A mensagem essencial das obras da
Disney é que o bem sempre triunfa no final; os malvados são severamente
punidos, ficam completamente ferrados e mal pagos – isso quando saem vivos! Mas
o importante é que todos – os bonzinhos – vivem felizes para sempre.
Tudo bem que o estúdio raramente
mostrou a cena da morte de um vilão, assim, preto no branco, mas só a ideia, já
soa suficientemente maquiavélica.
Verdade seja dita, houve algumas mortes
de personagens bonzinhos que partiram nossos corações nos desenhos da Disney.
Para citar só alguns exemplos: a mãe do Bambi, que foi atingida pelo disparo de
um caçador enquanto corria com seu filhote, e ele só se deu conta ao
encontrar-se a salvo e sozinho na floresta; Mufasa, assassinado a sangue frio
por seu irmão invejoso Scar, e ficamos com o coração em farrapos diante de
Simba, então filhotinho, tentando fazer o pai se levantar, e depois se deitando
desconsolado ao lado do corpo dele em O
Rei Leão; Kocoum, o índio que foi morto pelos colonizadores ingleses em Pocahontas; e num passado mais recente
Ellie, a esposa do Seu Fredericksen em Up!
Altas Aventuras.
Sim, Disney é tão eficiente em nos
levar às lágrimas quanto é em nos deslumbrar. E não raramente, a morte de um
vilão poderia despertar pesadelos em algumas crianças. Algumas vezes os
mocinhos até tiveram que sujar as mãos para tirar os vilões de seus caminhos.
Inocência não é exatamente uma virtude aqui.
Pensando nisso, reuni uma lista com
alguns dos finais mais sombrios e violentos das animações da Disney, e verão
que essas cenas definitivamente não foram feitas para crianças.
Das menos horríveis, às mais
assustadoras:
Malévola
Malévola pode até ter sido assustadora
no passado, mas para a nossa geração, ela não passa de uma bruxa recalcada, em
quem os estúdios Disney tentaram dar Up,
concedendo o rosto de Angelina Jolie.
A única motivação de Mal era punir o
Rei Stefan e a Rainha Leah por não terem-na convidado para o batizado da
princesa Aurora. No conto original, como mencionei em outra postagem, o convite
não foi enviado porque só havia doze pratos de ouro no palácio para as treze
fadas do reino. Daí, no uni-duni-tê,
Malévola acabou ficando de fora, para evitar que uma das fadas se sentisse
menosprezada por comer num prato menos valioso que o das outras – problema que
poderia ter sido resolvido derretendo um colar da Rainha ou dando chá de sumiço
nos outros pratos de ouro e servindo todo mundo nos de prata. Mas aqui o buraco
era bem mais embaixo: Malévola simplesmente não era bem-vinda no castelo. E por
isso ela decidiu dar um teco na princesa.
A morte de Malévola foi, digamos, a
mais “tradicional” nessa lista. Teria sido quase clichê, se ela tivesse sido
simplesmente transpassada pela espada do Príncipe Phillip. Só que Malévola foi
transpassada pela espada depois de ela ter sido encantada pelas três fadinhas atrapalhadas
boas Flora, Fauna e Primavera, e arremessada pelo Príncipe contra a Fada
Malvada quando esta estava metamorfoseada em dragão! E para falar a verdade, eu
não tenho certeza se o que a matou foi a espada cravada no coração ou a queda
do precipício que ela mesma incendiou, em seu último esforço para jantar o Príncipe.
Aliás, como verão ao longo do artigo, a
Disney tem certa obsessão por ver seus vilões despencando de grandes alturas.
Mãe Gothel
Falando em queda...
Gothel seguia a cartilha da Rainha Má
da Branca de Neve. Seu objetivo na vida era se manter jovem e bela para sempre
– se não me engano, o filme Irmãos Grimm tinha uma vilã muito semelhante a ela:
uma mulher obcecada por beleza e juventude, que estava presa numa torre,
recrutando meninas bem jovens para trocar seus muitoscentos anos pela juventude e beleza delas –, e para conseguir
isso, ela sequestrou Rapunzel, e a manteve presa numa torre porque seu cabelo
tinha propriedades mágicas capazes de curar e rejuvenescer quem o tocasse. Mas
quando o herói – que vou chamar de José, porque foi esse o nome escolhido pela
dublagem, e foi assim que o moço nos foi apresentado pelo Luciano Huck, e eu não
vou discordar de um cara que um dia, quem sabe, pode reformar minha casa – literalmente
passou a faca nas madeixas da moça, para libertá-la de Gothel, o tempo começou
a cobrar com o juros e correção monetária o tempo que a vilã ficou apertando a
tecla pause.
Só para enfatizar melhor
que Gothel estava a segundos de desfechar seu final, Pascal, aquele
camaleãozinho simpático deu uma forcinha, puxando o cabelo cortado de Rapunzel
como se fosse uma corda, fazendo a megera tropeçar e cair pela janela da torre
– não falei que a Disney tem fixação pela – literalmente – queda dos vilões?
Mas pelo que consta, Gothel morreu de velhice,
pois só o manto cheio de poeira de bruxa chegou ao chão, o que me leva a crer
que essa aí era mais velha que piada de papagaio. A julgar pelo figurino
medieval, pode colocar aí uns seiscentos anos, sem medo. Como ela conservava a
juventude antes do nascimento de Rapunzel é algo que a Disney certamente nos
contará quando decidir filmar a versão live-action
da megera – e conhecendo o estúdio como eu conheço, certamente fará, mais cedo
ou mais tarde!
Úrsula
A morte de Úrsula poderia até ser
considerada um acidente de trânsito – marítimo – exceto que o Príncipe Eric
jogou seu navio em cima dela de propósito.
Também pudera! O cara estava prestes a
casar com uma moçoila que, mais tarde, depois que removesse o vestido, a
maquiagem, o penteado, os feitiços e o colar com a voz de sereia roubada de
Ariel, se transformaria numa bruxa encarquilhada, metade mulher metade polvo –
para quem curte curiosidades, o termo técnico da criatura é “Cecaelia” –, com
voz de bruxa, e cara de Drag-Queen! É sério, os responsáveis pela animação
revelaram que o rosto dela foi inspirado numa drag chamada Divine! A ausência
de preconceitos é outra coisa que me encanta na Disney, falando sério.
Enfim, tendo descoberto que estava
prestes a se casar com a bruxa medonha, já deveria ser motivo suficiente para o
moço estar fulo, e doido para descer o sarrafo em alguém. Mas aí a megera
decidiu sequestrar a Ariel. Aí o pau comeu!
Sobretudo depois que o Rei Tritão
concordou em trocar sua liberdade pela da filha, abrindo mão de seu tridente e
sua coroa, permitindo que Úrsula se transformasse na Rainha dos Sete Mares, o
que rapidamente lhe subiu à cabeça – literalmente –, fazendo-a se transformar
numa cecaelia gigante, disposta a testar seus novos poderes criando uma
tempestade e um redemoinho, só para perturbar ainda mais a sereiazinha. E
enquanto ela está distraída tentando explodir Ariel, Eric consegue manobrar o
navio em que quase se casou com a megera, e empalar a Bruxa do Mar com a lança
do gurupés, exterminando-a para sempre e libertando todas as criaturas marinhas
que ela havia transformado em peixe podre.
Vocês também não adoram finais felizes?
Shan Yu
Taí uma figura que não precisa nem de
história para causar um nervoso na gente. Se liga na carranca da figura!
O Huno demoníaco que estava determinado
a transformar o exército chinês – e até o império inteiro se precisasse – em
paçoca, e governar o que restasse, sobreviveu a uma avalanche provocada por
Mulan, e decidiu procurar encrenca lá no palácio o Imperador da China. Ele só
não contava com a astúcia de Mushu – o filé de dragão chinês que mais ou menos
foi enviado pelos ancestrais da Família Fa para ser o protetor de Mulan durante
a guerra –, que acendeu o pavio do rojão que o vilão tinha agarrado para tentar
explodir Mulan. Shan Yu foi impulsionado com o rojão em direção à torre cheia
de fogos de artifício, explodindo tudo de uma vez, e certamente mandando-o
pelos ares. É possível que parte dos filetes amarelos que vimos iluminar o céu
da China naquela noite fossem os olhos esbagaçados do Huno.
Rainha Má
Eu disse aqui certa vez que a madrasta
da Branca de Neve é a melhor vilã da Disney, e mantenho. Ok, Cruella, com sua
obsessão por escalpelar cachorrinhos não fica muito atrás, mas Cruella tem ao
menos a vantagem de ser carismática – algo que a Rainha Má da animação está
muito longe de ser. Regina, sua versão em Once Upon A Time é outra história...
E ainda vou falar de dois vilões que chegam muito perto de serem tão terríveis
quanto ela – um deles, inclusive, podemos considerar um empate técnico, mas
isso não muda o que eu disse: a Rainha Má continua sendo a melhor vilã da Disney. Falarei do melhor vilão mais adiante.
A Rainha Má é cruel até o tutano do
osso. Ela não odeia a enteada por considerá-la uma ameaça ao seu posto como
soberana do reino – Branca de Neve sempre pareceu estar se lixando para o
trono; ela preferia cantar e brincar com os passarinhos e os pequenos roedores
do reino. Também não era por ambição, por dinheiro, ou por qualquer mágoa mal
resolvida. A motivação dessa vilã é pura e simplesmente a inveja. De repente, a
enteada de quem ela mal tomava conhecimento foi apontada por seu Espelho Mágico
como sendo a mulher mais bela do reino, posto antes ocupado por ela própria. Isso era inadmissível. Branca de Neve tinha que morrer!
Notem que ela sequer considerou outras alternativas.
Não passou pela cabeça da Rainha Má simplesmente macular a beleza da enteada,
um cortinho no rosto que lhe deixasse uma cicatriz, uma sobrancelha raspada,
uma entortada no nariz – olha eu dando ideia para maluco... Esqueçam essa
parte, gente! Mas não. À Rainha não interessava simplesmente tornar Branca de
Neve feia. Ela precisava destruí-la! Quem
essa princesinha dos roedores pensa que é? Como ela ousa se tornar mais bela
que Sua Majestade? Ela não podia ficar viva para contar a façanha de ter
sido, ainda que momentaneamente, mais bela que sua Rainha.
A megera mandou confeccionar uma caixa
para guardar o coração arrancado da enteada, encarregou seu caçador particular
do serviço, e mais tarde, como ninguém teve coragem de acabar com a raça da sujeitinha, decidiu ela mesma sujar as
mãos e eliminar o “problema” pessoalmente.
E essa foi precisamente sua ruína.
Notem que ela nem mesmo se preocupou
que estava arruinando sua própria beleza tão idolatrada, transformando-se –
talvez temporariamente – na velha mendiga que levaria a maçã envenenada para
Branca de Neve. E foi com esta aparência nada gloriosa que a outrora mais bela de todas partiu deste mundo.
Uma pioneira; foi ela que inaugurou o método favorito da Disney para eliminar
vilões indesejáveis: enquanto fugia dos anões, a Rainha/Bruxa Má tentou
empurrar uma pedra enorme sobre os baixinhos, mas o feitiço virou literalmente
contra a feiticeira. Um raio atingiu a ponta do precipício sobre o qual ela
estava equilibrada, fazendo-a despencar lá de cima. O que quer que tenha
sobrado dela lá embaixo ainda deve ter virado patê, porque um pedregulho enorme
ainda caiu por cima dela, provavelmente esmagando-a. O interessante é que os
urubus já estavam empoleirados na cena do crime, só esperando para descobrir o
que teriam pro jantar. Acho que foi purê de bruxa... Desconfio...
Aliás, vale ressaltar que com isso a
Disney tornou a cena da morte da Rainha Má menos terrível do que no conto
original, onde ela foi forçada a dançar sobre brasa ardente no casamento de
Branca de Neve com o Príncipe Encantado. Aqui, pelo menos, a princesa não teve
nada com isso...
Gaston
Esse é um cara que não sabe lidar com a
rejeição. O vilão do meu desenho favorito da Disney é um sujeito machista e
chauvinista, que queria porque queria se casar com Bela, apesar de repudiar sua
inteligência e seu amor pela leitura, porque, na opinião dele, as mulheres não
devem ser instruídas; elas são feitas unicamente para cuidar da casa, do marido
e da penca de filhos. E esse era precisamente o motivo porque Bela preferia ter
suas tripas arrancadas pelo nariz em vez de casar com esse grosseirão.
Quando percebe que Bela está apaixonada
pela Fera, Gaston incita os cidadãos da aldeia a marcharem para o castelo e
matar o “monstro”. Fera, que tinha perdido a vontade de viver após a partida de
Bela, desesperançado inclusive de que algum dia sua maldição seria quebrada,
estava disposto a morrer sem lutar. Mas quando Bela ressurgiu para salvá-lo,
tudo mudou.
Gaston teve a chance de partir sem
punição, mas decidiu voltar e literalmente apunhalar a Fera pelas costas, para
evitar que Bela fosse de outro homem que não ele próprio. Mas ao fazer isso,
acabou selando seu próprio fim, pois no momento em que cravou o punhal no corpo
da Fera, esta se agitou, fazendo com que Gaston se desequilibrasse e
despencasse do telhado do castelo. Se prestarem bastante atenção na cena, verão
um flash extremamente rápido de uma caveira desenhada nos olhos de Gaston
durante sua queda. Os desenhistas disseram certa vez que colocaram essas
caveirinhas nos olhos dele para deixar clara sua morte, sem traumatizar as
crianças. Ok... Se vocês dizem...
Scar
Lembram que eu prometi citar dois
vilões quase tão maus quanto a Rainha Má? Bem, este é um deles.
Scar foi concebido como uma mistura do
Rei Claudius, antagonista da peça shakespeariana Hamlet, com Adolf Hitler. Scar
era movido pela inveja e pela ambição. Ele queria o trono de seu irmão Mufasa,
e estava disposto a tudo para conseguir.
Este vilão foi talvez o primeiro do
estúdio a cometer um assassinato a sangue frio, empurrando Mufasa de um
penhasco para ser pisoteado por uma manada de gnus em debandada, e depois ainda
acusou o pequeno Simba pela morte do Rei Leão.
Mais tarde, porém, quando a casa estava
caindo sobre sua cabeça, Scar jogou a culpa pela morte de Mufasa nas hienas –
então suas aliadas –, sem saber que estas o ouviam. Após uma luta feroz contra
o sobrinho, Scar acabou literalmente chutado da Pedra do Rei, e devorado pelas
hienas revoltadas com sua traição.
Claude Frollo
Esse é, sem sombra de dúvida, o mais
nefasto de todos os vilões da Disney – talvez um dos vilões mais cruéis de
todos os tempos: da literatura, do cinema, e enfim, da História!
Um homem que usava sua posição como
ministro religioso e homem da lei para cometer as piores barbaridades, e jogar
a culpa nos ciganos de Paris. Frollo assassinou a mãe de Quasímodo simplesmente
porque ela era cigana, e quando foi apanhado pelo Arcebispo, foi obrigado a
criar o filho deformado dela para se redimir de seu crime, mas sempre maltratou
e aprisionou Quasímodo, fingindo protegê-lo.
Mais tarde, quando Quasímodo já era
adulto, Frollo escancarou sua hipocrisia ao perseguir a cigana Esmeralda, e
condená-la à morte na fogueira, simplesmente porque ela o rejeitou. Frollo
culpa Esmeralda por seus pensamentos pecaminosos, e a acusa publicamente de
bruxaria – porque o cara é o santo da parada, e se ele comete uma série de
maldades, tipo assassinar pessoas, tentar incendiar uma casa com a família
dentro, ou tentar matar o Capitão Phoebus, a culpa não é dele; são os ciganos e
os pecadores que estão incitando sua crueldade. Um legítimo representante do
partido FDP.
E que teve um final à altura de sua
perversidade: após uma luta com Quasímodo no alto da Catedral de Notre Dame,
Frollo despencou – novidade! – de uma das torres e caiu num rio de chumbo
derretido, diante da multidão de ciganos e mendigos que ele sempre odiou.
E agora que estou reparando: como esse
cara é parecido com o Temer, hein! Sangue de Cristo tem poder! Vai de retro,
coisa ruim!
Lyle Tiberius Rourke
Como vilão, Rourke não é dos mais
terríveis da Disney, não. Na verdade, sua maior atrocidade foi roubar o cristal
conhecido como Coração de Atlântida, uma espécie de divindade que manteve a
cidade intacta no fundo do oceano por milhares de anos, e que é capaz de se
incorporar aos membros da família real da cidade perdida em épocas de crise,
para impedir a destruição do lugar.
O cristal havia se incorporado a Kida,
filha do Rei de Atlântida, assim que os mercenários Rourke e Helga o
descobriram, mas quando tentaram tirá-lo do reino submerso, Milo Tatch, o
tradutor de línguas antigas e herói de nossa história, atingiu o vilão com um
fragmento de vidro que tinha se incorporado ao cristal, transformando-o numa
espécie de monstro cristalizado. Rourke ainda tentou continuar atacando Milo,
mas acabou sendo fatiado por uma hélice daquela geringonça voadora esquisita
que parece uma cruza bizarra de balão com helicóptero, que, se citaram o nome
no desenho, não lembro mais.
Dr. Facillier
Na minha opinião, Facillier é um dos
vilões mais carismáticos do passado recente da Disney, um autêntico Showman, desfilando por aí com suas
cartas de tarô, seu sarcasmo e sua sombra maligna chegada num passinho da hora.
Mas o cara teve simplesmente o final mais aterrorizante já concebido pelo
estúdio. E detalhe: a cena foi mostrada
no filme!
Facillier dava exatamente o que
prometia às suas vítimas, só que do jeito dele, ou seja, sacaneando. Tudo para
manter o trato com seus “Amigos do Outro Lado”, as sombras vodu do reino dos
mortos que garantiam seu poder. Mas quando Tiana decidiu dar uma banana para
sua proposta de lhe dar o restaurante que ela sempre desejou, e quebrar o
talismã do feiticeiro vodu, os espíritos do Outro Lado literalmente o
arrastaram para o túmulo, ao som pulsante de um bumbo e do perturbador coro “Preparado?!”. Só o que restou foi a
cara aterrorizada do vilão gravada na pedra da lápide. Ui!
Essa cena definitivamente não foi feita
para crianças.
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