminar de ler o gibi do Chaves lá no fundo à direita.
Era melhor ter continuado a dar marteladas no Lagartixa, Chapolin!
Mais tarde, e muitas marteladas erradas depois, com todos os dedos remendados, Chapolin termina de remover todas as bolas de ferro dos prisioneiros. E até já começaram a examinar as paredes da prisão, em busca de uma rota de fuga.
Claro que o Lagartixa quis dizer que encontrou uma pedra que pode ser removida, e por cuja abertura podem escapar. Mas depois de fazer uma força danada para desentalar o Pança Louca do buraco, nossos amigos se dão conta de que caíram numa armadilha. A abertura dava no salão da taverna, onde Alma Negra, Matadouro e os outros piratas estavam prontinhos para rendê-los.
O que eles não sabiam é que...

E caso queira salvar a pele de sua garota, ele tem que voltar rapidinho, mesmo! E muito bem armado.
Mas enquanto isso, Lagoa Seca passará a jogar em seu lugar. Afinal, o time não pode entrar em campo sem goleiro, não é mesmo?
Uma coisa, pelo menos, Alma Negra tem que admirar – além do fato de dois membros de sua tripulação não saberem que a prisão dividia a parede com o salão da taverna –, o esforço que fizeram para tirar aquela pedra. Afinal, a bicha devia estar mais pesada que o Seu Barriga depois de almoçar o frango sem orelha no restaurante da Dona Florinda. E, sobretudo, levando em conta que não usaram mais que uma talhadeira e uma marreta para romper as correntes. O que nos leva a uma questão ainda mais importante: quem foi que deu essas ferramentas para os prisioneiros?
Além disso, o capanga sabe muito bem o que seu Capitão faz com os traidores.
Tomara que seja o líder do movimento anti Podolski. Porque, convenhamos, não faz sentido dizer que joga nada um cara que quase não entra em campo, e ainda consegue marcar mais gols na temporada que o artilheiro do brasileirão.
A não ser que a frase venha associada com a afirmação de que o nosso campeonato tá na merda!
Enfim... Melhor deixar os vilões continuarem confessando os pecados.
Lagartixa: a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena!
Cadê o pessoal dos direitos humanos, que não está vendo isso?
Mas, voltando àquela questão de como as ferramentas foram parar na cela dos prisioneiros, alguém tem algo a dizer?
Hein, Dona Florinda???
Naturalmente, Alma Negra suspeita logo que o cálice esteja envenenado. Afinal, taverneiras vemos, costumes não sabemos. E namorados desaparecemos, né, não, Pança Louca? E larga a garota sozinha na maior roubada. Que coisa feia...
Alma Negra sabe que um homem prevenido vale por dois. Ele, por exemplo, não confia nem em sua própria sombra. Que, a propósito, está tentando atacá-lo pelas costas, provando ter fundamento a sua desconfiança.
Simples assim. Só tem um probleminha...
Ao que a taverneira corre para preparar o pedido. Afinal, a eficiência é o que fez a fama do seu estabelecimento.
Neste momento, temos uma cena do hall das piadas que não fizeram sentido na tradução: Chapolin insiste em tomar o suco que a taverneira trouxe, Alma Negra insiste que ele beba o vinho, começa a dizer “eu sinto muito” e Chapolin lhe dá uma paulada na cabeça. Por quê? “É pra doer mesmo...”.
Não entendeu?
Pois é, nem eu.
Acontece que essa piada só faz sentido em espanhol: Alma Negra não diz “eu sinto muito”, ele pede o copo do Chapolin, dizendo “Dame tu vaso”, mas como em espanhol as letras “v” e “b” têm praticamente o mesmo som, o Chapolin entende “Dame tubazo”, ou seja, uma paulada.
Trívia... Porém, estamos aqui pra isso.
Neste momento começa uma das cenas mais icônicas desse episódio, quando Chapolin aponta uma coisa atrás do Alma Negra, para que ele se vire, e lhe dê oportunidade de trocar os copos. Mas aí o Alma Negra percebe o truque, e começa a usá-lo também para destrocá-los, cada um usando de um artifício diferente para fazer o outro se virar. Numa dessas, até um tubarão passou voando pela janela.
Felizmente, o neurônio do Chapolin resolveu funcionar pela segunda vez no dia, fazendo-o ter a ideia de sugerir que Alma Negra brinde com a senhorita que está atrás dele, mas em vez de trocar os copos, simplesmente os bate na mesa, fazendo o pirata acreditar que foram trocados. Desse modo, foi só fingir que acreditou na outra senhorita que o pirata apontou às suas costas, e esperar que o vilão trocasse os copos, e ficasse com o vinho envenenado... com sonífero.
Nossos heróis só esqueceram de um detalhezinho pequenininho do tamanho de um caminhão: Matadouro!
Volta o cão arrependido, direto para o calabouço, e agora sem nenhum cúmplice do lado de fora para facilitar sua fuga – porque obviamente, ao contrário do que Lagoa Seca insiste em apregoar, é provável que o Pança Louca já esteja para lá de Tchuim Tchuim Tchum Claim a esta altura.
E para garantir que os prisioneiros não fujam, Matadouro está disposto a vigiá-los até a hora em que Alma Negra se decidir a enterrar o tesouro. E já sabem o que acontece com os que o ajudam nessa tarefa, não é?
Pena que ela não selecionou uma testemunha na hora, porque noutros carnavais, essa conversa voltará à baila, mas desta vez Alma Negra será o interessado, e ela preferirá morrer do que perder a vida.
Desta vez, como seguro morreu de velho, depois de passar a chave na porta, Alma Negra botou uma pitadinha de sal e mandou-a pra dentro.
Bem, Alma Negra, já dizia o sábio Chapolin Colorado: uma das maiores virtudes do homem é saber esperar...
Enquanto isso, os prisioneiros começam a pensar em alguma maneira de escapar da cela. Para começar, quando isso acontecer, Chapolin sairá devidamente disfarçado.
O mais importante é que tentem chegar ao barco. E já começam a distribuir instruções sobre o lado que cada um escalará para abordá-lo, embora ainda nem tenham pensado em como vão sair do calabouço.
E então eles são informados de que vão sair agora mesmo... mas para enterrar o tesouro.
Podem falar o que quiser do Alma Negra:
– Que ele é feio?
Sim! E daí?
– Que ele é malvado?
– Sim! E daí?
– Que ele parece lombriga de água suja?
– Bom, sim! E daí?
Mas uma coisa precisamos reconhecer: ele não explora seus condenados. Em vez de mandar os piratas carregarem o baú do tesouro, preferiu ele mesmo transportar o peso.
Afinal, se vai matar os homens, ao menos, que não seja de cansaço.
Curiosamente, ninguém contava com a astúcia – ou falta dela – do Lagartixa, que sem querer querendo, quase rachou a cuca do Alma Negra – notaram o trocadilho com os nomes dos vilões do Valdés? – com a pá, ao se virar para perguntar à taverneira aonde ela estava indo, depois de ter tomado outro fora do pirata.
E como o primeiro já estava caído, não foi difícil nocautear o outro, o Matadouro.
Bora, galera! Hora de fugir!
E essa é outra piada que perdeu o sentido na tradução. Em espanhol, a taverneira disse “huyamos” (fujamos), e Lagartixa entendeu “aullemos” (uivemos), pois, como no caso anterior, “Y” e “LL” têm o mesmo som no espanhol falado na América Latina. Por isso, quando Florinda os apressou a fugir, Lagartixa se pôs a uivar como um coiote.
De novo, trívia.
Enfim, eles se embrenham na caverna: Chapolin vai na frente, enquanto Lagoa Seca cuida da retaguarda. Sobretudo da dele, que Chapolin quase esfolou com a pá, ao confundi-lo com um dos vilões.
A boa notícia, é que dali já podem ouvir o mar, o que significa que a saída está próxima. A má notícia é que estão andando em círculos. E para piorar, as paredes estão a ponto de desmoronar. Qualquer grito pode provocar um deslizamento de terra.
A segunda e a terceira vez também. Mas o pior em ficarem testando a teoria do Lagoa Seca é que esses gritos podem guiar o Pirata Alma Negra até eles. E é justamente por isso que a taverneira decide picar a mula.
Eles não queriam deixar o grupo se separar, mas afinal ela tinha razão, e o Pirata Alma Negra já estava pisando em seus calcanhares.


***

Fiz questão de colocar a chamada de Florinda Meza, para demarcar o fim da review dos episódios conhecidos, e para que sirva como prova irrefutável de que especular a respeito de uma terceira parte não é loucura. A parte final existe! E hoje vamos conhecer o seu provável conteúdo.
Por sorte, apesar do desaparecimento da fita, Bolaños nos presenteou com outras histórias a respeito do Pirata Alma Negra, e a partir da trama desses episódios é possível supor algumas coisas. Por exemplo, que Alma Negra, provavelmente, morreu no final da saga de 1975, por isso apareceu como fantasma nos episódios “O Tesouro do Pirata Fantasma (1975)” e “O Cofre do Pirata (1976)”. Além deles, Alma Negra ainda foi visto vivo no episódio duplo “Os Piratas do Caribe (1978)”, cuja trama não é um remake da saga de 1975 – ou, ao menos, não da saga inteira. Se eu tiver que arriscar um palpite, diria que a saga de 1978 é o remake, talvez não exato, do capítulo final perdido da saga original. Mas Bolaños ainda traria seus piratas de volta após o fim dos programas independentes de Chaves de Chapolin.
Em 1982, quando nosso herói voltara a ser esquete do Programa Chespirito – que incluía muitos outros personagens criados por Bolaños, como Dr. Chapatin, Pancada Bonaparte, Chômpiras (Chaveco, de acordo com a tradução do esquete pelo SBT), La Chicharra (inédito na televisão brasileira), e muitos outros –, Bolaños filmou uma nova versão da história dos piratas, em dois episódios de quarenta minutos cada, intitulados “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” e “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” – provavelmente os títulos foram ajustados pela dublagem brasileira, na época em que foram lançados em DVD, para combinar com a franquia da Disney, embora tenham caído como uma luva. E esta saga É O REMAKE – talvez não completamente exato – da saga de 1975, INCLUINDO SEU FINAL.
Assim, com base em todas as informações extraídas dos episódios mencionados, e principalmente da saga de 1982, apresento agora o enredo – no mínimo aproximado – do capítulo final de “Os Piratas”.
Só para enfatizar: o texto a seguir NÃO é, de forma alguma, a review absoluta do terceiro episódio da saga dos Piratas! Estou apenas especulando – talvez com alguma propriedade – qual pode ter sido a história deste episódio infelizmente perdido, ok?!
OK?!
E ignorem os cenários das fotos, porque isso vai ser uma salada danada. Afinal, na falta do episódio correto para printar, as imagens serão meramente ilustrativas.
Pois bem. O que eu acredito que tenha sido o desfecho da saga, levando em conta as informações extraídas dos outros episódios e do remake, é o seguinte:

Depois de terem sido recapturados pelo Pirata Alma Negra, todos se fizeram de desentendidos a respeito da fuga. Afinal, o que os levaria a fugir – fora a ameaça de morte iminente –, quando serem prisioneiros do Seu Madruga e do Professor Girafales é tão divertido?
Mas é claro que, na contagem dos fugitivos, os Piratas não demoraram a dar pela falta da taverneira – que em outras versões foi nomeada como Flor Marina. E como ninguém quer se responsabilizar pelo desaparecimento da moça, Chapolin vai enrolando para não ter que contar que eles foram tão burros em deixar uma trilha de gritos para o Alma Negra seguir, que a mocinha preferiu dar linha na pipa completamente sozinha.
Mas afinal, que diferença faz encontrá-la? Ela não vai mesmo cavar a terra para enterrar o tesouro... A mão de obra dos dois piratas, mais o trapalhão do Chapolin – cujo talento para manobrar uma pá nós conhecemos de outros carnavais –, dá e sobra.
Só para ficar claro que acusamos com motivo:
Quanto ao interesse do Alma Negra em recapturar a moça, pode ser explicado com algo que ele disse na segunda parte da saga: a taverneira seria executada por traição; porque se ele não puni-la como exemplo, logo o Matadouro pode começar a ter ideias, e assim poderemos imaginar como foi que Alma Negra virou fantasma para instruir seu tata-tata-tata-tata-tata-tata-tataraneto onde escavar para encontrar o tesouro alguns episódios mais tarde.
Mas não contávamos com a astúcia dessa mocinha, que, silenciosa como aquela sombra que Alma Negra afugentou com um rosnado antes de brindar com o Chapolin, conseguiu se esgueirar de volta por entre as colunas de pedra da caverna, e se apoderar da pistola do Matadouro, que, a princípio, nem se dá conta do roubo.
De acordo com o remake de 1982, os personagens se envolvem numa discussão sobre não haver um homem em cena para enfrentar o Alma Negra, ao que alguém decide bancar o Jack Sparrow e votar no Matadouro, e este, orgulhoso do título, parte pra ignorância para cima de seu patrão, metendo-lhe um belo de um soco na cara.
Nesse momento, um dos prisioneiros aproveita que os dois vilões estão de guarda baixa, para render Matadouro pelas costas, usando o dedo como se fosse uma pistola. Pena que o Girafão não nasceu ontem, e aproveitou enquanto o resto dos prisioneiros comemoravam para se virar e descobrir com o quê estava sendo ameaçado.
Na confusão, os prisioneiros não conseguem repetir a proeza, antes de serem informados de que foi a taverneira quem atirou, mas um deles aproveita a confusão para pegar a pistola do Capitão, de modo que a situação se inverte, e agora os prisioneiros mantém os vilões na mira das armas.
Mas não vamos esquecer que isso é um episódio do Chapolin. E com o Q.I. dessa galera, já podem imaginar que a situação confortável não vai durar nem meio minuto.
Não querendo dar dedos, nem apontar nomes, foi a taverneira quem teve a brilhante ideia de recompensar o Chapolin com um beijo, e nós sabemos muito bem como isso costuma ter um efeito narcótico sobre os personagens do Bolaños.
Assim sendo, os vilões aproveitam a cena romântica para recuperar suas armas e voltar ao plano original de executar os mocinhos após enterrarem o tesouro.
Tudo leva a crer – inclusive uma cena do segundo episódio – que o tesouro seria enterrado na própria taverna – ou talvez no quintal dos fundos.
É provável que os nossos amigos tenham se atrapalhado no manejo das pás – sobretudo com o Chapolin em cena para fazer besteira –, o que certamente forçou Alma Negra a distribuir sopapos em todo mundo.
Também é provável que tenha ocorrido certa discussão sobre onde exatamente deveriam cavar, com uns votando por começar ali mesmo, outros querendo cavar mais pra lá. Mas já que estão ali, por que devem cavar do outro lado? Mas terão que ir até o outro lado buscar as pás, então, por que não cavar lá? Porém gostam muito mais daqui...
Ok, assim resolvidos, podem cavar onde lhes der na telha. MAS CAVEM DE UMA VEZ!
E na verdade, é muito conveniente que cavem vários buracos, afinal, além do tesouro, em algum lugar terão que enterrar seus cadáveres.
Sim, claro, ele é um bandido consciente.
Ainda no remake, os prisioneiros conseguem fugir pela segunda vez depois que Lagartixa acidentalmente nocauteia o Capitão Pirata com a pá, mas como isso já havia acontecido no segundo episódio da primeira versão, é provável que esta fuga – se é que houve – tenha ocorrido de outra forma. Provavelmente com algum outro tipo de pancada.
Finalmente, nossos amigos alcançam o barco, e de repente se dão conta de um novo problema: nenhum deles sabe manejar a embarcação.
A partir daqui, existem duas possibilidades: a primeira é que o episódio tenha tomado mais ou menos o mesmo rumo do remake, em que Chapolin não consegue compreender patachongas no manual de instruções do barco, e cada um dos companheiros caia ao mar em sua vez, graças à tentativa do Lagartixa de pescar suprimentos para a viagem, até que o barco fosse abordado por Matadouro e Alma Negra, que vinham nadando em seu encalço. A segunda é que eles tenham sido recapturados antes mesmo de alcançar o barco.
Claro que sempre podemos considerar a hipótese de que esta terceira fuga só tenha existido no remake, e que no episódio original, depois de todo mundo se desentender com as pás, a taverneira tenha simplesmente lembrado ao Alma Negra que ele não era o único que saberia onde o tesouro seria enterrado, pois Matadouro também assistiria esta ação.
Particularmente, eu acredito nesta possibilidade, pois ela justifica o fantasma do Pirata nas aventuras posteriores.
No remake, quando a moça faz essa intriga, o Capitão conta que Matadouro ganhou o posto de Imediato derrotando seu braço direito anterior numa briga, ao que todos elegem Chapolin o concorrente do pirata grandalhão, e os dois saem no tapa, com o Capitão rindo solto, e prometendo passar o posto de Capitão ao Chapolin, se por qualquer milagre ele conseguir derrotar o Matadouro. E ainda se compromete a jurar obediência ao vermelhinho, o que acaba por lhes render o posto de criados de bordo depois que Chapolin surpreendentemente leva Matadouro a nocaute.
Mas, como já foi dito à exaustão, é possível que Alma Negra tenha sido morto nesse episódio, e eu só vejo uma maneira de isso ter acontecido.
Na luta do remake, vemos Matadouro erguer uma pedra enorme para tentar ferir o Chapolin, que consegue se esquivar. Mas, e se no episódio original, numa das tradicionais trapalhadas do Chapolin, o Matadouro tivesse acidentalmente acertado a pedrona em seu chefe?
Ou ainda, se a intriga da taverneira tivesse colocado Alma Negra contra Matadouro e vice-versa, com a admissão do Capitão de que seu braço direito deveria contar entre os condenados à morte após enterrar o tesouro?
Isso poderia perfeitamente ter levado Matadouro a lutar em legítima defesa e, muito provavelmente, dar cabo de seu chefe, que provavelmente acabaria por ser sepultado no buraco que cavaram para o tesouro.
E claro, sempre podemos contar com a hipótese daquele deslizamento de terra provocado pelos gritos dos prisioneiros, que poderia perfeitamente ter sido responsável pelo desfecho trágico do Capitão Pirata – fosse com gritos coletivos entre todos os personagens, ou do próprio Alma Negra, tentando pôr ordem no galinheiro, ou tentando chamar de volta os piratas fugitivos, o que pode ou não incluir o Matadouro entre eles.
E sempre podemos imaginar que o Pança Louca tenha regressado com o troco dos cigarros do Lagoa Seca, e também com um bando de gente (figurantes, naturalmente), para dar cabo do pirata e salvar seus amigos.
São possibilidades. Que tal votarem no seu desfecho favorito?
No que todas as sagas envolvendo os piratas concordaram, foi que a história devia terminar em música. Assim sendo, com Alma Negra morto ou vivo; rebaixado a criado, sob o comando do novo Capitão Chapolin; com Matadouro se bandeando para o lado bom da força, ou simplesmente salvando o próprio rabo; com os vilões varrendo a taverna e servindo as mesas, ou simplesmente participando da cantoria; é provável que a saga tenha se encerrado com os mocinhos de volta à taverna, cantando alegremente a canção do início:



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