Com a Máscara e a Espada

em quarta-feira, 10 de julho de 2013


 
“Eu uso a máscara preta para esconder a minha identidade. I cover myself with the black cape that protects me from the enemy. Eu me cubro com a capa preta para me proteger do inimigo. And I clutch my sword to do justice.E eu agarro minha espada para fazer justiça”.

Talvez estas palavras não sejam tão conhecidas, já que aparentemente só foram mencionadas desta forma em uma das adaptações da história, mas quem leu atentamente deve ter ligado o nome à pessoa: este é, nada mais, nada menos, que o juramento de Zorro.
A história do herói mascarado da Califórnia todo mundo conhece: o fidalgo Don Diego de La Vega, fazendeiro letrado e pacífico, que secretamente luta pela justiça escondido atrás de uma máscara, deixando nas paredes, nas roupas e até na pele de seus inimigos sua famosa marca riscada com a ponta da espada: a letra Z!
O nome Zorro, em espanhol, significa raposa, ou em sentido figurado, homem astuto!
O personagem da ficção como nós conhecemos foi criado em 1919, pelo escritor norte-americano Johnston McCulley, porém, em seu conto original não existe a famosa marca “Z”.
Zorro já foi tema de diversas produções, desde séries de TV a filmes, sempre protagonizadas por belos atores:

- Douglas Fairbanks, no filme A Marca do Zorro, de 1920;

- Guy Williams, na série de TV Zorro, produzida pela Walt Disney entre 1957 e 1959;

- Antônio Banderas nos dois filmes mais recentes e conhecidos A Máscara do Zorro, de 1998 e A Lenda do Zorro, de 2005.

Para só mencionar os mais conhecidos...
Mas de todas as versões, a que eu mais gostei foi a novela colombiana produzida pela Telemundo “Zorro – A Espada e a Rosa”. Admito que novelas geralmente me atraem bem pouco, principalmente novelas latinas (quem assistiu uma já assistiu todas, porque muda o nome da protagonista – quando muda! –, mas a história é basicamente a mesma!), mas esta eu não me atrevi a perder um capítulo sequer quando foi exibida pela Record.
Nem sei porque lembrei dessa novela agora; ando meio obcecada com aventuras de capa e espada ultimamente, mas vamos a ela!
A trama foi vagamente baseada no romance de Isabel Allende “Zorro, O Começo da Lenda”, todavia muita coisa foi alterada, então é admissível dizer que uma nova lenda foi criada.
Não dá para resumir a novela inteira, mas vamos apresentar alguns personagens e contar um pouco desta aventura:


Don Diego de La Vega, um homem culto e pacífico começa sua missão em Nossa Senhora de Los Angeles, Califórnia (na época pertencente ao México), protegendo os fracos e injustiçados dos desmandos do Comandante de Guarda Ricardo Montero D’Ávila. Para isso, protegido por uma Confraria liderada pelo Padre Tomás Villarte, ele assume a identidade de Zorro, o herói mascarado.
 
Além de herói, Diego é uma espécie de Don Juan, conquistando todas as mulheres que deseja... Até conhecer Esmeralda.
A mocinha acabou de chegar em Los Angeles com sua família, depois de ter sido forçada pelo pai a casar com um homem velho e rico na Espanha, que morreu no altar logo após a cerimônia, fazendo de Esmeralda uma viúva rica. Todavia, por não ter marido, ela permanece submetida aos desmandos de seu pai, o Governador da Califórnia, Fernando Sánchez de Moncada, um homem aparentemente cruel e impiedoso, que pouco tempo depois de chegar a Los Angeles, louco para passar Esmeralda adiante, decide casá-la com o Comandante Montero.
Mas a mocinha, em sua primeira noite na cidade, se vê literalmente enroscada com o nosso herói mascarado – na verdade, são os medalhões de ambos que se enroscam –, e ali nasce uma grande paixão.
À margem do amor que está nascendo, como não poderia deixar de ser, afinal, estamos falando de uma novela tradicionalmente mexicana, há também uma mulher invejosa: a meia-irmã de Esmeralda, Mariángel, que fica obcecada por Diego assim que descobre que Esmeralda o ama.
Na verdade, Mariángel nunca gostou de Diego. Desde o princípio, o homem que lhe interessou foi o Comandante Montero, porém seu único objetivo de vida era fazer Esmeralda sofrer, pois em algum lugar do passado, o noivo de Mariángel, Santiago Michelena quis trocá-la pela irmã. O tal rapaz supostamente está morto, mas a vilã nunca conseguiu perdoar Esmeralda, pois acredita que ela seduziu Santiago.
Mariángel e Montero se tornam amantes imediatamente, e unem forças para separar os mocinhos.
Por trás de todo este dramalhão, existe um grande segredo envolvendo a mocinha Esmeralda: a mãe que ela acreditava ter morrido no parto está numa cela embaixo da prisão de Los Angeles, encerrada detrás de uma máscara de ferro. Fernando mandou prendê-la quando descobriu que Esmeralda não era sua filha, mas de um cigano do acampamento onde a esposa se escondera durante muitos anos.
Mas a história da mulher da máscara de ferro vai muito além do adultério. Conhecida como Sara Kalí, rainha dos ciganos, a mulher na verdade se chama Mercedes Mayorca de Aragón, e é a legítima Rainha da Espanha. Por causa de um golpe de Estado, a mãe fugiu com ela para não serem mortas, e se esconderam num acampamento cigano. Mais tarde, Mercedes se casou com Fernando para tentar recuperar o trono, mas seu plano falhou, e Fernando a colocou na máscara para evitar que reconhecessem sua semelhança com a família real, pensando em conseguir dinheiro da coroa em troca de seu paradeiro.
Os ciganos estão tentando resgatá-la, e quando ela finalmente consegue fugir, sua filha Esmeralda acaba sendo capturada pelos soldados, e forçada a usar a máscara de ferro de sua mãe.
A esta altura, a mocinha está grávida de Diego, mas separada dele, pois sua irmã Mariángel o acusou de tê-la desonrado, forçando-o a casar com ela. Mariángel também espera um filho, que ela alega ser de Diego, mas na verdade é de Montero.
Nos meses em que Esmeralda fica presa, sua família acredita que está morta. Os dois bebês nascem na mesma noite, e Montero manda o Capitão Pizarro, seu braço direito, matar o filho de Esmeralda, mas ele não tem coragem, e o deixa no cemitério para que alguém o encontre.
Naquela mesma noite, Mariángel dá a luz, mas seu filho nasce morto, porque Olmos, o contador corcunda de seu pai, que nutre uma paixão doentia por ela, não aguentou esperar que ela parisse para lhe dar a poção do amor que comprou da bruxa Selênia.
Isso antecipou o parto e matou a criança, mas por um golpe de sorte, ao tentar se livrar do bebê morto, ele encontra o filho de Esmeralda, e o dá à Mariángel em lugar do seu.
Poucos dias depois, Montero ordena à Pizarro que mate Esmeralda, mas o Sargento García tenta impedi-lo, e acaba sendo vendido com ela para comerciantes de escravos trazidos por Olmos. O navio negreiro para onde são levados é atingido por um raio e naufraga, mas Esmeralda e García sobrevivem, e ela descobre o significado do medalhão que herdara de sua mãe, e que foi perdido no naufrágio, mas ficou queimado em sua mão: ele é o mapa para um tesouro deixado por sua avó.
Depois de encontrar o tesouro, Esmeralda compra um título de nobreza e consegue um convite para o baile de máscaras oferecido pela Rainha da Espanha, Dona Maria Luíza, onde Mercedes se apresenta diante da soberana, que a reconhece como a legítima detentora do trono.
Resta à Esmeralda, após reencontrar Diego, procurar seu filho. Ela agora é uma lutadora forte e destemida, que sabe manejar o arco e a espada, graças ao treinamento que recebeu das amazonas na floresta, enquanto esteve escondida, e se apresenta com o rosto coberto por um lenço como “A Rosa”.

Numa aliança com o Zorro, “a Espada e a Rosa” vão em busca de Montero e Mariángel, que raptaram a Rainha Maria Luiza, e também estão de posse de seu bebê.
Quem acaba salvando a criança é Santiago, o ex-noivo de Mariángel que retornou dos mortos recentemente, cheio de dívidas, e se revelou velho amigo de Diego, embora com um caráter seriamente duvidoso.
Depois que Olmos revela a verdade sobre a origem da criança, Mariángel o coloca numa carroça desembestada, e o bebê acaba sendo resgatado por Santiago, que, por um feliz acaso, vinha fugindo de seus credores bem nessa hora.
O destino dos vilões acaba sendo decidido na selva: depois de muita luta contra Zorro, Montero é devorado por piranhas e Mariángel se torna refém de canibais.
A Rainha oferece devolver o trono a Sara Kalí, mas ela sabe que se for assim haverá uma revolta na Espanha, e admite que Maria Luiza é uma rainha justa, decidindo que está satisfeita tendo sua família de volta.
Assim, as histórias vão se acertando: Diego e Esmeralda finalmente sobem ao altar, embora tenham seu casamento interrompido pela aparição do que restou de Mariángel – depois de ter sido disputada a mordidas pelos canibais – que tenta matar os mocinhos, e acaba assassinando o Governador, seu próprio pai – que a esta altura, tentava se redimir de suas maldades abraçando o legado de São Francisco de Assis, dedicando-se aos pobres, e tentando reconciliar-se com o grande amor de seu passado, uma freira. Em seguida, a vilã também encontra sua morte pelas mãos do seu eterno apaixonado, e agora revoltado e ainda mais deformado, Olmos, que, depois de ter sido acusado de violentá-la – porque ele não sabia que o feitiço de amor que jogara nela se quebraria no momento em que consumassem sua relação –, e de quase ser queimado vivo, transformou em ódio aquela paixão doentia que sempre o fez bancar o cachorrinho de Mariángel. Os dois acabam matando um ao outro nos degraus da igreja, como uma espécie de Romeu e Julieta bizarro e do mal.
Um novo Zorro passa a ser treinado anos depois: Alejandro, o filho de Diego e Esmeralda; e a história termina com o rapaz fazendo o juramento que seu pai fizera no passado e cavalgando em seu novo cavalo.
Nas entrelinhas da história há outros personagens interessantes, mas apresentá-los no resumo geral ficaria muito exaustivo:
Alejandro de La Veja: o fidalgo pai de Diego, que está dividido entre seu amor por Almudena, tia de Esmeralda, e a paixão por Yumalay, uma índia que é idêntica à sua falecida esposa Regina, mãe de Diego, uma índia da mesma tribo.
Maria Pía: irmã de Alejandro, que foi noiva de Fernando Sánchez de Moncada, pai de Mariángel, mas rompeu com ele, e se fechou num convento depois de descobrir que ele matara Regina.
Renzo, o Cigano: que nutre um amor platônico por Esmeralda.
O divertido casal Catalina e Tobias Del Valle y Campos: ela, filha do juiz Quintana, foi amante de Diego antes da chegada de Esmeralda, e depois, já casada com Tobias, foi amante do Capitão Pizarro a novela inteira, consagrando-se como a “periguete” da Nossa Senhora de Los Angeles do século XIX; e ele, um homem excêntrico, com uma estranha obsessão por fantasias, especialmente a de Zorro. Durante o baile da Rainha ele chegou a se vestir de mulher para seduzir Pizarro a um duelo pela honra de Catalina.
E é claro que não podemos esquecer de mencionar o Bernardo, irmão de leite de Diego de La Vega e seu fiel criado mudo: o único fora da Confraria a conhecer o segredo do Zorro.
A produção merece algumas estrelas também pelo figurino deslumbrante dos personagens, e pela estética em geral. Sem falar no excelente jogo de câmeras que fazia lembrar as produções hollywoodianas e as grandes séries americanas; muito diferente do que se costuma ver nas outras novelas latinas.

CURIOSIDADE:
O herói da ficção foi inspirado numa pessoa real, mas diferentemente do que se espera, ele não era nem espanhol, nem mexicano. O Zorro verdadeiro era um irlandês de pele clara e cabelo ruivo, que viveu entre 1615 e 1659, chamado William Lamport.
Esse rapaz teve uma vida bastante agitada: nascido depois da guerra entre Inglaterra e Irlanda, esta última apoiada pela coroa espanhola para impedir a conversão dos católicos em protestantes, William, aos 13 anos de idade foi preso por traição à coroa britânica, quando escreveu um panfleto em latim rebelando-se contra os mandos e desmandos do governo inglês sobre os irlandeses. A partir daí sua vida passou a ser uma eterna instabilidade.
Após fugir da prisão, viveu dois anos com os piratas, lutou numa guerra religiosa pela França, percorreu a Europa, e decidiu fincar raízes na Espanha em 1640, mudando seu nome para Guillén Lombardo.
Assim como o herói da ficção, Lombardo dominava a espada com a mesma habilidade com que arrebatava corações, e depois de envolver-se com uma jovem nobre da corte espanhola chamada Ana de Leiva, ele foi exilado na Nova Espanha, atual México, onde deveria espionar as tribos indígenas em favor dos espanhóis. Todavia, seu espírito revolucionário, que o levaria a ficar conhecido como líder de um embrionário movimento pela independência do México, acabou por ser sua ruína.
Aos 35 anos, depois de ter sido preso por oito anos, entre outras acusações, por feitiçaria, e de protagonizar uma fuga fantástica no Natal de 1650, ele se tornou El Zorro, e como um fantasma da noite, vagava pelas cidades fazendo justiça com as próprias mãos.
Foi preso novamente em 1652, ao ser surpreendido num caso amoroso com a mulher do vice-rei Don López Díaz de Armendáriz, e executado sete anos depois. Zorro foi pendurado sobre a fogueira, mas agarrou as cordas que o penduravam e se enforcou, zombando mais uma vez de seus inimigos.
Ainda existe na Columna de la Independência, na Cidade do México, um busto em memória do herói irlandês, que ficou conhecido como o precursor da batalha pela proclamação da independência.


Despeço-me agora ao estilo de Diego de La Vega, deixando a marca do Zorro.

8 comentários:

  1. nossa amei sua postagem. Estou acompanhando a novela e achei o máximo a forma que escreveu. Parabens

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  2. Obrigada Jú!
    Essa foi a novela mexicana que eu mais gostei até hoje.
    Fico feliz que tenha gostado do post. :-)

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  3. Você escreve muito bem, obrigada por resumir um pouco da novela para mim, agradeço! Também estou acompanhando a novela pelo youtube. Abraços

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    1. Muito obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado! Abraços.

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  4. Amo de paixão Essa novela voltar por favor

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