E
aqui chegamos ao que realmente interessa: o capítulo da história de Alice
Kingsleigh que me inspirou a resenhar a reinvenção de sua história inteira.
Ao
contrário do que se poderia imaginar, Alice
Através do Espelho não é a adaptação do livro de mesmo nome. Tim Burton –
que produziu o filme, mas passou a cadeira do diretor para James Bobin, de Os Muppets – e a roteirista Linda Woolverton,
de A Bela e a Fera e Malévola, criaram toda a história do
filme, desde o início, e ela nada tem a ver com qualquer dos livros de Lewis
Carroll, a não ser pelo espelho e algumas vagas referências aqui e ali – a
maioria retirada do primeiro livro, e não do segundo. Sinal de que o espelho
realmente inverteu as coisas nesse roteiro.
Aliás,
é curioso: o primeiro filme teve muito mais elementos do segundo livro que
do primeiro, ao passo que o segundo filme teve mais do primeiro livro. Pelo
visto, Tim Burton atravessou o espelho antes de filmar Alice No País das Maravilhas e inverteu as bolas geral, desde o
começo! E se no primeiro filme ele utilizou como pano de fundo um simples poema
de 28 versos, em Alice Através do Espelho
ele pega meia dúzia de referências aleatórias para criar uma aventura inédita
para sua protagonista. E é por isso que é tão mais interessante falar dele.
O
roteiro é 100% original? Não. Vai mudar a vida de alguém? Não. Mas gosto de
partir do princípio de que a primeira função de um filme é entreter, divertir,
distrair a cabeça da rotina. E essa função Alice
Através do Espelho cumpre maravilhosamente.
Pegaram
o trocadilho?
Maravilhosamente...
Lá
no País das Maravilhas!
Não?
Enfim...
Alice Através do Espelho,
na minha opinião, é um desses casos raríssimos em que a continuação supera o
filme inicial. Não me entendam mal; amei Alice
No País das Maravilhas. Porém, sua continuação, é de tirar – ou talvez de colocar – o chapéu.
O
filme conserva aquela aparência psicodélica tradicional dos filmes de Tim
Burton e do universo de Alice No País das
Maravilhas de modo geral, mas, enquanto na primeira empreitada Burton optou
por tornar o Mundo Subterrâneo sombrio, com um forte aspecto de pesadelo – já
que estavam enfrentando um período de guerra civil –, desta vez ele optou por
cores fortes e vibrantes para iluminar os sonhos de Alice.
É
de encher os olhos, como já era de se esperar de uma produção assinada por Tim
Burton. O visual do filme é impecável – e também supera o original nesse quesito.
Então,
sem mais delongas, vamos ao que interessa.
Nossa
aventura começa três anos depois dos eventos do primeiro filme. Alice, agora
capitã do navio Maravilha, que fora de seu pai, enfrenta uma tempestade em seu
retorno à Inglaterra. Lá chegando, descobre que sua mãe enfrentou sérias
dificuldades financeiras no último ano, a ponto de vender as ações da Companhia
de Exportação que herdara do pai de Alice ao seu ex-noivo, Hamish, o novo Lord
Ascot – o pai dele morrera durante a ausência de Alice –, e hipotecar a casa
onde vive. Hamish, todavia, num suposto gesto de generosidade, oferece cancelar
a hipoteca em troca do navio de Alice.
A
Sra. Kingsleigh anda muito preocupada com o destino da filha, que ainda não se
tocou que o tempo está contra ela. Afinal, três anos se passaram desde que ela
deu um pé na bunda de Hamish, e ele já refez a vida, casando com uma sujeitinha
viciada em chupar limão, enquanto Alice permanece solteira, brincando de
capitanear o navio de seu pai, sem se preocupar com seu futuro. Por isso,
Hamish, “solidariamente” oferece um emprego à Alice no escritório da Companhia
cujas ações a mãe dela vendeu.
A
propósito, se no primeiro filme, a Sra. Kingsleigh resmungou até umas horas só
porque Alice decidiu não usar um corpete por baixo do vestido azul quando foi à
festa no jardim de Hamish, avalia o quanto ela deve ter enchido as orelhas da
moça por ela ter escolhido vestir essa roupa de palhaço.
Prosseguindo...
Chateada, decepcionada e ultrajada, Alice sai andando desnorteada pela casa de
Hamish, até perceber uma borboleta azul, muito parecida com seu amigo Absolem, que
a conduz a uma sala fechada da mansão, onde atravessa um espelho. Ela ouve os
guardas se aproximando – porque ninguém sabe dar sossego a uma mocinha que só
quer xingar o ex-noivo de nome feio na santa paz –, e eles tentam destrancar a
porta desta sala, deixando-a sem tempo para decidir se é seguro ou não
atravessar o espelho atrás da borboleta azul.
Assim
Alice atravessa o espelho, e se depara com uma sala muito parecida com aquela
da qual saiu, com a diferença de que agora ela está outra vez pequenina,
caminhando sobre o console da lareira, diante de um tapete de tigre meio
dorminhoco estendido no chão, das peças animadas de um jogo de xadrez – um dos
poucos elos desse filme com o livro original –, e de Humpty-Dumpty, um ovo tagarela
que Alice teria encontrado no segundo livro num contexto completamente
diferente. Para começar, ela não teria esbarrado nele, fazendo-o rolar lareira
abaixo e se estatelar no chão, depois de ter sido afugentada do
tabuleiro por um cavalo. Ela tenta se desculpar com um dos pedaços
sobreviventes de Humpty-Dumpty, mas acaba sendo interrompida por Absolem, que
desde o final do filme anterior é uma borboleta, e avisa que seus amigos
precisam dela mais uma vez, indicando-lhe a pequena portinha que a conduzirá de
volta ao País das Maravilhas.
Assim
Alice literalmente cai do céu para ajudar seus antigos amigos encantados, que
estão com um grave problema: o Chapeleiro Maluco... Enlouqueceu!
O
caso é que o sujeito agora parece estar mais pirado que de costume, e seus
amigos esperam que a visita de Alice possa ajudá-lo a reorganizar alguns de
seus parafusos.
Literalmente
na casa do chapéu! Ou melhor, na casa em formato de cartola. A princípio, Tarrant,
o Chapeleiro não parece convencido de que Alice é Alice, mas quando finalmente
acredita que aquela é sua velha amiga Alice, ele a recebe calorosamente e conta
o que anda perturbando sua velha cachola bagunçada.
Acontece
que ele está vivendo um momento nostálgico, relembrando o que aconteceu com o
clã dos Cartolas, e sentindo muita falta de sua família, que morreu há muitos
anos, no Dia de Horunvindictum. Gente, eu juro que não caí de cabeça no teclado
do computador. Sério! O palavrão é esse mesmo! E verão vários parecidos com
esse ao longo da história, porque cada dia importante no País das Maravilhas
ganha um nome simpático como esse.
Essa
crise de nostalgia do Chapeleiro não aconteceu assim do nada. Ele encontrou
recentemente o primeiro chapéu que confeccionou – e que provavelmente só
serviria na cabeça de uma boneca, ou talvez de um alfinete –, que ele achava
que tinha se perdido para sempre. No entanto, se o chapéu sobreviveu, ele só
pode concluir que sua família também sobreviveu.
Como
ele chegou a essa conclusão? O que o chapéu tem a ver com as calças?
Descobriremos ao longo da resenha.
Por
hora, basta saber que Alice acredita que isso é impossível, que se a família do
Chapeleiro morreu, é impossível que tenham sobrevivido só porque o chapeuzinho
resolveu aparecer. Mas o Chapeleiro está convencido, e quer porque quer que ela
o ajude, ao que Alice concorda para não perder a amizade.
Mais
tarde, conversando com seus outros amigos, ela pergunta se alguém viu os parafusos
do Chapeleiro por aí, e é quando Mirana tem uma ideia maluca para tentar
descobrir se a nova loucura do Chapeleiro tem um fundo de verdade.
Ela
se lembra da CronoEsfera, um objeto mágico, guardado no Castelo do Tempo, que é
capaz de fazer uma pessoa retornar ao passado. Ninguém no País das Maravilhas
pode utilizá-la, pois se qualquer um daqueles personagens vir a si mesmo no
passado... Bem, não há registros do que acontece, mas deve ser algo terrível
para inspirar tanto medo sem que ninguém nunca tenha tentado. Mas como Alice
não pertence àquele mundo, a menos que ela retorne ao Gloriandei, onde matou o
Jaguadarte, não há perigo de que ela provoque esse Apocalipse, o que faz dela a
única pessoa capaz de utilizar a esfera.
Então
Mirana abre um portal num grande relógio de pêndulo, indica o caminho à Alice e
deseja boa sorte.
Assim,
nossa mocinha se aventura ao inexplorado Castelo do Tempo, que fica numa
dimensão dentro do relógio. Bem no centro desse Castelo há um imenso relógio
suíço que controla todo o tempo naquele mundo. Eles o chamam de "O Magnífico Grande Relógio de Todo
o Tempo". Bem, controla com o auxílio dele: o Tempo, em pessoa!
Que
é um sujeito bastante esquisito, se querem saber. E que se parece demais com o
Sacha Baron Cohen...
Enfim,
Alice o observa caminhando pelo Castelo, reclamando daquele dia interminável,
ou de suas calças suadas, dando ordens espalhafatosas aos seus pequeninos
servos, os Segundos – pequenas engenhocas que se parecem com azeiteiras de latão, pequenas latas de lixo, robozinhos de casaca e óculos redondos, e
outras bugigangas semelhantes.
Mas
seu trabalho parece importante. Ele é capaz de perceber quando um relógio,
dentre milhares de relógios pendurados na varanda faz seu último tique sem
completar com o taque. Este é um momento muito solene, quando o Tempo, que não
é amigo de ninguém, que é Infinito, Eterno, Imortal, Invencível, Imutável e Imensurável
– a menos que você tenha um relógio –, recolhe o relógio parado, lê o nome que
ele contém e o fecha, determinando àquele que o relógio representava que seu
tempo acabou.
Ele
retira o relógio da varanda dos Vivos do Mundo Subterrâneo e o leva para a
varanda dos Mortos do Mundo Subterrâneo, onde os relógios são pendurados em
ordem alfabética pelo sobrenome de cada família. Guardem essa informação,
porque será importante mais à frente.
É
nesse momento que ele percebe a presença de Alice em seu Castelo e ela pede –
quem diria – um minuto de seu tempo.
Ele
logo percebe que ela carrega um soldado abatido, o antigo relógio de bolso do
pai dela, que está parado, mas ela não quer se livrar dele. O que não é um fato
muito relevante para o enredo, mas pelo menos essa conversa consegue uma
audiência de um minuto extremamente acelerado para dizer ao Tempo o que a
trouxe ao seu Castelo.
Então
é claro que o Tempo dá um chilique, porque a CronoEsfera é o que dá energia ao
Grande Relógio, e sem ela, toda a história se desintegraria, portanto ele não
pode emprestá-la e fim de papo! Chama seu mordomo Wilkins para conduzi-la à
porta – ou talvez ao relógio de pêndulo – da frente, e ela agradece por ele ter
lhe cedido um pouquinho do seu temp... Bem, dele.
O
mordomo até tenta mostrar a saída à Alice, mas ela ouve uma coisa interessante
quando está saindo do Castelo do Tempo, e decide espionar para ver onde a
fofoca vai dar. Acontece que o Tempo tem uma hóspede muito estimada, a quem ele
tenta agradar com presentinhos musicais representando cenas de decapitações e
tortura explícitas nada condicentes com um conto de fadas infantil, e essa
hóspede que ele tanto adula, e que permanece constantemente insatisfeita,
porque também deseja a tão concorrida CronoEsfera para poder alterar o próprio
passado é, ninguém mais, ninguém menos, que Ronald McDonald... Digo, a Rainha
Vermelha – deposta! – Iracebeth de Carmesim!
E o que diabos essa megera
cabeçuda está fazendo no Castelo do Tempo?, vocês me
perguntam. Bem, acontece que esse cidadão tem um mau gosto terrível, e ao que
tudo indica, ele se apaixonou por essa encrenca... Quero dizer... Sua
Majestade, o Cabeção arrumou uma maneira de seduzir o Tempo, esperando que ele
lhe cedesse a CronoEsfera, para que ela pudesse alterar uma coisa em seu
passado. Teremos mais detalhes sobre isso logo, logo.
Porque
os planos da Cassandra vão por água abaixo – mais ou menos literalmente –
quando Alice aproveita que o Tempo, e cada Segundo de seu reino estão muito
ocupados tentando pajear a megera sem coração – exceto aquele que desenha com batom
por cima da boca –, para roubar a CronoEsfera, e fugir correndo.
Mas
é claro que o Tempo, estando conectado ao seu imenso relógio, percebe
imediatamente que a bateria foi retirada e vai verificar o problema, o que
resulta numa grande perseguição à garota de cabelo amarelado, onde descobrimos
que os robozinhos que representam os Segundos são na verdade peças de um
quebra-cabeça muito bizarro que, montado corretamente, transforma os Segundos
em Minutos – muito maiores do que aquele que o Tempo cedeu à mocinha para
contar a triste maluquice do Chapeleiro.
No
meio dessa confusão, Alice descobre que a CronoEsfera, quando arremessada a
certa distância transforma-se numa espécie de transporte esférico, que pode
conduzi-la através do Oceano do Tempo, como se fosse um navio, onde ela vê
cenas do Passado, Presente e Futuro, e pode escolher o dia que deseja visitar.
Sua
travessura é sentida em todo o País das Maravilhas, pois, com a CronoEsfera
fora do mecanismo do Grande Relógio, e a transformação dos Segundos em Minutos,
o dia e a noite passam extremamente rápido no Mundo Subterrâneo, assustando
momentaneamente a Rainha Branca Mirana e seus amigos Tweedledee, Tweedledum, a
Lebre de Março, o Coelho Branco, a ratinha mal-humorada que deveria ser mais
sonolenta, o cachorro Bayard, e o Gato de Cheshire.
Alice
até consegue sintonizar o Dia de Horunvindictum em sua
geringonça esférica cronológica, mas uma manobra violenta do Tempo, que está
pilotando uma versão adaptada da balsa de Huckleberry Finn acaba por desviá-la do
curso.
Assim
Alice vai parar acidentalmente no Dia de Toomalie, um dia muitos anos antes de
Alice visitar pela primeira vez o País das Maravilhas, e a primeira pessoa que
ela encontra nessa época é precisamente o Chapeleiro, mas ele ainda não a
conhece. O que não os impede de socializar.
Felizmente
para Alice, ela retornou a um dia muito revelador sobre a história do
Chapeleiro: o dia da coroação da nova Rainha Iracebeth.
O
clã dos Cartolas ficou responsável por confeccionar uma coroa para a nova
Majestade, mas, aparentemente, não havia ouro e rubis suficientes para fazer
uma coroa que coubesse naquele cabeção em forma de coração, então, quando o Sr.
Cartola, pai do Chapeleiro tentou espremer a coroa na fenda do penteado de
Iracebeth, a coroa se quebrou, fazendo a multidão explodir em gargalhadas e
deixando a megera extremamente furiosa.
Acabou
que Iracebeth fez o maior barraco, e seu pai, que pretendia lhe passar a coroa
em vida, percebeu que ela era esquentadinha demais para governar,
e decidiu que sua sucessora dali em diante seria a filha mais nova, Mirana. O
que claro, deixou Iracebeth com a cabeça mais quente, e como diria a Chiquinha,
sua cabeça foi ficando mais grande, e mais grande, e mais grande... E era uma cabeça horrível!
A
dama do cabeção gigante saiu soltando fogo pelas ventas, jurando vingança ao
clã da Cartola, e deu uma banana para o pedido de desculpas de sua irmã,
revelando que já havia muita tensão em seu relacionamento desde muito antes
desse dia.
Aqui
entre nós, queria comentar um detalhezinho: o nome do Reino que seria herdado
pela irmã Vermelha de cabeça grande ou pela irmã Branca de parafuso solto e
sapatos flutuantes era Espertal! Só queria saber quem foi o ESPERTALhão que
teve essa ideia...
Como
eu também tenho uma dificuldade extrema para inventar bons nomes para os meus
reinos fictícios – dificuldade esta que eu geralmente supero dependendo do
conteúdo alcoólico do meu copo –, não vou zoar essa escolha. Afinal, é claro
que foi Alice quem, talvez por não ter sido informada previamente sobre o nome
do Reino onde se encontrava, decidiu chamar aquele lugar de País das
Maravilhas. Mas ela também chamou de Maravilha o navio do pai, então, é
possível que ela tenha fixação pela palavra.
Voltando
à trama do filme, depois que a quase Rainha Iracebeth soltou os cachorros na
família e no reino inteiro, o Sr. Cartola deu um esporro no filho por ter
começado com as risadinhas que tanto irritaram a Princesa Vermelha, e legou a
ele a vergonha da família, o que deixou o Chapeleiro profundamente magoado,
levando-o a recolher seu chapéu e se retirar do clã dos Cartolas.
Naturalmente,
Alice tentou fazê-lo reconsiderar, porque sabe que Tarrant se arrependerá
profundamente de ter deixado a casa dos Cartolas quando eles forem mortos no Dia do Horunvindictum, mas ele continua achando que ela é maluca, e decide não
lhe dar ouvidos. Mas será bem-vinda em seu jardim, caso queira tomar chá.
Alice
tenta comovê-lo, contando a ele como sente falta de seu pai, que morreu há
muitos anos, mas o futuro Chapeleiro continua irredutível. Então Alice decide
ir pessoalmente alertar os Cartolas sobre o perigo que correm, mas é
interrompida por Mirana, que se apressou para se desculpar com aquela família
pelo incidente, que eles, lógico, compreendem, afinal, todos sabem da doença de
Iracebeth e lamentam muito o acidente que ela sofreu no Dia de Fell (Dia do
Tombo), quando o relógio marcava seis horas. A noite em que Iracebeth bateu a
cabeça na praça. Aquele momento mudou tudo. O que dá a Alice uma ideia
diabólica.
Vai
por mim, Mirana, um dia você vai gostar e ter muito o que agradecer a essa
menina estranha!
Mas
não será nesse momento. Porque agora Alice está muito ocupada acionando
novamente a CronoEsfera, rumo a outro capítulo do passado dos personagens do
País das Maravilhas.
Enquanto
essas revelações acontecem, nosso amigo Tempo faz uma visitinha ao Chapeleiro
Maluco, que está, como já era de se imaginar, prestes a tomar chá em seu jardim
com seus amiguinhos pirados.
Lembram
que no primeiro filme o Chapeleiro comentou com Alice que o Tempo, que é muito
temperamental naquele mundo, os prendeu na hora do chá até ela aparecer, porque
se sentiu ofendido com algumas piadinhas que eles fizeram? Então, finalmente
conheceremos essa cena agora.
Enquanto
aguardam que a mocinha apareça, os piradinhos se divertem fazendo piadas com o
Tempo, perguntando se ele cura mesmo todas as feridas, ou porque ele passa
voando, e outros comentários semelhantes.
Alguém
precisava ensinar a esses malucos sobre os perigos de mexer com o Tempo –
literalmente –, porque ele pode fazer você ficar preso naquele minuto antes da
hora do chá por mais ou menos uma eternidade. Agora imaginem tentar comer um
pedaço daquele bolo lindo que está à sua frente na mesa, e vê-lo retornar ao
lugar, intacto, só porque o minuto passou... Só que não passou; simplesmente
foi e voltou. Confuso? Também acho. E colocaram essa confusão justamente na
cabeça dos seres mais confusos daquele Reino.
A
cena, como mencionei na review passada, foi inspirada numa passagem do primeiro
livro – pois o Chapeleiro e seus amigos não foram convidados para a aventura
posterior de Alice –, quando a menina aparece para tomar chá e eles ficam
pulando para o próximo lugar à mesa porque estão parados no tempo, e não têm
como lavar a louça. Nesse arranjo, só o Chapeleiro, que está à cabeceira da
mesa, se beneficia com uma xícara limpa.
Mas
como o tempo não para... Quer dizer... Enquanto os amigos lutam contra o Tempo
– ou contra aquele minuto parados no tempo –, Alice retorna ao Dia de Fell, um lamentável dia, quando as duas princesas ainda eram crianças, e
sua mãe assou uma travessa cheia de tortas. Iracebeth, que sempre foi mandona e
egoísta, comeu a maior parte delas, ao passo que sua irmã, a doce Mirana,
reclamou, pedindo que deixasse algumas para ela. Iracebeth, irritada, disse que
ela podia ficar com as migalhas, as duas quase se pegaram de tapa, e sua mãe,
para apartar a briga, mandou as duas saírem da cozinha, e proibiu-as de comer
mais tortas.
Mirana
ficou indignada, porque ela quase não tinha comido, então ela roubou a última
torta da travessa, e foi comer em seu quarto, deixando as migalhas caírem
embaixo da cama da irmã mais velha. E quando a mãe as interrogou sobre quem
comeu a torta, e Iracebeth acusou Mirana de ter colocado as migalhas embaixo de
sua cama, Mirana negou, deixando a irmã malvada furiosa por levar a culpa da
travessura da irmã boazinha.
Essa
história foi inspirada em outro poema do primeiro livro, sobre uma Coruja e uma
Pantera que dividiam uma torta: a Pantera, bem gulosa, comia a massa e o
recheio, e para a Coruja sobravam apenas os caroços do meio. Já deu para
entender quem é quem nessa história, né?
Iracebeth
correu para fora do castelo, e Alice, ao vê-la indo em direção à praça, deduziu
que o relógio de pêndulo que alguns criados-sapos estavam carregando iria bater na cabeça dela, e
os deteve; porém suas ações distraíram a menina, que acabou tropeçando e
batendo a cabeça na fonte no meio da praça. E nesse momento descobrimos porque
a Rainha de Copas – que a Rainha Vermelha também representou no primeiro filme
– não gosta de rosas brancas: havia muitas delas ao redor da fonte, mas não
serviram para suavizar a pancada.
Alice
fica desnorteada ao perceber que não pode mudar o passado, mas se lembra do que
o Tempo lhe disse: pode aprender com ele.
Porque outro fato importante também
aconteceu naquele dia. O Chapeleiro ainda era um garotinho, assim como seus
outros amigos, os Tweedles, o Gato de Cheshire e o Bayard – aparentemente, os
animais têm extraordinária longevidade no País das Maravilhas –, e o Chapeleiro,
cheio de simpatia, convidara Alice para ir até sua casa, onde seu pai
confeccionaria um belo chapéu para sua bela cabeça. O garoto estava todo
animado por ter conseguido uma cliente, e mostrou para o pai o pequeno chapéu de
papel que confeccionara, mas o Sr. Cartola não foi receptivo. Ele acreditava que
o chapéu era meramente um código de vestimenta da sociedade, não um acessório
que servisse para divertir, como Tarrant parecia acreditar. Assim, ele
rapidamente descartou o chapéu todo enfeitado que o garoto fizera,
prometendo ensiná-lo a fazer chapéus mais tradicionais.
O
menino ficou profundamente magoado ao ver os pedaços de seu chapeuzinho serem
jogados no lixo, mas o que ele não viu foi que, depois de Alice ter ido embora
para tentar salvar Iracebeth de sofrer o acidente que fez sua cabeça inchar
feito um balão, o Sr. Cartola recolhera os pedaços do chapeuzinho do filho e o
guardou com todo o carinho no bolso de seu paletó, reconhecendo que Tarrant
saíra aos seus.
E
nesse momento Alice se lembra de outro fato importante que presenciara no início
de sua aventura, e que ainda não havia se apercebido: quando o Tempo foi
pendurar o relógio parado de Brilliam Hinkle na varanda dos Mortos do Mundo
Subterrâneo, ele passou por uma fileira toda destinada a uma família que ainda
tinha todos os seus membros vivos. Os relógios eram pendurados ali em ordem
alfabética, portanto aquela coluna vazia destinada aos Hightopps (Cartolas, em inglês) só podia significar
que a família do Chapeleiro ainda estava viva.
Sua
loucura tinha um fundo de razão, afinal.
O
caso é que esta descoberta se deu justamente no momento em que o Tempo
finalmente a encontrou para lhe dar um esporro e exigir a CronoEsfera de volta,
enquanto seus Segundos lutavam para manter o Grande Relógio funcionando,
chapando seu mecanismo de óleo para evitar um colapso, já que aparentemente
ninguém sabe onde foi que enfiaram a droga do manual.
Alice
promete usar a CronoEsfera só mais uma vez, para ir até o Dia de Horunvindictum
descobrir o que houve com a família do Chapeleiro. E quando o Tempo tenta
detê-la, ela atravessa o espelho ao seu lado, segurando a CronoEsfera. O
problema é que a bugiganga erra o caminho desta vez – ou vai ver, havia alguma
restrição sobre usá-la através do espelho, algo que certamente deveria constar
no manual que ninguém sabe onde entrou –, levando-a de volta para o mundo real,
onde ela acabou sendo capturada pelos amigos de seu ex-noivo e internada num hospital
psiquiátrico, onde acreditam que ela teve uma crise histérica e ficou birutinha da
Silva, pois foi surpreendida tentando se enfiar debaixo dos móveis, balbuciando
alguma coisa sobre a atmosfera.
Ainda
bem que não a colocaram numa camisa de força, ou ficaria mais difícil escapar
dali.
Ela
aproveita uma confusão entre sua mãe e Hamish para se escafeder. Agora imaginem
uma doida correndo para o telhado do sanatório, amarrando uma corda na cintura
para poder descer e roubar uma carruagem, enquanto a equipe médica inteira
tenta alcançá-la. E se alguém perguntar, ela alega insanidade.
Alice
retorna à mansão de Hamish, resgata a CronoEsfera que tinha rolado para debaixo
de um móvel, atravessa o espelho outra vez, e finalmente chega ao Dia de
Horunvindictum, quando o Jaguadarte literalmente tocou fogo na aldeia onde
morava o clã dos Cartolas. Tínhamos visto um pedaço dessa cena no primeiro
filme, quando o Chapeleiro se lembrou do dia em que a Rainha Vermelha deu o
golpe que depôs a Rainha Branca e assumiu o controle do Mundo Subterrâneo,
transformando aquele lugar num deserto sombrio. Mas o Jaguadarte não fez isso
simplesmente porque era divertido. Ele estava cumprindo as ordens de Iracebeth
de Carmesim, que mandara incendiar a aldeia para que sua irmã fosse forçada a
se isolar em Marmoreal e ela pudesse roubar seu trono, mas também para que
ninguém visse quando seus soldados cartas-de-baralho-do-naipe-de-Copas cercassem
os Cartolas e os levassem presos como vingança por sua coroa perdida.
Foi
assim que o chapeuzinho de Tarrant, que ele achava que tinha se perdido, mas
que o pai guardara por anos, ficou jogado no campo, até ser encontrado por ele
no início do filme.
Alice
então retorna ao tempo normal, e vai à casa do Chapeleiro contar suas descobertas,
mas o encontra doente, quase morrendo, assistido pelos amigos, incluindo
Mirana, que afirma que Alice chegou tarde demais.
Alice
conta ao Chapeleiro adormecido que descobriu o que o chapéu significa: que ele
o fez quando era pequeno, e pensava que o pai tivesse jogado fora, mas ele
guardou todos esses anos; confirma que o clã dos Cartolas está vivo, e pede
desculpas por não ter acreditado nele antes, mas agora acredita. E então como
mágica, o Chapeleiro desperta do coma, emocionado porque ela acredita nele.
Pois
é, Tim Burton errou de livro, e consultou Peter Pan para escrever essa parte do
roteiro: sempre que uma criança não acredita em fadas, uma fada cai morta;
sempre que uma Alice – seja ela certa ou errada – não acredita no Chapeleiro,
ele ameaça ter um piripaque, mas se ela volta a acreditar nele, viva! Senhor
maquiado voltou!
E
voltou disposto a esvaziar o cabeção de balão da Rainha Vermelha para libertar
sua família.
Aliás,
Sua Majestade o Cabeção vive atualmente num castelo vermelho construído numa árvore
bizarra, com o formato de seu coração de cabeção inflado... Ou seria o
contrário: seu cabeção inflado em formato de coração...? Esqueçam a semântica!
O caso é que a megera vive num castelo bizarro cercado de insetos mais bizarros
ainda – sinal que não há faxineira na casa desde o Dia de Nuncvindictum –, mais
bagunçado que gaveta de meia, tendo como única companhia um formigueiro de
vidro que ela chacoalha só para se divertir vendo as formiguinhas se agitarem
com o “terremoto”.
Mas
não está tão solitária quanto parece, pois, ao que tudo indica, ela recebe
visitas regulares do Sr. Tempo, que manobra muito mal sua geringonça – sua
habilitação está vencida há quanto tempo, moço? –, e não tem boas notícias
sobre a CronoEsfera, depois de ter visto Alice atravessar o espelho com ela.
Afinal,
a quem causa mais prejuízo a ausência da CronoEsfera, Sr. Tempo? A você, que
pode literalmente se desintegrar sem ela, ou ao cabeção de balão, que só quer
esfregar a cara da irmã nas migalhas de torta debaixo da cama?
Cabeção
dá um senhor esporro no Tempo, porque ele é simplesmente incapaz de atender aos
seus caprichos, e manda seus guardas prendê-lo.
Estão
lembrados daquele buldogue monstruoso simpático que arranhou o braço de Alice
no primeiro filme, e depois o curou com uma lambidinha? Aquele a quem chamam de
Capturandam?! Finalmente temos notícias dele, quando Alice e o Chapeleiro o
usam como montaria para atravessar o reino e invadir o castelo da megera com Mirana
e as outras criaturas aliadas.
Como
o castelo é grande demais para ser vasculhado em tão pouco tempo – juro que não
é de propósito que estou fazendo esses trocadilhos, mas a história não colabora...
Ou melhor, colabora demais –, os heróis se separam para vasculhar cada uma de
suas alas um pouco mais depressa.
Enfim,
depois de procurarem na árvore inteira, e de serem pegos por um sem-número de
armadilhas e criaturas bizarras, restam somente Alice e o Chapeleiro para
procurar nos aposentos da Rainha, mas ficam decepcionados ao constatarem que
não há ninguém trancado ali.
Pelo
menos, até o Chapeleiro perceber que as formiguinhas de estimação da megera estão fazendo um curioso desenho na areia do formigueiro.
Como
a Rainha Vermelha já previa a invasão, ela permitiu este comovente reencontro
apenas para trancá-los em seguida, e arrancar de Alice a CronoEsfera, o
dispositivo mais poderoso do universo.
Alice,
o Chapeleiro, Tweedledee, Tweedledum, o Coelho Branco, a Lebre de Março, a ratinha
desbocada, o cachorro, o gato invisível... Enfim, todos são trancafiados numa
jaula gigante de vegetal, enquanto os soldados leguminosos da Rainha seguram
Mirana sem muita delicadeza. O Tempo também é seu prisioneiro, mas como ele é
uma espécie de sumidade, ela decidiu não trancá-lo com reles mortais, mas
amarrá-lo num trono, ao lado do esqueleto que restou do Valete de Copas, que
ainda tem a espada atravessada no coração – provando que essa briga conjugal
terminou num divórcio não muito amigável. Mas, como ele foi condenado a
permanecer ao lado dela até o fim do Mundo Subterrâneo, seu corpo não pôde ser
enterrado.
Iracebeth
planeja arrancar a cabeça de Alice e seus amigos quando voltar. Por hora, ela
tem algo mais importante para fazer no Dia de Fell com sua irmã Mirana.
Enquanto o Cabeção aciona a CronoEsfera, o Tempo pede que Mirana não permita
que Iracebeth veja a si mesma, ou destruirá tudo. O problema é que a Rainha
Vermelha tem uma cabeça enorme, mas as orelhas são pequenininhas. Então, é
claro que ela não lhe dará ouvidos.
E
ainda tem mais um probleminha: enquanto os heróis enumeram o que não gostam na
Rainha Vermelha, o dia e a noite começam a passar numa velocidade vertiginosa
daquele lado do reino, ameaçando dar um tchutchu
no Tempo – literalmente!
Parece
que Wilkins finalmente descobriu onde tinha enfiado o manual de instruções, e
depois de consultá-lo e constatar que sem a CronoEsfera o mecanismo do Grande
Relógio está mesmo indo pra cucuia, em vez do salve-se quem puder, ele junta
todos os Segundos e os Minutos que estão de plantão no Castelo do Tempo e manda
eles se acoplarem aos quebra-cabeças uns dos outros para formar a Hora, porque
é claro que um monstro maior terá mais força nos braços para continuar
sustentando os ponteiros por mais um tempinho, e poder dar tempo aos nossos
heróis para impedir que Iracebeth cause um colapso fulminante no Tempo, depois
de ter voltado no tempo...
Ok,
eu enrolei tudo, mas vocês entenderam! O tempo está acabando, porque esse povo
mexeu demais com o Tempo num curto espaço de tempo, e agora não dá mais tempo
para ficar esperando as duas irmãs voltarem do passado. Alguém precisa botar
ordem nesse galinheiro e ajudar a Alice a roubar a CronoEsfera de novo.
Felizmente
para os nossos heróis, os guardas vegetais da Rainha Vermelha estão muito
cansados da mania dela de ficar beliscando-os entre as refeições, e decidem
abrir a cela dos prisioneiros, e a megera que se lasque!
Como
não têm mais tempo a perder – piadinha torpe –, Alice manda os Tweedles e os
bichinhos levarem o Tempo de volta ao Castelo dele enquanto ela e o Chapeleiro
vão atrás da CronoEsfera para restaurar a ordem do Universo.
E
é melhor correr, porque Iracebeth e Mirana já estão na porta do quarto, ouvindo
a Rainha Branca negar diante da mãe que colocou as migalhas da torta debaixo da
cama da irmã. E como reviver a fúria nunca leva a boa coisa, Iracebeth abre
intempestivamente a porta do quarto para acusar a pequena Mirana de ser uma
mentirosa, e ao colocar os olhos sobre si mesma mais jovem, as duas se
transformam numa estátua de... Juro que eu tentei identificar que diabo é essa
coisa cor de beterraba misturado com cenoura, ou catchup estragado, mas só
consegui concluir, pelo contexto da história, que seja ferrugem. Enquanto Tim
Burton não se manifestar para esclarecer, vamos continuar encarando assim e
deixar por ferrugem mesmo.
Aqui
entre nós, concordo com a Dona Florinda:
E
enquanto todo o resto do País das Maravilhas e seus habitantes enferrujam,
Alice e o Chapeleiro invadem o castelo de Espertal naquele transporte
extremamente difícil de manobrar que o Tempo lhes emprestou, pegam a
CronoEsfera de volta, e levam as duas Rainhas – incluindo a enferrujada – de
volta ao Castelo do Tempo.
Então,
perna para quem tem! Ou melhor, força nos motores da Esfera do Tempo! Finge que
é o Lewis Hamilton e acelera essa bagaça aí!
Vamos
resumir o Apocalipse: o cerco de ferrugem vai se fechando até eles entrarem no
Castelo do Tempo. Deve ter algum dispositivo conectado a essa CronoEsfera, que
faz o modo transporte desarmar sempre que atravessa uma janela, porque é
quebrar a vidraça e cair no corredor, a coisa regurgita os passageiros,
encolhe, e aí sim, perna para quem tem, para chegar ao centro da engenhoca e
colocar a Esfera de volta antes que a ferrugem os alcance!
O
que inevitavelmente acontece com todos os nossos queridos personagens. Mirana
se recusa a deixar a irmã enferrujada para trás, e decide arrastá-la pelo
Castelo, o que acaba por tornar sua marcha muito lenta, provocando sua paralisação;
o Chapeleiro enferruja heroicamente sem largar o formigueiro; Tweedledee, Tweedledum e a
trupe dos piradinhos acaba encurralada num cruzamento dos corredores,
despedem-se, e são bravamente paralisados pela ferrugem.
Mas
apesar de seus esforços, parece que sua máquina invencível é, na verdade,
vencível, e apesar da tentativa do Tempo de dar mais tempo à Alice, não houve
tempo suficiente para que ela depositasse a CronoEsfera em seu lugar, e ela
acabou enferrujada a menos de cinco centímetros de seu objetivo.
Felizmente
a coisinha era mais poderosa do que se imaginava. A CronoEsfera conseguiu se
manter viva apesar da camada de ferrugem que a envolvia, a ponto de disparar um
pequeno raiozinho, suficiente para fazer contato com a outra extremidade do
dispositivo enferrujado e religar as engrenagens do Grande Relógio, dissolvendo
a ferrugem do reino todo, e trazendo os personagens de volta à vida.
E
ainda dá tempo de promover uma reconciliação entre as duas irmãs amantes de
torta. Quando a ferrugem se dissolve, Iracebeth volta a reclamar de tudo o que
deu errado em sua vida, e culpa Mirana pelo seu cabeção de balão, e a Rainha boazinha aproveita a deixa para se desculpar e confessar o quanto se arrependeu
de ter mentido para a mãe sobre não ter comido as tortas, pois se tivesse dito
a verdade, nada disso teria acontecido.
Tudo
bem quando termina bem. Mas, na dúvida, façam o que Mirana disse: retirem todas as tortas do
reino, para evitar mais confusão.
O
Chapeleiro aproveita esse lindo momento família para pedir à Rainha Branca uma ajudinha para restaurar o tamanho da sua, e ela lhe dá um Altestrudel que tinha no
bolso – aqueles bolinhos que fazem as crianças crescerem.
O
engraçado é que o Johnny Depp deve ter mais ou menos a mesma idade que o seu
pai da ficção... E provavelmente é mais velho que sua mãe, mas vamos deixar
isso para lá...
Alice
também aproveita esse momento das reconciliações para fazer as pazes com o
Tempo, que tinha ido verificar em sua varanda ensolarada se estavam todos vivos
no País das Maravilhas. Alice confessa que pensou que o Tempo fosse um ladrão,
que roubava tudo o que ela amava, mas agora que o conhece, percebeu que estava
errada, que ele dá antes de tomar e que cada dia, hora, minuto e segundo é um
presente. Então ela entrega a ele o relógio de bolso de seu pai.
Assim
resolvidos, Alice se despede do Chapeleiro – talvez para sempre; a menos que
Tim Burton garimpe outro roteiro maluco da manga –, e atravessa o espelho de
volta ao mundo real, com a promessa do Chapeleiro de que tornarão a se
encontrar nos jardins da memória e no palácio dos sonhos.
Eu
diria até loguinho, Alice. Afinal de contas, nunca se sabe...
Enfim,
no mundo real, a mãe de Alice está prestes a assinar o documento que cederá o
navio Maravilha para Hamish Ascot, em troca do resgate da hipoteca da casa, e
Alice escolhe bem esse momento para fazer sua entrada triunfal.
Alice
se lembra dos ensinamentos de seu mais novo amigo, de que não se pode mudar o
passado, mas pode aprender com ele, e incentiva a mãe a assinar os papéis,
afinal, o Maravilha é só um navio, e ela pode arrumar outro. Mas Helen é a única mãe que Alice tem, e não quer perdê-la.
E
é quando Hamish resolve colocar seus negócios a perder tirando sarro de Alice,
deduzindo que ela decidira ceder à sua pressão e trabalhar no escritório –
aquela proposta indecen... digo, generosa
que ele fez no início do filme. Então a Sra. Kingsleigh, ultrajada, dá graças a
Deus que Alice não tenha se casado com aquele sujeitinho, rasga o documento e
manda ele enfiar... na lata de lixo.
E
o que Alice decide é passar a tesoura no cabelo, abrir sua própria Companhia de
Exportação, e, com sorte, arruinar os Ascots em um ano. Acompanhada da mãe e do
advogado desertor dos Ascots – que decidiu investir em sua empreitada, cansado
da arrogância daquele sujeitinho constipado –, ela aborda novamente o seu navio
como capitã e parte numa nova aventura.
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