Hoje
vamos relembrar uma das sagas mais queridas – e infelizmente incompleta – do
Chapolin Colorado: Os Piratas, de 1975. Além da história divertidíssima, essa
saga carrega um dos maiores mistérios do programa: seu episódio final é
totalmente desconhecido.
Juro
que eu pretendia fazer essa postagem em fevereiro, mas aconteceram uma série de
coisinhas, e o meu cronograma de postagens acabou totalmente comprometido e
atrasado.
Mas,
como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”.
O
termo “Perdido Mundial” foi criado para designar episódios que a Televisa não
mais possui para distribuição. Isso não significa necessariamente que o
episódio não possa ser “encontrado”. Como o programa foi distribuído para um
sem-número de países ao redor do globo, é possível que algumas emissoras
possuam cópias deles em seus arquivos. O SBT, por exemplo, possui e ainda exibe
alguns episódios que não são mais distribuídos pela Televisa, sendo portanto
considerados “Perdidos Mundiais”, como “Ser Pintor é Uma Questão de Talento
(1976)” – o Multishow, por exemplo, somente exibiu a continuação “Pintando o
Sete” –; a primeira parte da saga mais conhecida das Novas Vizinhas “Errar é
Humano – Parte 1 (1978)” – que, dizem por aí, o Multishow conseguiu que fosse
liberado pela emissora de Silvio Santos –, e “Com Essas Pulgas Não Se Brinca de
Pula-Pula (1978)”, do Chapolin.
Em
alguns casos, Perdidos Mundiais que já foram exibidos pelo SBT em algum momento
nos últimos 35 anos, cujas cópias nem a emissora de Silvio Santos possui
atualmente – qualquer que seja o motivo: incêndio, enchente, mofo, descaso, foi
roubado pelo Duende das Meias, ou Tchuim Tchuim Tchum Claim –, podem ser
encontrados no YouTube – com qualidade de imagem da Idade da Pedra –, postado
por fãs que os tinham gravados em VHS. É o caso de “O Planeta Vênus (1973)”,
que é a primeira versão de “Planeta Selvagem (1975)”, que por algum tempo
também figurou a lista dos Episódios Perdidos que o SBT engavetou, e depois
retornou à programação, sem o estardalhaço que passaram a fazer nos últimos dez
anos em cima disso – porque não é de hoje que episódios desaparecem e
reaparecem na emissora de Silvio Santos sem qualquer razão aparente, mas só
depois que o fã clube descobriu que a internet era um bom veículo para
reclamar, a emissora começou a tratar o retorno desses episódios à programação
como um evento cinematográfico –, “Quem Não Tem Cão Caça Com Rato – Parte 2
(1977)”, que é a segunda parte da segunda versão da saga do Madruguinha – que
não é exibida pelo SBT desde 1900 e guaraná de rolha –, e “Os Toureiros
(1973)”, que é a primeira versão de “Os Toureadores”.
Mas
de todos os episódios Perdidos Mundiais, nenhum desperta tanta curiosidade
quanto a conclusão da saga “Os Piratas”, do Chapolin. Eu tenho uma vaga
lembrança de o SBT ter exibido ao menos uma vez o segundo capítulo com a cena
em que Florinda Meza faz a chamada da terceira e última parte. Tenho
praticamente certeza disso, porque, embora muito se diga na internet que só se
tem conhecimento da existência de um terceiro capítulo porque a cena da chamada
acompanhou o desfecho do segundo episódio quando a saga foi lançada em VHS, eu
estou certa de nunca ter tido contato com essa fita, e mesmo assim, me lembro
de ter assistido à chamada quando era pequena.
Mas
não importa. Tendo o SBT exibido isso ou não, o fato é que hoje a Televisa
distribui o segundo episódio sem a chamada, e com créditos que não pertencem
àquele capítulo. Alguém postou um vídeo no Youtube, comentando esse mistério, e
mostrando que os créditos que acompanhavam a chamada de Florinda eram
diferentes dos atuais. Considerando que a cena mostrada nos créditos geralmente
tem a ver com a trama exibida no episódio, e a atual não pertence ao primeiro
capítulo, tudo leva a crer que os créditos atuais do segundo capítulo
pertenciam originalmente ao capítulo final. Nela, vemos uma caveira – muito
semelhante àquela que apareceu em “O Tesouro do Pirata Fantasma (1975)”, que
foi gravado no mesmo ano, e mais ou menos no mesmo cenário – usando o chapéu do
Pirata Alma Negra. A partir disso, podemos deduzir que o pirata morreu ou foi
morto no final da saga.
Podemos
deduzir... Mas não temos 100% de certeza.
Em
certa ocasião, Edgar Vivar comentou em entrevista a um programa de TV, como
resposta ao misterioso desaparecimento de episódios de Chaves e Chapolin, que
às vezes episódios eram gravados por cima de outros que já haviam sido
transmitidos.
Todos
sabemos que no início do programa, a Televisa disponibilizava praticamente
nenhuma verba para a produção de Chaves e Chapolin – reza a lenda que Bolaños
colocou dinheiro do próprio bolso para construir os cenários; talvez um dos
motivos de muita coisa ter sido feita com isopor, além da praticidade nas cenas
de luta e quebra-quebra; e temos como fato de conhecimento público que a maior parte dos figurinos foram trazidos pelos próprios atores; e corre uma lenda
urbana que Chespirito às vezes tomava emprestados cenários e objetos de cena de
outras produções da emissora, como novelas –, de modo que é realmente possível
que tenham reaproveitado algumas fitas de episódios que já tivessem sido
exibidos. Todavia, isso justificaria o sumiço de episódios da primeira
temporada – para quem gosta de números, foram identificados ao menos doze
episódios perdidos mundiais gravados ou reprisados em 1973; quando o programa
se tornou independente, fora do antigo programa Chespirito, alguns episódios de
1972 foram reprisados –, e talvez da segunda – da qual são conhecidos oito
episódios desaparecidos. Mas 1975 foi o terceiro ano do programa; a qualidade
dos cenários e figurinos, muito superior às anteriores, dá a entender que a verba
investida nas séries havia melhorado consideravelmente, e os programas já
haviam se tornado relativamente conhecidos em outros países da América Latina,
o que inviabilizaria a destruição de episódios já exibidos – especialmente em
se tratando de continuações de sagas. Portanto, a explicação fornecida pelo
ator é, neste caso, no mínimo improvável.
Outras
explicações já foram especuladas por aí, como por exemplo, que a fita tenha se
estragado – por descuido, armazenamento inadequado, incêndio, enchente, abdução
alienígena, foi embora para Pasárgada, ou à Disneylândia com o Polegar
Vermelho... Que se perdeu, sumiu, evaporou, virou fumaça, etc., etc., etc.
O
mais provável é... Quem sabe...?
O
fato é que nunca se localizou uma gravação caseira sequer desse episódio, nem
com áudio original, ou dublado em japonês, alemão, russo, swahili, búlgaro,
atlante, jupiteriano... Nada. É como se o episódio nunca tivesse sido gravado.
E os atores parecem ter sido acometidos de amnésia coletiva a respeito do que
pode ter sido contado no capítulo final.
Mas
se o episódio nunca tivesse sido gravado, então por que Florinda fez a chamada?
E,
considerando o número exorbitante de remakes produzidos em ambas as séries
(Chaves e Chapolin), é pouco provável que Bolaños tenha jogado fora o roteiro
do capítulo final.
Uma
última hipótese que já foi levantada a respeito desse misterioso final da saga
dos Piratas, é que o episódio possa ter sido censurado. Isso já aconteceu com o
Chaves aqui no Brasil: durante muito tempo, o episódio “O Atropelamento (1975)” foi considerado inadequado, por causa da
cena em que Chiquinha despeja esmalte de unha no rosto do Quico para fingir que
ele havia sido atropelado. Na época, algum órgão responsável pela classificação
indicativa do conteúdo exibido na televisão argumentou que a cena poderia
incentivar crianças a brincarem com os esmaltes das mães, o que poderia ser
perigoso, caso derramado próximo aos olhos de alguém. Depois que o Cartoon
Network passou a exibir o episódio em 2011, o assunto parece ter sido
descartado, e o próprio SBT voltou a exibi-lo, sem qualquer problema.
No
caso do episódio dos Piratas, a hipótese é de que a morte de Alma Negra possa
ter ocorrido de forma violenta demais para os padrões da série na época da
exibição original na Televisa, e ele tenha se tornado, de algum modo, proibido.
Essa hipótese levanta questões a respeito da possibilidade de a terceira parte
sequer ter ido ao ar – a exibição original deveria ter ocorrido no dia 10 de
Abril de 1975, mas isto é apenas um
supositório (como diria o Chaves), pois, de duas uma: ou o Tele-Guía
daquela semana, que poderia talvez elucidar o mistério acerca da existência ou
não do episódio, ainda não foi localizado; ou ele não continha a sinopse do
episódio que seria exibido no programa Chapolin Colorado daquela semana. Caso o
episódio não tenha realmente ido ao ar, é possível que a emissora tenha exibido
uma reprise naquele dia.
Considerando
que Chapolin Colorado já exibiu diversas cenas violentas, esta hipótese parece
improvável. Mas em se tratando de televisão, tudo é possível. Às vezes um
mínimo detalhe – como um esmalte de unha derramado na cara – pode ter vetado a
exibição do programa. “Mas, neste caso,
não seria mais fácil cortar a cena e exibir o restante do capítulo?” Seria.
A menos que a tal cena vetada fosse de vital importância para a compreensão da
história, como o final. É claro que essa hipótese se torna controversa quando
lembramos que no episódio “O Cofre do
Pirata (1976)” um personagem morre – embora não cheguemos a ver a cena
fatal – ao cair em sua própria armadilha. E isso também não explicaria por que
Bolãnos não escreveu uma nova cena que pudesse substituir a suposta parte
censurada do episódio, para que ele pudesse ser exibido em outro momento. Mas
se levarmos em conta que o clima nos bastidores da série nunca foi dos melhores
– já vieram à tona diversas rusgas entre os atores, e não sabemos como era o
relacionamento entre os demais membros da produção –, é sempre possível que
Chespirito tenha considerado mais fácil descartar o capítulo do que mexer na
história.
Seja
lá como for, qualquer possível explicação que alguém tente dar ao sumiço deste
episódio em particular provavelmente virá cercada de controvérsias.
Foi
pensando nisso, para tentar responder a essa questão intrigante, que eu fiz um
levantamento hipotético da trama do capítulo final da saga dos Piratas, e
acredito ter chegado bem perto da verdade.
Hoje,
o Admirável Mundo Inventado trará a vocês, provavelmente, a resolução deste
grande mistério: o final da saga “Os Piratas”, do Chapolin Colorado.
Mas
antes de contar o fim, é preciso relembrar o começo.
Então,
sigam-me os bons!