Por
causa do mês do Halloween, eu acabei desenterrando uma gangue inteira de
monstros do fundo de algum baú empoeirado. Aliás, bota empoeirado nisso, porque
nem me perguntem como foi que me lembrei desse filme...
Figurinha
marcada da Sessão da Tarde no passado, esse filme de 1987 com certeza é uma boa
lembrança da infância de algumas pessoas. É um filme clichê, com uma história
bobinha, que mesmo sendo completamente previsível, cumpria muito bem o seu
papel, que era o de divertir o espectador. Só não consigo imaginar na mente de
que tipo de tradutor psicopata “The Monster Squad” se tornou “Deu a Louca Nos
Monstros”.
O
início do filme mostra o flashback de uma noite cem anos atrás. Era uma época
de escuridão na Transilvânia. Uma época quando o Dr. Abraham Van Helsing e um
pequeno bando de defensores da liberdade se juntaram para livrar o mundo de
vampiros e monstros, e para salvar o mundo do mal eterno.
Eles
falharam!
Comecinho
encorajador, não acham?
Então,
somos transportados da Transilvânia do século 19, para uma cidadezinha qualquer
nos Estados Unidos em 1987. Mais especificamente para a diretoria de uma escola
pública, onde dois meninos estão tomando bronca do diretor por ficarem
desenhando monstros na aula de Ciências. E você pensa que os garotos tentaram
se justificar para sair da encrenca? Que nada! Aproveitaram para contar ao
diretor sobre o apelido carinhoso que deram à professora de Ciências, que de
acordo com eles, tem a cabeça parecida com a de um gato.
Na
saída, enquanto os garotos questionam a sexualidade do diretor (sim, você
entendeu bem! Esses anos 80...), e reclamam da bronca recebida, eles esbarram
justamente na professora Miau-Miau, e demonstrando que garotos às vezes também
fofocam como menininhas, um deles fica chocado quando o outro lhe diz que a tal
professora é casada. E eu nem achei ela tão feia assim...
Enquanto
isso, no pátio da escola, o terceiro mosqueteiro, um garoto gordo chamado
Horace, está sofrendo bullying dos valentões da escola: Derek cabeça de fósforo
e o irmão desagradável do Johnny Bravo. Este último rouba o chocolate do
coitado do Gordo, esmaga-o sob o sapato, e começa a bancar o Caruso. Só que o
gordinho não é o Chris...
Prova
disso é que, bem neste momento, entra em cena Rudy, o bad-boy do pedaço. Sabe
aquele garoto bem típico dos anos 80, que repetiu várias séries e por isso ele
manda na escola, impondo medo e respeito nos demais? O cara de jaqueta de couro
preta, com um cabelo legal, que chega montado numa bicicleta – porque ainda não
tem idade para pilotar uma moto –, e risca um fósforo na sola do sapato para
acender o cigarro, só para mostrar que é descolado? Bem estereotipado.
Mas
esse garoto, por alguma razão, é amigo do Gordo, e além de defendê-lo, ele
obriga Johnny Bravo a comer o chocolate em que acabou de pisar. Fica a dica:
não mexa com um garoto que tenha costas quentes!
O
grupo ainda está desfalcado quando os dois garotos que receberam a bronca do
diretor, Sean e Patrick encontram Phoebe, a irmã caçula de Sean, a caminho de
casa. A menina está louquinha para se enturmar com a galera, mas seu irmão é
pouco receptivo. Como a maioria dos irmãos mais velhos...
Eles
param por um momento diante da casa de um homem denominado simplesmente “O
Alemão Que Assusta”, e voltando a fazer uso da rádio-patroa, especulam que o
velho pode ser um espião, mas Phoebe, a sábia garotinha, explica aos garotos
que o país não está em guerra com a Alemanha, e sim com o Vietnã. Como uma
menina de cinco anos sabe disso?
Pois
é, minha gente... Nos Estados Unidos, as crianças aprendem essas coisas com os
filmes do Rambo. Aqui no Brasil, informações sobre a história nacional a
criançada aprende nas aulas do Professor Girafales.
Mas
voltando ao filme, ainda em frente à casa do Alemão Que Assusta, os garotos são
alcançados pelo amigo Gordão, que os informa que Rudy, o bad-boy, quer entrar
para o clube de monstros dos meninos.
Então
as ações do filme se afastam momentaneamente do grupo de garotos, e se
concentram no interior de um avião de carga que está sobrevoando a cidade. Um
dos pilotos começa a reclamar do emprego, porque obviamente é muito chato
pilotar um avião da segunda guerra cheio de caixotes e cadáveres, ao que seu
companheiro argumenta que, pelo menos, seus passageiros – os presuntos – não
reclamam, não enjoam e não solicitam serviço de bordo. Mas nesse momento eles
ouvem um ruído estranho – porque em todo filme clichê de monstros alguém tem
que ouvir um ruído estranho! –, e o piloto reclamão vai verificar sua origem.
Ele acaba descobrindo que há um morcego a bordo. Mas não é um morcego comum: é
o Conde Drácula em pessoa, que sobreviveu à tentativa de Van Helsing de
mandá-lo para o esquecimento há cem anos, e decidiu fazer uma visitinha à terra
do Tio Sam.
O
piloto consegue tatear as paredes da aeronave – enquanto possivelmente borra as
calças –, e encontrar a alavanca para ejetar a carga, mas fica ainda mais assustado
ao perceber que Drácula pode flutuar em sua forma original sobre o alçapão
aberto, enquanto calmamente refaz a metamorfose em morcego. Então o vampiro
aproveita a saída aberta debaixo de seus pés – ou, no caso, de suas asas! –
para abandonar o avião, enquanto o piloto apavorado gentilmente descarrega sua
bagagem no pântano enevoado.
Ele
devia ver pelo lado bom: pelo menos não foi mordido! Acho que o Drácula não
estava com fome... Qual terá sido o cardápio do voo?
De
volta ao grupo de protagonistas, nós finalmente descobrimos porque o bad-boy da
escola quer entrar para o clube de monstros dos meninos, e possivelmente o
motivo porque ele foi tão bonzinho em defender o Gordo na escola: acontece que
a sede do clube é uma casa na árvore com vista para a janela da vizinha, e ela
aparentemente nunca se lembra de fechar as cortinas antes de trocar de roupa.
Mas
embora seja uma espécie de milagre muito conveniente um garoto como Rudy querer
ser amigo dos garotos do clube, ele não recebe o passe fácil, não. Porque
afinal de contas, o Clube de Monstros não é bagunça! Por isso, antes de
aceitá-lo, os garotos decidem submetê-lo a um teste para verificar se ele é tão
entendido no assunto – monstros – quanto eles.
E
as perguntas são realmente difíceis:
Como
vocês se sairiam nesse teste?
Reparem
que Rudy só disse uma maneira de matar um lobisomem. E o engraçado é que nenhum
dos garotos foi capaz de dizer qual é a segunda, embora tenham especulado sobre
bater com o carro, acidente com ferramentas, velhice, ou cair pela janela em
cima de uma bomba. Só lembrando que esse filme é dos anos 80, ou seja, nenhum
desses garotos poderia ter lido Crepúsculo ainda, para saber que outra maneira
de matar um lobisomem é a mordida de um vampiro. E a julgar pela mesma série,
eu desconfio que uma certa alergia a camisas, também...
Bem,
no meio do teste, a irmã gracinha de Sean tenta invadir a reunião e descolar
uma vaga no clube, mas seu irmão rapidamente dá um jeitinho de botar a garota
para correr.
Tadinha...
Em
seguida, a mãe dele acaba com a festa, chamando os dois para jantar, e
aproveita para dar a Sean um livro que comprou naquela tarde num brechó. O
livro – na verdade, um diário – veio de uma casa velha na Rua Sheldon Brooke, e
o garoto logo percebe que ele foi escrito em alemão pelo lendário caçador de
monstros Abraham Van Helsing, que de acordo com sua mãe, foi o homem que matou
o Godzilla. Ou seja, as mães nos anos 80 também confundiam as bolas. Lembre-se
disso quando sua mãe confundir o Dobby com um E.T.
Então
Sean vai pedir ao seu pai, que está no banheiro fazendo a barba, que o deixe ir
com os amigos assistir o novo filme de terror que saiu, mas o pai já tem planos
com a mãe dele para essa noite, e Sean precisa ficar em casa cuidando de
Phoebe. E o garoto ainda corre o risco de levar um tiro se não se lavar para
jantar. E vocês reclamavam quando seu pai ameaçava tacar um chinelo...
E
ponto final!
Mas
acaba que nenhum dos dois faz aquilo que queria fazer naquela noite, porque no
meio dessa conversa, o pai do Sean, que é policial, recebe um telefonema
urgente da delegacia, avisando que um maluco invadiu o distrito, dizendo que é
um lobisomem, e pedindo para ser preso, porque hoje é noite de lua cheia, e
como ele ficou muito agressivo, tiveram que abatê-lo a tiros. Eu só fico me
perguntando se nunca tinha existido lua cheia antes daquela noite nessa cidade,
para ele só ter percebido agora que era um lobisomem e que precisava ser
detido...
E
para piorar um pouco o caos, os policiais também recebem um chamado do museu
local, reportando o desaparecimento de uma múmia de dois mil anos de idade. O
guarda, como já era de se imaginar, não viu ninguém entrar nem sair do local
onde a múmia ficava exposta, e ele também garante que não a roubou.
Aparentemente
a criatura empoeirada ficou muito entediada em seu sarcófago e resolveu dar um
passeio na Disneylândia com o Polegar Vermelho...
E
não foi sozinha!
Porque
os policiais se esqueceram de um detalhe crucial ao combater um lobisomem; um
detalhe que até o Rudy, que só queria entrar para o clube para espiar a vizinha
trocando de roupa com o binóculo, sabia: se você não atirar com balas de prata,
o lobisomem não morre!
Infelizmente,
eles descobrem mais tarde, que o lobisomem não morreu, mas o motorista da
ambulância que o transportava, sim. E o Jacob Black dos anos 80 se escafedeu!
E
enquanto Sean fila a televisão do vizinho com um binóculo, acompanhado pelo pai
recém-chegado do trabalho, Drácula organiza uma pequena reunião de cúpula no
pântano com os outros monstros: o lobisomem morto que desapareceu da cena do
crime, a múmia de Imhotep que saiu para dar uma voltinha e tomar um arzinho
noturno, e o Monstro da Lagoa Negra, que chegou um pouquinho atrasado, porque o
trânsito estava horrível da Amazônia até lá, e ele precisou parar no caminho
para recuperar a bagagem que a companhia aérea que Drácula escolheu para viajar
despachou de qualquer jeito no fundo do pântano. Tsk, tsk... Alguém devia
colocar um bilhetinho na caixa de reclamações da empresa...
Enfim,
Drácula abre o caixote, e dentro dele está o Monstro de Frankenstein, que
aparentemente descansa em paz há mais ou menos cem anos. E como Drácula está
precisando de um criado, e não é fácil encontrar bons funcionários hoje em dia,
ele liga os eletrodos conectados à sua bengala nas têmporas da criatura morta,
ergue a bengala como se fosse um para-raios, e usa a eletricidade da tempestade
que estava se formando para trazer o monstro de volta à vida. O mais curioso
daí em diante, é que nem chega a chover!
Naquela
mesma noite, enquanto Phoebe está com medo dos raios, e os pais de Sean
discutem porque o pai furou o compromisso que tinha marcado com a esposa para
ir atender ao chamado no distrito policial, Sean percebe um recado para ele que
sua mãe anotou no quadro ao lado do telefone:
VAN
HALEN... É possível que quando anotou o recado ela estivesse pensando na banda
de rock dos anos 70...
É
claro que Sean entendeu logo do que se tratava. E como o garoto já assistiu O Filho de Drácula, dos Estúdios
Universal, ele sabe que Alucard é Drácula escrito ao contrário. Isso só pode
significar uma coisa: o vampirão está na cidade!
Hora
de convocar uma reunião de emergência no Clube de Monstros para discutir o problema
iminente. Sean conta aos garotos sobre o lobisomem que apareceu na delegacia,
sobre o contato de Drácula, e descobre que a múmia que escapou do museu não era
de Imhotep, mas era a múmia do Bicho-Papão, e ela fez uma visitinha ao Eugene,
o garoto mais novo do clube, naquela noite, para verificar se ele tinha alguma
roupa que lhe servisse no armário.
Então
eles percebem a importância de encontrar logo alguém que possa traduzir o
diário de Van Helsing, para ver se descobrem o que os monstros foram fazer na
cidade. Patrick se lembra que sua irmã – a vizinha que o Rudy adora espionar –
estuda alemão no ginásio, mas essa informação é bastante controversa, como
verão mais à frente.
Enquanto
isso, na velha mansão mal-assombrada da Rua Sheldon Brooke, onde o diário de
Van Helsing foi encontrado, Drácula, que na falta de um bom hotel na cidade
decidiu se hospedar por lá mesmo, abre uma passagem secreta, e desce até as
masmorras, onde se ouve o som de água pingando (para variar! O que há com o
encanamento desses lugares?), para dar um beijinho de boa noite em seu amigo, o
monstro de Frankenstein, que deve ser o caçula da trupe, já que ficou com as
piores acomodações do lugar. E Drácula aproveita para pedir que, quando for à
padaria de manhã, a criatura faça a gentileza de lhe trazer também a última
edição do Diário de Van Helsing, junto com a cabeça de quem estiver com ele, se
por acaso se recusar a cooperar.
Mas
os garotos têm seus próprios planos para o diário, e como não confiam no
esforço acadêmico da irmã de Patrick, apelam para a alternativa mais lógica,
embora seja também a mais apavorante: pedir ajuda ao Alemão Que Assusta para
traduzir o diário. E neste momento sentimos pena das crianças daquela época que
não tinham o Google para ajudá-las nesses momentos difíceis.
Falando
nisso, se prestarem atenção vão até aprender uma frase potencialmente útil no
idioma do Sr. Helsing – caso algum dia sejam assaltados por um alemão, digam:
Isso,
em português, quer dizer: “por favor, não nos mate”. Alguns jogadores da nossa
seleção podiam ter dito essa frase em campo na Copa do Mundo...
Alguém
aí já assistiu Frankenstein? Pergunto isso, porque na sequência dessa cena, há
um remake do encontro do monstro com a menininha na beira do lago. Só que a
vítima desta vez é a graciosa irmãzinha do Sean, que por alguma razão, estava
brincando sozinha no meio do nada.
E
enquanto a pobre criança tem um encontro com o monstro, o Alemão Que Assusta
leva os garotos do clube para dentro de sua casa, e aparece diante deles
empunhando uma faca de açougueiro...
Calma...
Ele só vai cortar um pedaço de torta.
Em
seguida ele traduz as anotações importantes de Van Helsing para os meninos. Só
uma coisinha: como foi que em poucos minutos ele identificou, num longo diário,
exatamente a parte que interessa para o andamento do filme?
Bem,
não importa!
O
velho – que os roteiristas não se dignaram a dar um nome! – diz que as forças
do bem e do mal estão em constante fluxo, mas uma vez a cada cem anos elas se
equilibram. E neste momento, ao bater da meia-noite, o amuleto que repele o
mal, e quase sempre é indestrutível, fica vulnerável e pode ser despedaçado. Se
isso acontecer, o balanço entre o bem e o mal mudará, e o mal reinará sobre o
mundo. A única maneira de parar as forças da escuridão, é realizando uma
cerimônia que Van Helsing descreveu em detalhes em sua última anotação. Se for
realizada corretamente, abrirá um portal para um purgatório onde vivem os
condenados, e esse redemoinho terá força suficiente para engolir as forças do
mal para sempre.
E
esse momento a cada cem anos acontecerá... Adivinhem? Na noite seguinte!
Pois
é, Sr. Miyagi de Gelsenkirchen, isso é um mistério...
Agora
que já sabem o que precisam fazer, a Patrulha Monstro – ou Monster Squad, como
preferirem – vai atrás dos ingredientes necessários para abrir o portal do
purgatório: o amuleto que ninguém sabe onde está, e a parte mais difícil, uma
virgem para ler as palavras mágicas no livro.
Então
eles retornam à sede do clube, onde Phoebe aparece para lhes apresentar seu
novo amigo, o monstro de Frankenstein, que obviamente está mais do que apto a
participar do clube, já que ele sabe muita coisa sobre monstros – ele próprio
sendo um!
Mas
antes de admiti-lo no grupo, esses moleques corajosos correm para se esconder
nas lixeiras.
Apenas
Phoebe – de todos os personagens do filme – parece se lembrar que a criatura de
Frankenstein é apenas incompreendida, e não malvada. E quando os meninos se dão
conta disso, o levam para a sede do clube, onde o monstro fica chateado ao ter
contato com uma máscara que imita seu rosto e perceber que é assustador.
Tadinho do Frank...
Enquanto
isso, na mansão assustadora, Drácula inicia as escavações em busca do tesouro
de Sierra Madre, e acaba encontrando – OH! – o amuleto que é a chave do
purgatório. MAS ESPERA UM MINUTINHO... A última vez que esse amuleto foi visto,
foi no flashback no começo do filme, na masmorra do castelo de Drácula, na
Transilvânia. Como é que ele foi parar naquela casa cheia de passagens secretas
numa cidadezinha qualquer dos Estados Unidos? Será que o castelo de Drácula foi
abduzido por alienígenas desde que ele foi forçado a abandoná-lo há cem anos, e
levado num disco-voador até a Rua Sheldon Brooke, e teve a fachada reformada
para se parecer com uma mansão assustadora? Ou será que os roteiristas confundiram
a Transilvânia do leste Europeu com o estado da Pensilvânia, na terra do Tio
Sam? Ou será que o castelo de Drácula foi injetado pelo extrato de energia
volátil do Dr. Baratinho (se não entendeu, assista Chapolin), saiu voando, atravessou
o oceano e pousou naquela cidade?
Bem,
nunca saberemos. Lembra o que eu disse no início? Filme SESSÃO DA TARDE. Isso
em português quer dizer: por favor, não espere coerência!
De
volta à trupe dos caça-fantasmas... digo, a Patrulha Monstro, os garotos se
armam para enfrentar as forças do mal naquela noite sinistra: Eugene envia um
pedido de ajuda ao Exército dos Estados Unidos; Phoebe toma conta do monstro de
Frankenstein, já que é a única que não frequenta a escola e pode ficar de babá
da criatura na parte da manhã; Rudy rouba varas de madeira na aula de
marcenaria para fazer estacas, rouba arco e flechas na aula da ordem dos
arqueiros (não sabia que as aulas de Educação Física nas escolas americanas
eram tão divertidas), e depois derrete as colheres de prata que roubou da mãe
de Sean na aula de química para fazer balas que possam matar um lobisomem...
Como é que esse moleque consegue fazer tudo isso, mas não consegue passar de
ano?!
Ah
é, e tem também as fotos que o Frankenstein tirou, e Rudy mandou revelar
naquela tarde. E a julgar pelo modo como ele cuspiu o refrigerante ao verificar
se tinham ficado boas, a vizinha do clube precisa mesmo aprender a fechar as
cortinas de seu quarto...
O
lobisomem aproveita que Drácula está na despensa fazendo um lanchinho – se não
me engano, o prato favorito dele são três mulheres velhas demais para estarem
vestidas com uniformes do colegial –, para escapar e telefonar para a polícia
de um orelhão – aquela época horrível em que as pessoas ainda não tinham celular...
O lobisomem reafirma sua condição desagradável de homem amaldiçoado, e conta
que Drácula vai matar o filho do policial naquela noite. E então ele começa a
se transformar, bem no meio do telefonema. Vocês também não odeiam quando estão
conversando com um amigo numa noite de lua cheia, e do nada, no meio do papo,
ele vira lobisomem?
Então,
Rudy entrevista a irmã de Patrick – a vizinha que pensa que seu quarto é o Big
Brother – na sede do clube, e pergunta, na maior cara de pau, se ela já rompeu
o lacre do brinquedo, e como ela não responde que sim, mas também não diz que
não, ele mostra a foto que o Frankenstein tirou dela fantasiada de Eva, e diz
que vai pregá-la no quadro de avisos do supermercado, caso ela não colabore com
eles.
Enquanto
isso, o resto da Patrulha Monstro, incluindo Frankenstein, invade a mansão onde
Drácula está hospedado, e quando o teto desaba em cima deles logo na entrada,
sofrem a baixa do aliado monstro grandalhão, que fica preso debaixo dos
escombros. Depois eles são atacados pelo lobisomem, que só é detido quando o
Gordo lhe acerta um chute na Zona Sul. Mas ele logo se recupera, e ajuda
Drácula e suas noivas – o jantar do início de noite – a cercar os garotos entre
os corredores da mansão mal-assombrada. Então Sean lhes dá uma boa aula sobre
como é bom andar sempre muito bem informado: como já leu muitas revistas em
quadrinhos, ele sabe que essas casas velhas sempre têm passagens secretas que
podem ser abertas com o auxílio de uma alavanca. E é exatamente o que acontece.
Eles
caem por um alçapão precisamente na masmorra onde o amuleto está escondido, e
aproveitam que não tem ninguém olhando para roubá-lo.
Mas
na saída, Sean é revistado pelo guarda Drácula, que sacode o moleque, exigindo
que entregue o objeto roubado.
Drácula...
O
vampiro todo-poderoso...
Os
vampiros que vivem de tofu em Crepúsculo levantam árvores com uma só mão, mas o
Drácula nesse filme não consegue arrancar uma pedra brilhante da mão de um
moleque de doze anos!
Por
sorte, o Gordo tinha trazido um lanchinho no bolso, para o caso de sentir fome
durante a missão: uma deliciosa fatia de pizza de alho, que faz muito mal à
pele do Drácula.
Então
eles aproveitam que o vampiro está com a pele queimando, e saem correndo da
mansão, no exato momento em que o Alemão Que Assusta chega com Phoebe, Rudy e a
irmã supostamente virgem de Patrick, e decidem que, como Drácula odeia igrejas,
a velha igreja da praça é um bom lugar para abrir o portal do purgatório.
No
caminho, porém, o alemão não respeita a placa de “travessia de múmias” na
estrada, e quando desvia da criatura, ela fica presa no para-choque. Então, a
astúcia de Rudy entra em ação: o garoto prende um pedaço da faixa numa flecha,
e atira numa árvore, e conforme o carro se distancia, a múmia vai se desfazendo
e virando pó. E sem precisar ler um encantamento egípcio para desfazer sua
imortalidade. Já não fazem mais múmias como antigamente...
Não
muito longe dali, Drácula, num ataque de fúria adolescente pela invasão ao seu
esconderijo, dinamita o clube dos meninos. Francamente, Drácula...
Francamente...
E
não contente com isso, Drácula também explode a viatura da polícia, quando é
enquadrado pelo pai de Sean. Em seguida ele diz que vai pegar o garoto, se
transforma em morcego, e sai voando. Sem ter a cortesia de explicar aos pais de
Sean porque o garoto ficou até tão tarde fora da cama!
Nossos
heróis chegam à praça, mas descobrem que a igreja está trancada, de modo que
vão ter que abrir o purgatório no meio da rua mesmo. Provavelmente se fosse em
São Paulo, isso causaria vários quilômetros de congestionamento. Mas como a
cidade onde a história do filme acontece não é muito movimentada, não tem
problema.
E
enquanto a irmã de Patrick aprende a pronúncia do encantamento alemão com o velho,
Rudy distrai as noivas de Drácula, que foram mandadas na frente para esgotar a
munição dos meninos, atirando as estacas nos corações delas com o arco que
roubou na escola.
E
nesse mesmo momento, o pai de Sean, que veio perseguindo o morcego pela cidade,
chega na praça distribuindo tiros, até que o Batman é atingido e atravessa a
janela de um prédio. Só por curiosidade: ele não pensou que um dos meninos
podia ser atingido por uma bala perdida? O filho dele, por exemplo?
Enfim,
o policial entra no galpão para prender o vampiro, e o encontra numa situação,
digamos, embaraçosa: Drácula neste momento é meio homem meio morcego – ou uma versão
bizarra do Grinch!
Mas
antes que o pai de Sean consiga aproveitar esse momento vulnerável para lhe
enfiar uma dinamite na goela, o lobisomem aparece para defender seu mestre, de
modo que a dinamite que estava endereçada ao Drácula acaba tendo um destino
diferente: as calças do lobisomem, que é empurrado pela janela e explode no ar.
Mas,
de novo, eles esqueceram a lição que Rudy tentou lhes ensinar no início do
filme: se a dinamite não é de prata, ela também não mata o lobisomem. Então, o
bicho que caiu em pedaços no beco, imediatamente começa a remontar.
E
o Drácula aproveitou a confusão para virar fumaça!
Lá
fora, a irmã de Patrick se atrapalha com a pronúncia do encantamento, e sugere
que o velho alemão leia no lugar dela.
Verdade:
ninguém perguntou ao alemão. Não me lembro de terem dito que precisava ser
mulher...
Mesmo
assim, o alemão insiste em ditar o encantamento para que ela repita, mas, como
diria a Chiquinha:
E
com muito sufoco, ela finalmente consegue dizer o encantamento inteiro, e...
Nada
acontece!
AH,
SAFADA!
E
bem agora que sua virgem deu zebra, o lobisomem está de volta, e a polícia
insiste em combatê-lo com balas convencionais. Felizmente, um policial cai com
arma e tudo aos pés de Rudy, que prontamente a carrega com as balas de prata
que fabricou com as colheres da mãe de Sean – espere até ela saber disso... –,
e atira na criatura, que de volta à forma humana, agradece por livrá-lo da
maldição, e finalmente morre.
Ouviram?
Bem,
já foram dois. Ainda faltam dois.
E
eis que o Monstro da Lagoa Negra sai do bueiro para entrar na briga também.
Desconfio que esse filme foi baseado num antigo jogo do Maga Drive, Street of Rage, pela maneira grotesca
como esses monstros entram em cena. Faltou só a Tiazinha...
Então
é a vez do Gordo virar herói: ele corre para a lanchonete mais próxima, para
tentar se esconder do monstro, mas como o Cabeça de Fósforo e o Johnny Bravo
que mexeram com ele na escola no começo do filme, os grandes covardões,
trancaram a porta para evitar que o monstro entrasse, o Gordo saca uma
espingarda e senta chumbo na criatura.
E
esse é o garoto que costumava apanhar desses moleques. É, o mundo dá voltas...
Neste
momento, Eugene, o pirralhinho da Patrulha Monstro, se dá conta do fato mais
óbvio nesse filme: Phoebe, do alto de seus cinco aninhos, é uma virgem! Tudo
bem que ela ainda não sabe ler, mas se é o que tem pra hoje, ela pode recitar o
encantamento com a ajuda do Alemão.
E
exatamente como no jogo de videogame, agora que já mataram todos os comparsas
menores, está na hora de o grande vilão entrar em cena. Então Drácula
reaparece, completamente recuperado de seu estado de meia metamorfose, e mais
enfurecido do que nunca, e começa a desfilar pela praça, arrancando as cabeças
de todos os policiais que entram em seu caminho, sem fazer o menor esforço.
Parece que agora ele apelou para a dieta do tofu...
O
Alemão se levanta e se interpõe entre Phoebe e o vampiro, mas Drácula neste
momento faz uso do poder que absorveu do Super-chock, na época em que andava
com a turma dos X-Men, e dá uma descarga elétrica no velho com suas próprias
mãos.
QUE
PODER É ESSE, VLAD?!
Em
seguida, ele agarra o rosto de Phoebe e a ergue do chão, ordenando que lhe
entregue o amuleto – porque Drácula é um homem de princípios, e não bate em
criancinhas. Quer dizer, mais ou menos...
E
como a menina se recusa, ele lhe mostra os dentes, fazendo-a gritar apavorada.
Drácula,
você assusta uma menininha de cinco anos??? Ora, tenha um pouco de classe...
Mas
neste momento, a criatura de Frankenstein aparece e arremessa o vampiro contra
uma lança na fachada da igreja. E o Alemão aproveita para ensinar à Phoebe o
restante do encantamento, que ela recita com muito mais perfeição que a irmã do
Patrick, e como Phoebe atende a todos os requisitos, o amuleto começa a brilhar
como o diário de Tom Riddle na mão do Alemão, que o joga longe, para que o
portal não se abra perto deles.
Tudo
começa a ser sugado para o esquecimento, e nossos heróis se seguram como podem
para não serem tragados junto. Mas o Drácula ainda não está satisfeito com seu
destino, e como não conseguiu evitar que o purgatório fosse aberto, ele tenta
jogar Sean no portal. Felizmente, o garoto consegue alcançar uma das estacas de
madeira que Rudy esqueceu no meio da rua – sujando a cidade, não é? Sua mãe
ficará sabendo disso! –, e enfiá-la no coração do vampiro.
Eis
que Van Helsing reaparece, saindo do portal – nadando contra a corrente,
igualzinho ao holandês voador – para agarrar Drácula, e arrastá-lo com ele ao
inferno.
A
parte mais triste do filme vem agora: como Frankenstein também é um monstro,
mesmo sendo bonzinho, ele é sugado para o purgatório também, apesar do pedido
pesaroso de Phoebe para que ele não se vá. É de cortar o coração, sinceramente.
Agora
que tudo foi resolvido, e a cidade está cheia de lixo – mais ou menos como no fim
de tarde em dia de eleição –, as Forças Armadas finalmente aparecem, atendendo
ao pedido de ajuda solicitado por Eugene, e ficam decepcionados ao perceber que
perderam toda a diversão. Porque o dia já foi salvo por...
Eu amava esse filme. Adorei o artigo.
ResponderExcluirObrigada! Seja sempre muito bem-vindo ;)
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