Que Bonita Sua Roupa
O
elenco de Chespirito reciclou muito figurino ao longo dos oito anos dos
programas Chaves e Chapolin. Reza a lenda que muitas das roupas usadas na série
pertenciam aos próprios atores.
Por
exemplo:
O
vestido que a Bruxa do 71 usou no episódio do Chapolin “A Casa Dada Não Se Contam os Fantasmas”, depois de lavado foi secar
lá no varal da vila do Chaves em “Gente
Sim, Animal Não”, o segundo episódio da saga do Madruguinha.
A
Dona Florinda também já tinha aquele vestido branco estampado com folhas
grandes quando o pai do Quico era vivo – como mostra o flashback do episódio “Recordações” –, e ainda o usou para
passar o “Natal Na Casa do Sr. Barriga”
na última temporada do programa, e quando foi passar alguns dias naquele “Hotel Tão Limpo Que Limpa Até Carteira”,
do Chapolin.
A
camiseta amarela que o Seu Madruga usava nos primeiros episódios do programa – “Remédio Duro de Engolir”, “O Despejo”,
“Quem Semeia Moeda”, entre outros – também foi figurino do personagem
Peterete, parceiro de crimes do Chômpiras do esquete Os Ladrões, como mostram os esquetes “A Janela Aberta” e “Venda de
Picolés”. A camiseta branca que ele usa no episódio “Os Campeões do Ioiô” e “Muito
Azar Na Sorte Grande” também foi usada pelo Peterete em vários esquetes,
como “O Cofre da Polícia”, e “Quem Será o Novo Chefe”.
No
Chapolin, Florinda usou o mesmo vestido de losangos amarelos e marrons em dois
episódios em 1974: “A Corneta
Paralisadora” e “Não Me Amole,
Mosquito!”. Ela também usou a mesma camiseta marrom de manga listrada em “Expedição Arqueológica” e “Não Confunda ‘a Casa Está Caindo de Velha’
Com ‘a Velha Está Caindo da Casa’”; E não vamos nem falar nos terninhos em
tons pasteis e amarelos que Florinda vivia repetindo, e os uniformes de
enfermeira que eram sempre os mesmos em todos os esquetes em que ela
interpretou a personagem, mudando somente a peruca.
E
se não era o mesmo, certamente estava na promoção: o mesmo vestido que Florinda
Meza usara no duplo episódio “A Romântica História de Juleu & Romieta”, em 1975, à época dourado e caramelo, foi
reutilizado na saga “O Alfaiatezinho
Valente”, em 1978, mas desta vez ele estava dourado e verde. Pode ter sido
efeito da luz que clareou o vestido da primeira vez; ele pode ter sido
reformado; ou vai ver, a loja de fantasias estava fazendo liquidação, e a
produção comprou logo duas cores diferentes, já imaginando que Bolaños saberia
onde reutilizá-lo mais tarde.
E
em caso mais raro, peças do cenário também apareceram em diferentes episódios
do Chapolin, como o quadro da Tartaruga Ninja – pelo menos parece um deles –
mostrando as mãos, que apareceu em “Os
Documentos Confidenciais”, de 1976, em que Chapolin chegou a examinar suas
mãos para ver se não havia anéis que pudessem esconder microfones ocultos, e
também na versão anterior deste episódio, de 1973; e o mesmo quadro tentou
passar a mão na bunda de Florinda Meza na representação do filme “A Bomba”, na
segunda parte da saga “O Show Deve
Continuar”, de 1978.
A Valentona do 14. E do 24, e do 42...
Qual
era o número da casa da Dona Florinda? Aposto que todos responderam 14, não é
mesmo? Bem, nem sempre. No episódio “Vamos
Ao Cinema”, sabe-se lá por qual motivo, a valentona do 14 trocou o número
de sua casa para 24. Só para constar, aquele foi o primeiro episódio gravado
depois da saída oficial de Carlos Villagran, o Quico, da série – primeiro
episódio da temporada de 1979 –, portanto, descartem a hipótese de ele ter
feito carteirinha de sócio do São Paulo FC. A casa tem esse número também nos
episódios “O Dia de São Valentim” e “O Dia dos Namorados”, todos de 1979. A
casa ainda mudou de número mais uma vez naquele ano: no episódio “Nas Pontas dos Pés”, o número da casa
passou a ser 42. E, talvez pensando em se aproximar do número da casa de seus
vizinhos de pátio, no episódio semelhante “O
Calo do Sr. Barriga”, de 1974, o número é 81. E algo curioso: na saga das Novas Vizinhas, de 1978 – a mais
frequentemente exibida no Brasil –, no terceiro e no quarto capítulo da saga, a
porta da casa da Dona Florinda não tem número nenhum.
E
esta não foi a única casa a mudar de número. No episódio “A Troca de Chapéus” o
número da casa da Dona Clotilde era 77; e em “Remédio Duro de Engolir”, o número da casa da Bruxa do 71 era 5:
foi pintado na parede acima da porta, que aliás era diferente da porta da casa
do Seu Madruga – porque na época a emissora não liberava verba para o programa,
forçando Bolaños a investir do próprio bolso e se virar nos trinta –, e Seu
Madruga, a propósito, morava no n° 14, onde depois morou Dona Florinda. E o
número 14 ainda o perseguiu no episódio “Animais
Proibidos”.
Um
caso curioso foi o do episódio semelhante “Discos-Voadores”,
de 1974, em que alguém trocou as bolas legal: a casa da Dona Florinda ostentava
o número 71, a da Bruxa era o 72 e a do Seu Madruga estava com o número 14.
Sinal de que o contra-regra daquele episódio não assistia a série; ou vai ver
ele pensou “vamos trocar os números de todo mundo e ver se alguém vai
perceber...”.
Notem
também que, na série, o número normal da casa do Seu Madruga era 72, mas no
desenho é 10.
Somos Cafonas Chiques, Sim!
A
música que toca quando Dona Florinda e o Professor Girafales se encontram é o Tema de Tara, trilha sonora original do
filme E O Vento Levou. Quando os
episódios foram dublados no início dos anos 1980, não dava para separar as
vozes dos atores do resto da trilha sonora. Tudo precisou ser refeito. Para a
trilha do casal, o diretor de dublagem Mário Lúcio de Freitas colocou o que
tinha à mão, que, no caso, era o Tema de
Tara.
Que Bruxaria é Essa?
Vários
episódios mostraram o animalzinho de estimação de Dona Clotilde – que embora
não goste de ser chamada de Bruxa, achou que não seria nada de mais chamar o
pobrezinho de Satanás. Geralmente, nesses episódios, seu mascote é um
cachorrinho. Mas no episódio “A Casa da
Bruxa”, em que as crianças vão devolver um jornal na casa dela a pedido do
Seu Madruga, e sonham que ela está preparando uma poção para fisgar o pai da
Chiquinha, o animal que responde pelo mesmo nome é o quê, mesmo, Chaves?
Agora Também Vai Pôr a Culpa No Chaves Nas Panquecas,
Né?!
A
atriz Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, ficou grávida logo no início
da série, e gravou vários episódios já com a barriga crescida. Para tentar dar
uma disfarçada, ela passou a usar um figurino mais largo. Note como seu
primeiro vestido era bem justinho na primeira temporada da programa, quando era
branco e liso; já o segundo, amarelo claro listrado, era bem mais folgado. É
possível notar o volume em sua barriga nos episódios semelhantes “Barquinhos de Papel”, “Sustos Na Vila”, “A
Bandinha”, “As Festas de Independência” e no esquete de Chespirito “O Ensaio”, todos de 1973. Quando
regressou ao programa, em 1975, após a licença maternidade, ela manteve o
vestido listrado, mas era perceptível como ele assentava melhor em sua
silhueta.
Tem Que Estudar, Chaves, Pra Não Ser Burro
No
episódio “Matando Aula No Domingo”,
de 1979, as crianças decidem faltar à escola, e passam o dia todo tentando não
ser vistos pelo Professor Girafales, para só no final serem informados de que
aquele dia é domingo. Mas no início do episódio, as crianças são vistas
retornando da aula e reclamando que o Professor Girafales estava bravo demais,
e o acordo de não ir à escola é feito para o dia seguinte. Ou seja, eles
tiveram aula no sábado! Será que eram aulas de reforço?
Há Algo Maior Em Todo o País? Sim, Seu Nariz!
Florinda
Meza tinha o nariz bem mais avantajado nos primeiros esquetes do programa. Em
algum momento entre 1972 e o início de 1973 ela fez uma cirurgia plástica que
lhe concedeu aquele nariz arrebitado que tanto combina com a índole de sua
personagem.
A
atriz revelou em entrevista a um programa de televisão no México que o formato
diferente de seu nariz lá no início da série se deu por um fato triste de sua
infância: sua mãe tinha problemas neurológicos, e um dia, durante uma crise,
atirou um ferro de passar em seu rosto, quebrando o osso de seu nariz, o que
mais tarde lhe causou problemas respiratórios.
Se o Nariz é a Espanha, Alguém Raspou Portugal do
Mapa
Quem
menos sofreu variações na aparência ao longo do programa – além do próprio
Chaves – foi o Seu Madruga. Seu figurino foi mais ou menos o mesmo praticamente
do início ao fim: as camisetas sofreram algumas variações de tonalidade do
cinza escuro desbotado ao preto, e nos primeiros episódios, conforme já
mencionei, ele chegou a usar camisetas brancas e amarelas; também chegou a usar
uma boina e um chapéu panamá – “Remédio
Duro de Engolir” e “A Troca de
Chapéus”, respectivamente. Mas uma diferença mais significativa e difícil
de notar são os raros episódios em que ele aparece sem bigode. Alguns deles são
“Quem Semeia Moeda” e “O Despejo” (1972); “O Mistério dos Peixinhos” (1973); “Quem Baixa As Calças Fica Sem Elas” e “A Troca de Chapéus” (1974);
“Tocando Violão” (1975); “A Galinha da Vizinha é Mais Gorda do Que a
Minha” (1976); e um caso curioso é o do episódio “O Castigo da Escola”, de 1978, em que Seu Madruga aparece sem
bigode, mas na continuação “O Escorpião”,
o bigode já está de volta, e bem crescido.
A Camiseta do Chapolin
Chaves
mudou pouco o modelo e a cor do figurino ao longo do programa. Teve camisetas
listradas mais brancas, mais amareladas, com listras de três cores, com mangas
mais curtas que o normal; calça marrom, mostarda, algo próximo do bege
encardido, e lá no comecinho da série ele usou uma calça azul. Mas houve também
uma única vez, no episódio “Marteladas”,
de 1972, em que ele usou uma camiseta branca, aparentemente de segunda-mão –
parecia ter pertencido a um menino menor que ele –, com uma estampa do
Chapolin. Muito provavelmente uma camiseta promocional. Bolaños adorava fazer
propaganda do Chapolin no programa do Chaves, e vice-versa.
O Barril Que os Inteligentes Ainda Não Podiam Ver
O
barril do Chaves não existia na vila nos primeiros esquetes do programa, como “Remédio Duro de Engolir” e “O Despejo”. Ele aparece pela primeira
vez em “O Mistério dos Peixinhos”, de
1973.
O Segredo do Tapa-Olho do Chapolin
Estão
lembrados do episódio de 1979 “A Troca de
Cérebros”, em que Chapolin aparece usando um tapa-olho de pirata, e conta
que um cara tentou acertá-lo e conseguiu? Bem, aquilo não era um mero
acessório. Durante as gravações do episódio “Vinte
Mil Beijinhos Para Não Morar Com a Sogra”, Roberto Gomez Bolaños tropeçou
em uma parte do cenário da construção e cortou o supercílio. No final do
episódio, ele aparece com vários curativos no rosto, sendo que o do supercílio,
que quase cobria todo o seu olho esquerdo, era real. Por isso, nos dois episódios
seguintes “A História de Cleópatra”
(inédito no Brasil) e “A Troca de
Cérebros” ele aparece usando um tapa-olho.
Diz
a lenda que esse acidente foi o motivo de Bolaños ter decidido encerrar o
programa Chapolin Colorado. Mas no ano seguinte ele voltou a interpretar o
personagem em esquetes do Programa Chespirito – tendo encerrado também o
programa individual de Chaves.
Ótimo texto! Bem escrito e tão rico de informações adicionais (fotos e legendas dos eps). Todo estruturado e tão gostoso de se ler... Amei demaaaais!
ResponderExcluirMe fez lembrar a uma matéria que eu li uma vez em um blog espanhol sobre a "evolução das risadas do programa Chaves". Interessante ver que no áudio original a galera que ficava por trás das câmeras dava um show de gargalhadas (o staff, atores que esperavam a sua cena - na maioria das vezes, o Edgar Vivar - ou seus familiares e amigos), o que deveria ser um feedback muito bom e muito rápido para eles mesmos. Mas essas risadas mostram desde o momento do início do programa, ao seu auge, até o declínio, quando começam as várias repetições de sketches e também os desentendimentos dos atores... Até a saída do Villagrán e do Ramón (que, ao parecer, eram os que mais faziam a galera ir à loucura de tanto rir, na maioria das vezes), isso tudo entre 76 à 79. Deveria ser muito bacana acompanhar ao vivo os programas nos seus dias de glória, porém, nesses momentos de brigas por ego e discussões, deveria ser bem tenso o clima por lá... Eu fico imaginando essas coisas Haha
Se quiser ler, tá aqui o link (consegui achar de novo), também é uma ótima leitura: http://frodorock.blogspot.com/2012/10/las-risas-no-grabadas-en-el-chavo.html. Muito obrigado por sua postagem ♥
Eu que agradeço, e fico muito feliz que tenha gostado do post.
ExcluirIncrível esse artigo que você lincou, eu não conhecia, mas adorei conhecer mais esta curiosidade a respeito das séries CH. É pena que quando os episódios foram dublados por aqui a tecnologia ainda não permitia isolar os sons de fundo do restante do áudio, e não puderam utilizar as risadas originais. Teria ficado ainda divertido nossa versão com as risadas autênticas do pessoal de trás das câmeras (a gargalhada do Edgar Vivar é impagável! rsrsrs).
Seja sempre muito bem-vindo ao blog. *-*