“O que é mágica? Mágica é
trapaça, é enganação direcionada, feita para entreter”.
É
com essa premissa que nos é apresentada a história de quatro mágicos de rua
que, depois de serem recrutados por um homem misterioso, tornaram-se astros do showbiss e deram um baile no FBI durante
a busca por provas para prendê-los pelo roubo a um banco de Paris, praticado
diante de uma enorme plateia num show em Las Vegas!
Chocante,
né?
Estou
falando de um dos roteiros mais divertidos e criativos que vi nos últimos
tempos. Dirigido pelo francês Louis Leterrier em 2013, Truque de Mestre nos
traz uma história ágil, cheia de truques de mágica – alguns bem manjados, na
verdade –, conduzindo o FBI e o telespectador através de um grande labirinto de
enganação, numa brincadeira de esconde-esconde onde agora você vê... E agora não...
Ao
longo do filme, os personagens nos dão dicas para desvendar seus objetivos, mas
elas, embora lógicas, aparecem no meio de tantas nuances de ilusionismo, que
mesmo quando pensamos que sabemos para onde estão nos levando, na verdade, não
sabemos.
“Os truques não parecem estar
ligados, mas estão. Você deve se perguntar o que estamos fazendo: cem truques
diferentes, ou só ilusão?”.
“Quanto mais perto você olha,
menos você vê”.
E
com isso prendem nossa atenção até um final inesperado – e estão lendo isso de
uma pessoa que raramente se surpreende com o final de alguma história. Eu tenho
tendência a desvendar os finais, por mais absurdos que sejam, com grande
antecipação, mas desta vez, confesso, caí no truque deles: eu olhei muito de perto;
e, como nossos mágicos disseram exaustivamente ao longo do filme, a mágica só
pode ser vista de longe.
Assim
sendo, vamos ao filme:
A
princípio, somos apresentados aos quatro personagens que vão movimentar toda a
trama: os quatro mágicos que passarão o filme inteiro enganando o FBI e o
público, quando eles ainda eram anônimos fazendo apresentações muito mais
insignificantes do que farão unidos.
Primeiro,
conhecemos J. Daniel Atlas – ou Mark Zuckerberg, se preferirem, com menos
dinheiro no bolso, porém, mais ou menos com a mesma engenhosidade –, um mágico
que parece ter na prestidigitação sua atração principal. Apresentando-se na
rua, com um baralho na mão, ele convida uma pessoa na plateia a observar
enquanto ele passa as cartas muito rapidamente, e memorizar uma carta.
Percebendo que passou rápido demais, ele promete mostrá-las mais devagar em
seguida – mas não muito –, e então, quando a garota escolhida na plateia não vê
a carta que memorizou na mão dele quando ele exibe todo o baralho aberto em
leque, ele explica que isso acontece porque ela está vendo muito de perto, e a
mágica só pode ser vista quando se olha mais de longe. Nesse momento, ele lança
todas as cartas para o alto, e, num incrível jogo de luzes, o sete de ouros
aparece desenhado na fachada de um prédio atrás dele.
Não
importa onde você esteja ao assistir esse filme, ou quantas vezes você o
assista, você sempre vai se assombrar porque, ao ver as cartas sendo mostradas
na mão de Daniel Atlas, a única carta que você irá memorizar será também o sete
de ouros. Ele disse à garota que levou para o seu apartamento depois do show –
para fazer alguma mágica bem mais vulgar do que a que apresentou na rua –, que
o truque é secreto, mas envolve subornar o eletricista da torre. E dá para fazer
de 52 jeitos diferentes. Mas eu vou bancar o Morgan Freeman nesse filme e
revelar como esse truque é feito: na verdade, não precisa ser mágico para saber
que, ao passar rapidamente as cartas diante do espectador, ele demora um
milésimo de segundo a mais na carta que ele quer que a pessoa memorize, e é
esse intervalo minimamente maior que fará com que o seu cérebro registre
somente aquela carta. Alguns mágicos mais audaciosos farão isso com três cartas
diferentes na mesma passada, e ainda assim funcionará, porque o registro da
última sempre apagará o registro das anteriores. Fica a dica para quem
quiser impressionar os amigos.
Voltando
ao filme, somos apresentados, em seguida a Merritt McKinney, um mágico que se
denomina mentalista, pois afirma ter a habilidade de ler os pensamentos das
pessoas e hipnotizá-las para que façam o que ele quiser. Em sua primeira
aparição no filme, ele se apresenta para um casal, segurando uma nota de cem
dólares, com a promessa de que, se a mulher conseguir pegá-la, será dela.
Parece dinheiro fácil, não é mesmo? Só que McKinney havia hipnotizado a mulher
previamente para que não tocasse no dinheiro. Então, enquanto a dama paga esse
mico, tentando agarrar o dinheiro na mão dele igual a um cachorro tentando
pegar a carne que gira no espeto através do vidro, McKinney estala os dedos
para que ela pare de se mexer – seguindo outro comando da hipnose –, enquanto
ele adivinha os pensamentos do marido dela, revelando que ele fora para a
Flórida com a irmã dela, numa ocasião em que disse que iria viajar a trabalho.
Mas como seu objetivo ali não era causar uma briga conjugal, e sim entreter uma
plateia, ao estalar novamente os dedos, a esposa esquece tudo o que lhe fora
revelado sobre o marido, e os dois vão embora felizes da vida – exceto por
aquele cheiro de cueca borrada do marido dela, e do fato de mentalmente ele ter
xingado a mãe do mentalista; mas sendo um mentalista, acho que McKinney devia
saber disso.
Então
conhecemos nosso terceiro malandro, Jack Wilder, um punguista que também se
apresenta na rua, prometendo pagar cem dólares a quem desvendar seu truque:
como ele faz para entortar com a mente uma colher roubada de uma lanchonete. O
truque dele realmente não é lá essas coisas, e é facilmente desvendado por um
cara na plateia: que mostra que o rapaz tinha uma colher e um cabo escondidos
na mão, em vez de uma colher inteira. O que ele não sabia, era que o truque era
somente uma distração, pois a vedete daquele mágico de rua era enganar alguém
da plateia com um truque barato, oferecer cem dólares fáceis, e quando o otário
fosse reclamar seu prêmio, estaria tão imerso na conquista da grana e com o ego
tão inflado por ter desmascarado um mágico de araque que nem perceberia quando
esse mesmo mágico fizesse desaparecer sua carteira e seu relógio. Outra
especialidade de Jack Wilder é correr mais do que o público para não ser pego
com os artigos roubados.
E
finalmente, conhecemos a quarta e última integrante da trupe, Henley Reeves – lembram da Becky Bloom? –, uma escapista, especializada em sair de situações
perigosas. Ela se apresenta numa casa de espetáculos para uma grande plateia,
exibindo um truque mortal: ela mergulha num tanque cheio d’água, com as mãos
algemadas e os pés acorrentados, tendo somente um minuto para se soltar e sair
do tanque, pois, vencido esse tempo, piranhas carnívoras serão jogadas na água.
Das
algemas ela se livra facilmente, mas acaba tendo dificuldade com as correntes
dos pés, e começa a sinalizar pedindo socorro. Alguns espectadores tentam
quebrar o vidro, mas ele é blindado. Henley consegue se soltar no último
instante e emergir para a superfície, mas somente tem tempo de tomar um pouco
de ar, pois, como o tempo venceu, as piranhas são lançadas no tanque com ela
ainda dentro d’água.
As
pessoas se alvoroçam, horrorizadas, enquanto a água do tanque tinge de
vermelho, fazendo crer que Henley fora devorada viva, mas, nesse momento, ela
começa a gritar ao fundo da plateia.
Para
alívio e euforia do público, que já começava a twittar o acidente fatal da
ilusionista.
O
que esses quatro mágicos têm em comum? Todos eles foram assistidos por um
misterioso homem de moletom com capuz, e, logo depois do show, todos eles
receberam misteriosas cartas de tarô com uma mensagem convidando-os para irem
até um endereço – um apartamento de subúrbio – numa data específica.
E
como tudo nesse filme está interligado, memorizem bem essas cartas, porque há
um spoiler contido nelas.
E
é no tal apartamento misterioso no subúrbio que todos eles se encontram pela
primeira vez. Exceto pelo Daniel e a Henley, que revelam ter um passado em
comum: eles namoraram na época em que ela era assistente dele, mas
terminaram depois que ele a chamou de gorda – só porque ela não conseguiu
passar por uma abertura muito estreita num de seus truques de mágica. Tsk,
tsk... Esse cara tem muito que aprender sobre as mulheres...
Eles
ficam no corredor aguardando a aparição mágica de alguém para entrarem no
apartamento, pois a porta está trancada, até que Jack Wilder chega e diz que a
porta nunca está trancada, revelando outra de suas habilidades: arrombar
fechaduras e cadeados. Fiquei me perguntando se a Henley, que está acostumada a
se livrar de algemas e correntes não poderia já ter feito isso – e sem precisar
de um grampo de cabelo? Vai ver ela estava muito ocupada revivendo sua DR com o
Atlas...
Lá
dentro, eles encontram uma rosa branca, um jarro de água e um bilhete.
Assim
que Henley coloca a rosa na água, a mágica começa: a água trasborda do jarro,
escorre pelo chão, preenchendo o relevo no assoalho, de onde começa a sair
fumaça de gelo seco, e os dispositivos instalados nas paredes projetam
hologramas com diversas plantas de prédios do país inteiro, deixando-os
impressionados.
A
partir de agora, nossos heróis terão que unir suas inteligências e suas
mágicas, e trabalhar juntos, seguindo as ordens de alguém misterioso que
promete incluí-los numa sociedade secreta de mágicos poderosos que não é
revelada ainda.
Não
precisa ser mágico para saber que quem está por trás disso é o cara do moletom.
Mas quem é ele? Será o Houdini? Aguardem!
Um
ano depois, Os Quatro Cavaleiros, como os mágicos são conhecidos agora, se apresentam em
Las Vegas, onde realizam um truque jamais visto antes: eles roubam um Banco bem
diante da plateia.
Para
este feito, eles fazem com que o público escolha alguém na plateia, sorteando
bolinhas nos potes com a letra de setor, número de fileira e assento,
prometendo roubar o Banco onde essa pessoa tem conta.
Alguém
na plateia está prestes a se sentir vingado de todas aquelas taxas exorbitantes
que esses Bancos filhos da mãe adoram nos extorquir.
O
espectador francês é convidado para ir ao palco, onde pedem que ele pegue uma
carta no baralho e assine; em seguida, pedem que ele coloque o capacete de
teletransporte, com o qual é transportado ao interior do cofre de seu Banco em
Paris. Por causa do fuso horário – são 23:00 em Las Vegas, quase 08:00 em
Paris –, o Banco ainda está fechado, mas deve abrir dali a dez minutos.
Forcier
se posiciona no portal, e depois que este é comprimido, ele aparece dentro do
cofre em Paris. Através de uma câmera instalada no capacete, os mágicos exibem
as imagens do interior do cofre num telão para sua plateia em Las Vegas. O
francês se assombra ao estar diante dos três milhões de dólares empilhados
dentro do cofre, e, seguindo as orientações dos mágicos através do fone
instalado no capacete, ele coloca a carta assinada e o canhoto do ingresso do
show dos Quatro Cavaleiros no meio do dinheiro. Em seguida, aperta o botão na
lateral do capacete, que aciona o duto de ar que liga Las Vegas a Paris, sugando
todo o dinheiro, que “chove” sobre a plateia, deixando o público alvoroçado e
satisfeito, e colocando o FBI na cola do grupo, porque o Banco de fato foi
roubado durante o show. Quando os funcionários chegaram naquela manhã,
só encontraram o dois de copas assinado por Forcier e o canhoto do ingresso
dentro do cofre.
Os
Quatro Cavaleiros são presos no hotel Aria, onde, a julgar pela tranquilidade
com que reagiram à prisão, já esperavam pela visita do FBI.
O
agente Dylan Rhodes é designado para investigar o caso – muito a contragosto,
diga-se de passagem –, auxiliado por uma agente francesa enviada pela Interpol,
Alma Dray, que, de imediato, dá mostras de estar ligeiramente deslumbrada com
esse universo dos truques de mágica.
Durante
o interrogatório, os agentes do FBI e da Interpol se dão conta de que o grupo
montou o esquema todo bem armado para confundi-los e deixá-los sem provas para
mantê-los presos.
Para
começar, o francês que foi enviado para esvaziar o cofre em Paris, se revela
inútil na investigação, pois foi hipnotizado durante o show para acreditar que
a mágica é real. E, como desgraça pouca é bobagem ao lidar com mágicos
engraçadinhos, ele foi um dos membros da plateia hipnotizados para acreditar
que faz parte de uma filarmônica. E como já previam que o FBI deduziria que
tudo o que eles faziam era bobagem, usaram “bobagem” como palavra gatilho:
assim que ouve Rhodes pronunciá-la, Forcier começa a tocar um violino invisível
no meio do interrogatório. E como não tem como interromper o efeito da hipnose,
precisam esperar ele concluir os movimentos para prosseguir com as perguntas.
E
bota piora nisso!
Durante
o interrogatório, McKinney fica ressentido porque o FBI jogou na sua cara as
desventuras de seu passado – que ele já foi famoso, fazia inúmeros shows por
todo o país, até o advogado fugir com todo o seu dinheirinho suado –, e começa
a revelar segredos embaraçosos que viu na mente do Agente Fuller, parceiro de
Rhodes na investigação.
Daniel
Atlas também reage com sarcasmo às acusações do FBI, e adverte que, se os
prenderem, estarão assumindo que acreditam na mágica; a imprensa vai ter
assunto, e os agentes do FBI vão parecer mais idiotas do que já parecem. E
comprova isso fazendo Rhodes cair no mais ridículo de todos os truques de
mágica.
Cá
entre nós, FBI: um dos truques mais vulgares dos mágicos é se soltar de
algemas! E é com isso que pretendiam mantê-los presos? Tsk, tsk... Quanta
ingenuidade...
Mais
adiante teremos outros motivos para dar razão ao Daniel Atlas por chamá-los de
idiotas.
Seguindo
o modelo do que tem acontecido exaustivamente no Brasil, apesar da evidência
clara de que eles estão envolvidos no roubo – ainda que não tenham feito, eles
certamente sabem como aconteceu –, o FBI acaba tendo que liberar os Quatro
Cavaleiros por falta de provas.
E
este foi apenas o primeiro olé dos
Cavaleiros em sua empreitada para driblar a justiça americana.
É
uma máxima para atingir o sucesso: conquiste seus amigos, primeiro; depois
conquiste o mundo. Logo após dar início às investigações, o FBI descobre que a
maior parte do público que estava assistindo aos Cavaleiros em Las Vegas eram
figurantes que o milionário Arthur Tressler, seu patrocinador, contratou para
preencher o lugar. Mas havia um espectador ilustre na plateia: Thaddeus
Bradley, uma espécie de Mister M, um ex-mágico que abandonou a carreira – ou
fracassou –, e agora ganha a vida desmistificando os truques de mágica na TV.
Uma ajuda que vem bem a calhar, já que eles precisam descobrir como os Quatro
Cavaleiros roubaram um banco a mais de
dez mil milhas de distância.
E
apesar do ceticismo do agente Rhodes, Bradley parece satisfeito em colaborar;
e, principalmente, parece satisfeito em poder ser mais um a tirar sarro da
incompetência do FBI nesse filme.
A
princípio, antes de consentir em desmistificar o truque para eles, Bradley
traça um paralelo com Lionel Shrike, segundo ele, um mágico medíocre, um tolo
que tentou fazer fama nos anos 70. Bradley o desmascarou, e um ano depois ele
tentou a volta aos palcos se trancando num cofre que seria jogado no East
River, e não conseguiu sair. O cofre nunca foi encontrado.
O
que Bradley quis demonstrar contando essa história triste, é que Shrike tentou
algo para o que não estava preparado, já dando um alerta ao FBI, de que estão
prestes a se tornarem um joguete nas mãos dos mágicos, que vão usá-los para se
promover; e se continuarem com essa prepotência, vão cair na armadilha deles.
Então,
para começar a revelar a mágica dos Quatro Cavaleiros, Bradley leva o agente
Rhodes e a agente Dray à “cena do crime” – neste caso, ao lugar onde estavam os
suspeitos quando cometeram o crime – o palco da casa de espetáculos onde se
apresentaram em Las Vegas.
E
começa sua explicação pelo básico: quando os mágicos dizem que é ali onde a
mágica acontece, na verdade, tudo está sendo feito em outro lugar. Desvio de
atenção é o conceito básico da mágica. E, para demonstrar exatamente como os
Cavaleiros roubaram o banco em Paris, ele pede que Rhodes coloque o capacete de
teletransporte, para que ele possa enviá-lo à cena do crime. Dylan acha que
aquilo tudo é besteira, mas como está interessado em saber onde Bradley quer
chegar, se submete: coloca o capacete e se posiciona no portal por onde os
Cavaleiros supostamente enviaram o francês à Paris.
Como
num passe de mágica, o agente Rhodes desaparece do palco e aparece dentro do
cofre do Credit Republicain de Paris. Mas não fica lá sozinho por muito tempo.
Logo é seguido por Bradley e Alma Dray, que preferiram usar a escada até Paris.
O
cofre onde eles estão agora é cenográfico, uma réplica exata do cofre de Paris.
Os Cavaleiros já sabiam qual era o Banco do cara que seria escolhido na
plateia, porque, na verdade, ele não foi escolhido; também não foi plantado,
para ludibriar o público; ele foi usado! Nos dias que antecederam o show, eles
o estudaram, manipularam, plantaram na cabeça dele o desejo de ir à Las Vegas
assistir ao show, e lá eles o hipnotizaram para que colaborasse com tudo.
É
claro que eles não roubaram, de fato, o Banco em Paris, lá do palco em Las
Vegas. Mas isso não significa que não tenham roubado o dinheiro! O palpite de
Bradley é que eles roubaram um carro forte que continha uma remessa que seria
encaminhada à Paris, o que, é claro, é tão difícil de roubar quanto o Banco; a
não ser que já esteja dentro.
Segundo
Bradley, ao contrário do que os Bancos querem que acreditem, os homens que
dirigem esses carros fortes não são exatamente gênios, então, para os
Cavaleiros, que se valem de um mestre hipnotizador no bando, foi fácil demais:
só tiveram que tirar os motoristas do caminho, transferir os três milhões de
dólares para outro carro, e substitui-lo por dinheiro falso no carro forte,
deixando junto com ele a carta assinada por Forcier e o ingresso do show de Las
Vegas. E, para que o dinheiro falso desaparecesse do cofre na noite do show,
eles usaram nitrato de celulose, algo que os mágicos usam o tempo todo, pois
não faz fumaça, nem deixa resíduo.
Agora
a próxima aventura dos mágicos será em Nova Orleans. Os noticiários dão atenção
especial a esse evento, pois, dois dias atrás ninguém os conhecia, e agora o
show esgotou em 24 horas.
Com
um brinde desses, até eu iria querer assistir ao show. Sobretudo com a cotação
atual do dólar...
Enquanto
voam para Nova Orleans, para acompanhar de perto o próximo truque – ou crime? –
dos Quatro Cavaleiros, Rhodes e Dray debatem a respeito de mágicos: ela pratica
com ele alguns truquezinhos que aprendeu a fazer com cartas de baralho, e ele,
apesar de não se incomodar com a mágica tola dela, e de não ter nada contra
mágicos especificamente, alega que odeia gente que explora pessoas, tirando
vantagem de suas fraquezas, e do que acreditam. E, convenhamos, ninguém no
lugar dele ficaria muito receptivo a ilusionistas de qualquer espécie depois de
ter sido algemado por um mágico dentro da sala de interrogatórios do FBI. Principalmente
diante de uma novata designada pela Interpol...
Enquanto
isso, em um voo particular também a caminho de Nova Orleans, os Quatro
Cavaleiros se divertem brincando de mentalistas, e tentando ler as mentes uns dos
outros. McKinney usa suas habilidades de mentalista para passar uma cantada
barata em Henley, que o rechaça, e Daniel, aparentemente com ciúme, afirma que
o que McKinney faz é só leitura dos olhos e da linguagem corporal, algo que
qualquer um pode fazer. E, Tressler, o patrocinador, supondo ser o mais difícil
de ler a bordo da aeronave, se oferece como cobaia para o experimento do líder
de sua trupe mágica.
Basicamente,
o que Daniel faz nessa cena é somente puxar o saco de seu patrocinador, dizendo
que ele deve ter sido uma criança durona, um malandro, e que teve um cachorro
durão e selvagem, provavelmente um buldogue; ao que Tressler corrige, dizendo
que, na verdade, quando criança ele era pequeno e meio fofo, e que teve um
gatinho chamado Fofucho. Mas Daniel não se dá por vencido, e, mesmo tendo
errado tudo no início, arrisca mais um palpite, dizendo que Tressler deve ter
tido um tio por parte de mãe com um nome muito masculino, tipo Paul Thompson. E
tenta conferir se acertou pelo menos o primeiro nome; mas, novamente, errou
tudo, pois o nome do tio de Tressler era Cashman Armtage.
Uma
coisa que Tressler deveria ter imaginado ao lidar com mágicos trapaceiros que
roubam Bancos do outro lado do oceano, é que esses caras não dão ponto sem nó!
Por
causa das pessoas que se deslocaram para assistir à segunda apresentação dos
Quatro Cavaleiros, o FBI teve dificuldade para encontrar hospedagem em Nova
Orleans. Felizmente para eles, descobriram que ter em sua comitiva uma certa
agente francesa da Interpol era uma vantagem no French Quarter. Então, depois
de conseguirem um apartamento na cidade, eles voltaram a debater sobre os
mágicos e como descobrir seus próximos passos. O FBI descobriu que Atlas é
extremamente controlador, e fez os Cavaleiros usarem braceletes com
rastreadores, para mantê-los na linha, cujo sinal eles podem interceptar.
E
como Rhodes continua tentando ser lógico, e a maior missão de Dray na América
parece ser convencê-lo de que a mágica pode ser real, ela lhe apresenta uma
metáfora, falando da Pont des Arts, em Paris, onde as pessoas vão para fazer
pedidos, penduram cadeados na ponte, e depois jogam a chave no Sena. Assim,
seus segredos ficam trancados para sempre. É verdade, mas ao mesmo tempo,
mágico.
E
como Dylan continua se lixando para tudo isso, ela abandona os rodeios, e
apresenta mais um capítulo da história de Lionel Shrike: certa vez, durante uma
apresentação no Central Park, ele fez um cara pegar uma carta e marcar. Mais
tarde, quando cortaram uma árvore que estava lá há vinte anos, dentro dela
estava a carta, assinada pelo cara, lacrada num vidro. Rhodes não se interessa
muito em saber como ele fez isso, mas sabe que deve haver uma explicação
lógica. Que é a seguinte: quando tinha 14 anos, Shrike viu um buraco numa
árvore no Central Park, e pediu para um cara que trabalhava no carrossel
assinar uma carta. Dezoito anos depois, quando o cara já estava aposentado,
Shrike pediu que ele assinasse outra carta em seu show, e voilà! A carta já
estava lá.
Agora
que sabemos o porquê de Shrike estar sendo mencionado a todo momento nesse
filme – pois ele pregava essa filosofia de que, na mágica, quanto mais perto
você olha, menos você vê, que os Quatro Cavaleiros parecem aplicar –, ela
coloca mais uma pulguinha atrás da orelha de Rhodes, fazendo-o recordar algo
que Bradley havia dito: depois que Shrike se afogou, nunca encontraram o corpo.
Rhodes não compreende o que ela quer dizer, mas, como ele mesmo já cogitava a
possibilidade de existir um Quinto Cavaleiro no bando dos mágicos, controlando
tudo nos bastidores, tudo indica que ela apontava Shrike como uma pista para
desvendar quem era essa pessoa por trás dos Quatro Cavaleiros.
Enquanto
isso, Thaddeus Bradley grava uma chamada para o seu programa “A Mágica
Revelada”, citando uma sociedade secreta nascida no Antigo Egito, chamada O
Olho. Eles roubavam comida dos faraós para dar aos escravos, e seu objetivo era
usar mágica e ilusionismo para equilibrar a justiça.
Então,
como bom apresentador de programas sensacionalistas, ele lança algumas questões
ao público: serão os Cavaleiros uma nova geração deles? Conseguirão escapar da
justiça?
E
nesse momento recebe a visita do patrocinador dos Cavaleiros, Arthur Tressler,
com uma proposta indecente quentinha especialmente para ele: segundo sua
pesquisa, Bradley pode ganhar dois milhões de dólares, no máximo, com seu
melhor programa; então, ele oferece US$ 3,5 milhões para ele desistir de
desmascarar os Quatro Cavaleiros. E como sabe que os patrocinadores de Bradley
não ficarão muito felizes se ele desistir agora, coloca seu jato à disposição
para ele sumir do mapa, mas Bradley não aceita. Aquilo é, sem dúvida, um
impasse, pois são dois homens que tem muito a ganhar e também a perder com
aqueles mágicos, mas estão em lados opostos da balança: Tressler ganha com o
sucesso deles; Bradley, com o fracasso.
Bradley
não se intimida, e afirma que já fora ameaçado antes.
Longe
de mim desrespeitar a crença de alguém, mas essas mãos são galhos de árvores ou
garras de um extraterrestre? A coisa tá enrolada num casulo?
Enfim... De
volta ao filme, quer melhor cenário para se testar superstições, profecias e
apostas do que Nova Orleans? Uma cidade que respira o sobrenatural, e, seja dia
ou seja noite, exibe sempre uma atmosfera mágica.
A
segunda apresentação dos Quatro Cavaleiros começa com truques bem vulgares,
como colocar um coelho numa caixa vazia, dizer a palavra mágica – a propósito, é
Abracadabra, Dylan! –, em seguida sacudir a varinha mágica sem nenhum motivo, e
assim, fazer o coelhinho desaparecer da caixa. E nesse momento eles pegam
emprestada a função de Bradley nesse filme, e desvendam diante da plateia como
esse truque foi feito: o coelho está vivo e bem, escondido num compartimento
secreto na caixa, atrás de um espelho que faz a caixa parecer totalmente vazia.
O
que isso tem de extraordinário? Nesse momento, nada. Mas, aguardem! Como já
falei lá atrás, esses caras não dão ponto sem nó! E certamente não fizeram isso
só para decepcionar quem esperava um truque mais engenhoso da parte deles.
Depois,
McKinney hipnotiza doze pessoas para acreditarem que estão participando de um
jogo de futebol americano; e antes de o show acabar, eles devem pegar o Quarterback.
Ele será o cara que disser a palavra “parados”. Não precisa de muito esforço
para saber onde isso vai dar, mas como essa cena acontece no meio de outros
truques do grupo, à primeira vista, pode até passar meio despercebida. Em
seguida, todos voltam aos seus lugares.
O
bando ainda apresenta outros truques de menor importância, e praticamente sem
relevância para a história, como Wilder fazer uma pessoa pegar um curinga com
um lápis na plateia, e cortar outro lápis no meio com uma carta arremessada; e
colocar a Henley para flutuar numa bolha de sabão gigante sobre a plateia, até
a bolha estourar e ela cair no palco, nos braços de seu ex-namorado Daniel
Atlas.
Tudo
bobagem. Pois o mais importante nessa apresentação era o Grand Finale! No intervalo do show eles pediram que a plateia
escrevesse o saldo atual de suas contas bancárias e o fechasse num envelope.
Agora, McKinney pede que as pessoas gritem seus nomes, e ele repete os que
consegue assimilar. Depois, pedindo que a pessoa escolhida conte até dez, ele
vai adivinhando o saldo de sua conta pausando a contagem. O valor que ele
adivinha está correto – quer dizer, bate com os valores que as pessoas
escreveram –, mas ele alega que todos ali estão enganados, pois o saldo que
eles acreditam que têm, não é seu saldo verdadeiro. Então ele pede que as
pessoas peguem as lanternas que eles deixaram embaixo dos assentos, e usem para
esquentar os papéis para que revelem seu saldo correto.
E
como não queriam que ninguém ficasse de fora, eles tomaram a liberdade de
preencher o saldo de seu patrocinador Arthur Tressler numa folha de papel
enorme – afinal, o saldo dele ultrapassa cento e quarenta milhões de dólares –,
que será esquentado por Wilder com um refletor.
À
medida que esquentam o saldo de Tressler – que também está errado, como todos
os outros –, os valores que diminuem na conta dele, são creditados nas contas
das pessoas na plateia.
Tressler
leva tudo na brincadeira, achando que faz parte do show, até que um cara na
plateia recebe o saldo atualizado de sua conta no celular, e está batendo com o
valor que apareceu magicamente no papel depois de descontar o saldo de
Tressler.
Então
os Cavaleiros revelam que nenhuma daquelas pessoas foi escolhida ao acaso; eles
têm algo em comum: todos eles foram vítimas dos tempos difíceis que atingiram
uma das mais estimadas cidades da América. Perderam carros, casas, negócios,
entes queridos... E todos eles eram segurados pela mesma empresa: Tressler
Seguradora! Mas eles foram enganados, roubados por aquela empresa, que não cumpriu
o prometido. Então Tressler percebe que caíra numa armadilha.
O
FBI envia uma mensagem a Rhodes na plateia, confirmando que a situação é real:
os Cavaleiros roubaram Tressler. Então o agente entra em ação para tentar
impedir a fuga dos criminosos.
Eu
falei que esses caras não dão ponto sem nó! Mas se você se surpreendeu com um
truque tão previsível, relaxa! Muita gente também não ligou o nome a pessoa de
primeira ao ver esse filme.
Os
mágicos conseguem escapar do teatro, mas o FBI sai no encalço deles, usando os
rastreadores, e deixando para trás a plateia alvoroçada à procura do
Quarterback. A partir daí começa uma sequência de perseguição que pouco
influencia no contexto da história, mas serve para demonstrar o quanto Daniel
Atlas estava certo ao afirmar, lá no começo do filme, que o FBI se passaria por
idiota, quando Rhodes é cercado por seus agentes na porta do banheiro de um
bar, para só então perceber que esteve perseguindo a si mesmo. Bem, seu
celular, na verdade, que Atlas trocara durante o interrogatório – naquele
momento em que ele “salvou” o celular de Rhodes de ser encharcado pelo
refrigerante de Dray –, por outro aparelho idêntico, com o número clonado e com
uma escuta implantada, através da qual os Cavaleiros ouviram todas as suas
ligações e leram todas as suas mensagens. Foi assim que os mágicos conseguiram
ficar um passo à frente do FBI esse tempo todo.
Quanto
mais idiota melhor, Dylan, querido.
Agora
que sabem que o celular do agente foi trocado, eles rastreiam o verdadeiro, e
pretendem usar a escuta implantada pelos mágicos para conduzi-los a uma
armadilha.
Mas
nada disso impede que a imprensa tire sarro do FBI por serem tão facilmente
enrolados pelos mágicos, e, principalmente, de Dylan Rhodes, por ter sido
publicamente ridicularizado e até atacado no show daquela noite, o que causa um
sério abalo no ego do agente, que tira a noite de folga e vai até um bar encher
a cara de Bourbon, para tentar esquecer a humilhação que passou.
Quando
Alma Dray vai buscá-lo no bar, e precisa dominá-lo e quase quebrar o braço dele
para fazê-lo parar de agir como um idiota, ele vê uma página do caderno de
anotações que cai da bolsa dela, onde há o desenho de um olho misterioso.
Mas
ele fica com a pulga atrás da orelha, e pega o caderno enquanto ela dorme, para
tentar descobrir o que ela anda aprontando. De manhã, depois dos tradicionais
pedidos de desculpas – ele pela grosseria, e ela por quase ter quebrado seu
braço e arrancado sua cabeça –, ele admite que está completamente perdido nesse
caso, decide aceitar a ajuda dela, e lhe dá uma chance para explicar seu ponto
de vista sobre os mágicos.
Então
ela explica a história do Olho, que Bradley mencionou na chamada de seu
programa – provando que os dois estão seguindo a mesma linha de raciocínio.
Segundo ela, o Olho é conhecido há milhares de anos como protetor e defensor da
mágica verdadeira. Candidatos a iniciação devem seguir uma série de comandos em
cega obediência, pois somente dando um salto de fé, seus olhos estarão abertos
aos milagres.
Enquanto
isso, longe dali, Tressler, completamente arruinado, mas ainda cheio de pompa,
muda de lado, e decide pagar Bradley para que desmascare os Cavaleiros.
No
entanto, Bradley avisa de antemão que eles não vão conseguir destruir os
Cavaleiros, pois esse truque foi planejado há muito tempo, e tudo indica que o
que ainda está por vir será realmente incrível. Tressler foi somente uma
distração para eles; uma distração de cento e quarenta milhões de dólares! E o
mesmo ego que o fez se envolver com eles o impediu de ver isso. De fato, ele
devia ter prestado mais atenção às informações que Daniel Atlas tentava "ler na
mente dele". Se tivesse feito isso, ele não estaria agora cento e quarenta
milhões de dólares mais pobre. Caiu como um patinho ingênuo, Sr. Tressler!
Mas
Tressler não é homem de se render, e oferece o dobro do que Bradley vai ganhar
para expor os Quatro Cavaleiros.
Só
para constar: algumas cenas atrás, Tressler disse que sua investigação
demonstrou que Bradley ganharia apenas dois milhões, no máximo, com seu melhor
programa. Agora o cara diz que vai ganhar cinco, e ele não questiona. E está
arruinado! Primeira lição para o novo pobre da praça: pesquise os preços; e
comece a pechinchar! Porque esse malandro está se aproveitando da sua ingenuidade.
Abre o olho!
Os
Quatro Cavaleiros retornam ao apartamento onde se encontraram pela primeira vez
no início do filme, no subúrbio de Nova York, e começam a destruir as provas,
cientes de que o FBI está em seu encalço. E pressentindo sua chegada próxima,
deixam Wilder encarregado de completar a tarefa e distraí-los para que os
outros três possam fugir. Ele está precisamente terminando de queimar a
papelada na lareira quando o FBI invade o apartamento.
Como
ela não tem jurisdição em Nova York, Rhodes manda Alma Dray esperar no carro,
enquanto ele entra para procurar a gangue do David Copperfield. E a partir daí
temos uma sequência de cenas de ação: Wilder se antecipa aos agentes, luta com
o agente Fuller antes da chegada de Rhodes e prende o paletó dele no triturador
da pia da cozinha – com as mangas ainda enroscadas nos braços dele. Depois
ataca Rhodes com brasas da lareira e com cartas de baralho; imita a voz dele no
walkie-talkie, avisando ao resto dos
agentes que está tudo limpo naquele andar, e mandando-os continuarem a busca no
andar de cima, deixando Fuller na espera por ajuda, em tempo de ter as mãos
amputadas. O homem consegue se livrar, mas não alcança Rhodes, que, a esta
altura está seguindo o mágico em fuga através do duto de lixo. E, adivinhem o
que ele encontra lá embaixo, no porão do prédio dos mágicos? O cofre de Lionel
Shrike! Se tinham qualquer dúvida de que esse mágico tão mencionado na história
está envolvido, eis a confirmação: sim, as ações dos Quatro Cavaleiros têm a
ver com Lionel Shrike. Para mais detalhes, aguardem as cenas finais.
Porque
Wilder consegue fugir com o último documento que não teve tempo de destruir,
roubando um carro do FBI! Tsk, tsk... Tomara que na vida real esses caras sejam
mais espertos, porque o FBI nesse filme está parecendo até o meio de campo do
Palmeiras: todo mundo faz de besta! Reação que é bom, nada! Um bando de mágicos
de rua fazendo a maior entidade americana de combate ao crime de gato e sapato!
E a gente reclamando do Brasil...
Enfim...
Como tinha ficado de fora das últimas ações, e já estava cansada de assistir
aos agentes com jurisdição no lugar fazendo besteiras, Alma Dray decidiu vestir
as calças e assumir o controle da situação, desobedecendo à ordem de Rhodes de
não se meter, roubando o carro de um civil, e levando o agente numa perseguição
em alta velocidade pelas ruas de Nova York.
A
sequência de perseguição na Free Way e na ponte se assemelha um pouco à
perseguição pelas ruas de Nova Orleans; é um truque de mágica por si só: agora
você vê; agora não vê mais. Isto porque os agentes vão atrás do que acham que
estão vendo, até perder o garoto momentaneamente de vista diante de um ônibus. Quando
o alcançam novamente, estão perto o bastante para ver quando Wilder perde o
controle do carro, bate na mureta e capota.
Rhodes
corre para tentar salvá-lo, enquanto o carro pega fogo, mas como o garoto está
preso ao cinto de segurança, aparentemente inconsciente, e o carro está prestes
a explodir, ele só tem tempo de salvar o papel que o garoto levava, antes de
sair de perto da zona de impacto da explosão.
Lembram
que eu comentei que havia um spoiler nas cartas de tarô que os Cavaleiros
receberam no começo do filme, quando foram recrutados? Lembram qual era a carta
de Jack Wilder?
Pois
é... Como todo o resto do truque, estava tudo no esquema, como perceberão daqui
a pouco.
E
enquanto o FBI analisa o documento que Wilder morreu tentando proteger, Rhodes
recebe uma ligação de Thaddeus Bradley, querendo colocar mais uma pulguinha
atrás de sua orelha. Para começar ele pergunta se Dylan entende a função de uma
assistente de mágico, ao que o agente supõe, equivocadamente, que seja distrair o
público enquanto o mágico arma o truque, mas Bradley lhe explica em seguida
porque está errado: na verdade, enquanto todos olham o mágico, a adorável
assistente está controlando tudo. Então ele aponta para o fato de a Interpol
ter enviado uma novata para auxiliar num caso tão complexo.
A
princípio Rhodes não parece dar bola para a suspeita de Bradley. Seria mesmo
muito óbvio, não acham? Mas, se vocês se lembram, a primeira lição sobre mágica
nesse filme é: não olhe muito de perto, ou nunca vai ver o truque.
O
FBI não tem dificuldade para averiguar o documento e descobrir porque Wilder
morreu tentando protegê-lo: ao que parece, os mágicos estavam investigando uma
empresa de segurança privada chamada Elkhorn, que estava escondendo meio bilhão
de dólares em taxas sonegadas. O papel que estava com o garoto era um arquivo
confidencial da Elkhorn que estava sendo guardado pelo FBI, cujo servidor eles
invadiram usando os códigos que encontraram no celular roubado de Rhodes. Será
que dá para ser mais incompetente que isso?
E
nesse momento, frustrado por ter levado uma bronca de seu superior, Rhodes
demonstra ter mordido a isca lançada por Bradley, ameaçando a agente francesa
da Interpol, caso ele descubra que ela está envolvida com os mágicos.
Em
seguida eles vão atrás do cofre onde está o dinheiro da Elkhorn, que foi
descoberto num depósito não muito longe dali. Porém, quando chegam lá,
encontram o depósito vazio, e o segurança informa que o cofre foi retirado por ordem do chefe Evans, do FBI, mas ele garante que não deu essa ordem.
Se
até o chefe do FBI foi hipnotizado para acreditar que faz parte de uma
filarmônica, despachar o cofre e esquecer que deu a ordem, então eles estão
realmente perdidos. Chamem a Loucademia de Polícia para cuidar desse caso,
porque pior do que está não fica...
Eles
conseguem deter o caminhão que levará o cofre ao encontro dos mágicos, e armam
um novo plano para pegá-los.
E
o que acontece?
Parece
que eu falei cedo demais. A situação do FBI nesse filme tem a assinatura das
leis de Murphy: nada é tão ruim que não possa piorar!
Mais
uma vez os Quatro Cavaleiros demonstraram estar sempre um passo a frente de
seus perseguidores: desta vez, jogando uma isca para que seguissem, sonhando em
finalmente pegá-los, para então fugirem com o conteúdo do cofre verdadeiro.
Mais uma vez, distração!
E
o Bradley, o que estava fazendo na cena do crime? Segundo ele, seguindo o FBI,
que não estava mais seguindo os mágicos, mas acreditando estar um passo à
frente deles, o que significa que Bradley esteve um passo a frente do FBI o
tempo todo, na cola da turma do Harry Houdini. Confuso? Pois é. E onde eles
foram parar? No local dos ensaios de Lionel Shrike. Olha o cara aparecendo na
história de novo! E porque tudo precisa de certa simetria: foi um cofre que os
levou ao, digamos, covil do mágico que morreu trancado num cofre. Irônico, não?
Mas
o que isso tem a ver com os Quatro Cavaleiros? Nada!
E
nada também descreve perfeitamente o
terceiro e último show da trupe em Nova York. Apesar da morte do caçula do
grupo, eles decidiram seguir adiante com o show, mas este não foi, nem de
longe, tão espetacular quanto os anteriores. Tendo o FBI em sua cola, os
mágicos tiveram que improvisar para aparecer sem de fato dar as caras diante da
plateia, onde podiam facilmente ser presos.
A
polícia cercou completamente o local do show – o terraço de um prédio em Nova
York, em cuja fachada foi projetada a imagem dos mágicos, transmitida de algum
lugar muito menor não muito longe dali. E lá, sem realizar truque nenhum – pelo
menos, nada de espetacular –, eles anunciam o fim dos Quatro Cavaleiros, diante
de uma plateia gigantesca que se aglomera para ver suas imagens projetadas na
fachada do prédio. E como sabiam que, com um showzinho mequetrefe desses, o
público iria querer o dinheiro dos ingressos de volta, eles se adiantaram, e,
no único truque realizado nessa apresentação, eles desapareceram fazendo cair
outra chuva de dinheiro sobre a plateia.
Só
que, diferentemente da apresentação em Las Vegas, as cédulas que choveram sobre
a plateia eram falsas. E onde está o dinheiro verdadeiro, que os Cavaleiros
roubaram da Elkhorn, que, por sua vez, roubou da Receita Federal? Recheando o
carro de Thaddeus Bradley!
Assim,
Bradley é levado em cana, e, na hora de ser interrogado por Rhodes dentro da
cela, faz aquela alegação que os policiais “nunca escutaram”:
Rhodes
pede para ficar sozinho com Bradley dentro da cela, enquanto ele explica como a
gravação de seu melhor programa terminou com ele na cadeia.
Ele
começa fazendo Rhodes recordar o truque do coelho escondido na caixa, no
segundo show dos Quatro Cavaleiros, onde a caixa nunca esteve vazia, e diz que
o depósito também não estava. O que eles fizeram foi transformar o depósito
numa caixa de coelho gigante, fazendo-os pensar que estava vazio. Enquanto ele
e o FBI perseguiam os balões, alguém estava roubando o depósito, onde o cofre
verdadeiro ainda estava escondido.
Bradley
explica que Wilder fugiu num carro padrão do FBI, e os levou para a ponte, onde
os Cavaleiros o substituíram por outro igual, que estava preso num guindaste na
parte da frente do ônibus que obstruiu a visão de Rhodes e Dray por alguns
segundos – e que era dirigido por McKinney –, pouco antes do carro do garoto se
chocar contra a mureta. Então Dylan rastejou para o carro em chamas – de
maneira heroica, ele faz questão de acrescentar – para salvar o que ele imagina
ser um cadáver roubado do necrotério.
Então,
Rhodes finalmente demonstra que não é tão inútil quanto pareceu o filme
inteiro, revelando o que averiguou sobre Lionel Shrike e sua conexão com o
caso. O mágico era segurado pela Tressler Seguradora, que, assim como aconteceu
com o público do segundo show, não pagou o combinado à família dele. E o Banco
que tinha a apólice era o Credit Republicain de Paris. Soa familiar?
Mas
o que Bradley tem a ver com isso?
Rhodes
também andou prestando atenção nas informações que a francesinha andou soltando
para ele ao longo da investigação. A lenda diz que O Olho está em todos os
lugares, esperando mágicos realmente grandes se destacarem daqueles que são
medíocres. Bradley sabia disso, porque ele queria ser convidado para entrar no
clube, mas como não teve competência para isso, passou a trabalhar para
frustrar os sonhos de quem tinha potencial para entrar.
Bradley
não dá a mínima para a alfinetada do agente, e prossegue com suas conjecturas,
dizendo que quem está por trás dos Cavaleiros é alguém tão preparado para
perder e sacrificar tudo, que nem chegaria a ser suspeito. Sempre um passo a
frente dele e do FBI, pronto para escapar deles. Quase como se fosse de...
dentro.
Normalmente
eu adivinho o final com bastante antecedência, mas desta vez, eu não esperava
por isso. Tinha considerado o tal do agente Fuller ou o Evans, que poderia
estar fingindo a coisa do violino; a Dray sempre me pareceu óbvia demais, e eu
teria ficado bem desapontada se ela estivesse envolvida nisso; até o próprio
Bradley, manipulando a coisa toda, me passou pela cabeça. Dylan Rhodes foi
surpreendente; o final perfeito!
Agora
é a vez do Dylan tirar sarro do desmistificador de truques, e mostrar que,
enquanto Bradley tirava um barato da cara dele por estar sempre sendo feito de
palhaço pelos mágicos, ele estava, na verdade, controlando tudo.
E
os Quatro Cavaleiros? Que vantagem levaram nisso?
Depois
de terem feito o grande truque de desaparecer em seu último show, eles foram
enviados ao Central Park, onde encontraram o quarto elemento desaparecido do
grupo, Jack Wilder, vivinho da Silva, para receberem sua recompensa, ou
descobrirem que foram usados como marionetes por alguém que só queria roubar
Tressler e complicar a vida do velho Bradley.
Eles
se dirigem à árvore de Shrike, onde a carta ainda está presa no vidro, unem as
cartas de tarô imantadas que receberam no início do filme, elas acendem e
revelam O Olho, que, passado no vidro da carta, aciona o carrossel.
Aliás,
aqui vai uma curiosidade: os Quatro Cavaleiros foram convocados com cartas de
tarô; o baralho de tarô surgiu na França, exatamente onde começou a jornada
desses mágicos criminosos. Coincidência? Será?
Finalmente,
como recompensa por seu trabalho suado e bem-sucedido, Rhodes anuncia que eles
passaram no teste, e os recebe como membros do Olho. Ele só não explica como é
que ele já estava dentro. Também ficamos sem saber que diabo é esse Olho, já
que o filme só mostra os Cavaleiros subindo no carrossel e girando sem parar.
E
então, como aconteceu com Étienne Forcier, somos transportados à Paris. Mas não
ao cofre do Banco, para pegar alguns milhões de dólares livres de impostos; vamos
à Pont des Arts, onde Alma Dray, depois de ter sido dispensada após a suposta
conclusão do caso, lê tranquilamente o jornal numa manhã qualquer, até perceber
que ali há uma página antiga, totalmente dedicada ao trágico acidente que pôs
fim à vida e à carreira de Lionel Shrike.
E
nesse momento, um visitante inesperado senta-se ao seu lado, para esclarecer o
que ficou em aberto. Estava tudo interligado: o Banco que foi roubado pelos
Cavaleiros era o que tinha a apólice da seguradora de Arthur Tressler, que
pagou agora com juros e correção monetária o que tinha se recusado a pagar à
família do mágico. Bradley fez carreira e fortuna destruindo a dos mágicos;
Shrike foi uma de suas vítimas. Agora ele também está destruído. E Elkhorn
começou como fabricante de cofres. Usavam material barato, pulavam as etapas.
Quando chegou ao fundo do rio, o cofre estava deformado. Shrike ficou preso.
Ele era o pai de Dylan Rhodes, que tinha doze anos quando ele morreu. Desde
então, ele planejou cada detalhe de como se vingaria de cada uma daquelas
pessoas e empresas que arruinaram seu pai. Ele só não podia contar com um
detalhe: a francesinha curiosa interessada em truques de mágica e aparentemente
fã de Lionel Shrike, que logo apontou a conexão dele com Os Quatro Cavaleiros.
Agora
a conclusão lógica é que ela leve o caso até o fim e o entregue aos seus
superiores. Felizmente para ele, ela não gosta de conclusões nem de lógica, e
acha que algumas coisas ficam melhores se não forem explicadas. Sem falar que
ela ficou caidinha por ele durante a investigação, e não está nem um pouquinho
inclinada a mandá-lo para a cadeia.
Aliás,
essa é a única coisa que não faz sentido nessa história. Tudo bem que é clichê
nesse tipo de filme o casalzinho acabar desenvolvendo um romance em meio às
ações – se querem exemplos, vejam Sandra Bullock e Keanu Reeves em Velocidade
Máxima; Jason Statham com todas as mocinhas que passaram pela franquia Carga
Explosiva; Tom Cruise e todas as suas companheiras de cena na franquia Missão
Impossível; o agente 007 e todas as Bond Girls, e por aí vai... –, mas Rhodes
passou o filme inteiro zombando de Alma Dray; e ela também passou boa parte do
filme bufando de raiva por causa dele, enquanto tentava iniciá-lo no fascinante
mundo da mágica. Mesmo assim, contrariando toda a lógica, a coisa enveredou
para um romance no final. Posso estar sendo intransigente, mas esse casal não
me convenceu.
Truque
de Mestre – O 2° Ato já foi lançado, e traz Harry Potter de volta ao mundo da
mágica. Mas como esse eu ainda não vi, voltaremos a falar dos Quatro Cavaleiros
em breve. Será que finalmente descobriremos que raio é esse Olho? Será que a
Henley chutará magicamente a bunda do Atlas? Será que os Cavaleiros farão
desaparecer a cicatriz de Harry Potter? Descobriremos no próximo Ato.
Até
lá, ficamos na expectativa. E, se tiver um baralho à mão, pegue uma carta!
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