Uma História Não Muito Original

em quarta-feira, 17 de outubro de 2018



Quando a série de TV é muito boa – ou, pelo menos, começa muito bem – e a roteirista decide lançar uma série de livros baseada nela, é natural que se crie expectativas elevadas. O problema é que, mesmo quando é escrita pela mesma mão que escreve os roteiros da série, no papel a história sempre pode decepcionar.
Como li The Originals – Ascensão depois de ter lido os Diários de Stefan – que não foram lá essas coisas –, não fui com tanta sede ao pote quanto teria feito antes. Mas a expectativa ainda assim era mais elevada do que em relação a outra série, porque esta era – ao menos supostamente – escrita pela roteirista, e não por uma Ghost Writer que aparentemente não acompanha com assiduidade a série de TV. Esperava que ao menos Julie Plec não tivesse cometido tantas incoerências.
Bem, incoerente, a história não é. O problema é que os personagens dos livros não se parecem muito com os personagens da série de TV.


THE ORIGINALS – ASCENSÃO
Título Original: The Originals #1 – The Rise
Autora: Julie Plec
Editora: Galera Record
Páginas: 224
Gênero: Fantasia

Sinopse:
Inspirado na série televisiva The Originals, spin-off de The Vampire Diaries.
1722. Desde que Elijah, Rebekah e Klaus Mikaelson aportaram em Nova Orleans, a noite já não é mais a mesma. O trio de vampiros Originais acredita ter encontrado no Novo Mundo um refúgio do passado sombrio que o perseguia, mas a cidade está prestes a sofrer grandes transformações em seu cenário sobrenatural.
Outrora dividida por uma guerra sangrenta entre bruxos e lobisomens, parece que Nova Orleans finalmente encontrará a paz com o casamento entre um membro de cada raça.
A linda e misteriosa Vivianne Lescheres, bruxa e filha de lobisomem, é a chave dessa aliança, que ameaça a permanência dos três irmãos vampiros, até então apenas tolerados pelos grupos rivais. Mas o pior acaba acontecendo: a jovem noiva atrai a atenção de Klaus. Completamente seduzido, o mais novo dos Mikaelson não permitirá que nenhum obstáculo se interponha entre ele e a deslumbrante bruxa. Nem mesmo a perspectiva de derramamento de sangue servirá como empecilho à sua tentativa de impedir esse casamento que considera um erro.
Enquanto Elijah procura por uma residência na qual possa enfim se estabelecer com os irmãos, o plano de Rebekah de seduzir o capitão do batalhão francês de Nova Orleans volta-se contra ela quando a vampira se vê nutrindo sentimentos inesperados por sua vítima. E o amor irascível e volátil de Klaus pode colocar tudo a perder.
Lutando por segurança, lar e amor, os Originais devem unir forças para não despertar a ira de uma rivalidade milenar... ou Nova Orleans mais uma vez se tornará palco para o lendário conflito entre bruxos, vampiros e lobisomens.
EEEEE


Veja bem, todo mundo que acompanhou The Vampire Diaries e The Originas está careca de saber que Klaus não é o diabo que todo mundo pinta, e que seu temperamento violento não passa de uma fachada para encobrir suas inseguranças. Desde cedo ele conviveu com o ódio de Mikael por não ser seu filho biológico, foi caçado pelo homem que ele cresceu acreditando ser seu pai, e depois disso não soube mais em quem confiar. Se Klaus é neurótico e narcisista, deve isso a Mikael. Mas sempre ficou claro que Klaus tem um lado generoso e protetor, e que ele é perfeitamente capaz de matar ou morrer – principalmente matar – para garantir a segurança de sua família, de seus irmãos, e, mais recentemente, de sua filha.
O Klaus mostrado nos livros não é tão diferente do vampiro que vimos na série, exceto que ele demonstra certa ingenuidade quando permite que certa mocinha o seduza...
Rebekah, sua irmãzinha impulsiva, uma romântica incorrigível, não nos convence com os mil anos que tem. Se na série, Rebekah é ingênua quando está apaixonada, aqui aparentemente possui uma chave automática que desliga seu cérebro quando o coração está falando. Mais do que na série, onde ela ainda é mais ou menos capaz de enxergar quando tem alguma coisa errada, que pode ferir seus irmãos.
Apenas Elijah não deu muitas mostras de desconstrução, mas seu personagem teve o menor destaque dentre os Originais. Mais ou menos como na série, ele foi o café com leite da história.
Julie Plec parece ter alguma dificuldade em conservar a personalidade dos cidadãos de Nova Orleans, por isso, muitas atitudes de diversos personagens nos “enganam” ao longo da narrativa.
A história começa numa noite de festa, dez anos após a chegada dos Mikaelson a Nova Orleans: as bruxas e os lobisomens – então facções rivais – decidiram selar a paz com o noivado de Armand Navarro, filho do líder dos lobisomens, com Vivianne Leschere, metade bruxa, metade lobisomem. Os Originais, sabendo que uma aliança entre os dois clãs fará com que ambos voltem suas atenções aos vampiros, decidem se adiantar para evitar uma possível guerra – ou, ao menos, para equilibrar as ações.
Nesse ponto o trio se separa e começa a tecer a trama do livro.
Klaus se ocupa em seduzir Vivianne, uma mocinha de personalidade extremamente controversa. A princípio, ela se mostra determinada, forte, e completamente consciente de quem está ao seu redor, de seus atos e das consequências deles – uma heroína que está pronta para lutar ao lado de seu cavaleiro, sem precisar ser defendida por ele. Em seguida, porém, e sem qualquer aviso, essa máscara desaparece, e ela se revela frágil, confusa, submissa e facilmente influenciável – ou seja, uma mocinha de novela mexicana. Tinha simpatizado com a primeira versão de Vivianne, até Julie Plec jogar uma protagonista promissora pela janela ao desconstruir sua força. Mas Vivianne não se deixa somente enredar pelo charme do Vampiro Original; ela se permite apaixonar-se por ele no centro do conflito em que sua família a coloca como fiel da balança e oferta de paz para os lobisomens. Sim, a trama em si poderia realmente bagunçar a cabeça de uma mocinha do século XVIII; o problema é que até Klaus aparecer em sua vida, ela parecia muito segura do que estava fazendo e de onde estava se metendo. Ela não dava mostras de estar sendo manipulada; parecia, ao contrário, ter total controle sobre a situação. Contudo, no momento em que Klaus entra em sua vida, o mundo desaba sobre Vivianne, e ela começa a questionar suas escolhas, o destino imposto por sua família, o casamento indesejado, a vida que ela não escolheu – algo que ela devia ter questionado antes, se estivesse realmente preocupada. Que eu saiba, lobisomens não têm o poder de hipnotizar pessoas; nem os vampiros são capazes de hipnotizar uma bruxa; nada explica seu suposto estado de alienação anterior, de que Klaus supostamente provocou o despertar. É uma trama que não convence.
Enquanto isso, Rebekah busca aliados no exército francês, que tem uma guarnição acampada nos arredores da cidade. Um dos termos do acordo de paz que fizeram com os bruxos e os lobisomens ao chegarem à cidade impede que os Originais criem novos vampiros em Nova Orleans, então Rebekah decide seduzir e controlar os soldados franceses para que lutem ao lado dos vampiros e morram em seu lugar numa eventual guerra. Ela só não esperava encontrar entre os soldados um obstinado caçador de vampiros, que, felizmente para ela, não tem lá muito conhecimento sobre a espécie, deixando-se guiar principalmente pelas lendas. Pela parte equivocada das lendas, para ser mais exata. Mas todos sabemos que Rebekah é uma mocinha ingênua, que não aprendeu nada em seus mil anos de existência, então, basta que o charmoso Capitão do exército francês comece a cortejá-la para que ela decida ignorar a ameaça que a descoberta do arsenal anti-vampiros no acampamento deveria significar, e se desvie completamente do objetivo de sua missão.
O que, felizmente, não acontece com Elijah. Enquanto seus irmãos deixam seus corações livres, leves e soltos para aprontar em Nova Orleans, Elijah vai em busca de um lar para sua família. Desde que chegaram à cidade, sua presença causou tanta inquietação e desconfiança, que eles acabaram relegados a hotéis. Mas depois de dez anos era de se esperar que os clãs tivessem percebido que eles estão dispostos a cumprir rigorosamente os termos do pacto e manter a política da boa vizinhança. E com o fim da briga entre bruxas e lobisomens, Elijah se dá conta de que precisam de um Quartel General bem protegido, para o caso de os recém amiguinhos decidirem procurar um inimigo em comum para perturbar.
Um feliz acaso acaba fazendo com que Elijah herde o sítio de um velho que ele ajudara a transportar barris para um porão secreto no jardim. Todavia, ao negociar com uma bruxa aliada um feitiço de proteção para evitar que seus inimigos sobrenaturais tenham acesso ao local, Elijah descobre que seu benfeitor, que se suicidou na mesma noite, era um lobisomem nunca ativado, por isso precisam do sangue de um lobisomem para o feitiço.
Eis a confusão: arrancar sangue de um lobisomem durante a lua cheia, enquanto eles tentam convencer Vivianne a se transformar, deixando Klaus muito puto!
A boa notícia é que o feitiço funciona. A má é que isso custou uma noite horrorosa ao vampiro mais moralista do clã, que precisou de um longo repouso para se recuperar do envenenamento por mordidas de lobisomens; e mais tarde, também custaria o coração de Klaus – não literalmente, claro.
O desfecho de seu romance com Vivianne é óbvio, uma vez que ela nunca apareceu na série. A surpresa fica por conta de uma falha na comunicação e uma ingenuidade monstruosa, que acabam por selar o destino da mocinha.
Ascensão, por assim dizer, conta a história de como os Originais conseguiram seu pedaço de chão em Nova Orleans, e o preço alto que pagaram por ele. Recuperado das lesões causadas pelos lobisomens, Elijah agora terá que recolher os cacos dos corações partidos de seus irmãos para seguir em frente, pois Rebekah, que, estranhamente, tinha até o apoio dos irmãos dessa vez para partir em busca da felicidade, não conseguiu se afastar a tempo da tempestade sobrenatural que as bruxas invocaram para varrer os monstros da cidade, depois que a traição de Vivianne foi descoberta e a trégua foi desfeita.
A história não é completamente horrorosa, não, mas é bem confusa. Como cada capítulo segue um Original diferente, é fácil se perder nos acontecimentos que, no balanço geral, parecem caminhar a passos de tartaruga de um lado, e rápido como um foguete de outro, além da já mencionada inconstância dos personagens. Vou dar um desconto porque, como roteirista, Julie Plec é apenas parcialmente responsável pela composição e manutenção da personalidade de seus personagens. Para falar a verdade, o livro não acrescenta nada à história dos Originais, e até deixa bastante a desejar quando comparado à série. Quem sabe, os volumes seguintes não apaguem essa primeira impressão? Afinal, a esperança – e os vampiros Originais – são os últimos que morrem!

2 comentários:

  1. Jornal Informal

    Não sabia que a série em questão possuísse livros lançados. E fiquei de certo modo animada, porque não sou muito fã de séries. Não tenho paciência mesmo de ficar assistindo séries, conto nos dedos as séries que consegui terminar e nem sei como tive paciência e determinação para tanto. Vampire Diares eu comecei lendo os livros, acredito que parei ainda no quinto (se não me engano) e até que gostei. Estava querendo, após terminar a leitura da série inteira, assistia-la. Mas, acredito que dificilmente terei vontade de tal ato. Mesmo assim, me interessei bem mais pelo livro do que pela série em si. :)

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    Respostas
    1. The Originals eu recomendo que você assista pelo menos a primeira temporada, que foi excelente. Na segunda a série deu uma caída, mas continuou boa.
      The Vampire Diaries a série é bem diferente dos livros, algo bem natural em séries de TV baseadas em livros, mas eu super recomendo assistir, pois foi muito boa. Diria até que a série foi melhor que os livros em si, focando mais nas lendas tradicionais (vampiros, lobisomens, bruxas, etc), e deixou um pouco de lado o folclore japonês que acabou sendo o foco a partir do quinto livro. Eu pretendo postar reviews das oito temporadas da série em breve, mas te recomendo assistir, vale a pena. *-*

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