Tudo Por Dinheiro... E Um Cupcake!

em domingo, 25 de março de 2018

Em se tratando de filmes, três gêneros capturam minha atenção instantaneamente: fantasia, aventura e comédia romântica. É verdade que eu também gosto de suspense, ação, e, contanto que não tenha insetos, terror. E animações, é claro. Sou eclética em se tratando de cinema. Mas os três primeiros são os favoritos.
É provável que você tenha torcido o nariz ao me ouvir falar em comédia romântica, mas, qual é? Aposto que você também tem uma favorita. E se não estou muito enganada, a protagonista é a Sandra Bullock, a Meg Ryan, a Julia Roberts ou a Cameron Diaz.
Bem, para falar a verdade, na minha lista de comédias românticas favoritas, não tem Julia Roberts nem Meg Ryan no Top 10. As divas da minha coleção são, em sua maioria, Sandra Bullock, Kate Hudson, Jennifer Lopez, Katherine Heigl e Reese Witherspoon – embora Sandra Bullock tenha uma carreira bem eclética, em que destaco entre os meus favoritos os filmes de ação Velocidade Máxima 1 e 2 e os suspenses A Rede, Cálculo Mortal e O Silêncio do Lago. Mas não vou negar que paro mesmo é para assistir suas CRs, como Enquanto Você Dormia, Da Magia à Sedução, A Proposta, Miss Simpatia, etc. Kate Hudson praticamente não fez outra coisa na vida; J-Lo até trabalhou em gêneros diferentes, mas nada que se aproveite – não me xinguem por não gostar de Anaconda! –; Reese Witherspoon também só fez de bom as comédias – não me fale de Água Para Elefantes! Todo mundo sabe que eu implico com o Pattinson –; e Kate Heigl tem basicamente a mesma quantidade de filmes de terror e comédias românticas no currículo, mas os filmes de terror dela são uma droga...
Enfim... Não é para explanar sobre comédias românticas e suas protagonistas que iniciei esse post. Foi para falar de um dos meus filmes favoritos do gênero – muito embora Katherine Heigl tenha concorrido ao Framboesa de Ouro como pior atriz por esse filme e eu discorde totalmente dessa indicação; curiosamente, ela perdeu o prêmio para Kristen Stewart por Amanhecer – Parte 2, com o que eu concordo alegremente. Quanto a Kate, estava muito engraçada no filme.
Baseado no romance “Só Por Dinheiro” (ou “Um Dinheiro Nada Fácil”, na tradução mais conhecida no Brasil) de Janet Evanovich – que é maravilhoso, por sinal –, Como Agarrar Meu Ex-Namorado conta a história de uma mulher que estava numa crise tão grande, que sua única saída foi se transformar numa Caçadora de Recompensas.
Nossa comédia começa com Stephanie Plum dirigindo um carro vermelho conversível compacto bonitinho pelas ruas de Trenton, uma cidadezinha de Nova Jersey, compartilhando com o público o status atual de sua vida: naquele exato momento, ela não tem comida na geladeira, tem quatro dólares na conta, e está indo jantar na casa de seus pais em um carro que já não pode pagar. E, pelo que perceberemos em seguida, também não pode deixar estacionado na rua por mais de dez minutos.
Conhecendo sua família como conhece, tendo atrasado cinco minutos, ela sabe que a mãe já deve estar pensando que ela morreu, e que seu pai gastou esses cinco minutos planejando como matar sua avó Mazur e onde esconder o corpo. E tinha razão. Ao chegar, a mãe comenta que pensou que ela tivesse morrido, mas ela diz que foi um atraso insignificante, embora sua mãe ache que a comida já esfriou nesse tempinho.
Durante esse jantar, ela finalmente conta à família que há seis meses foi demitida da Macy’s, onde era gerente de lingeries.
A mãe quer lhe apresentar um solteiro da cidade, Bernie Kuntz mas ela diz que já teve marido e não gostou. O que ela precisa é de um emprego. Então seus pais sugerem que ela peça ao seu primo Vinnie que lhe arrume alguma coisa em sua firma de fianças. Ouviram que ele precisa de alguém para cuidar do arquivo, mas ela não se anima muito com a perspectiva, pois esse seu primo tentou agarrá-la em seu próprio casamento. Mas como a vida está difícil, Steph promete pensar no caso.
Mais tarde, depois de chegar em casa, vestir o pijama e bagunçar o cabelo, ela recebe a visita da avó, que, primeiro reclama porque ela não olhou pelo olho mágico, pois ela podia estar com um machado ou algo pior, e depois diz que veio lhe trazer o Azulão, seu carro antigo e classudo, para que a neta não precise andar de ônibus como uma cigana, embora Stephanie não se importe com isso.
O que não fica claro é como a senhorinha levou o carro para a neta, já que, até onde Stephanie sabe, sua avó não dirige.
Enfim, no dia seguinte, com o cabelo arrumado, Stephanie vai até a firma de fianças de seu primo pedir um emprego, mas a vaga para organizar os arquivos não está mais disponível. Ele não contratou ninguém, mas depois de fazer sua recepcionista Connie passar dois dias de joelhos no chão do escritório arrumando tudo, percebeu que desperdiçaria um salário contratando alguém para cuidar disso.
Como está desesperada, Stephanie pede então para trabalhar como Agente de Recuperação, mas Vinnie não acredita que ela possa lidar com criminosos.
E como ele ainda está hesitando, ela joga os pecados do passado na cara de seu primo: por exemplo, que ele tentou agarrá-la em seu casamento. Segundo ele, não a tinha reconhecido.
Além do mais, ela costumava fazer as unhas com uma manicure tagarela que fazia um bico à noite como stripper, de modo que Stephanie está sabendo de muita coisa com que a esposa de seu primo não pode nem sonhar.
Enfim, ele acaba cedendo e lhe dando alguns casos para ela entregar intimações, mas sem querer, entrega junto a pasta de Joe Morelli, um policial acusado de assassinato, que aproveitou a fiança para escapar. Stephanie fica imensamente interessada nesse caso, primeiro porque sua recompensa seria de cinquenta mil dólares, e ela está realmente precisando da grana; e segundo porque ela teve um trelelê com esse Morelli no passado, saiu muito magoada, e adoraria fritar a bunda dele pessoalmente.
Vinnie não quer permitir que ela fique com esse caso, pois já tinha outro agente cuidando disso, só que ele precisou passar por uma cirurgia de emergência, e se Morelli não for capturado, Vinnie perde os quinhentos mil da fiança, sua firma vai pro buraco, e a mãe de Morelli perde a casa, que ela hipotecou para cobrir a fiança do filho. Mas como sabe que é perigoso demais chatear uma pessoa que pode fazer sua caveira para a esposa, ele acaba cedendo o caso a ela.
O primeiro passo parece muito fácil: ela vai até o antigo apartamento de Morelli, e mesmo sem encontrá-lo lá, avista um primo de Joe que fez redução de estômago, e ficou quase irreconhecível, e o segue para descobrir onde o policial está escondido. Por sorte, o carro do sujeito não era difícil de seguir, pois é um importado amarelo bem cheguei. Mas ao confrontar o policial para levá-lo sob custódia, ele não é nada receptivo, e joga em sua cara que ela jogou o carro em cima dele na calçada e quebrou sua perna em três lugares porque ele não ligou de volta depois que os dois tiveram um trelelê no chão da padaria onde ela trabalhava quando tinha dezessete anos.
Embora ela admita que não perdoa fácil, para azar dele. Mas como ele continua se lixando para sua tentativa de arrastá-lo à delegacia, porque sabe o que acontece com policiais na prisão, ela decide segui-lo. Só que, problema um: ela não tem arma, algemas ou reforço; problema dois: ela tem uma dificuldade terrível para encontrar as chaves do carro em sua bolsa enorme e extremamente bagunçada; e, problema três: Morelli usa seu charme para seduzi-la, tomar as chaves do carro dela e jogar na caçamba de lixo para atrasá-la.
Morelli a chama de cupcake por causa do lance que tiveram na padaria. Muito apropriado, não acham? ^ ^
Depois de recuperar suas chaves, ela decide pedir reforço na firma de seu primo, e Connie lhe dá o telefone de Ranger, um caçador de recompensas experiente e durão, que pode ajudá-la com Morelli, e Stephanie marca um encontro com ele no mesmo dia.
Os dois vão a uma lanchonete, onde ele percebe que ela não tem a menor ideia do que está fazendo, e se prontifica a lhe arrumar uma arma, para início de conversa, para que ela não passe muitos apuros nas mãos dos criminosos.
Ele a leva a um clube de tiro, e pede que ela teste um trinta e oito pequeno, com tambor de cinco tiros, ideal para carregar na bolsa, enquanto ele renova seu arsenal com uma arma muito melhor que a dela.
Aqui entre nós: só eu acho que é extremamente inconveniente carregar um revólver na bolsa? Porque, pensa comigo: se você trabalha numa profissão perigosa, que exige que você ande armado, e se houver uma situação de perigo, até abrir a bolsa e procurar a arma, você já levou um tiro. Ainda mais nessa mala gigante e cheia de tranqueiras que a Steph carrega.
Mas enfim...
Ranger e Stephanie praticam uns tiros e ela fica muito orgulhosa por ter acertado três disparos em cinco, mas não foram acertos lá muito vantajosos.
Pior que ele não tá, não, Steph. E ele prova sua pontaria excelente descarregando dois pentes em um novo alvo, explodindo a cara inteira do coitado de papel. Stephanie fica impressionada, mas hesita em permitir que ele lhe compre uma arma, porém ele garante que ninguém venderá a ela sem licença, por isso, é ele quem tem que comprar.
E acho que comprar uma arma para uma pessoa é a maior prova de confiança que alguém pode dar.
Ela fica toda empolgada com sua nova aquisição, mas sabe que precisa de mais informações se quiser pegar Morelli. E todo mundo sabe que em cidades pacatas, quem mais costuma falar sobre as pessoas são suas mães. Então Stephanie decide fazer uma visitinha à Sra. Morelli, que fica possessa ao descobrir que aquela menina, cuja família ela conhece muito bem, está caçando seu filho.
Como percebe que desse mato não vai sair coelho, nem mesmo se o Papa vier pessoalmente bater na mulher com uma bengala – palavras da Sra. Morelli –, Stephanie vai à delegacia falar com seu velho amigo Eddie Gazarra, o xerife local, que atualmente está casado com sua prima Shirley – porque Stephanie mora numa dessas cidades minúsculas de Jersey, onde todo mundo conhece todo mundo, e metade das pessoas são seus parentes em algum grau –, para saber mais sobre o caso. E como todo mundo ali tem o rabo preso, ela consegue essa informação na base da chantagem também, ameaçando contar à esposa dele uns podres que descobriu com a esposa de Vinnie. Pelo visto, essa família é muito unida, e também muito ouriçada... ♪♪
O que ela já sabia: Morelli fora acusado de atirar num homem chamado Ziggy Kulesza, que, segundo testemunhas, estava desarmado. Sabe que esse Ziggy vendia heroína, e que Morelli estava de folga quando se deu a confusão, e ele usara uma arma pessoal no crime, uma Hydra-Shok calibre 45, cuja bala entra como um amendoim e sai como uma batata – conforme Ranger lhe explicou. Havia uma testemunha, uma prostituta chamada Carmen Sánchez, que não foi mais vista desde que o crime aconteceu. Morelli alegou legítima defesa quando foi preso, mas Carmen não está aqui para confirmar, e como não encontraram outra arma na cena do crime, nem buracos de bala no apartamento, nem resíduo de pólvora na mão da vítima, se for preso, Morelli está muito lascado. E todo esse tempo, enquanto a polícia acreditava que o policial foragido já tinha comprado uma identidade falsa e se mudado para o México, ele esteve encafofado num apartamentozinho nas redondezas, com acesso a um carro emprestado. Prova de que não é só no Brasil que a polícia é meio lerda.
E como Steph é sua amiga de infância, e parece estar muito interessada na captura do policial assassino, o xerife libera uma foto da Carmen para que Stephanie possa procurá-la pelo bairro.
Acontece que essa Carmen mora no mesmo prédio na Rua Shaw onde o crime aconteceu, na periferia da cidade, e Stephanie consegue algumas informações de umas prostitutas simpáticas que ficam felizes em saber que alguém finalmente se preocupou com a Carmen, que está desaparecida desde que o dia do crime. Bem, eu disse que as duas prostitutas eram simpáticas, mas na verdade uma era simpática e estava aberta a lhe dar informações, a outra queria cobrar por isso.
Elas informam que o namorado da Carmen, um boxeador chamado Benito Ramirez treina na academia da Rua Stark, e Stephanie vai lá falar com ele.
Na academia, ela é recebida por Jimmy Alpha, o dono, que deixa escapar para aqueles marginais que ela é tira, o que ela nega, temendo levar um tiro. E depois que ela conta a que veio, e que Ramirez não está encrencado, que ela só está procurando a namorada dele e o policial que matou o Ziggy, ele lhe mostra o lugar onde o Ramirez está treinando.
O problema é que o tal Ramirez é um cara de poucos amigos, que não está a fim de responder perguntas, e tenta agredi-la. Stephanie só consegue escapar dali porque conseguiu acertar um golpe dolorido na cabeça dele com sua bolsa cheia de tranqueiras, que lhe deu uma pequena vantagem na corrida, e principalmente, graças ao Joe Morelli, que estava na moita, espiando do outro lado da rua, e sentiu cheiro de confusão ao ver Steph entrar na academia.
E aqui entre nós: amiga, você precisa trocar esses sapatos por sapatilhas ou tênis. Não é muito prático fugir de criminosos com esse salto; vai acabar torcendo o pé ou ficando presa num buraco no cimento. Seja lá como for, pode não ir muito longe.
Aliás, Stephanie Plum é toda errada como Caçadora de Recompensas: carregando uma bolsa enorme e a arma dentro dela, correndo por aí de salto como se trabalhasse na Wall Street ou no Edifício Elias Clark... Podem falar o que quiser da jaqueta vermelha da Emma Swan de Once Upon a Time, mas ao menos ela sabia se portar como uma Caçadora de Recompensas: carregando a arma no cós da calça, um lugar de fácil acesso, sem bolsa, e calçando botas rasteiras. Muito mais prático que o seu visual, Steph!
De volta ao enredo do filme, depois de escapar do alcance de Ramirez, Stephanie, carregada de adrenalina, puxa a arma e aponta para o seu salvador Joe Morelli, disposta a estourar os miolos dele – ou, a julgar por sua pontaria, a orelha dele –, se ele não começasse a lhe dar algumas informações. Ele não está muito a fim de papo, e sabe que precisam sair logo dali, antes que os bandidos os alcancem, então desarma Steph para garantir sua integridade física e a arrasta para longe da confusão, permitindo que ela lhe faça uma única pergunta, e ela escolhe saber sobre a Carmen, que era informante de Morelli, e ele a estava protegendo em troca de informações, mas aí ela sumiu, e ele se sente obrigado a encontrá-la, já que ela pode estar em perigo ou morta por sua causa. E ele fica um pouco chateado porque ela não quis saber se ele era inocente; segundo ela, cabe ao júri decidir isso.
Mais ou menos livres do perigo, Stephanie descobre que estouraram os vidros do Azulão de sua avó, que ela deixara estacionado na calçada.
Como ela é Caçadora de Recompensas, e não tem um mandado oficial, nem força suficiente para isso, não pode simplesmente arrastar Morelli até a delegacia, mas garante que o pegará muito em breve.
Por conta de toda essa confusão, Stephanie atrasa vinte minutos para o jantar na casa de seus pais, então já é de se imaginar que sua mãe esteja com as sirenes da polícia e com o carro do IML na cabeça. Mas na verdade, a coisa é um pouco pior. Seus pais decidiram bancar os alcoviteiros e convidar um sujeito muito esquisito para o jantar para apresentá-lo a Steph.
O caso é que conhecer o sujeito acaba vindo a calhar, porque, ao saber que ela é Agente de Recuperação – um fato que ela grita aos quatro ventos, como se fosse simplesmente uma vendedora de gás –, e que está no rastro de Morelli, ele conta que conheceu o Ziggy, que costumava frequentar o açougue do Sal, em frente à sua loja de decoração. Aparentemente o tal açougue era um ponto de jogos ilegais, como jogo do bicho, e isso até aumentou o faturamento de sua loja, por causa da alta rotatividade de pessoas no quarteirão. A conversa só não foi mais frutífera porque vovó Mazur decidiu brincar um pouquinho com a arma nova de Steph, e acabou dando um tiro que provavelmente não foi acidental nas bolas do peru assado.
Ao chegar em casa, Stephanie guarda a arma num pote de cerâmica no armário da cozinha, e na mesma noite recebe um telefonema ameaçador de Ramirez, mandando-a não se meter em seus assuntos.
Mas, segundo Ranger, isso é uma coisa boa, pois, se ela está sendo ameaçada é porque está no caminho certo.
Com a ajuda de Ranger, Stephanie abre a fechadura do esconderijo de Morelli, e vasculha tudo em busca de alguma evidência que o ligue ao Ziggy, ou de algo que indique que ele vive acima dos padrões que seu salário de policial permite, mas não encontra nada que possa usar, exceto as chaves do carro dele.
Certo... Roubo de carros é um crime federal, mas Steph se aproveita da nobreza de Morelli, e do fato de saber que ele não pode ir até a delegacia denunciá-la, sem perder as pregas na cadeia.
E como suas contas não esperam, e ela está até ameaçada de despejo, Stephanie retorna à firma de Vinnie para pedir algo mais fácil, para que possa receber alguma grana logo.
Para sorte de Steph, porém, Connie, a recepcionista de seu primo se lembra de um caso bem simples, de um velhinho exibicionista chamado William Earling, que mora no prédio de Steph. Ele foi expulso de três asilos por gostar de andar por aí do jeito que veio ao mundo.
Steph vai direto ao apartamento do velho, lembrá-lo de que ele não compareceu ao tribunal na data marcada, e pede que ele se vista e a acompanhe para marcar uma nova data de audiência. A acompanhá-la, ele até está disposto, mas a se vestir, não.
O barato dessa situação é que, quando faz a entrega do velho na delegacia, ele não demonstra ressentimentos. Amigos, amigos, prisões à parte.
Mas acontece outra coisa interessante quando ela está à caminho da delegacia com o Adão no banco do carona. Quando Stephanie para num sinal vermelho, Morelli reconhece seu carro e vai tirar satisfações.
Com o recibo da polícia para pedir seu pagamento na firma de Vinnie, Stephanie finalmente pode comprar uma refeição que não vem numa caixinha para crianças. Ela até oferece pagar sua arma à Ranger, mas ele prefere esperar até ela estar cheia da bufunfa que vai ganhar prendendo o Morelli.
E aqui, chegando em casa, ela dá uma preciosa dica de sobrevivência de Jersey: se retirar o fusível principal do carro, quem tentar roubá-lo não conseguirá dar a partida.
Assim, ela fica de tocaia, escondida atrás de um arbusto, à espera de sua presa. E enquanto espera, porque não comer uns salgadinhos que carrega na bolsa? – Não falei que estava cheia de tranqueiras? Se procurar direito, vão encontrar até o corpo do Ziggy dentro da bolsa dela...
E bem nesse momento, enquanto ela literalmente está na chuva para se molhar, sua avó resolve telefonar para saber como estão indo as coisas.
Essa avó Mazur é uma figura...
Na verdade, Stephanie esperava que o Morelli fosse pessoalmente pegar o carro de volta, mas como já imaginava que o roubo fosse uma armadilha para prendê-lo, ele mandou o primo que dirige uma gema de ovo ambulante buscá-lo na casa de Steph. Ela esperava poder usar o spray de pimenta em Morelli quando ele fosse levantar o capô para verificar o que impedia seu carro de pegar, mas sendo o primo esquisito, decidiu deixá-lo ir embora sem reclamar.
Com essa tentativa frustrada, ela sobe para o seu apartamento, se enfia no chuveiro, e enquanto toma um banho relaxante, Morelli aparece, puxa a cortina do banheiro, e exige seu carro de volta. Ela se enrola na toalha, e ele aproveita para algemá-la no varão da cortina para que não atrapalhe enquanto ele procura suas chaves e seu fusível na bagunça da bolsa dela e em seus milhares de potes de salgadinhos espalhados pela casa.
E como desgraça pouca é bobagem, ele rouba a toalha dela antes de ir embora, deixando-a com um enorme problema, pois, embora seu celular esteja ao alcance da mão na pia do banheiro, se ela ligar para  a mãe, ela vai mandar seu pai socorrê-la, e isso vai ser estranho. No fim, ela percebe que só conhece uma pessoa que teria uma chave de algema e que poderia chegar lá em dez minutos.
Aprendam essa meninas: não existe argumento melhor para fazer um homem largar o que quer que esteja fazendo para correr até você na hora. Ele pode até saber que não vai rolar nada, mas só as três letrinhas aparentemente agem como um ímã.
Cavalheiro como é, Ranger deixa Steph se enrolar na cortina arrancada do boxe para evitar distrações na hora de abrir a algema. Só não entendi porque a cortina de plástico semi-transparente. Se me lembro bem, Morelli deixou a toalha dela jogada no chão do banheiro, não foi?
Enfim, Ranger diz a ela que abriu a fechadura com uma micha para entrar, assim como Morelli deve ter feito, e sugere que ela instale umas travas na porta para evitar novas surpresas, o que ela providencia no dia seguinte.
E aproveita para convocar seu amigo, o xerife Eddie para lhe mostrar suas anotações dos crimes no mapa da cidade, contando o que descobriu sobre o caso: que o namorado da desaparecida Carmen Sánchez, que também é um criminoso, trabalha próximo ao local onde Ziggy foi morto, e que, por acaso, é o mesmo prédio onde Carmen morava, mas o policial não está nem aí para suas suspeitas. Até porque, ninguém na Rua Shaw está disposto a conversar com policiais. Então, mesmo sem recursos, ela agradece a Deus por não ser tira e decide ir até lá investigar.
Veja bem como essa garota lida com as coisas dos outros. Na boa, Morelli, custava nada ter ligado para ela no dia seguinte, depois de ter recheado o cupcake na padaria. Se depois teu carro aparecer depredado por esses marginais com quem ela conversa, não reclama!
Demonstrando ter aprendido alguma coisa observando Ranger em ação, Steph destranca o cadeado do apartamento onde o crime aconteceu com uma micha, e inspeciona o lugar. Ela sabe que o apartamento era da Carmen Sánchez, a informante desaparecida do Morelli, e a primeira coisa que nota é que a prostituta não tinha nenhuma foto do namorado, Ramirez. De duas uma, ou ela não gostava dele tanto assim, ou o romance não era lá muito sério. A segunda coisa que ela nota é uma caminhonete bacana demais para aquele bairro circulando pela rua.
Sua descoberta seguinte é que Carmen tinha um filho, que está sendo cuidado pela irmã dela, Rosa Gómez, e ambos parecem bem assustados, sem saber o que aquela maluca pretende, invadindo o apartamento da desaparecida, temendo que ela seja informante dos criminosos em busca de vingança. Quando Steph conta que está atrás do policial, Rosa sugere que ela converse com John Cho, um asiático maconheiro que mora naquele andar, e que também testemunhou o crime, mas não queria se envolver.
Acontece que esse cara é muito legal, e conta o que aconteceu no dia do crime: ele ouviu o tiro no apartamento ao lado, pegou uma garrafa de uísque e deu com ela na cabeça de Morelli. Foi aí que um cara de nariz achatado saiu de dentro do apartamento e correu atrás dele, e só desistiu quando ouviu as sirenes da polícia. Steph ainda não tinha ouvido falar desse outro cara na cena do crime, e acha estranho que ninguém mais o tenha visto. Mas Cho confirma que Ziggy estava desarmado.
Eu disse que Cho era um cara legal, não disse que era um santo.
Enquanto conversa com ele, Steph recebe um telefonema de Connie, informando outro serviço fácil para ela tirar uns trocados: um sujeito loiro e magrelo, chamado Lonnie Dodd, que pode ser preso na própria casa. Só por precaução, Connie ligou para o Ranger, para que ele servisse de reforço no primeiro trabalho “de verdade” da Steph. Afinal, o velho pelado que mora no prédio dela e a seguiu por livre e espontânea vontade não conta.
Agora olha só o pepino de ser uma Caçadora de Recompensas amadora: a bonitinha bate na porta como se fosse vendedora de enciclopédia, dá voz de prisão ao sujeito, e tem sua bolsa roubada por ele com sua arma dentro. E ainda leva a porta na cara! E eu nem cheguei à pior parte ainda: quando Ranger chega para dar uma moral, acaba levando um tiro... com a arma que comprou para Stephanie e que foi momentaneamente surrupiada pelo malandro.
Felizmente, ao ouvir o tiro, Stephanie corre para ajudar  e consegue se jogar em cima do patife em fuga, e recuperar sua arma, bem a tempo de Ranger perceber que fora baleado com a arma dela. Pelo menos ele ajudou a algemar o cara. Sem ressentimentos.
Agora que efetuou sua segunda prisão, Stephanie decide fazer um lanchinho para acalmar os nervos. E já que está no caminho, leva um lanchinho e cervejas geladas também para Lula, sua amiga prostituta que prometera dar mais informações em troca de um rango. E aproveita a chance para perguntar sobre a caminhonete que viu circulando pela rua do prédio da Carmen mais cedo, e tem a confirmação de que pertence ao Ramirez.
Agora o círculo parece estar se fechando. O problema é que bem nessa hora ela recebe um telefonema muito preocupante do Ranger, enquanto ele efetua outra captura não muito longe dali: John Cho, aquele japa legal com quem ela conversou mais cedo, acabou de despencar da janela do quarto andar.
Pois é... Ninguém disse que a vida de uma Caçadora de Recompensas era puro glamour. Você prende os caras, você entra para a lista negra deles. Steph deveria saber disso, não?
Na verdade, não. A profissão de Caçador de Recompensas, que só existe oficial e legalmente nos Estados Unidos, não costuma ser tão perigosa. Geralmente, os criminosos apanhados por esses profissionais são peixe pequeno, que apenas não compareceram à audiência, ou saíram do radar de seus fiscais de condicional, depois de serem liberados da prisão sob fiança. É por isso que também são conhecidos como Agentes de Fiança ou Agentes de Recuperação. Criminosos perigosos, nos Estados Unidos, são problema do FBI.
Talvez por isso Steph estivesse andando por aí muito despreocupadamente, exibindo seu crachá de Caçadora de Recompensas para quem quisesse ver. Ela achou que não teria muito o que temer, exceto ser algemada de novo pelo Morelli em seu banheiro durante o próximo banho.
Mas o alerta de Ranger é suficiente para acordá-la, e fazê-la marchar até a delegacia, virada no Jiraya, para dar uma dura no xerife por não estar fazendo nada para proteger as testemunhas do caso.
Isso aí, Steph! Coloca esses canas folgados para trabalhar! Ou não verão mais a cor do seu vale rosquinha! Humpf!
Em circunstâncias normais, uma cidadã que entrasse esbravejando na delegacia e comendo o rabo do delegado na frente de toda a força policial da cidade teria hospedagem garantida na cela mais fedida do lugar, mas como Steph é da família, e sabe muitos podres que o fulano não quer que cheguem ao conhecimento de sua digníssima senhora, ela pode gritar à vontade.
E para piorar ainda mais a situação, depois de descarregar a raiva no clube de tiro, Steph recebe uma encomenda especial dos trutas do Ramirez: Lula, muito machucada, é largada na frente de seu prédio, pela mesma caminhonete laranja que Steph viu sondando a Rua Shaw, e fica desesperada.
Felizmente, a surra que a prostituta levou foi só para assustar, e ela sobreviveu só com um braço na tipoia e alguns hematomas. Mas o safado do Jimmy Alpha foi lá no hospital pedir que ela deixe isso pra lá, porque Ramirez não pode ter outra acusação nesse momento.
Sim, ele é um filho da mãe! Mas Lula vai ficar bem.
Depois de tudo o que aconteceu, Stephanie volta para casa assustada, empunhando a arma enquanto destranca a porta, só para garantir que não terá nenhuma surpresa esperando lá dentro. O caso é que há, de fato, uma surpresa para ela no apartamento, e essa surpresa atende pelo apelido de cupcake.
Acontece que Morelli chegou à conclusão de que não dá para vencer essa guerra sozinho. Afinal, com cinquenta mil dólares oferecidos por sua captura vivo ou morto, ele não pode mostrar a fuça na rua sem acabar em cana. E se quiser provar sua inocência, vai precisar que alguém dê a cara a tapa em seu lugar e encontre a testemunha desaparecida de nariz achatado, ou a arma do Ziggy, para provar que foi disparada, e portanto Morelli atirou em legítima defesa. E quem melhor para ajudá-lo a limpar sua barra do que a garota que mais pode lucrar com sua captura, e que tem mais de um motivo para ainda querer pegá-lo – em todo e qualquer sentido da palavra?
Como não tem nada a perder, e precisa dos cinquenta mil oferecidos pela cabeça do Morelli, Stephanie concorda em participar do plano, e ainda deixa o cupcake passar a noite em seu apartamento. Afinal, ela sabe que não conseguirá levá-lo sob custódia sem sua cooperação, e ele não vai concordar em acompanhá-la sem antes salvar o seu rabo – literalmente!
Então, pela manhã, ele instala uma escuta no sutiã de Stephanie, para poder segui-la a uma certa distância, enquanto ela bate perna pela cidade e investiga o açougue do Sal, o lugar onde, segundo o maluco com quem seus pais estavam tentando shippá-la, Ziggy costumava realizar seus joguinhos ilícitos.
O problema é que, logo depois de ter a escuta instalada, Stephanie recebe a visita de Morty Beyers, o Caçador de Recompensas que deveria cuidar do caso de Morelli, mas que tinha sido impedido de trabalhar por uma cirurgia de emergência para cuidar de sua apendicite. Só que agora Steph não quer abrir mão do caso e nem da recompensa. Por isso ela diz au revoir ao maluco, e só depois percebe que ele afanou as chaves do carro em sua bolsa.
Rapaz, que praga de madrinha, hein! A mulher acabou de rogar, e já aconteceu!
E não foi a única explosão naquele dia. Enquanto conta ao xerife Eddie como Morty foi castigado por violar o mandamento de “não roubarás”, Stephanie ouve o xerife ser informado de que explodiram um apartamento no edifício da Carmem.
Por sorte, Eddie decidiu lhe dar ouvidos depois que ela foi gritar feito uma louca na delegacia, e já tinha levado Rosa Gómez e o filho da Carmen para um lugar seguro, antes de jogarem coquetel Molotov dentro do apartamento dela.
Como já passou da hora de esclarecerem o rolo todo, Stephanie decide dar um pulinho na loja de decorações do genro de sua mãe que ela não quer namorar, para comprar uma nova cortina para o seu banheiro, e aproveita para observar o movimento no Açougue do Sal do outro lado da rua. E quem resolve dar as caras bem nesse momento? O cara do nariz achatado!
Segundo Sal, ele veio fazer uma entrega, e está levando os barris que ficaram escondidos no depósito para o caminhão.
Enquanto escolhe o peixe que vai comprar, para disfarçar o fato de estar ali para pegar um peixe bem mais perigoso, Steph vai dando pistas à Morelli através da escuta em seu sutiã, para que ele saiba o que está acontecendo, e quem está nesse momento dentro do açougue.
Acontece que Morelli teve que se livrar do celular, por isso precisou colocar a escuta na Steph, para poder ouvir seus passos o tempo todo durante a expedição, mas a escuta só alcança um quilômetro e meio, uma distância não muito fácil de manter no trânsito caótico de uma interestadual.
De alguma forma, Morelli consegue seguir Stephanie e o caminhão até a marina Pachetco, onde encontram o barco do Sal, carregado de heroína.
E aproveitam que ninguém está vigiando, para espiar a carga do caminhão, onde descobrem os corpos do Nariz Achatado e do açougueiro, cada um com um buraco de bala na testa, e o corpo da Carmen enfiado dentro de um dos barris que o bandido recolheu no açougue.
Aí danou-se! Suas duas testemunhas estão mortas, e sem a arma do Ziggy, se Morelli for preso, babau! Vai ficar mais ferrado que cutucador de colmeia!
E para piorar, o Ramirez resolveu aparecer para dar uma surra no Morelli, que poderia ter sido bem menor se Stephanie soubesse atirar, em vez de ficar com o dedo tremendo no gatilho, para depois derrubar o brutamontes com seu spray de pimenta e o punho do Morelli.
Eles colocam o bandido nocauteado no caminhão, e quando estão se preparando para partir, eis que chega Jimmy Alpha, para render os mocinhos com a arma de Morelli que o Ramirez roubou e deixou cair durante a luta, mandar Steph algemar Morelli na traseira do caminhão, e contar como ele esteve sempre por trás de tudo, desde que Ziggy lhe oferecera parceria no comércio dos tóxicos em sua academia, até o assassinato que colocou Morelli na reta, o envolvimento do capanga Ramirez, e a bagaça toda. Agora ele vai jogar a culpa toda em cima do Ramirez e sair por cima da carne seca, como se fosse o herói da história. Claro que ele contou toda essa novela, porque achou que fosse dar cabo dos mocinhos ali mesmo, muito antes de alguém ter oportunidade de chamar a polícia, mas ele não contava que Steph fosse conseguir alcançar seu revolvinho que parece de brinquedo, e descarregar cinco tiros certeiros em seu peito, logo depois de ele acertar uma bala no culote da coitada.
Essa Steph é demais! A mulher nem se deu o trabalho de pensar no que aconteceria se o Ramirez acordasse no caminho. Pelo menos Morelli teria em quem descontar a raiva em vez dela. Simplesmente fechou a traseira do caminhão, montou na cabine, e se pôs a caminho da delegacia.
Acabou que ela foi recebida com fogos de artifício e uma salva de tiros na delegacia. Ou quase. E como a bala só atingiu uma gordura localizada desnecessária, pôde desfrutar de sua marcha da vitória sem muita dor.
O detalhe é que ele não está bravo por ter sido preso ou por estar prestes a ser arrastado para dentro da delegacia; ele está furioso por ter sido trancado num caminhão cheio de cadáveres. Sério! Tanta marra, e o cara é um bundão...
Steph entrega a escuta para o xerife, e diz que Morelli está limpo, pois Jimmy Alpha confessou tudo. Mas pede que o deixe preso um pouquinho até se acalmar.
Três dias depois de ser devidamente examinada no hospital, onde só lhe deram mingau de aveia e suco, o que a deixou faminta, e de pegar uma carona com Ranger na volta para casa, e de receber os parabéns por ter acertado cinco tiros perfeitos no coração de Jimmy Alpha com aquela sua pontaria esquisita, Steph foi buscar sua grana na agência do Vinnie, o cheque de cinquenta mil dólares pela captura do Morelli, que já está solto, e provavelmente procurando por ela.
Depois de acordar algemado na delegacia, o Ramirez acabou confessando tudo, foi jogado numa cela com mais trinta marginais, e, considerando sua lista de crimes, a essa hora deve estar falando mais fino que o Piu-Piu quando vê um gatinho...
E olha só que reviravolta interessante, como fazer a coisa certa sempre merece recompensa: depois de apanhar dos bandidos por dar com a língua nos dentes, e de ser a única disposta a colaborar com a investigação, Lula deixou a vida, e foi trabalhar como assistente do Vinnie na Agência de Fianças. Coisa fina! E agora ele tem duas mulheres marrentas para fazer careta cada vez que ele abre a boca.
Quanto à Steph, não precisa esquentar a cabeça, porque o Morelli já esfriou a dele.
Bem, se o Morelli pôde perdoar o fato de ela tê-lo entregado à polícia, ela também pode perdoar seu cano depois do trelelê na padaria. Além do mais, é um pecado desperdiçar um cupcake.
Qualquer um dos dois...

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