Esse Cara Também É Filho de Zeus

em quinta-feira, 1 de março de 2018


Eu confesso que não estava nos meus planos falar sobre o desenho do Hércules esse mês, mas aí o TBS resolveu desencavá-lo do fundo do baú – sério, acho que a última vez que eu tinha assistido essa versão do Hércules foi logo que ela saiu –, e depois a Disney também exibiu, e então me bateu uma vontadinha de resenhá-lo.
Antes de mais nada, é importante dizer que a Disney tomou diversas liberdades com o mito grego ao conceber este desenho. Parte disso se deve ao fato de a história do herói conter diversos traços que o compasso moral do estúdio não aprovaria – tipo Hércules ser fruto de um adultério –, e a outra parte se deve ao bom andamento do roteiro.
Permita-me explicar um pouco essa verdadeira salada que a Disney fez com os personagens das lendas gregas, antes de começar nosso desenho de hoje.
* Para começar, Hércules era filho de Zeus, mas não de Hera. Zeus se envolveu com a mortal Alcmena, esposa de Anfitrião, que havia sido banido de Micenas e foi viver em Tebas, e Hércules foi o fruto dessa união – aliás, algo muito comum na vida do soberano do Olimpo, que teve inúmeros filhos bastardos com mortais, ninfas e deusas menores ao longo dos séculos. Na ocasião do nascimento de Hércules, Hera ficou revoltada, e tentou inclusive matar o menino, atiçando uma cobra contra ele no berço, e Hércules deu um nó na danada, e ficou brincando com ela até algum adulto perceber e tirá-la de sua mão.
* Agonia e Pânico, os lacaios de Hades, foram inspirados em Phobos e Deimos (respectivamente Medo e Pânico), mas no mito grego eles eram filhos de Ares, deus da guerra, com Afrodite, deusa do amor.
* A Disney também cruzou as Moiras (ou Parcas, como dizem os romanos), as três entidades que determinavam o destino das pessoas, com as Greias, as velhacas que dividiam um único olho, e transformou-as em bruxas demoníacas lá do Mundo Inferior.
* Pégaso nasceu do sangue da Medusa, depois que Perseu a decapitou, e nunca chegou nem perto de Hércules.
* Mégara foi de fato esposa do herói, mas ela era filha de Creonte, rei de Tebas.
* O mito de Hércules é mais famoso pela descrição de seus doze trabalhos, impostos por Euristeu, rei de Micenas, depois que o herói, num acesso de loucura provocado por Hera, matou a esposa Mégara e todos os seus filhos. Seus trabalhos consistiam em matar o Leão da Nemeia; derrotar a Hidra de Lerna; furtar a Corça de Cerínia; capturar o Javali de Erimanto; limpar os estábulos imundos de Áugias – que ele precisou desviar o curso de dois rios para conseguir lavar, prova de que a coisa estava realmente feia! –; matar as Aves Carnívoras do Lago Estínfalo; roubar o cinto de Hipólita, rainha das amazonas – as guerreiras selvagens, não o estado brasileiro –; capturar os cavalos de Diomedes, rei da Trácia; e os bois do gigante Gerião; domar o Touro de Creta; roubar as maçãs douradas de Hera no Jardim das Hespérides; e por fim, capturar Cérbero, o cão infernal de três cabeças, que guarda a entrada para o Mundo Inferior.
Ufa! Só depois de toda essa trabalheira o herói pôde finalmente limpar seu nome, e mais tarde, curtir a aposentadoria no Olimpo, ao lado da deusa Hebe, mas isso é outra história.
Como o filme da Disney não podia ter mais de uma hora e meia, a maior parte dessa jornada acabou ficando de fora. Detalhadamente, mostraram apenas a luta do herói contra a Hidra, mas em vez de Lerna, ela aconteceu em Tebas, e a monstra foi enviada por Hades para perturbar nosso herói. Durante uma das canções do filme, vemos flashes do combate de Hércules contra o Pumba de Erimanto, uma ave gigante que provavelmente é uma das Aves Carnívoras do Lago Estínfalo, o Touro de Creta, a Medusa – que no mito original foi morta por Perseu, muito antes do nascimento de Hércules –, o Leão da Nemeia – que aqui foi interpretado por Scar, de O Rei Leão, que estava desempregado desde o fim do filme, sinal de que não tá fácil pra ninguém –, e até uma serpente aquática gigante, que deve ser parente do Monstro do Lago Ness, mas não consegui identificar o mito grego de onde ela saiu. Quanto ao Cérbero, Hércules até pôs uma coleira nele no desenho, mas só quando foi tirar satisfações com Hades pela morte de Mégara. Todo o resto não coube na película.
Enfim, vamos ao que interessa!
É um dia muito feliz no Olimpo. Estamos aqui acompanhando em primeira mão e com exclusividade a grande festa em comemoração ao nascimento de Hércules, filho do todo-poderoso Zeus e de sua esposa Hera. Conta aqui pra gente, Zeus, como é que você está se sentindo diante do nascimento do seu primeiro – só aqui nessa versão, vamos fazer de conta – filho?
E não é para menos que o nosso artilheiro dos deuses está todo orgulhoso. O moleque mal nasceu e já consegue levantar o pai com uma mão só, e ainda ameaça atirar raios no fiofó dos deuses menores só porque não se entendeu com o brinquedo.
Não importa o grau de divindade da criança: como essas figurinhas gostam de colocar as coisas na boca, hein! Benza Zeus...
E como sabemos que toda criança precisa de um bichinho de estimação, Zeus pega um travesseiro de nuvens, um punhado de penas de cacatua, joga um pouco de purpurina, uma pitada de pó de arroz e presenteia seu filho com Pégaso! Olha que gracinha!
É, mas nem tudo são flores nesse grande dia. Nossos repórteres acabam de flagrar um penetra na festa!
Como a segurança do Olimpo foi reforçada para o evento, Hades não tem muitas oportunidades de conhecer seu novo sobrinho favorito, filho de seu irmão menos favorito, que deveria estar provocando coceiras na testa de um mortal se a Disney não fosse uma instituição familiar.
Tão logo é colocado para fora pela saída de serviço, o Senhor do Mundo Inferior começa a desenvolver a trama diabólica – literalmente – do filme, pois já suspeitava desde o princípio que seu sobrinho um dia atrapalharia seus planos de enfiar Zeus na caixa de Pandora, jogá-lo no fundo do Tártaro e mandar a chave pro espaço, para poder ele próprio assumir o controle do Olimpo, com uma ajudinha de peso de seus prisioneiros da cela mais escura.
Mas como Hades é um cara persuasivo, e ninguém é doido de querer vê-lo com a cabeça quente – sacaram? –, as Moiras acabam revelando a profecia que ele tanto queria: dali a dezoito anos exatamente, os planetas irão se alinhar, e esse será o momento ideal para libertar os titãs...
Não gente... Não são esses Titãs... São esses aqui:
Essa galera do mal, entendeu? Os outros são Titãs maneiros.
Como ia dizendo, quando os planetas se alinharem será o momento ideal para libertar os titãs – monstros do mal! Não a banda de Rock maravilhosa! –, enfiar Zeus numa quentinha, que Cronos devorará numa bocada só, e assumir o controle do Olimpo – que é um reino muito mais iluminado que o Mundo Inferior, e basicamente o motivo porque Hades é o único deus nesse desenho que não brilha. Isso, e talvez o fato de que ele não deve tomar banho há milênios, já que o único rio lá embaixo é o Estige, e sua água não faz lá muito bem para a cútis.
Enfim, mas é melhor prevenir do que remediar, afinal, Hércules não é filho de peixe, mas sim de um deus, e sabe-se lá que raios ele pode fazer, caso decida unir sua força descomunal aos outros deuses para proteger seu papito...
Pelo sim, pelo não, Hades decide mandar seus lacaios inúteis, Agonia e Pânico surrupiar o moleque, e dar um jeitinho de colocá-lo fora de combate, para garantir que nada atrapalhe seus planos. E mesmo sabendo que se forem pegos Zeus acabará com sua raça, eles o levam para a Terra, enfiam em sua goela uma mamadeira recheada com a poção que o passarinho não bebe, e que os deuses também não deviam beber, porque ela acaba com a divindade de qualquer um, e o fazem mamar até a última gota.
Ou quase...
Acontece que esses lacaios do capeta se assustaram com os mortais tocando vuvuzela na direção do beco, comemorando o final da Maratona, chutaram a mamadeira para escanteio, com a última gota da poção ainda brilhando no vidro despedaçado, fizeram cara de “fessora, fui eu, não”, e se transformaram em cobras para tentar botar os farristas para correr. Eles só esqueceram de um detalhe pequenininho: o mancha língua que botaram na mamadeira do moleque tirou sua divindade, mas não sua força. E como eles não leram a história original, os diabinhos não sabiam que Hércules gostava de brincar com cobras – no bom sentido –, dar um belo de um nó nas danadas e usá-las para brincar de pular corda.
Agonia e Pânico são chutados para fora de cena pelos mortais que vinham batucando, e que acharam o bebezinho dos deuses a coisinha mais fofinha do mundo, e decidiram adotá-lo.
Naturalmente, Agonia e Pânico sabem que se um dia Hades descobrir que eles falharam na missão de matar o pirralho vai transformá-los em cobertura de pizza e mandá-los para Brasília. Mas qual a probabilidade de uma ninfa futriqueira fofocar tudo ao Senhor dos Mortos? O cara é zerado no Twitter, não tem nenhum amigo no Facebook, o povo corre do seu Instagram porque ele só tira selfie que dá medo... Se tem um antissocial nessa parada é o Hades! Em qual roda de fofoca ele poderia ficar sabendo de sua travessura?
Hein?
Além do mais, o garoto agora é mortal, não pode mais retornar ao Olimpo, e Zeus os livre de serem pegos pelos deuses com a boca na botija!
Então os malandrinhos pegam a estrada para o inferno, tranquilos da vida – ou da morte –, e fazem cara de paisagem pelos dezoito anos seguintes.
Aqueles dezoito anos passam voando, e Hércules, agora adolescente, usa sua superforça divina para puxar a carroça do pai adotivo – para poupar o cavalo que torceu o pé – descarregar um montão de feno, ajudar um comerciante a carregar um jarro do tamanho de uma caixa d’água como se fosse um tupperware de R$1,99, destruir o estádio só porque os rapazes não deixaram ele entrar em seu time de frisbee, e enfim... Causar um monte de confusão.
Tadinho, gente...
Aqui entre nós, esse povo precisa aprender os perigos de se provocar um cara que pode transformá-los em farinha com um espirro...
Enfim, depois de ser malhado pela cidade inteira, Hércules fica chateado – pudera! – porque, por mais que se esforce, ele não consegue se ajustar e se enturmar com o pessoal de sua idade. E como sabe que seus pais o encontraram num beco quando era bebê, ele já começa a imaginar se seus pais biológicos não seriam Myke Tyson e a Dona Florinda, mas seus pais adotivos garantem que não. Quando o encontraram, ele carregava um medalhão com o símbolo dos deuses, portanto só podem deduzir que o garoto foi chutado de um berço muito mais elevado.
E como sente que merece algumas explicações, Hércules vai ao Templo de Zeus em busca de respostas.
Só para dar um nó na cabeça do Hércules pior do que aquele que ele deu nas cobras lá no início do filme... Porque, se ele é filho de Zeus, isso devia fazer dele...
Mas a boa notícia é que eles criaram seu cavalo! E agora que Hércules já tem idade para dirigir, Zeus lhe devolve o Pégaso, e diz que se ele passar no vestibular para herói da USP, terá sua divindade restaurada e poderá voltar a viver no Olimpo.
Assim, Hércules sai à procura de Philoctetes, o treinador de heróis mais badalado do Olimpo, que estava feito bocó escondido numa moita, vendo as ninfas tomando banho de rio... E isso é um desenho da Disney, gente! Pero no mucho...
A propósito, esse aí é o Philoctetis, mas pode chamá-lo de Phil. E ele está aposentado. Mas aí o Hércules choraminga, porque viajou três quarteirões para encontrá-lo, para que ele o ajudasse a realizar o sonho de se tornar um verdadeiro herói, um sonho da vida inteira que ele começou a idealizar há cinco minutos, e além do mais, o sátiro foi uma indicação de Zeus!
Afinal, quem tem essas referências merece uma chance, né não? Por isso eu digo: é sempre bom ser parente dos figurões...
Acontece que o Phil está cansado de tantas decepções. Ele treinou simplesmente os heróis mais badalados da mitologia grega: Odisseu, o cara que deu a ideia de colocar os soldados num cavalo de madeira para pegar os troianos desprevenidos, cegou o ciclope Polifemo, venceu Cila, Caríbdis e a deusa Calipso, só para não deixar uma viúva bonita dando sopa por aí; Perseu – que no mito original foi antepassado de Hércules por parte de sua mãe Alcmena –, o cara que matou a Medusa! E ainda usou sua cabeça para transformar o titã Atlas em uma montanha de pedra, governou Tirinto e fundou Micenas; Teseu, o fulano que matou o Minotauro no Labirinto de Dédalo, enfrentou um bando de amazonas, teve a brilhante ideia de raptar Perséfone, a Rainha do Mundo Inferior, e só não ficou preso lá graças ao Hércules, acabou assassinado por um rei invejoso, e depois de morto ainda ajudou os atenienses a afugentar os persas durante a batalha de Maratona – aliás, esse foi outro herói que teve trabalho, hein! E algumas ideias de Jerico também; e, por último, mas não menos importante, Aquiles, o cara que liderou o exército grego na guerra contra Troia! E que teria sido o herói perfeito, não fosse aquele maldito calcanhar!
Phil também costumava sonhar em treinar um herói que os deuses pudessem admirar, alguém que ficasse conhecido como “o garoto do Phil”. E ao ver a força de Hércules, ele percebe que talvez esse seja o garoto que ele estava esperando, o herói que elevaria seu nome ao hall da fama dos deuses – ele já devia estar bem perto disso, já que seu cartão estava no bolso de Zeus.
E como tempo é dracma, Phil inicia o treinamento de Hércules imediatamente. Coisas básicas, tipo salvar uma donzela de palha em perigo, tiro ao alvo com arco e flechas, como acertar um alvo usando um sátiro como flecha...
E Hércules deve ter bebido aquele refresco do Quico que o comercial disse “que fica forte, e fica bonito, e fica grande, du-du-du-du...”, porque num curto espaço de tempo o rapaz fica fortão, grandão, desenvolve um monte de habilidades de batalha e está pronto para conquistar o Olimpo.
Bem, na verdade, ele está pronto para sair pelas ruas da Grécia e enfrentar uns monstros, mas, só por garantia, Phil decide fazer alguns testes com ele primeiro. Afinal, seu último herói quebrou com uma flecha no calcanhar; vai que ele bota o bloco na rua, e dois minutos depois o povo devolve o moleque batendo biela, com algum parafuso solto depois de perder uma briga com um moinho de vento...?
Então eles vão para Tebas, um lugar que está muito acima do nível normal de problema. Um ótimo lugar para iniciar uma reputação de herói.
Mas segura o tchan um minutinho, porque tem uma donzela indefesa na área sendo amassada por um centauro. Aliás, “amassada” não é no bom sentido. Não que exista um bom sentido para essa palavra estar relacionada a um ser humano... Na verdade até tem, mas só quando é voluntariamente, o que não era o caso aqui...
Enfim, esqueçamos a semântica, e vamos ver nosso herói em ação.
O Ministério da Saúde adverte: testosterona demais faz muito mal aos neurônios!
Duvida? Dá só uma olhada no resto da cena, depois vocês me contam...
Sem mais, meritíssimo!
Bem, no fim das contas, Hércules conseguiu derrotar o centauro, depois de montá-lo até deixá-lo tonto, arremessá-lo contra uma rocha, dar-lhe um soco que o mandou para fora do estádio, e foi ferradura para todo lado, Ya-Ya-Oh ♪♪...
E, de quebra, ainda deixou a garota bem impressionada com sua força. Bem, isso, e o lindo veículo alado que o rapaz pilota. Mas Pégaso literalmente sobe na árvore quando Hércules manda ele dar uma carona à moça, para deixar bem claro que não carrega muamba.
E como já fez o que tinha que fazer, e seduziu quem tinha que seduzir, a moça vai embora toda rebolativa, deixando o herói suspirando no campo de batalha. Mas não é hora para isso, afinal, Tebas está esperando. Hércules ainda tem muito trabalho a fazer antes de tirar seu diploma de herói.
Quanto à moça, ela vira a esquina e dá de cara com dois diabinhos roedores – Agonia e Pânico metamorfoseados em um coelhinho e um esquilinho muito engraçadinhos –, trazendo o recado de que o chefe quer falar com ela.
Mas calma aí, seu esquentadinho! A culpa não foi dela. Foi o garotão, o tal do Hércules que apareceu na hora errada para bagunçar a cena do crime...
Nem é preciso dizer que Hades ficou furioso por saber que o filho de seu rival continua perambulando por aí, comprando pirulitos na venda da esquina e comendo churros com a galera da vila... Mas Agonia e Pânico garantem que ainda podem dar um jeito nisso. Pelo menos, o garoto é mortal, então, é só dar um empurrãozinho num precipício e, se nenhuma nuvem aparecer, prontinho. Tchauzinho, moleque! Era uma vez um herói... Adeus, filho do Zeus...
Enquanto isso, em Tebas, Phil discute com os carroceiros, porque ele atravessou na faixa, e mesmo assim quase foi atropelado, um maluco aparece apregoando o fim do mundo – valeu a informação! –, um pessoal está tentando ordenar as catástrofes da cidade numa linha do tempo – os incêndios foram depois do terremoto, mas antes das inundações... Uma cidade adorável, realmente...
Percebendo como o lugar é animado, Hércules se apresenta para o emprego de herói, mas como seu currículo é imprestável, o povo ri dele, e o manda plantar batatas. E ainda se divertem tirando sarro do homem-bode que treinou Aquiles, com aquela beleza de calcanhar a prova de flechas – só que não. Ali eles precisam de um herói profissional, e não de um amador a fim de ser espatifado.
Mégara, a moça que Hércules salvou do centauro vem correndo e gritando desesperada pelas ruas, porque tem duas criancinhas presas num desmoronamento fora da cidade, e precisam de alguém muito forte para ajudar a remover as pedras e resgatá-las.
Naturalmente, Hércules consegue levantar as pedras gigantescas e salvar as crianças sem bagunçar o topete, para alegria geral dos cidadãos de Tebas, que ainda não estão botando muita fé em seu candidato a herói, mas quebra o galho...
Surpresa, surpresa! As duas criancinhas em perigo, eram na verdade dois diabinhos. Literalmente! E a atriz principal ainda está se recuperando do enjoo lá na coxia.
Mas nós não temos tempo para essas frescuras, porque se vocês olharem para a esquerda, vão ver que já tem um monstro atacando a cidade.
São três palavras, Phil. E, puxa, esse pessoal não estava brincando, hein... É descuidar um minutinho, e lá está outro monstro!
E agora o pau vai comer!
Hércules joga pedra na goela do monstro, prende a mandíbula dele com as mãos, saca a espada e... É engolido pela serpente gigante!
Mas espera um pouco... Por que essa cobra está fazendo careta?
Oh!
Acho que isso vai ensiná-la a não engolir heróis com suas espadas.
Não esquenta, Phil, o moço é filho dos deuses, ele vai ficar bem. E ele não é o único...
Devia ter visto isso em seu treinamento de herói, Hércules: sempre que você corta a cabeça de uma Hidra, outras duas – nesse caso, três – crescem no lugar.
E ele diz isso a um cara que é especialista em multiplicar problema! Conforme o herói brande sua espada contra o monstro, a coisa vai ficando mais feia. E como Phil não lhe ensinou nada sobre Hidras no treinamento básico, Hades começa a sorrir por antecipação, prevendo a chegada de sua parte preferida do jogo: morte súbita!
Ele só não previa que fosse ser a morte súbita do monstro, que foi vencido graças ao enorme talento para demolição de Hércules, que acabou por soterrar a Hidra debaixo de um monte de pedras.
Dali em diante, Hércules não parou mais. Virou mito. Seu single virou o maior sucesso das Musas Gospel do filme, foi eleito o grego da semana pela Gazeta do Olimpo, lotou estádios, esgotou a lotação para cada monstro que enfrentou, virou garoto propaganda da Itaipava, estampou vasos, encheu o rabo de dinheiro, tirou selfie com a Madonna, pediu música no Fantástico... Nada mal para quem era um zero, mas agora como herói é... Isso aí!
E como o tempo urge, Hades tenta novamente aliciar Mégara a usar as curvas certas (filme da Disney!) para seduzir Hércules e tirá-lo de seu caminho.
Fica aí a dica da Meg para vocês não entrarem nessas enrascadas, crianças: nunca façam acordo com o diabo! Seja lá qual pele ele estiver vestindo...
Hércules vai todo contente contar os melhores momentos de suas aventuras ao papito, que está todo orgulhoso do filho favorito – aliás, conhecendo-os como os conhecemos, Atena deve estar fazendo cara feia, Dionísio deve estar enchendo a cara de vinho, Ares deve estar planejando uma guerra, e Hermes, que não é dado a esses recalques, deve estar fazendo as malas para uma viagenzinha pelo mundo; deuses evoluídos são outro nível...
A verdade é que Hércules está se achando, mas Zeus manda ele ir com calma, pois ainda não está pronto para se reunir aos deuses.
Phil estava no banheiro, colocando a leitura em dia, e agora retorna cheio de novidades. Pelas manchetes do jornal, Hércules estará com a agenda completamente lotada pelas próximas semanas.
Mas nesse momento Hércules não vê muito sentido em continuar lutando contra monstros, se aparentemente nunca será bom o bastante para morar no Olimpo, e Phil levanta sua moral dizendo que Hércules tem um talento que ele nunca tinha visto.
Enquanto Phil joga milho no quintal para pôr ordem no galinheiro, Mégara encontra Hércules escondido atrás de uma cortina, e avisa que os hormônios em fuga já foram. Ela é a única que não parece muito impressionada com sua força descomunal e sua habilidade para eliminar monstros letais, embora toda a Grécia ache que ele é a melhor coisa desde que inventaram o arroz à grega. E ela é a única mulher que ele queria impressionar. Se bem que ele nem tem tempo para isso agora, já que Phil marcou compromissos para manter Hércules ocupado o dia todo.
Simples assim. E assim essa garota dos infernos – mais ou menos literalmente – leva o herói para o mau caminho, ensinando-o que matar o trabalho para ficar com uma paquera é muito divertido.
Mas isso não significa que ela esteja com sua tarefa resolvida, já que Hércules, aparentemente, não tem nenhuma fraqueza: saúde perfeita, curiosidade zero, nenhum interesse em cavalos além do Pégaso, fã de alimentação saudável, não come carboidrato à noite... Tirando o fato de ser meio estabanado, o Garotão é perfeito!
Não sei se ligaram o nome à pessoa, mas essa estátua é a Vênus de Milo, e agora sabemos porque ela não tem braços...
Hércules aproveita o passeio, e confessa a Mégara que antigamente ele queria ser igual às outras pessoas.
É nesse momento que Hércules dá uma banana para a intuição de Phil sobre o caráter de Mégara, e confessa seus sentimentos à moça, que começa a ficar com peso na consciência por ter que vendê-lo ao Hades. Porque afinal, apesar do discurso sobre ficar sozinha para evitar sofrimento, ela também está caidona pelo filho de Zeus.
Assim, Phil empata o romance do casalzinho, leva nosso herói embora, e deixa Mégara sozinha ao relento, contando para o vento que está gostando do Garotão. E como ela já tomou muita pancada na vida, sabe que não devia deixar seu coração sem rédea.
Até porque, o chefe cabeça quente está doidinho para saber das novidades.
A casa caiu, caiu, caiu ♪♪
O que o Phil não viu foi a parte em que Mégara disse ao Hades que Hércules é um homem diferente, honesto, corajoso, que não tem fraqueza nenhuma, e que ele podia jogá-la no Tártaro se quisesse, porque ela não iria ajudá-lo a acabar com seu herói.
E foi aí que Hades percebeu que ela era a fraqueza de Hércules, já que o garotão se importa com ela.
Hércules não acredita quando Phil lhe conta a fofoca sobre Mégara, e fica com raiva do sátiro por falar mal da moça. E aqui eu deveria dizer que Hércules é um idiota, que ele deveria pensar que conhecia Phil muito melhor do que conhecia Meg, e que deveria prestar atenção na intuição de seu amigo, mas eu sei como é, quando o coração resolve se intrometer no rolo, não adianta esbravejar, que a criatura não escuta. E é por isso que eu troquei o meu por outro fígado!
Mas é só o Hércules virar a esquina para o Hades aparecer e dizer que o garoto está atrapalhando seus planos.
Hades promete libertar Mégara, se Hércules abrir mão de sua força por vinte e quatro horas. Claro que sempre tem o risco de alguém se machucar, por causa da guerra e tudo mais, mas depois que as vinte e quatro horas vencerem, Hércules poderá recuperar sua força e salvar quem quiser.
Sabe do quê que eu lembrei com essa cena?
Ou o seu Madruga, quando precisava do remédio para insônia...
Enfim, Hércules agora não tem nada de especial, é tão comum e tonto como qualquer mortal, e Hades demonstra ser um homem de palavra, libertando Mégara na mesma hora. Afinal, ele tem coisas mais importantes com que se ocupar. Mas antes ainda dá tempo de jogar uma pequena intriga no casalzinho.
Mégara tenta se explicar e se desculpar, mas como Hades tem um universo inteiro para tomar, que é seu e ninguém tasca, ele não pode perder tempo com esses bla-bla-blás de namorados.
E nós também não.
Hades fica contente como uma cacatua por finalmente poder libertar os titãs – os  monstros! Não os roqueiros! – que estavam presos no Tártaro, o poço mais profundo e sombrio do Mundo Inferior, para que eles se ocupem dos deuses, enquanto ele assiste de camarote em sua carruagem infernal à queda dos Olimpianos.
Enquanto Hades providencia um mapa para guiar os titãs ao Olimpo, um Ciclope ataca a cidade, para dar serviço aos heróis de plantão, e evitar que se intrometam em assuntos de gente grande – literalmente!
É um pandemônio! Hermes acorda com o barulho dos titãs marchando para os portais do Olimpo, Zeus manda soar o alarme para que os deuses se coloquem em posição de contra-ataque...
E em terra firme, o Ciclope desafia o poderoso Hércules, e como o garotão nunca recusa uma briga, cai dentro, mesmo com Mégara implorando que ele não vá, e lembrando-o de que sua força se foi.
Eis o por quê de vocês nunca poderem confiar no coisa ruim: é o Hércules virar as costas, e uma coluna pedra enorme esmaga Mégara. Pelo menos o esforço para salvá-la fez com que Hércules recuperasse sua força antes do tempo. Talvez porque Hades também não cumpriu o contrato, já que ele prometeu que Mégara não se machucaria, e no primeiro descuido ela virou recheio de um sanduíche de coluna grega.
Então Hércules monta no Pégaso e voa para o Olimpo, virado no Jiraya, disposto a esfregar a cara do Hades no asfalto quente, e já chega descendo o sarrafo em tudo quanto é titã, e libertando os deuses capturados, inclusive seu pai, para dar mais emoção aos minutos finais de jogo. Depois, usando um titã em forma de tornado como aspirador de pó – acho que é o Tifão –, Hércules suga todos os outros titãs da bagunça e os arremessa de volta ao Tártaro.
Quando o árbitro apita e é fim de jogo! Hércules e os Olimpianos vencem por um placar 16x2!
Morrendo ela está, com certeza; agora, se ela quer ver essa sua cara feia é uma ooooooutra história!
Hércules desce voando para salvá-la, mas chega tarde demais. As Moiras acabam de cortar o fio da vida de Mégara. Phil tenta consolar o garoto, dizendo que, infelizmente, há coisas que ele não pode mudar. Mas então Hércules se lembra que é da família dos deuses, e decide ir ao Mundo Inferior para ter uma “conversinha” com seu tio endiabrado.
O Hades tá lá, sentindo pena de si mesmo, se lamentando por ter estado tão perto de tomar o Olimpo, e fracassado na última hora por causa daquele fedelho mortal fedendo a leite, quando de repente, eis que o próprio irrompe no recinto, montado no Cérbero, o cão infernal de três cabeças, exigindo Mégara de volta. Hades, como bom anfitrião, mostra a casa ao sobrinho, inclusive o rio onde as almas estão sendo levadas. Hércules tenta resgatar Mégara, mas suas mãos ressecam imediatamente ao tocar a água do Estige.
Então Hércules se propõe a ficar no lugar dela, o que deixa Hades saltitante novamente com a possibilidade de ter o filho de seu maior rival preso para sempre no Reino dos Mortos, que seu próprio irmão o obrigou a governar.
As Moiras já estão até esticando o fio da vida dele para fazer o corte fatal.
Hércules resgata a alma de Mégara, e sai do rio, recuperando sua antiga forma, vigor e saúde da cútis, e agora brilhando como novo depois daquele banho bem tomado de divindade no rio dos mortos. Hades fica literalmente ardendo de raiva e começa a bajulá-lo, implorando que o garoto convença Zeus a relevar sua travessura, mas Hercules faz a surda, manda o tio malvado conversar com seu punho, amassando a cara dele com um murro, enquanto caminha com seu troféu, na maior ostentação para fora daquela pocilga.
E só para fechar o dia com chave de ouro, Hércules ainda empurra a ovelha negra de sua família para tomar um banho no rio dos mortos.
Hércules coloca a alma de Mégara de volta no corpo, e declara seu amor, sem se importar mais com o fato de ela ter andado com as pessoas – e entidades – erradas no passado. Afinal, todo mundo comete erros...
Então uma nuvem os envolve e os transporta para o Olimpo, e Phil pega uma carona com Pégaso para não perder o grande momento da ovação de seu herói.
Todos os deuses saúdam o novo herói, contam quanto estão orgulhosos dele – inclusive Hera, que não é sua mãe coisíssima nenhuma, não insistam nisso! Mas agora Hércules é um verdadeiro herói... E ainda não sabe o que fez de certo dessa vez...
Eis a lição de moral do desenho. Afinal, como já disse algumas vezes ao longo da review, é Disney!
E agora Hércules pode finalmente voltar a viver no Olimpo com seus pais, agora que teve sua divindade restaurada, e é um herói em tempo integral, com carteira assinada, e registrado no Sindicato dos Heróis, Paladinos, Quixotes, Machões e Similares.
Mas, tal como seu primo Percy Jackson fará no futuro, Hércules agradece a oportunidade e a confiança, mas decide recusar o emprego, pois não consegue imaginar sua vida sem Mégara. E como ela é mortal, ele prefere viver na Terra com ela, abrindo mão da divindade que ele tanto lutou para alcançar. E ela que já estava meio orgulhosa por ele ter alcançado o posto mais elevado do reino...
E acho que nem é preciso dizer que todos viveram felizes para sempre, né?
Bem, quase todos...
Até porque, depois do final feliz, ninguém mais presta atenção na reclamação dos recalcados, não é mesmo?
 

4 comentários:

  1. Quando passava na tv eu gostava e assistir esse desenho animado. Sempre gostei muito de desenho educativo que aprende algo, mas adoro até hoje de assistir vários tipos de desenhos, kkkkk. bjsss
    espacodividido5.blogspot.com

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    1. Eu também sou apaixonada por desenhos, e é uma coisa que a Disney sempre soube fazer muito bem. Pena que estão meio devagar nesse sentido hoje em dia, rs.

      Seja sempre muito bem-vinda ao meu cantinho animado *-*

      Beijos

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