Já
que o tema é Halloween, nada mais apropriado do que falar dos caras que
(ganham?) a vida caçando monstros a torto e a direito. Aqueles dois simpáticos
filhos de João e Maria – e não estou falando das criancinhas que assaram a
bruxa má! Embora eles tenham encontrado ao menos um dos dois e a bruxa doceira
lá pela décima temporada da série – que gostam de se envolver com o
Sobrenatural.
Num
dos meus episódios favoritos da terceira temporada, os irmãos Winchester
tiveram um encontro com uma divertida ladra e um navio fantasma.
Numa
cidadezinha portuária chamada Sea Pines, no estado de Massachusetts, uma mulher
está prestes a sofrer uma invasão de privacidade estilo Big Brother, ao entrar
despreocupadamente no chuveiro. Mas não se empolguem, meninos; Supernatural é
uma série de família! Se bem que alguém nesse episódio não está muito
preocupado que ela possa ser também uma mulher de família, que provavelmente
chegou cansada do trabalho e deixou o jantar esquentando no micro-ondas,
enquanto tomava um banho quente e relaxante para se livrar do estresse.
Enquanto
ela enxagua tranquilamente os cabelos, alguém a observa. E esse alguém não está
com boas intenções. Só que são más intenções do tipo Norman Bates com Mary
Crane, mas em vez de uma faca, a criatura utiliza a água do chuveiro – ou os
setenta por cento de água de que é constituído o corpo humano – para afogar sua
vítima.
Agora
me digam: quantas vezes vocês já ouviram falar de alguém que tenha se afogado
no chuveiro? Esquisito, não é? Pois é... E foi exatamente por isso que os
irmãos Winchester decidiram dar uma passadinha pela cidade e verificar que
diabo estava acontecendo. Ou melhor, que diabo atacou essa mulher.
E
se já era estranho ela ter se afogado no chuveiro, imaginem agora descobrir
que, pouco antes de morrer, ela viu um Navio Fantasma.
Policiais
de verdade poderiam até pensar que a tia Gertrude Case estava ficando pancada,
ao mencionar a visão do navio fantasma que sua sobrinha Sheila teve antes de
morrer. Mas os irmãos Winchester sabem que nada é tão estranho que não possa
ser verdade. E geralmente, onde tem morte esquisita, tem assombração.
E
é claro que Sam, aquele cara estudioso, que está sempre lendo alguma parada
esquisita num livro ou na internet, conhece diversas lendas de navios
fantasmas, que existem no mundo inteiro, e, invariavelmente, são presságios de
morte.
Em
suas pesquisas, Sam descobre que esses afogamentos no seco acontecem a cada 37
anos naquela cidade, sempre na mesma época do ano, mas não sabe exatamente a
quê estão ligados, nem reconhece um padrão entre as vítimas.
Mas
os Winchester não são os únicos trabalhando no caso.
Antes
de os bonitões aparecerem para interrogar a tia da vítima, outra suposta
investigadora chamada Alex havia lhe garantido que o caso estava encerrado, e
que os legistas tinham chegado à conclusão de que o afogamento de Sheila fora
acidental. Agora que foi informada de que o caso continua aberto, Gertrude
decide não pagar o que havia prometido à Alex, o que a deixa furiosa.
Acontece
que essa Alex é uma velha conhecida dos rapazes, só que eles a conhecem por
outro nome falso, Bela Talbot, uma ladra de artefatos raros de ocultismo, que,
num passado não muito distante desse episódio, tentara roubar um pé de coelho
que pertencera a John Winchester. Eles só não imaginam o quê ela pode estar
querendo nessa história, já que, com exceção do Navio Fantasma, nenhum objeto
mítico foi mencionado no caso.
Naquela
noite, a segunda morte acontece, e a vítima da vez é um milionário da cidade,
que se afogou na torneira do banheiro, enquanto fazia a barba. E, de acordo com
seu irmão, a vítima também viu o Navio Fantasma pouco antes de morrer.
Oh-oh!
Já sabem quem será a próxima vítima, hein, meninos! Eles até tentam alertar o
cara sobre o perigo que está correndo, e como o milionário é cético em relação
a presságios de morte, decidem ficar de tocaia em frente à mansão do sujeito
para tentar salvá-lo, mesmo depois de ele já ter deduzido que os rapazes não
são policiais à paisana coisíssima nenhuma.
Não
foi dessa vez que os rapazes conseguiram salvar um inocente das garras de um
fantasma revoltado. Dean até tentou atirar com a pistola de sal na assombração,
estraçalhando o vidro do carro importado do sujeito, mas foi tarde demais. O
homem já estava morto com a cara na volante.
Pelo
menos ele fez uma coisa útil nesse episódio antes de enfiar a cara na buzina,
pois graças à sua descrição, Bela conseguiu identificar o navio que está
assombrando os condenados à morte. E graças às fotos que ela conseguiu reunir,
os Winchester conseguiram identificar o fantasma: um marinheiro que foi
enforcado no navio em 1859, acusado de tentar iniciar um motim. O marinheiro
tinha 37 anos, o que explica o ciclo de 37 anos para as mortes recomeçarem na
cidade. Os restos foram queimados, mas como era costume na época, sua mão
direita foi cortada como um troféu, e transformada na Mão da Glória, um
artefato mítico poderoso, muito apreciado por praticantes de ocultismo, que,
por acaso, está exposta no Museu Marítimo local, como peça macabra da história
marítima. E eles receberam essa informação de quem? De uma mulher que ganha a
vida roubando artefatos míticos para vender no mercado negro. E eles nem desconfiaram
das boas intenções dessa falsa samaritana. Apesar de passarem a vida caçando
seres bizarros, de vez em quando esses rapazes são muito ingênuos...
Aliás,
permitam-me fazer uma observação a respeito da escolha de hospedagem dos
Winchester nesse episódio. Porque eles já se hospedaram em lugares decadentes
antes, mas isso aqui é o cúmulo! Isso é um hotel caindo aos pedaços ou eles
invadiram uma casa abandonada?
De
volta ao episódio, Bela informa aos rapazes que haverá um baile beneficente no
Museu naquela noite, e ela conseguiu convites com a tia da primeira vítima,
Gertrude Case, com a condição de que um dos bonitões a acompanhe. Adivinha quem
foi o escolhido da velha? Sam Winchester!
Enquanto
Sam leva o Impala para buscar a Gert, Bela se encarrega do outro brinquedo da
noite... Digo, busca seu “maridinho” Dean na casa abandonada onde estão
hospedados, e o leva para o baile, pedindo que ele se comporte e aja como se
frequentasse bailes de gala o tempo todo.
E
como, naturalmente, ninguém deixaria objetos valiosos expostos no hall de
entrada ou no salão de bailes repleto de gente estranha – afinal de contas,
Aristocratas Vemos, Gatunos Não Sabemos –, Bela finge um desmaio para conseguir
ter acesso aos andares superiores do Museu, onde a Mão da Glória provavelmente
está guardada.
Um
segurança os conduz até uma sala no primeiro andar, onde Dean deita “sua
esposa” num sofá de couro, e fica com ela até que se recomponha. Mas é só o
segurança virar as costas para eles iniciarem uma pequena “briga conjugal”.
Então,
depois de dar uma espiada no corredor para ver se o segurança não está montando
guarda, Dean sai de fininho para procurar a mão mumificada do marinheiro
enforcado, enquanto Bela continua fingindo de morta.
Enquanto
isso, lá no salão de bailes, Sam está dançando o funk que o Crowley inventou
nos braços da tia Gertrude – mas pode chamá-la de Gert, bonitão –, porque a
velha está cheia de saliência para cima dele.
Aliás,
uma observação aqui pro Sam: chega de champanhe para essa senhora! E, por via das
dúvidas, veja bem o que vai deixar ela comer, porque se alguma coisa aí tiver
amendoim a casa vai cair bonito pro
teu lado, garoto... Fica
de olho!
O
bom é que além da franga, a velha soltou também a língua, e começou a contar os
podres de todo mundo na cidade, começando pelos irmãos milionários assassinados
pelo Gaspazinho do mal, que, de acordo com ela, envenenaram o pai para ficar
com a herança. Sam acha essa história interessante, principalmente depois de
saber que anos atrás, Sheila também foi acidentalmente responsável pela morte
de seu primo Brian, quando o carro que ela dirigia capotou. Ela saiu ilesa, mas
o primo morreu na hora. Pode ser o padrão que ainda não tinham identificado
sobre a escolha das vítimas: gente que derramou o sangue da própria família.
Enquanto
Sam está sendo informado, assediado e bolinado – não necessariamente nessa
ordem –, Dean encontra a mão roubada do defunto exposta numa caixa de vidro, e
dá uma de James Bond, desligando o alarme da caixa para roubá-la, guardando-a
no bolso interno do smoking.
Mal
sabe ele que está prestes a se envolver numa situação constrangedora. E não
estou falando sobre ser apanhado com uma mão mumificada bizarra no bolso.
Acontece
que Bela estava apreciando os brinquedinhos disponíveis na sala onde foi
deixada para descansar, já pensando em surrupiar um naviozinho que encontrou
dentro de uma garrafa, quando de repente o segurança bate na porta. E como Dean
ainda não voltou, ela é obrigada a improvisar: despindo uma manga do vestido,
ela abre só uma frestinha da porta, afirma que está se sentindo melhor, mas que
ainda não pode abandonar aquela sala, dando a entender que ela já está bem até
demais.
A
porta se fecha novamente, o segurança escuta a mulher rindo, dizendo que o
“marido” está lhe fazendo cócegas... Mas ao dobrar um corredor, ele dá de
cara com quem?
Depois
de esbarrar no suposto marido, e, ao que tudo indica, corno do ano, o segurança
sai constrangido, já prevendo que a história vai feder, e ele prefere estar
longe da linha de tiro, enquanto Dean, sem entender nada, entra na sala,
encontra Bela sozinha, recolocando a manga no lugar, e pergunta o que
aconteceu.
Sam
é quem fica mais feliz por poder finalmente ir embora, e se livrar da velha de
mão boba. E Dean deveria ter prestado mais atenção em outra mão nada boba,
porque, ao entrar no Impala, e enfiar a mão no bolso interno do smoking para
exibir seu troféu ao irmão, se dá conta de que Bela lhe passou a perna,
trocando a mão amaldiçoada pela miniatura do navio na garrafa que afanou na
sala de espera.
Lembram
que eu disse que eles deviam ter ficado de olho nela? Então...
Acontece
que Bela sabia onde estava aquela raridade porque já tinha um comprador
interessado naquela coisa grotesca. A ladra saiu do baile e foi direto fazer a
entrega. Ela só não esperava que, enquanto estivesse contando as cédulas de seu
pagamento no carro, avistaria o Navio Fantasma vindo em sua direção.
Pois
é, moça, tu tá ferrada!
Então
ela volta a procurar os Winchester na casa abandonada onde continuam hospedados,
e encontra-os armados e furiosos por ela tê-los levado de bobeira àquela festa
beneficente, feito Dean passar por corno, e Sam se passar por Lobo Mau, quase
tendo que papar a vovozinha, para no fim ela vender a Mão da Glória, em vez de
deixá-los queimar os últimos restos mortais do marinheiro fantasma e acabar com
a matança.
Mas
vejam só como a vida é engraçada: ela usou os rapazes como distração para
conseguir seu troféu, e acabou vendendo a única coisa que podia salvar sua
vida. Uma grande ironia...
E
se antes eles já pensavam mal da moça, agora têm certeza de que ela não presta,
afinal, o fantasma vingador persegue pessoas que derramaram o sangue da própria
família, pois o capitão que mandou enforcá-lo era seu irmão.
Bela
não quis contar para os rapazes, mas eu conto para vocês, uma história que só
foi revelada alguns episódios mais tarde. Bela, cujo verdadeiro nome era Abbie
– diminutivo de Abigail –, vivia com os pais no Reino Unido. Tudo leva a crer
que seus pais eram abusivos, e, um belo dia, quando era adolescente, ela fez um
pacto com um demônio da encruzilhada em troca da morte deles. Correndo o risco
de revelar spoilers de outros
episódios: mais tarde, quando estava vencendo o prazo para virem buscar sua
alma e arrastá-la para o inferno, ela fez outro acordo, prometendo roubar o
Colt, aquela arma que pode matar diversas criaturas sombrias, incluindo
demônios, e entregar a cabeça do Sam numa bandeja de prata. Nem é preciso dizer
que as coisas não saíram exatamente como ela planejou...
De
volta à trama desse episódio, os rapazes sugerem à Bela que devolva o dinheiro
e pegue a mão do defunto de volta. O problema é que o comprador mora do outro
lado do oceano, e seu prazo de validade está bem apertado no momento; a Mão da
Glória não chegaria a tempo.
Eles
até poderiam deixar que ela se virasse, afinal, ela é a única responsável pela
encrenca em que se meteu. Mas, como são caras legais, decidem tentar algo que
pode ou não funcionar. Eles vestem Sam de monge, constroem um altar profano no
cemitério, e com um ritual de invocação em latim, invocam o espírito do
capitão. Começa a cair o maior pé d’água enquanto eles fazem o ritual, mas os
rapazes não se deixam intimidar.
O
que não demora muito para acontecer, pois o fantasma do marinheiro enforcado é
o primeiro que aparece, jogando Dean de lado para poder acariciar o rosto de
Bela... E fazê-la jogar para fora a água que não bebeu, afogando-a de dentro
para fora, como fez com os outros.
Dean
apressa a leitura do irmão, enquanto tenta desafogar a moça.
Eis
que o fantasma do capitão aparece, atendendo ao chamado dos mocinhos, para
pedir perdão ao irmão, que, ainda enfurecido, desiste de afogar Bela, se lança
contra ele, e os dois se dissolvem em água diante do altar.
Não
se sabe se o fantasma teve sua vingança, destruindo o espírito do irmão
traidor, ou se os dois se perdoaram e esse foi um abraço grotesco e muito
molhado. Na dúvida, vamos crer que foi um pouco dos dois.
Assim,
Bela é salva pelos irmãos supergost... Digo, superpoderosos. E já que eles
salvaram sua vida, e ela é cara de pau demais para reconhecer e agradecer como
qualquer pessoa normal, ela dá dez mil dólares aos rapazes, e vocês entenderam
o que ela quis dizer.
Pelo
menos dessa vez o rolo com o fantasma rendeu uma graninha, hein meninos! Já é
um progresso...
Apenas
a título de curiosidade, a escolha dos nomes falsos da ladra desse episódio é
interessante, e parece referenciar uma preferência da personagem por filmes
clássicos de terror. Os irmãos Winchester a conheceram como Bela Talbot,
provavelmente uma mistura de Bela Lugosi, o ator húngaro que interpretou
Drácula no filme de 1931, cujo sobrenome ela também utilizou em outro episódio,
e Lawrence Talbot, o nome do personagem que virou O Lobisomem no filme de 1941,
interpretado por Lon Chaney Jr.. Em outra ocasião, ela utilizou também Mina
Chandler – Mina Murray era a mocinha de Drácula, e Helen Chandler a atriz que a
interpretou no filme de 1931.
Este
foi o especial de Halloween de hoje. Semana que vem vamos matar a saudade do
fantasma do Pirata Alma Negra, numa versão, não como era, mas como poderia ter sido.
Até
lá! *-*
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