Estamos
de volta com mais um episódio da série alemã Sechs auf einen Streich (Os Melhores Contos de Grimm). Como prometi,
apresentarei meus quatro episódios favoritos da série, e para esta segunda
postagem, escolhi um conto que não é muito conhecido no Brasil, mas que é
realmente encantador.
A Esperta Filha do Camponês
Como na postagem anterior, por se tratar de uma série alemã, cujos atores são completamente desconhecidos no nosso país, achei interessante incluir uma pequena ficha técnica apresentando o elenco para vocês. Então vamos lá:
Publicado
no segundo volume da coletânea dos Irmãos Grimm em 1814.
Título original:
Die kluge Bauerntochter
Elenco:
Bauerntochter (A Esperta Filha do Camponês):
Anna Maria Mühe
König (Rei): Maxim Mehmet
Königsmutter (Mãe do Rei): Sunnyi Melles
Hofrat von Müller (Conselheiro
Moleiro): Rolf Kanies
Cousine (A esposa malvada do primo do Rei):
Katharina Heyer
Vetter (Primo do Rei): Daniel Zillmann
Armer Bauer (O Camponês): Falk Rockstroh
Magd (Criada do Palácio): Sabine Krause
Coiffeur (Estilista Real): Guido Hammesfahr
Prinzessin Eulalia (Princesa Eulália):
Nikola Kastner
Fuhrmann (O dono do potro): Georg Veitl
Ochsenbauer (O dono dos bois): Jörg Rühl
Agora
sim, vamos ao conto:
Era
uma vez, um Rei que estava à procura de uma rainha, porque havia uma lei que o obrigava a casar antes de seu 30° aniversário, ou o trono passaria para
o seu primo. Mas o Rei, que se julgava um intelectual, não queria se casar com
uma garota burra, então, propunha a todas as suas princesas pretendentes que
respondessem a uma charada. E como das doze ou treze que recebeu, nenhuma delas
respondeu corretamente, e uma delas apaixonou-se e casou com seu primo, ele ficava
cada vez mais desanimado, acreditando que só havia mulheres burras pretendendo
sua mão. E apesar dos conselhos de sua mãe, ele não queria se casar com uma
mulher bela com quem não pudesse conversar. A cada dispensa do Rei a uma
pretendente, seu primo e a esposa malvada comemoravam, vendo-se mais perto da
coroa.
Ali
no reino, vivia um camponês que tinha uma filha muito esperta. E como não
tinham terra nenhuma, ela sugeriu que eles plantassem uma horta no telhado, e
esperassem que alguém visse e informasse ao Rei, ou que o próprio Rei visse e
os chamasse para perguntar sobre aquilo, e então, eles diriam que plantavam no
telhado porque não tinham terra. O Rei certamente diria que não poderia crescer
nada naquela horta, porque não há terra no telhado, e então, eles aproveitariam
para pedir ao Rei que lhes desse terras para poder plantar. E se ele negasse,
pelo menos teriam tentado.
E
assim aconteceu. O Rei viu, com sua luneta, a horta plantada no telhado, e
mandou chamar o camponês para perguntar sobre aquilo, e este respondeu conforme
sua filha o orientara. Então, o Rei, achando aquilo engraçado, decidiu lhes dar
terras para plantar.
O
camponês e sua filha ficam muito felizes com a concessão do Rei, e, ao começar
a arar o terreno, encontram um pilão de ouro enterrado lá. O camponês, que era
um homem honesto, decidiu entregá-lo ao Rei, em sinal de boa vontade. Sua
filha, no entanto, aconselhou a não fazer isso, porque não encontraram a haste
do pilão, e se forem entregá-lo, o Rei vai querê-la também, e pensar que o
estão roubando. Mas o pai dela, teimoso como uma mula, achou que seria mais
honesto entregar o pilão assim mesmo, e foi novamente ao castelo falar com o Rei. E, de novo, as coisas aconteceram como sua filha dissera: como ele não
tinha uma haste de ouro para entregar com o pilão, o Rei mandou colocá-lo numa
cela a pão e água, até que ele contasse onde a escondeu.
Então,
o homem passou o dia todo gritando na cela que devia ter feito o que sua filha
dissera. Ao ouvi-lo, o Rei, curioso, desejou conhecer a filha do camponês e
conferir se era realmente tão esperta quanto seu pai dizia.
Mandou
trazê-la ao palácio, e, depois de conferir que ela realmente parecia esperta,
propôs que ela resolvesse uma charada. Se respondesse certo, ele libertaria o
pai dela, e a tomaria como esposa – muito a contragosto da Rainha, sua mãe, que
esperava mais do que a mera filha de um camponês como nora. O Rei pediu que a
garota viesse até ele sem estar usando roupas, mas sem estar desnuda também;
que não viesse nem de dia nem de noite; que não viesse a pé, nem num cavalo,
nem numa carroça; e que viesse com presente, mas sem dar presente.
Então
ela voltou para casa, e começou a pensar numa maneira de resolver a charada. Pegou
uma rede de pesca e se enrolou nela, usando flores para cobrir os buracos que a
deixavam desnuda; pegou também um burro emprestado com uma vizinha, propondo-se
a lavar a roupa dela de graça por um mês em troca, e amarrou uma espécie de
jangada atrás dele, para que ele a arrastasse. Assim, ela foi ao palácio bem
cedo, no fim da madrugada, com o dia amanhecendo, mas com a lua ainda
aparecendo no céu, e levou um passarinho, que soltou diante do Rei, cumprindo,
assim, toda a charada: não estava com roupas nem desnuda; não veio de dia nem
de noite; não veio a pé, nem num cavalo, nem numa carroça; veio com presente,
mas não deu presente. O Rei, satisfeito por constatar que ela era realmente
esperta, cumpriu também sua parte no acordo: libertou o pai dela e a tornou sua
noiva.
A
Rainha-Mãe não gostou muito do arranjo, a princípio, pois queria que seu filho
se casasse com alguém de berço nobre – alguma princesa, por exemplo –, mas o Rei não voltou atrás com sua palavra, e pediu que transformassem a filha do
camponês numa noiva adequada para a realeza. Então, a Rainha-Mãe e o Conselheiro
Moleiro (uma espécie de mordomo real) levaram a futura rainha a uma sala, onde
a cercaram de cabeleireiros e maquiadores, que rapidamente fizeram-na parecer
alguém da corte.
E,
ao perceber que a filha do camponês era muito amiga de uma das criadas do
palácio, a Rainha-Mãe advertiu sua futura nora de que não era adequado que ela
tivesse amizade com a criadagem. A garota, porém, não gostou dessa advertência,
e demonstrou não estar disposta a mudar nesse sentido.
Ela
também não tinha gostado do arranjo a princípio, e dissera isso ao Rei, pois
sempre quis se casar por amor. Mas como o Rei não volta atrás em sua palavra, e
ela não acha meios de recusá-lo, acaba aceitando casar-se com ele.
A
filha do camponês sai pelo palácio, sem ter ainda trocado seus trapos por
roupas da realeza, e esbarra no primo do Rei e na esposa malvada no caminho.
Eles estão ensopados, pois estavam colhendo plantas na margem do rio, e
acabaram caindo na água. A megera tem um livro de magia negra nas mãos, que a
filha do camponês parece não notar, até porque, está mais preocupada com o ramo
de cicuta que o primo do Rei trouxe de sua aventura, que ela imediatamente
confisca, alertando-os sobre aquilo ser venenoso. Como se eles já não
soubessem... Pois se seu objetivo era justamente transformar aquelas folhas num
chá e servir ao Rei para ficarem com o trono...
E
enquanto está levando o ramo venenoso para jogar numa lixeira, a filha do
camponês encontra a sala de astronomia do Rei, e descobre que ele gosta muito
de observar as estrelas, os planetas e as constelações. Ele se impressiona ao
vê-la bonita com o cabelo arrumado, e tenta, sem sucesso, esconder o mapa
estelar de uma das constelações que andava observando, cujas estrelas ele
ligou, formando o desenho do rosto dela.
Ela
vê sobre a mesa dele um pote com pó de papoulas, e pergunta se ele tem insônia.
O Rei confirma, e ela o adverte de que não pode consumir demais, pois as
papoulas são perigosas.
Depois
de dar a ela um vestido bonito, o Conselheiro Moleiro e a Rainha-Mãe tentam
ensiná-la a dançar. A princípio, ela pega o Conselheiro pelo braço e começa a
rodar e pular, como está acostumada a dançar entre os seus, deixando-o tonto. Em
seguida, a Rainha lhe diz que ela conduz demais, e que não pode imaginar o Rei
dançando assim, e ensina o modo adequado de se dançar na corte: uma dança
calma, pausada, com passos aos pares, apenas de mãos dadas com o Conselheiro
Moleiro.
Assim
as coisas vão começando a se ajeitar para a filha do camponês, que já não
repudia mais a ideia de se casar com o Rei. Até que sua amiga, que trabalha
como criada no castelo é pega dando uma cesta de comida a um pobre fora do
palácio, e levada à presença do Rei. A criada explica que aquelas verduras e
frutas iriam virar lavagem para os porcos, mas o Rei encontra um pedaço de
bacon no meio da cesta.
O
Rei, então, manda todo mundo sair da sala, exceto a criada e a filha do
camponês. A criada implora o perdão do Rei, e ele promete perdoá-la, se conseguir
responder a uma charada.
A
criada pensa um pouco, e a filha do camponês, percebendo que ela não conseguirá
resolver sozinha, imita um bebê engatinhando, uma pessoa andando sobre os dois
pés, e depois com uma bengala – usando o cetro do Rei para fingir. E a criada
compreende a dica.
Então
o Rei a perdoa, apesar de perceber que ela teve a ajuda de sua noiva para
resolver a charada. E quando é repreendida por ele, a filha do camponês diz que
ficou com pena da criada. O Rei, então, pede que não o engane de novo, e ela
promete se comportar.
Naquela
noite, passeando pelo jardim, eles confessam a afeição que começa a nascer um
pelo outro, e ele anuncia que sairá em comitiva pelo reino no dia seguinte, mas
que não seria adequado levá-la consigo antes de estarem casados.
Então,
ela fica sozinha no palácio no dia seguinte, enquanto o primo dele e a esposa
malvada arquitetam outro plano para chegar ao trono: eles pretendem colocar
veneno na garrafa de vinho para que a filha do camponês beba e morra, e assim,
o Rei continue solteiro.
Durante
o desfile pelo reino, o Rei depara-se com uma briga para resolver: pois um
carroceiro tinha uma égua que estava prenha, e, enquanto eles se viraram para saudar
o Rei, a égua pariu, e outro sujeito reclamou para si a posse do potro, pois,
segundo ele, a égua se deitara com seus bois. O Rei é incumbido, então, de
decidir a quem pertencia o potro, e resolveu que o animal deveria ficar onde se
deitou, ou seja, com o homem dos bois.
O
carroceiro fica indignado, pois o Rei cometeu um engano. Então, o camponês diz
que talvez sua filha possa ajudar. E aconselha o carroceiro a ir até o palácio
falar com ela.
Ela,
porém, lembra-se de que o Rei pediu que não interferisse mais na maneira como
ele trata os súditos, e pede que o carroceiro prometa não contar quem lhe
aconselhou. Então diz o que ele deve fazer.
Pela
manhã, quando o Rei retorna do passeio pelo reino, lá está o carroceiro em seu
caminho, diante dos portões do palácio, lançando uma rede no chão seco,
tentando pescar.
O
Rei, indignado, manda colocá-lo na cela a pão e água, e baterem nele até
confessar quem lhe aconselhou a fazer aquilo. Claro que o Rei sabe exatamente
quem foi, e como o coitado do carroceiro está disposto a morrer sem dizer nada,
a filha do camponês pede que o Rei o liberte, pois ninguém deve sofrer por sua
culpa. O Rei, furioso, pergunta por que ela o engana, e o expõe diante de seus
súditos.
Então,
o Rei, envergonhado, pede que ela volte para a casa de seu pai, pois não a quer
mais como esposa.
Entristecido,
porém, por dispensar tão covardemente a única mulher de quem realmente gostou,
ele diz que ela pode levar do castelo, como presente de despedida, aquilo de
que ela mais gosta. Em seguida a deixa sozinha no quarto.
Nesse
meio tempo, a esposa de seu primo aproveitou que todos estavam distraídos com a
confusão para misturar o veneno ao vinho e deixá-lo na mesa do Rei, e mal teve
tempo de se esconder antes que a filha do camponês entrasse na sala de
astronomia, para pegar o vinho e um pouco de papoula em pó numa tigela.
Mas
a filha do camponês não pegou o vinho para beber. Ela preparou um sonífero amassando
as papoulas num pilão, misturou ao vinho do Rei, e colocou a garrafa de volta
na mesa dele. Quando ele bebeu naquela noite, caiu num sono profundo.
O
primo do Rei e sua esposa malvada viram-no cair adormecido, e, pensando que ele
tinha tomado o vinho envenenado que prepararam, começaram a comemorar seu
triunfo e a morte dele.
Naquela
mesma noite, o corpo do Rei foi enrolado numa manta, colocado numa carroça e
levado para longe do castelo.
Enquanto
isso, o Rei é despertado por sua noiva na cabana do pai dela, e pergunta como
foi parar lá.
Ele,
emocionado, percebe que ela o ama de verdade, e como também a ama, reafirma a
proposta de casamento, e casa-se com ela naquele mesmo dia, numa grande
celebração diante de todo o reino. Para desagrado de seu primo e da esposa, que
fazem as malas e vão embora do castelo para sempre.
E
quem pegou o buquê da noiva? A mãe do Rei! E já ficou cheia de graça para cima
do Conselheiro Moleiro.
Parece
que o Conselheiro Moleiro será o novo papai de Sua Majestade...
E
no próximo post: a história de uma princesa orgulhosa e de um príncipe que não
vê problemas em se misturar com a gentalha.
Aguardem!
Como assistir a esse filme?
ResponderExcluirA série vai e volta no canal +Globosat (TV a cabo), e também passa aos sábados na Cultura.
ExcluirNo YouTube, se tiver, provavelmente é só com o áudio original (em alemão) sem legendas.
https://www.youtube.com/watch?v=rpSaEB5Y5Ds&t=1340s
ResponderExcluirLegal! Obrigada pelo link *-*
ExcluirAmeiii sou apaixonada por esse Conto é o meu favorito da série ♥️♥️
ResponderExcluirObrigada! Também adoro esse conto. Em breve postarei reviews de outros episódios ;)
ExcluirEu acabei de assistir no Mais Globo. Amei
ResponderExcluirEssas adaptações são muito legais. Logo, logo vou postar a review de mais alguns episódios. ;)
ExcluirAmo esta história: tem pessoas reais, com problemas reais (ou seja, nada de mágica nem de melodrama!), que buscam ser felizes fazendo o que é certo, com sabedoria e com amor.
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