É
difícil falar em Bonequinha de Luxo sem produzir uma imagem mental de Audrey
Hepburn num tubinho preto, cheia de classe, segurando uma cigarreira, encarnada
em Holly Golightly, com sua personalidade tagarela e inquieta, sua
independência, e seu jeito espirituoso e extrovertido de encarar a vida.
Título Original: Breakfast at Tiffany’sAutor: Truman CapoteEditora: Companhia das LetraPáginas: 145Gênero: Novela
Sinopse:Em Bonequinha de Luxo, novela de 1958, escrita com mão levíssima, o escritor norte-americano Truman Capote acompanha as estripulias de Holly Golightly, a jovem que escapa da vida besta do interior para tentar a sorte na Nova York dos anos da Segunda Guerra. Moça de hábitos e horários nada ortodoxos, Holly põe em polvorosa uma galeria de personagens que vai de um mafioso preso a um escritor inédito, passando por um fotógrafo japonês, uma modelo gaga e uma cantora rouca – para não falar de um certo diplomata brasileiro. Tudo isso sem abandonar a visão de uma vida de luxo, calma e volúpia, se possível bem longe do Texas e bem perto da joalheria Tiffany’s. Celebrizada nas telas de cinema por Audrey Hepburn no filme homônimo de Blake Edwards, Holly é uma das criações mais felizes de Capote, mistura inextrincável de ninfa diáfana e moça roçuda, tão viva e sedutora hoje como quase meio século atrás.EEEEE
Embora
maravilhoso, o livro Bonequinha de Luxo, de Truman Capote, é somente a sombra
do que o filme o tornou. Para começar, temos apenas uma vaga ideia de como
Holly se comportava numa festa, pois não chegamos a vê-la realmente em ação.
Toda a história é narrada por seu vizinho, a quem ela chama de Fred, o nome de
seu irmão. O verdadeiro nome dele não chega a ser revelado, e, na qualidade de
narrador-observador, esse amigo anônimo contou apenas o que viu e ouviu sobre
Holly, de modo que todas as ações do livro acontecem somente dentro do
apartamento dela, ou dele, e no bar do Joe Bell, que ambos frequentavam às
vezes. Fred e Holly somente saem destes ambientes poucas vezes: quando ela o
conduz a roubar uma máscara de festa numa lojinha – uma das cenas mais
descontraídas do filme –, uma vez em que ele a vê entrando na biblioteca para
tomar notas de algum assunto – provavelmente sobre o Brasil, pois José já
aparecia em seu círculo social na época –, quando passeiam a cavalo no Central
Park, e quando ele a leva ao aeroporto para tomar o voo para o Brasil.
Então
é de se esperar que as ações fiquem limitadas a um número restrito de
personagens. Exceto que Holly recebe muitos amigos em seu apartamento todas as
noites – em sua maioria homens –, e Fred acabou sendo convidado para participar
de algumas dessas festas.
No
filme ficou apenas subentendido, mas o livro deixa claro que Holly era uma
garota de programa – pode ficar tranquilo(a), porque o livro não possui nenhuma
cena erótica. É uma história bela, sem precisar apelar a vulgaridades –, que
somente acompanhava homens ricos, com quem ela pudesse sonhar em se casar um
dia, e se tornar uma mulher respeitável. E embora mencione muitas vezes ao
longo da narrativa, não chegamos de fato a vê-la pedindo dinheiro aos
cavalheiros para ir ao toilette retocar
a maquiagem.
O
filme faz diversos contrapontos à história do livro, tornando-se mais ou menos
oposto a ele em muitos aspectos: enquanto no filme Holly se muda para Nova York
para buscar o sonho de se tornar uma famosa atriz de Hollywood e casar-se com
algum ricaço, no livro, Holly teve sua oportunidade de se tornar uma atriz
famosa, e fugiu disso, convencida de que jamais poderia ser feliz em tal
trabalho.
Em
sua jornada em busca da felicidade, Holly é apresentada com uma personalidade
frágil e confusa. Também tem um quê de ingenuidade, pois parece não se dar
conta de que seu amigo mafioso Sally Tomato, a quem é paga para visitar todas
as quintas-feiras na prisão, a usa como mensageira para passar informações aos
seus comparsas do lado de fora, codificadas em forma de “previsões do tempo”.
O
filme também faz uma pequena correção em relação ao livro: o diplomata
brasileiro com quem Holly almeja se casar possui um sobrenome nada brasileiro
no livro, Ybarra-Jaegar. Embora o autor explique que a mãe de José era alemã,
isso não explica o sobrenome Ybarra, que soa mais hispânico que português. No
filme, para evitar polêmica etimológica ou regional, o sobrenome de José foi
trocado para “da Silva Pereira”. Agora, sim, acredito que é meu compatriota.
Exceto por seu intérprete, que era natural de Madri.
Algo
que chama a atenção e chega a ser irônico é que, embora o título original seja
Breakfast at Tiffany’s (Café da Manhã na Tiffany’s), no livro, Holly não é
mostrada na famosa joalheria de Nova York nem uma única vez; apenas é
mencionado que ela gosta de ir lá quando se sente deprimida. Ela também costuma
comparar a felicidade que procura à sensação de observar as vitrines da
Tiffany’s pela manhã.
O
final dos personagens no livro também é completamente diferente do filme.
Pessoalmente,
gosto mais da história de Holly Golightly no filme. É melhor em muitos aspectos:
da cenografia à escolha dos atores, o desenvolvimento dos personagens, o
figurino, as festas... Há um glamour em Bonequinha de Luxo, uma magia que
somente o cinema soube transmitir. E acima de tudo, o filme tem Audrey Hepburn,
e nenhuma outra atriz antes ou depois dela interpretaria Holly Golightly com
tanta maestria. Ela capturou perfeitamente todos os traços que tornavam Holly
uma das personagens mais irresistíveis da literatura mundial. Ela é a pepita de
ouro que brilha numa história mais ou menos, e transforma uma história sem
grandes ações ou pretensões, numa das mais deliciosas de todos os tempos.
Algumas curiosidades a respeito
do filme:
*
A primeira atriz cotada para dar vida à Holly foi Marilyn Monroe – que teria
sido escolhida pelo próprio Truman Capote. Não tenho absolutamente nada contra
a diva loira do cinema americano. Embora tenha ancorado seu sucesso na beleza,
e, assumidamente conquistado seus primeiros papéis em Hollywood através do
“teste do sofá”, é inegável que Norma Jean Baker era uma atriz talentosa. Mas
não dá para imaginar outra pessoa na pele da Bonequinha de Luxo, senão Audrey.
Enquanto Marilyn poderia conferir sensualidade à personagem, Audrey consagrou-a
com sua elegância e sua postura, o equilíbrio perfeito entre descontração e
refinamento.
*
Audrey Hepburn recebeu por este papel o maior cachê pago a uma atriz até então:
750 mil dólares. Seu recorde foi superado dois anos depois por Elizabeth
Taylor, que recebeu a singela quantia de um milhão de dólares para interpretar
Cleópatra. Embora ambos os filmes tenham se tornado cult, na época de seu
lançamento, Cleópatra foi um relativo fracasso de bilheteria, que quase levou a
20th Century Fox, produtora e financiadora do filme, à falência.
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