Estamos
de volta com mais um episódio de um dos meus desenhos favoritos da infância,
Beetlejuice – aquele, da garota gótica e solitária, cujo melhor amigo era um
habitante da terra dos pés juntos. E como se a vida social de Lydia já não
fosse uma desgraça, neste episódio descobriremos que seu primeiro namorado
também foi um fantasma.
Mas,
verdade seja dita, era um fantasma de respeito. O rapaz era um Príncipe! Só não
sei se ele teve o título em vida, ou se só o adquiriu depois de morto...
Bem,
não importa. Nossa sessão nostalgia de hoje será
Para
os novos habitantes do nosso Admirável Mundo Inventado, Neitherworld era o nome
oficial do Mundo dos Mortos nesse desenho, também conhecido como Nenhuma Terra
ou Lugar Nenhum, dependendo da dublagem. Aliás, este foi um dos poucos
episódios, dentre os que eu me lembro bem, que foram ambientados inteiramente
naquele mundo, sem qualquer cena no mundo humano normal.
O
episódio começa com Lydia e Beetlejuice aproveitando o sol – sim, faz sol no
mundo dos mortos. Não se atrevam a questionar a lógica de um desenho animado! –
para fazer um piquenique. O cardápio é de engolir com doses cavalares de
antiácidos, sais de fruta, água benta e álcool 70% direto da garrafa.
Sério
que você come esse troço, Lydia?! Previsão do tempo para hoje: a sobremesa será
uma indigestão.
Bem,
se Lydia chegou mesmo a provar a gororoba, nunca saberemos, porque logo depois
de Beetlejuice mostrar o cardápio caiu o maior toró, embora a meteorologia
tenha garantido que faria sol o dia todo na terra dos pés juntos. O problema é
que a Maju Coutinho do Além não tinha como saber que o Príncipe resolveria dar
um passeio justamente naquele dia.
Aliás,
esse é o único episódio em que somos informados de que existe uma monarquia em
Neitherworld. Se eu me lembro bem, outros episódios mencionam que a cidade é
comandada por um prefeito. Vai ver o título de nobreza desse Príncipe era como
o da Família Imperial Brasileira hoje em dia, meramente ilustrativo.
E
esse filho perdido do Bóris Karloff aparentemente foi alfabetizado com a
literatura de Edgar Allan Poe.
Isso
é o que eu chamo de sofrer com classe! A pessoa está deprimida, recitando o
poema O Corvo. Preciso apresentar esse carinha para alguns dos meus vizinhos,
que têm a mania de ouvir sofrência no último volume.
Enfim,
além do bom gosto para poesia, esse Príncipe também tem o poder de conjurar
chuvas torrenciais com raios e trovões à sua volta, e tudo isso usando como
combustível sua muito bem desenvolvida melancolia.
À
primeira vista, Lydia supõe que ele tenha poderes obscuros e misteriosos, e um
nome assustador, como Vladimir Karamazov, ou Severo Voldemort, Freddy Krueger, ou
Michel Temer... Mas Beetlejuice imediatamente quebra o encanto de seu conto de
fadas imaginário.
Mas
há uma notícia que talvez possa interessar ao Beetlejuice: o Príncipe está
entrevistando candidatos para o cargo de novo Bobo da Corte. Aliás, a julgar pela urgência em
arrancar alguma risada do Karloffzinho deprimido, o salário deve ser sensacional.
Ainda
mais que os candidatos que já apareceram – um palhaço mímico, uma testemunha de
Jeová, e um militante do PSDB –, só conseguiram deixar o Príncipe mais
deprimido do que nunca. E essa tristeza toda está fazendo um mal danado aos
súditos Reais, que vivem constantemente resfriados por causa da chuva que o
Príncipe provoca até no interior do castelo.
Tanto
que eles estão até dispostos a engrossar o salário do próximo Bobo da Corte com
uma parcela de seus próprios ordenados se ele conseguir fazer parar de chover.
A única pessoa que não vai gostar se o Príncipe sair da depressão é o dono da
barraquinha de guarda-chuva do outro lado da rua, mas ele que vá vender churros.
Doze
candidatos depois, e nada de o Príncipe esboçar um sorrisinho sequer. Se não
encontrarem logo uma solução para esse monstrengo, vão acabar pegando uma
pneumonia. E isso seria extremamente perigoso; vai que um dos defuntos morre de
novo? Na primeira passagem caíram em Nenhuma Terra, mas na próxima, podem não
ter tanta sorte, e acabarem num reality show da MTV...
Eis
que o Beetlejuice se apresenta para dar um show diante de Sua Baixeza, mas de
novo, ele não se impressiona com as maluquices do fantasma, que chega a se
desmontar em pedaços, fazer malabarismo com as pernas, rodopiar a cabeça como
se fosse um carrossel em alta velocidade, se vestir com as roupas da avó do
Longbotton... Ah, não, peraí, esse foi o Snape. Ah, sim, mas sabemos que
Beetlejuice pode encarnar uma versão bizarra de vendedor de enciclopédias, para
que o pai drogadão da Lydia não perceba que tem um defunto brincando com sua
filha. Mas o Príncipe tampouco se impressiona com a piada tosca sobre o homem
que foi serrado ao meio, e demorou uma eternidade para entender como foi que
conseguiu soltar um pum do outro lado da rua. Nem os monstros que Beetlejuice
ameaçou botar nas calças de todo mundo na corte conseguiu fazer o Príncipe
parar de choramingar. A única coisa que foi capaz de chamar a atenção dele...
foi Lydia.
Só
por curiosidade, Lydia: está falando do filme, ou da Monstra em pessoa?
Em
se tratando de um programinha em Neitherworld, qualquer das duas opções é
possível.
Mas
como já está ficando tarde, e os mortos precisam dormir cedo para descansar a
cútis, e a mocinha gótica viva tem hora para voltar para casa... Peraí, na
verdade, não tem, não. É bem comum nesse desenho a Lydia passar a noite inteira
em Neitherworld brincando com a fantasmada, e só voltar para casa na hora de
acordar para ir à escola, ostentando olheiras de defunto que dariam inveja em
muito monstrengo por aí. Aliás, depois desse comentário, saber que as notas
dela nunca despencaram perigosamente mesmo com tão poucos minutos de sono e
menos ainda de estudo em casa, é algo que eu nunca vou entender.
Enfim,
depois dessa divagação a respeito da inacreditável falta de controle dos pais
da Lydia sobre seus horários, como eu ia dizendo, a mocinha e seu amigo maluco
precisam ir andando. Mas sua partida faz o Príncipe começar a chover de novo.
Oh-oh!
Parece que alguém se apaixonou.
Espero
não termos um repeteco do filme, com um fantasma tresloucado, querendo desposar
a mocinha viva.
Aliás,
o melhor papel da carreira da Winona Ryder. Num dos piores filmes do Tim
Burton.
Piores,
no bom sentido. Mesmo seus filmes ruins, conseguem ser melhores do que muito
filme “bom” de outros diretores.
Naquela
noite, assim que se deitou para descansar em paz em seu caixão, Beetlejuice
recebeu a visita dos guardas do Príncipe, com ordens para levá-lo ao seu palácio
imediatamente.
Claro
que Beetlejuice não fazia ideia de qual travessura havia irritado o Príncipe
Vince, a ponto de mandar tirá-lo da cama no meio da noite. Talvez tenha sido a
maçaneta monstruosa que ele vendeu ao porteiro Real, que tranca a porta quando
deve abrir, e abre a porta quando deve trancar. Ou quem sabe ele tenha se
enfurecido por ter arremessado um elefante em cima do cozinheiro Real, porque
isso deve ter causado um atraso gigantesco no jantar. Ou vai ver ele não gostou
foi do monstro fedorento que ele soltou embaixo da cama do Príncipe...
Não
sei vocês, mas essa história me lembrou a vez em que a Chiquinha ficou tentando
adivinhar por qual travessura a Dona Florinda foi reclamar com o Seu Madruga, e
saiu confessando os pecados, sem saber que ela só queria convidá-la para a
festa de aniversário do Quico...
Enfim,
aqui também o Príncipe não estava nem um pouco interessado no fato de
Beetlejuice ter trapaceado e possivelmente ferido metade dos funcionários do
castelo com suas palhaçadas. O caso é que ele estava interessado em conhecer
melhor a amiga de Beetlejuice, e, quem sabe, conquistar o coração dela.
Assim
combinados, Beetlejuice começa a ensinar ao Príncipe os três passos para
conquistar uma garota viva que gosta de lugares mortos. Primeiro, ele deve
comprar um presente bizarro, algo que combine com sua fantasia de Bruxa para o
Halloween, tipo aquele colar de morcego que está na vitrine.
Daí
quando ela vier agradecer o presente, ele terá um bom pretexto para convidá-la
para ver o mais recente lançamento em filmes de monstros de Neitherworld: A
Língua do Monstro Que Comeu Chicago. Ouvi dizer que o livro foi o bicho. Então,
quando estiverem no cinema, ele poderá testar algumas cantadas infalíveis
inventadas por Beetlejuice, como comparar o cabelo dela com uma frigideira
queimada, ou seus olhos com piscinas de água suja infestada de mosquitos, e
também pode experimentar o clássico “meu coração por ti gela como sorvete na
ruela...”.
No
dia seguinte, Beetlejuice convida Lydia para dar uma passadinha em seu muquifo,
onde o Príncipe a espera com um presentinho.
Aliás,
considerando o outro episódio que resenhei, todo mundo só sabe dar joias
bizarras para Lydia nesse desenho. No seu aniversário de amizade com
Beetlejuice ela ganhou um broche de aranha – uma dica bem sutil para ela jogar
seu antigo broche de barata fora.
Assim,
depois de quebrar o gelo, ela aceita o convite do Príncipe para uma sessão de
cinema assustador esta noite. E a menina fica toda eufórica ao saber que
Beetlejuice conseguiu o emprego como Bobo da Corte.
Aqui
entre nós, amiga: é mais fácil conseguir que o Seu Madruga pague o aluguel!
Então,
naquela noite, Lydia tem seu primeiro encontro com um carinha da terra dos pés
juntos. Primeiro um jantarzinho – provavelmente com um cardápio tão “apetitoso”
quanto o que Beetlejuice preparou para o piquenique, e tão digestivo quanto –,
com direito a uma apresentação especial do novo Bobo da Corte, transformando o
Músico Real na nova edição do Drácula violinista.
Em
seguida, os dois vão ao cinema drive-in
para uma sessão dupla de filmes. Primeiro, assistirão a um épico de quatro
horas chamado O Palhaço Chorão – porque o Príncipe aparentemente não entendeu
que Lydia prefere o palhaço assassino de It,
A Coisa do que um dramalhão mexicano –, e depois o novo clássico do horror
que todos estão loucos para assistir, A Língua do Monstro Que Comeu Chicago.
Ao
que tudo indica, o filme foi baseado numa obra do Stephen King. Todo mundo
adorou o livro.
A
propósito, onde estão seus bons modos, Príncipe? Ofereça um lanchinho para sua
amiga durante o filme.
Falando
em coisas bizarras, Beetlejuice decidiu colocar seus dedinhos na sopa que o
cozinheiro Real está preparando para quando o Príncipe regressar com sua
convidada.
No
fim da noite, o Príncipe, como um bom cavalheiro, levou Lydia até a porta para
o seu mundo – que, diferentemente do primeiro episódio de que já falamos, agora
fica suspensa no ar, e não mais no alto da escada da casa de Beetlejuice –, e
aproveitou para lhe fazer os elogios que o Bobo da Corte aconselhou. E como
Lydia gosta de coisas estranhas, ela acredita que o Príncipe tenha um grande
senso de humor.
Este
é o início de uma grande e estranha amizade. O Príncipe corre de volta para o
seu castelo, para escrever no diário o nome da futura Sra. Karloff Jr., com muitos
coraçõezinhos nos pingos dos “is”, e já começa a ensaiar seu pedido de
casamento, crente de que conquistou o coração da mocinha. Enquanto isso, Lydia
compartilha com Beetlejuice as primeiras impressões sobre seu novo amigo Vince.
Sim,
AMIGO. Foi mal, carinha, mas parece que você conquistou cadeira cativa na
Friendzone na Lydia.
A
propósito, ela está ligada que Beetlejuice andou dando umas aulinhas ao
Príncipe sobre como ser engraçado – porque é óbvio que ela reconheceria as
cantadas malucas de seu melhor amigo a quilômetros de distância –, e embora ele
ainda não seja exatamente um Jerry Lewis, está melhorando.
Quem
não gosta nada dessa historinha é o Beetlejuice, que sente que o Príncipe está
querendo substituí-lo como melhor amigo de Lydia.
Caso
alguém não tenha pegado a referência, esse é o nome da atriz que interpretou A Noiva de Frankenstein no filme de 1935. Já falei um pouquinho dele aqui, e
tenho planos de escrever uma review em breve – o que, no meu calendário, pode
significar em algum momento nos próximos dez ou quinze anos.
Retomando...
Por puro recalque, Beetlejuice decidiu transformar os balões em forma de
coração que o Príncipe mandou soltar para Lydia durante o próximo encontro em
fogos de artifício. Só que esse tiro acabou saindo pela culatra, pois Lydia
gostou muito mais dos balões depois de vê-los explodir.
E
o relacionamento dos dois está ficando cada vez mais sério. Tanto que ela achou
que já era hora de apresentar o Príncipe aos seus velhos amigos, Jacques,
Ginger e o Monstro do Outro Lado da Rua, que ficam muito animados ao serem
convidados para se divertir no castelo dele.
Enquanto
isso, o Bobo da Corte N°1 de Neitherworld está deprimido e sem vontade de
brincar. Sobretudo porque agora, sim, o Príncipe resolveu declarar seus
sentimentos à Lydia, e pedir oficialmente que ela seja sua Princesa.
Saber
que Lydia o quer somente como amigo, faz o Príncipe mergulhar novamente na
depressão. Daí já viu, né? Chuva e trovões tudo de novo...
Avisem
a galera da faxina: deu alagamento na sala do trono!
Mas
Lydia o consola, pedindo que ele pense em como se divertiram juntos, e nos
novos amigos que ele fez, e blá-blá-blá... Porque todos sabemos que é fácil
assim curar um coração partido. Mas como isso é um desenho, e precisa ter um
final feliz, o discurso funciona, e ele finalmente se dá conta de que já não se
sentia tão melancólico desde que começaram a sair juntos. E não há razão para
isso terminar.
Nesse
momento, um criado abre a porta, sem saber que o salão está inundado por causa
da tempestade causada pelo chororô do Príncipe, fazendo toda a água correr para
fora, carregando os novos amigos do Karloff Jr., e também Beetlejuice, que
tinha aproveitado a enchente para dar uma nadadinha.
Pelo
menos agora o Príncipe já se acalmou do siricutico, e até decidiu convidar seus
novos amigos para tomar um refri na lanchonete da esquina.
É,
mas não pense que você vai se safar assim tão fácil desta vez, Beetlejuice. Os
súditos do Príncipe estão furiosos com as suas pegadinhas, e fizeram um abaixo
assinado para que o Príncipe mande atirá-lo aos vermes ou o pendure pelo rabo
no lustre da sala do trono.
E
olha só: o Príncipe Vince caiu na gargalhada com essa travessura do
Beetlejuice!
Pelo
visto, as coisas nunca mais serão as mesmas para o Príncipe Frankenstein de
Neitherworld.
No próximo post, um terapeuta de fantasmas fará tudo ao seu alcance para que um
bando de fantasmas camaradas abandonem uma mansão no Maine. Até lá! *-*
Nossa, muito legal! Esse era um dos meus capítulos preferidos. Lembro perfeitamente do som das batidas na casa do príncipe e ele, em lamúrias: "Lenore..." Já procurei tanto o desenho do Beeltlejuice para baixar, mas não encontro dublado. Bacana saber que alguém lembra desse episódio. Parabéns pelo post.
ResponderExcluirFico muito feliz que tenha gostado.
ExcluirEsse também sempre foi um dos meus desenhos favoritos, e é uma pena que não passe mais em lugar nenhum. Também tenho essa dificuldade de achar por aí pra baixar. De vez em nunca, aparece um episódio no Youtube, mas logo é removido. Uma pena, realmente.
Seja sempre muito bem-vindo ao blog. Em breve postarei mais resenhas de episódios. ;)