Por Talita Vasconcelos
A Mina dos
Monstros – Transcrição da peça
ATO I
Interior.
Castelo do Drácula, Transilvânia. Noite.
NARRADOR (VOICE-OVER): Numa noite de
lua cheia...
Drácula
está descendo as escadas com uma mulher vestida de noiva desacordada em seus
braços.
NARRADOR (VOICE-OVER): O vampiro traz a
linda donzela, raptada a caminho do altar, para dentro de seu castelo. Mas se
esta for sua noite de núpcias, erraram o caminho da alcova...
O
vampiro a deita num divã no meio da sala empoeirada, e acaricia seu rosto
pálido, parecendo muito feliz com o sucesso de sua empreitada.
DRÁCULA: Mina... Doce Mina...
Finalmente será minha, Mina...
ALTO-FALANTES:
♪
Minha mina, minha amiga, minha namorada! Minha gata, minha sina do meu
condomínio... ♪
NARRADOR (VOICE-OVER): Desculpa aí, pessoal,
música errada. Hehe.
Alto-falantes
passam a tocar uma trilha sonora de filme de terror antigo.
A
noiva de Drácula surge de uma porta aberta ao fundo, vestida com uma camisola
de cetim branco.
NOIVA DE DRÁCULA: Que maravilha! Você
trouxe o jantar! Estou morrendo de fome. Já ia pedir uma pizza: calabresa sanguinolenta
e sem alho.
DRÁCULA: Quieta, tola concubina! Esta
donzela não é nossa refeição. É o amor de minha vida.
NOIVA DE DRÁCULA: Essa magrela aí?
Aposto que não tem nem quatro litros de sangue...
DRÁCULA: Não importa! Ela será minha.
Eternamente minha!
NOIVA DE DRÁCULA: Você não acha que o
noivo de quem você roubou essa mulher vai tentar tomá-la de volta?
Drácula
se ergue subitamente, cobrindo parte do rosto com a capa.
DRÁCULA: Vão tentar tomá-la de volta. Preciso
mantê-la a salvo!
Drácula
toca uma sineta. Ouve-se passos pesados ecoando pelo castelo. O monstro de
Frankenstein surge por uma porta lateral. Ele ainda traz o algodão preso no
nariz.
FRANKENSTEIN (com fala pesada, rouca e
lenta): Chamou, mestre?
DRÁCULA: Você guardará a entrada deste
castelo. Mate qualquer um que tentar se aproximar de Mina!
FRANKENSTEIN: Mina de diamantes ou mina
de carvão?
DRÁCULA (imitando a voz lenta de
Frankenstein): A Mina dos meus sonhos, sua besta!
E
aponta a donzela adormecida no divã.
FRANKENSTEIN: Sim, mestre!
O
Monstro caminha pesadamente para fora da cena.
Ouve-se
o uivo de um lobo.
DRÁCULA: Lobisomens na floresta nunca é
bom sinal.
NOIVA DE DRÁCULA: Como sabe que era um
lobisomem?
DRÁCULA: Por que não seria?
NOIVA DE DRÁCULA: Poderia ser só um
lobo comum.
DRÁCULA: Querida, isso é uma história
de monstros. Quem você acha que está lá fora? Chapeuzinho Vermelho, fugindo do
Lobo Mau?
Uma
mulher de sobretudo cor de vinho se aproxima de um lado do cenário.
VALENTINA: Me chamaram?
NARRADOR (VOICE-OVER): Ah, não,
querida, ainda não é sua deixa.
VALENTINA: Ops! Eu volto mais tarde,
então.
NARRADOR (VOICE-OVER): *ARRAM* Podem
prosseguir.
Drácula
e a Noiva voltam a focar na cena.
DRÁCULA: Talvez seja hora de consultar
o Oráculo.
NOIVA DE DRÁCULA (Com deboche): Não
prefere que eu chame uma cartomante?
Drácula
toca a sineta. Pela porta ao fundo entra Cruella de Vil empurrando a Múmia numa
cadeira de rodas.
CRUELLA: Interrompendo o sono de beleza
de duas damas divinas... É melhor que seja por uma boa razão.
DRÁCULA: Duas damas? Pensei que Imhotep
fosse um homem...?
CRUELLA: Depois de três mil anos mumificado
quem é que vai saber? É possível que o canudo tenha virado do avesso a essa
altura.
Um
dedo mumificado é erguido em direção à dama de casaco de peles.
DRÁCULA: Ao menos um gesto que não
precisa de tradução.
NOIVA DE DRÁCULA: Nem deixa espaço para
interpretação.
CRUELLA: Certo... Por que chamou?
DRÁCULA: Quero que me tire uma dúvida,
sábia Múmia que tudo sabe. Esta donzela que repousa neste recinto, será minha
ao final desta história?
A
Múmia emite um grunhido curto e ininteligível.
DRÁCULA: O que isto quer dizer?
CRUELLA: Oh, Tchuin-Tchuin-Tchunclain.
NOIVA DE DRÁCULA: Querida, você só está
nesta história para interpretar os grunhidos da Múmia Oráculo. Como é que você
não sabe o que ela quer dizer?
CRUELLA: Ora, como você espera que eu
interprete uma profecia com a boca tão seca? Ainda nem me ofereceram uma
bebida, ou um cãozinho pintadinho de sobremesa...
Drácula
serve um copo de uísque.
DRÁCULA: Vou ficar devendo o cãozinho.
CRUELLA: Assim está bem.
Ela
sorve um gole, e faz uma careta.
CRUELLA: Agora, sim. O que dizia, amiga
Múmia?
A
Múmia repete o grunhido.
CRUELLA: Entendo...
DRÁCULA: O que ela disse?
Cruella
imita o grunhido da Múmia.
DRÁCULA (furioso): Mas o que isso quer
dizer?
CRUELLA: Não é com uma donzela que está preocupado.
Não
deve temer aquele que foi transformado.
É
com o fantasma que deve se preocupar.
Mais
de uma noiva tua ele pode tomar.
A sábia e antiga Múmia assim falou.
DRÁCULA: E o que quer dizer toda essa
ladainha?
CRUELLA: Eu só sou paga para traduzir!
Interpretar é por sua conta, querido.
DRÁCULA: Não é fácil encontrar bons
funcionários hoje em dia.
CRUELLA: Como se ele fosse pagar pelo
meu casaco de peles... Mais alguma perguntinha?
DRÁCULA: Por enquanto, não. Podem
voltar ao seu sarcófago.
Cruella
sai empurrando a cadeira de rodas da Múmia pela mesma porta por onde vieram.
DRÁCULA: Mas afinal, o que esse monstro
empoeirado quis dizer com “ter que me preocupar com um fantasma”? Já viu algum
fantasma vagando pelo castelo?
NOIVA DE DRÁCULA: Isso é um castelo
mal-assombrado. O que você acha?
DRÁCULA: É... Talvez esteja na hora de
chamar um dedetizador para cuidar desse problema.
NOIVA DE DRÁCULA: Lamento, os
Caça-Fantasmas estão de folga. E se os Winchester aparecerem por aqui, eu janto
eles. Mas não esquenta a cabeça. Profecias são sempre enigmáticas, mesmo.
Provavelmente ela só estava querendo que colocasse uma pedrinha de gelo a mais naquele
uísque.
DRÁCULA: Talvez... Mas acho bom você
ter juízo! “Mais de uma noiva tua ele pode tomar...” Não gostei nada dessa
parte.
NOIVA DE DRÁCULA: Hum, ciumento... É
bom saber que depois de todos esses séculos ainda tem ciúme de mim.
DRÁCULA: Certo... Agora deixe-me
sozinho com a minha donzela. Ela terá uma grande surpresa quando acordar.
NOIVA DE DRÁCULA: Está bem. Bom
apetite.
A
Noiva sobe as escadas, agitando a camisola esvoaçante.
Drácula
se senta ao lado de Mina, e começa a matutar com seus botões.
DRÁCULA: O que será que ela quis
dizer...?
NARRADOR (VOICE-OVER): A dama desperta.
Mina
se ergue no divã, bocejando, e se assusta ao ver o vampiro ao seu lado. Ela dá
um grito. Drácula abre sua capa, pairando acima dela.
DRÁCULA: Bem-vinda ao nosso belo lar,
minha dama da noite!
O
vampiro se inclina para mordê-la, enquanto Mina grita mais uma vez.
***
ATO II
Interior. Ainda
No Castelo do Drácula, Transilvânia. Mesma Noite.
O
divã agora está vazio. A canção de O Fantasma da Ópera ecoa pelo castelo. Uma
sombra se aproxima do patamar no alto da escada.
FANTASMA DA ÓPERA: Aquele vampiro ousa
raptar minha amada discípula Mina... Por muito tempo eu ensinei a ela todas as
árias dos grandes mestres, moldei sua voz pessoalmente para transformá-la um
dia na rainha da Ópera de Paris. Muito embora tenha feito tudo isso em Londres...
Bem, não importa. Aquele vampiro não arruinará a minha obra prima. Mina será
minha!
Ouve-se
um ruído exterior.
FANTASMA DA ÓPERA: Quem vem lá?
Maldição! Será mais um para disputar o amor da minha talentosa Mina?
O
Fantasma ergue a capa à frente do rosto e desaparece por uma porta lateral.
Uma
sombra se aproxima da grande janela ao fundo, iluminada por relâmpagos. Ouve-se
um grunhido.
VAN HELSING (VOICE-OVER): Shhh!
JONATHAN HARKER (VOICE-OVER): Você
pisou no meu pé com o salto dessa bota!
VAN HELSING (VOICE-OVER): Foi mal.
HARKER (VOICE-OVER): Se eu soubesse que
atravessar essa floresta causaria tantos problemas, teria me casado com uma das
madrinhas, e o Drácula que fosse feliz com a Mina!
A
janela se abre. Valentina Van Helsing salta para dentro do salão.
VAN HELSING: Não reclama! Se você não
fosse tão mão de vaca, a gente podia ter alugado uma carruagem para nos trazer
até aqui, e não precisaríamos ter atravessado o bosque a pé...
HARKER (VOICE-OVER): E que filho de
Deus nesse lugar traria dois forasteiros ao castelo de um vampiro?
VAN HELSING: Vai por mim, querido, tem
doido para tudo! Principalmente depois de oferecer uns Euros a mais... Agora, dá
para parar de chilique e entrar de uma vez?!
Um
lobisomem salta para dentro do cômodo.
HARKER: E aí, acha que a Mina vai me
achar muito diferente?
VAN HELSING: Se depois de te ver assim,
ela ainda quiser casar com você, ela vai ser um prato cheio para o Freud.
Van
Helsing começa a avançar pelo cômodo. De repente se detém, abrindo os braços
para deter Harker.
HARKER: O que foi?
Van
Helsing se abaixa e passa os dedos pelo chão.
VAN HELSING: Sangue!
HARKER: Meu Deus! Mina...
VAN HELSING: Calma, calma que ainda é
cedo para o pânico.
HARKER: Já ouvi algo parecido com isso
em algum lugar...
VAN HELSING: É, eu tenho um amigo
mexicano que gosta de falar isso. Mas não vem ao caso agora...
HARKER: Mina deve estar ferida.
VAN HELSING: É possível. Drácula já
deve ter se alimentado dela a essa altura.
HARKER (coçando a testa): Não fala isso
nem brincando...
VAN HELSING (revirando os olhos): Não,
eu estou falando no sentido gastronômico, ou melhor, vampiresco da coisa.
HARKER: Ainda bem.
Van
Helsing avança e espia pela porta lateral aberta.
VAN HELSING: Vamos fazer o seguinte: eu
procuro por aqui, e você procura lá em cima.
HARKER: Melhor o contrário.
VAN HELSING: Por quê?
HARKER: Porque, pela lógica, os quartos
devem ficar lá em cima. E se eu encontrar a Mina metida num desses quartos com
o Drácula, eu não respondo pelos meus atos!
VAN HELSING: Não seja tolo! O Drácula
deve dormir lá no porão.
HARKER: E quem falou em dormir?
VAN HELSING: Está bem. Eu procuro lá em
cima. Mas abre o olho, porque o Drácula não deve ser o único vampiro nesse
castelo, e com certeza não são os únicos monstros.
Van
Helsing examina Harker de cima a baixo, sugestivamente.
HARKER: Obrigado pela parte que me
toca.
VAN HELSING: Sabe o que eu quis
dizer...
HARKER: Ok, mas vamos fazer essa busca
depressa. Só espero que não seja tarde demais.
O
Lobisomem sai pela porta lateral. Van Helsing sobe as escadas.
VAN HELSING: Já tinha visto rosnando,
mas essa é a primeira vez que eu vejo um corno latindo...
O
Fantasma da Ópera retorna pela porta aberta ao fundo da cena.
FANTASMA DA ÓPERA: O bom de ser
fantasma é que ninguém estranha me ver saindo por uma porta e retornando por
outra...
Ele
se aproxima da outra porta lateral.
FANTASMA DA ÓPERA: Frank! Meu amigão
Frank...
E
puxa o monstro de Frankenstein para dentro da cena. Ele ainda tem um tufo de
algodão enfiado no nariz.
FANTASMA DA ÓPERA: Onde foi que você se
meteu, seu ordinário?
FRANKENSTEIN: Você está querendo me
meter em confusão!
FANTASMA DA ÓPERA: Confusão nenhuma,
Frank. Você é um sujeito gente boa, bonitão... (O Fantasma vira o rosto e faz uma careta). Não devia ficar assim
tão sozinho.
FRANKENSTEIN: Ninguém quer ficar perto
de mim. Todos têm medo. Até meu reflexo no espelho tem medo de mim...
FANTASMA DA ÓPERA: Tadinho do Frank...
Mas eu já te falei que posso te apresentar uma amiga minha, gente boa, bonitona
assim que nem você... Quer dizer, que nem você, não, bonita mesmo! E te garanto que ela não vai ficar com medo.
FRANKENSTEIN: Como é que você sabe?
FANTASMA DA ÓPERA: Ela já namorou até o
Monstro da Lagoa Negra, vai ter medo de você, Frank?! Essa garota é tranquila.
É só oferecer uma bebidinha, que ela pega gente que até a ressaca teria medo de
pegar.
FRANKENSTEIN (com sarcasmo):
Obrigado...
FANTASMA DA ÓPERA: É, mas para eu te
apresentar essa garota, você vai ter que fazer um favorzinho para mim. Vai ter
que distrair o vampirão laqueado para eu tirar aquela moça bonita do castelo.
FRANKENSTEIN (com medo): Ele vai ficar
furioso.
FANTASMA DA ÓPERA: Estou contando com
isso, Frank...
Ouve-se
o ruído de alguma coisa grande caindo.
FANTASMA DA ÓPERA: Droga! Vem vindo
alguém.
E
empurra o Frankenstein pela porta lateral para se esconder.
Drácula
surge no alto da escada.
DRÁCULA (furioso): Que diabo foi isso?
Ele
desce depressa as escadas.
DRÁCULA: Invasores em meu castelo?! Vou
me banquetear com o sangue dos intrusos!
Ele
abre a boca, fazendo um ruído faminto de antecipação, e atravessa a porta
lateral.
Um
grande baú de madeira se move debaixo da escada e Valentina Van Helsing atravessa
o buraco que ele ocultava, retornando ao centro do palco.
VAN HELSING: Quem diria que aquela
passagem secreta daria aqui?
O
Lobisomem também desce as escadas, e para no meio do caminho olhando para
baixo.
HARKER: Que barulho foi aquele?
VAN HELSING: Matei uma armadura metida
a besta.
HARKER: Como é que é?
VAN HELSING: Longa história. Como você
foi parar aí em cima?
LOBISOMEM (parecendo confuso): Entrei
pela porta errada.
VAN HELSING: E então? Encontrou sua
Mina?
HARKER: Não. Lá em cima só encontrei um
monte de quartos empoeirados e uma coleção de capas coloridas enfeitadas com
paetês. Pelo visto esse vampiro morde com os dois lados da presa, se é que me
entende...
VAN HELSING: Está na moda vampiro que
brilha no escuro.
HARKER: Tem gosto para tudo... Teve
sorte?
VAN HELSING: Tive. Não topei com
nenhuma assombração ainda. Talvez o Drácula tenha escondido a Mina lá no porão.
Quem sabe, no caixão onde ele dorme...?
HARKER: Nesse caso ele vai ver com
quantas estacas se prega um vampiro na parede.
VAN HELSING: Vamos. O porão deve ser
por ali.
Van
Helsing aponta para a porta no fundo do salão, e começa a avançar pelo cômodo.
HARKER: Cuidado! Pode ter armadilhas.
VAN HELSING: É o castelo de um vampiro,
não a tumba do Faraó.
A
Múmia surge pela porta do fundo, empurrada pela Cruella.
HARKER: Tem certeza disso?
CRUELLA: Ora, ora, ora... Temos
visitas!?
A
Múmia emite um grunhido.
CRUELLA: Sim, meu bem. São invasores.
Que acha? Devemos avisar ao mestre Drácula?
HARKER: A senhora não poderia fazer
vista grossa, por obséquio?
CRUELLA: Poderia. Mas por que eu faria?
O que você me daria em toca do silêncio? Hein, bonitão?
VAN HELSING: Cuidado, Harker. Não vai
querer fazer acordos com esse diabo.
Cruella
se aproxima e acaricia o rosto peludo do Lobisomem.
CRUELLA: Nunca tive um casaco de pele
de Lobisomem, sabia?
O
Lobisomem dá um sorriso desdenhoso e se esquiva, puxando Van Helsing para um
canto.
HARKER: Quem é essa mulher?
VAN HELSING: O pior monstro nesse
castelo.
HARKER: Sem dúvida, é o mais feio.
CRUELLA: O que disse, rapaz?!
A
Múmia emite um ruído que parece uma risada.
CRUELLA: Ah, você deve ser o noivo
daquela mocinha bonitinha que o Drácula trouxe para jantar em casa, não é?
HARKER: Não me provoca, que hoje eu tô
mordido!
VAN HELSING: Literalmente!
CRUELLA: Bem, só porque eu me sinto
muito generosa hoje, vou te dar uma dica para encontrar a sua... bela.
Cruella
se aproxima novamente e abraça o Lobisomem pelos ombros.
CRUELLA: Sua noiva dorme no caixão do
vampiro, na masmorra mais profunda deste castelo. E é melhor você ser muito
rápido, ou acabará por se tornar o jantar da nova noiva de Drácula!
HARKER: Não... Mina!
O
Lobisomem corre para a porta aberta ao fundo, seguido por Van Helsing.
CRUELLA: Agora, minha Múmia, vamos dar
uma polida nessas faixas, sim? E deixar esses idiotas irem direto para o covil
do monstro.
E
sai gargalhando assustadoramente, empurrando a cadeira de rodas da Múmia.
***
ATO III
Interior. Ainda
No Castelo do Drácula, Transilvânia. Mesma Noite.
Drácula
entra pela porta lateral, seguido pelo Frankenstein, já sem o algodão no nariz.
DRÁCULA: Era só o que me faltava, ter
que caçar um monstro embaixo da cama do Frankenstein... Um sujeito desse
tamanho com medo do bicho-papão.
FRANKENSTEIN: Juro que eu vi, mestre!
DRÁCULA: Tá... Vamos tirá-lo de lá. Traz
a vassoura. *ATCHIM*
FRANKENSTEIN: Saúde, mestre.
DRÁCULA: E essa gripe agora... Depois
de três séculos morto, o vampiro agora pega gripe... Haja...
Saem
pela outra porta lateral, Frankenstein carregando a vassoura da Bruxa do 71.
Pelas costas do vampiro, ameaça bater com ela em sua cabeça.
O
Fantasma da Ópera vem pela porta dos fundos, carregando Mina desacordada em
seus braços.
FANTASMA DA ÓPERA: Esse Frank é uma
figura, mesmo... Peço para distrair o vampirão, ele inventa que tem um monstro
embaixo da cama. E o pior é que o Drácula acredita! Essa geração está perdida,
mesmo... Ninguém raciocina. Ah, deixa eu descansar essa garota um minutinho
aqui nesse divã. Essa mocinha é mais pesada do que parece... Ah... Recuperar o
fôlego... Um minutinho...
Mina
levanta devagar, pelas costas dele, demonstrando que apenas fingia estar
desacordada, e bate com um castiçal na cabeça do Fantasma, que cai inconsciente
no chão.
MINA: Gorda é a vovozinha, seu Fantasma
atrevido!
Ela
tenta correr, mas é barrada por Cruella e a Múmia, que surgem da porta dos
fundos, iluminadas pelo clarão de um relâmpago na janela ao lado.
CRUELLA: Vai a algum lugar, mocinha?
MINA: Vo-vo-você está viva ou é um
fantasma?
CRUELLA: Depende do ângulo da foto.
A
Noiva de Drácula surge pela porta lateral ao pé da escada, agarrada ao
Lobisomem.
NOIVA DE DRÁCULA: Espera aí, peludão,
vai embora, não... Se o Vlad pode jantar aquela magrela, eu também posso me
divertir um pouquinho...
HARKER: Sai de mim, assombração! Eu
prefiro mulheres vivas. Questão de princípios, sabe?
NOIVA DE DRÁCULA: Besteira, cachorrão.
Eu tô morta, mas não tô gelada... Quer dizer...
Harker
vê Mina cercada pelas monstras de companhia na sala.
HARKER: Mina!
Ela
se volta para ele, e grita ao ver o Lobisomem.
HARKER: Sou eu!
MINA: Jonathan?! O que aconteceu?
HARKER: Fui mordido por um lobisomem na
floresta no caminho para cá.
CRUELLA: Então você veio salvá-la de um
monstro, transformado em outro...?
HARKER: Olha quem fala de monstro...
CRUELLA: Eu não sou um monstro!
NOIVA DE DRÁCULA: Apesar de se parecer
com um. Ela só interpreta as previsões da Múmia, que ninguém consegue entender.
MINA: Bem, isso é muito lógico, afinal,
as duas devem ter mais ou menos a mesma idade...
Cruella
atira a piteira de cigarro no chão, e puxa as mangas do casaco para cima,
caminhando ameaçadoramente em direção a Mina. O Lobisomem se interpõe entre as
duas.
HARKER: Não vou permitir que encoste um
dedo na minha noiva!
CRUELLA: Um dedo só, não, querido. Eu
vou quebrar essa lambisgoia inteira! Porque o que eu tenho de velha, ela tem de
donzela!
O
Lobisomem se volta para Mina.
HARKER: Que papo é esse, Mina?!
NOIVA DE DRÁCULA: Opa! Se vão derramar
o sangue dessa magrela eu quero estar na zona de respingo. Será O negativo? A
positivo? Não sei, vamos descobrir!
Se
ajoelha com a boca aberta atrás de Mina. A janela se abre e Drácula surge num
relâmpago.
DRÁCULA: Ninguém beberá o sangue de
Mina! Exceto eu.
MINA: Cadê sua senha? Por que tem
prioridade? Ah, é verdade, você é idoso, né? Tá certo...
O
Fantasma da Ópera desperta cambaleando, com a mão na cabeça.
FANTASMA DA ÓPERA: Essa... mulher... é
minha!
NOIVA DE DRÁCULA: Gente, vamos
organizar essa fila?! Porque o vampiro quer a garota, o Lobisomem quer a
garota, o Fantasma também quer... Tem cerveja na sua corrente sanguínea, filha?
VAN HELSING (surgindo da porta dos
fundos): Quieto, Drácula! E eu prometo te matar bem rapidinho...
DRÁCULA (surpreso): Van Helsing?! Você
era muito diferente na última vez que nos encontramos. Mais... homem...
VAN HELSING: Eu bebi do frasco errado
no laboratório do Dr. Jekyll... Mas isso não vem ao caso!
DRÁCULA: E se transformou em mulher?
(Dá uma gargalhada). E Valentine se transformou em Valentina! (Mais uma
gargalhada). Não se preocupe, porque poderia ter sido bem pior... Você podia
ter se transformado em algo realmente assustador. Presidente do Brasil, por
exemplo...
Van
Helsing bate na madeira, fazendo o sinal da cruz três vezes.
VAN HELSING: Cruz, cruz, cruz! Que saia
o diabo e venha Jesus! Rogue essa praga em outro... Agora deixa de conversa
fiada! Eu vim aqui resgatar uma donzela, e é o que pretendo fazer.
DRÁCULA: Não vejo nenhuma donzela no
recinto.
HARKER: Olha aí! Mais um querendo
colocar uma pulga atrás da minha orelha...
O
Lobisomem começa a se coçar. Mina dá um sorriso amarelo.
VAN HELSING (Sacando uma estaca de
madeira): Chega de papo furado, Drácula! Sua hora chegou!
E
parte para cima do vampiro. O Lobisomem aproveita a briga para tentar sair de
fininho com Mina, mas são barrados pela Múmia e pela Cruella. O Fantasma da
Ópera contorna a sala por trás da confusão e agarra a noiva de Drácula.
FANTASMA DA ÓPERA: Você sabe cantar,
belezinha?
NOIVA DE DRÁCULA: Como um rouxinol.
FANTASMA DA ÓPERA: Bem, de um jeito ou
de outro, sairei daqui com uma noiva.
E
a arrasta pela porta lateral.
NARRADOR: Assim se cumpre a profecia da
antiga Múmia, e o Fantasma da Ópera toma para si a Noiva de Drácula.
***
E foi a partir daí que a coisa começou
a degringolar...
Continua...
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