Eu já tinha dado o ano por
encerrado aqui no blog, mas calhou de me cair às mãos esse desenho, e sempre há
espaço para mais uma boa história natalina, né?
Com uma história simples,
porém, inusitada, cheia de trocadilhos natalinos, Operação Presente é um dos desenhos
mais divertidos sobre o Bom Velhinho que já foram produzidos. Nessa aventura, o
filho mais novo do Papai Noel faz uma confusão danada para conseguir entregar o
presente de uma criança que foi esquecida, antes que termine a noite de Natal.
Então, com vocês:
Primeiro vemos uma menininha
muito fofa correndo para colocar uma carta no correio. E como este é um desenho
natalino, adivinhe para quem ela escreveu?
Dá para perceber que é uma
menininha curiosa, esperta e adorável. E nem se deparou com aquela eterna
dúvida do Chaves, se bicicleta se escreve com “c” de “cego” ou “s” de “sonso”.
Naturalmente, a educação nas escolas inglesas é muito boa.
A carta dela foi lida pelo
filho mais novo do Papai Noel, Arthur, responsável pelo Departamento de Cartas
– ele foi transferido da Manutenção depois que tropeçou numa tomada, e quase
derreteu o alojamento dos Elfos. Alguns perderam tudo naquela inundação; por aí
vocês já imaginam como é a figura –, e ele achou graça do desenho que Gwen fez
do Papai Noel, decidindo responder à carta dela, dizendo que enviará a
bicicletinha rosa, e pedindo que ela continue acreditando no Papai Noel.
Aparentemente, Arthur –
Estabanado Noel, como gosto de chamá-lo – seleciona as melhores cartas que
recebem para decorar as paredes de sua pequena sala de trabalho, e a de Gwen,
com aquele desenho divertido foi uma das escolhidas este ano.
Guardem essa informação,
porque será importante mais adiante.
Eis que chega a noite de
Natal, quando uma grande sombra recobre as cidades.
Porque, como Gwen observou, a
alta taxa de crescimento populacional obrigou o Bom Velhinho a dinamizar a
entrega de presentes para conseguir atender toda a demanda numa noite – ou em
duas, considerando que o Japão e boa parte da Ásia fica num fuso horário com
doze horas de diferença daqui, por exemplo. Isso significa que enquanto nos
preparamos para o almoço na véspera de Natal, lá no Japão, o Bom Velhinho já
está invadindo as casas das pessoas pela chaminé – ou pelo duto do
ar-condicionado, ou pela janela, ou pelo ralo do banheiro... Vai saber...
O caso é que agora Papai Noel
efetua as entregas graças a uma grande Operação comandada por seu filho mais
velho e sucessor, Steve, que basicamente transformou os Elfos do Polo Norte em
miniaturas do Tom Cruise, para conseguirem realizar essa Missão Impossível, que
é entregar dois bilhões de presentes numa única noite. Toda a ação é coordenada
e cronometrada para que nada dê errado. Enquanto uns verificam se os pais e as
crianças estão dormindo, outros entram nas casas por qualquer abertura
disponível – inclusive destrancando as portas com michas –, mordem os biscoitos
e as cenouras que as crianças deixam para o Papai Noel – porque algumas parecem
não diferenciar o Bom Velhinho do Coelho da Páscoa –, e esvaziam copos e mais
copos de leite. Ah, e também operam o aparelho medidor de bonzinhos – muitas
vezes trapaceando para elevar a taxa de certas crianças – o que, na minha
opinião é um absurdo, e provavelmente um dos motivos porque a molecada de hoje
em dia não respeita mais ninguém. Cadê o corretivo, gente? A criatura bota fogo
na escola sem precisar se preocupar em entrar para a lista negra do Papai Noel!?
Isso tá muito errado! Cadê a função pedagógica da lenda do Bom Velhinho, que
basicamente consistia em manter a criançada na linha para não correr o risco de
ficar sem presente? Esses Elfos trapaceiros estão estragando nossas crianças, é
o que eu digo.
Enquanto isso, no Quartel
General lá no Polo Norte, Steve coordena toda a Operação, e os Elfos vão
registrando os locais do planeta em que a missão vai sendo completada.
E esta é uma noite
importante, porque é a septuagésima missão do Papai Noel, o que significa que
quando retornar ao Polo Norte ele passará o bastão oficialmente para o filho
mais velho, que passará a cuidar da entrega dos presentes pelos próximos
setenta anos.
E com isso já sabemos que
Papai Noel se aposenta após setenta anos de contribuição para o INSS. É bom que
essa informação não chegue aos ouvidos dos políticos brasileiros...
O interessante é que a única
pessoa animada nessa noite de Natal é o Arthur, que continua respondendo as
cartas das crianças – um trabalho desnecessário, na minha opinião, pois as
crianças saberão que seus pedidos foram atendidos no momento em que acordarem e
encontrarem seus presentes embaixo da árvore. Mas é importante conhecermos esse
lado da personalidade de Arthur, empolgado como pipoca, só para podermos
comparar com a frieza de seu irmão mais velho e futuro Papai Noel, que trata
toda a Operação como um trabalho qualquer, sem qualquer emoção.
De repente...
Oh-oh!
Opa! Sintonizei o canal
errado. Peraí, gente...
Agora, sim. Restauramos nossa
transmissão.
E o problema é pior do que se
pensava, porque tem um Elfo pendurado no teto, outro atrás da cortina, outro no
meio dos ursos de pelúcia, não sei quantos embaixo da cama, e Papai Noel está
deitado no chão, com a cabeça apoiada no brinquedo. E não qualquer brinquedo, o
Kit da Fazendinha Quack-Quack, com doze sons de animais diferentes, incluindo a
canção do Velho McDonald.
O quê? Você não conhece a
canção do Velho McDonald?
Fiz uma paródia com essa
canção no título da review de Alice No País das Maravilhas, de Tim Burton, no
ano passado: O Ronald McDonald Tinha Um Dragão, YA-YA-OH!
Vide cabeção.
Mas como eu ia dizendo, a
criança acordada em questão ia ganhar um troço barulhento, com doze sons de
animais, mais a canção do Velho McDonald, que provavelmente enlouquecerá seus
pais antes do Dia de Reis, fazendo com que eles desejem esganar o Bom Velhinho
por ter enviado aquilo para o filho, e socar o focinho de todas as renas até
ficarem todos vermelhos que nem o nariz do Rudolf... E o Papai Noel estava
nesse momento com a cabeça apoiada em cima do botão que aciona toda a
palhaçada. Se ele se levantar agora, disparará os ruídos de todos os animais do
brinquedo.
Esse papo de entrar pelo passarinho...
Deixa pra lá. Afinal, agora a
coisa ganha um pouco de emoção. Vovô Noel decidiu até estourar uma pipoca para
assistir essa operação de emergência no brinquedo barulhento.
Mas não tem jeito, mesmo
tirando as pilhas, a coisa ainda dispara a bagunça toda. Isso porque a moça do
leite tem energia própria. Ou seja, em cinco segundos a porca vai piar!
Agora só tem um jeito.
Quê isso, Vovô?! Esse é seu
espírito natalino? Eu ia dizer para jogar uma luz na cara do garoto, para dar
tempo do Papai Noel fugir pela janela...
Lamento discordar, meus
caros. Até o fim da noite, vocês descobrirão que esse momento de tensão
provocou um pequeno problema no resultado final da Operação.
Mas por enquanto, vamos
deixar o povo comemorar.
Porque o Papai Noel está de
volta ao Polo Norte, sendo recebido com toda a pompa e circunstância por toda a
população Élfica, numa grande celebração. Afinal, ele realizou a entrega de
dois bilhões de presentes esta noite! O que não seria possível se seu veículo,
a imponente nave S-1 não viajasse a 200 mil quilômetros por hora. E você aí
achando que o Lewis Hamilton era rápido, hein...
Mas na hora de anunciar a
aposentadoria...
O Steve já tinha até
preparado o discurso de posse, encomendado sua roupa vermelha oficial – um novo
modelo desenhado por ninguém menos que Versace, um dos estilistas mais famosos
do mundo –, deixado crescer um cavanhaque sem-vergonha em forma de árvore de
Natal...
E tudo isso para o Papai Noel
chegar em casa e dizer que vai adiar a aposentadoria!?
Pode imaginar a torta de
climão que será servida de sobremesa na ceia dos Noéis, né...
O Arthur tenta suavizar o
choque, propondo um Quiz natalino com perguntas do tipo:
Lembrei das piadas do
Quico...
Quem sabe no Ano Novo alguém ria?
Já que o Quiz não deu certo,
Arthur propõe um jogo de tabuleiro, mas, de novo, o tiro sai pela culatra, e
todo mundo acaba se zangando: primeiro, porque todo mundo queria ficar com a
pecinha do Papai Noel, até que o verdadeiro a requisitou, forçando Steve a ser
a Vela; depois, porque Papai Noel estava trapaceando (!); e ninguém dá a menor
bola para o fato de Mamãe Noel quase ter sido devorada por um urso polar essa
noite – tudo por culpa do Arthur, cujo rabo é muito comprido, e vive esquecendo
de fechar as portas. Sem falar que o povo se recusou a encerrar a discussão
sobre o adiamento da aposentadoria do Papai Noel, o que provavelmente forçará
Steve a puxar o tapete do pai, se quiser herdar seu posto um dia; e o Vovô
ainda desaprova todas aquelas bugigangas tecnológicas que Steve criou para
otimizar o sistema de entregas, alegando que o verdadeiro Natal foi pras
cucuias, e que Steve é só um carteiro metido a besta.
Bons tempos...
E o Vovô conseguiu fazer tudo
sozinho, num trenó coberto de tinta tóxica, e sem toda aquela parafernália que
o Steve inventou. Aquele era o verdadeiro espírito do Natal.
Tudo vai muito bem – quer
dizer, mais ou menos –, até...
Por
volta das cinco da manhã,
Bryony, uma Elfa do Departamento de Embrulhos encontrar um pacote jogado
perto
das esteiras. E, seguindo o protocolo, notificou Steve imediatamente
através do HOHO 3000, um aparelho parecido com um celular, que serve
para
armazenamento de dados, comunicação entre os Elfos, e para gerenciar
toda a
missão.
A boa notícia é que o pacote
parece não ter sofrido nenhum tipo de dano, e encontra-se em perfeito estado de
embrulhamento. A má notícia é que aquilo não deveria estar ali. O presente
deveria ter sido entregue naquela noite, o que significa que UMA CRIANÇA FOI
ESQUECIDA!
O que aconteceu foi o
seguinte, Steve: está lembrado daquele momento tenso em que o Papai Noel estava
com a cabeça em cima do botão barulhento, e o Elfo precisou fazer uma incisão
no passarinho? Pois nesse exato momento, um dos Elfos na central de comando
apoiou a caneca de café num botão. Ele acionou uma alavanca, que empurrou o
brinquedo para fora da esteira na seção de carga.
E quem é que fica desesperado
ao saber do ocorrido?
Isso mesmo: o Arthur!
Papai Noel também lamenta, é
claro, afinal, uma criança, provavelmente boazinha – porque esse tipo de azar
dificilmente pega os diabinhos – ficará sem presente de Natal, mas,
infelizmente, não há nada que se possa fazer. A S-1 acabou de viajar doze
milhões de quilômetros; se a usarem de novo esta noite, sem que ela tenha
passado pela manutenção, ficará danificada, e isso poderia comprometer o Natal
do ano que vem. O sol nasce às 7:39 onde a menina do pedido 47785BXK, Gwen
Hines – lembra dela? – mora. Nunca chegariam lá a tempo sem a S-1. Só lhes
resta enviar a bicicleta pelo correio, que fará a entrega em no máximo cinco
dias. Claro, o encanto será quebrado, mas pelo menos ela não ficará sem
presente.
Mas ele já está com a carta
da Gwen na mão, conferindo o endereço. Agora, a grande questão: como ir do Polo
Norte até a Inglaterra em menos de duas horas horas?
Que, a propósito, já devia
ter sido desmontado e virado lenha, se alguém no Polo Norte ligasse para o que
o Steve diz. Felizmente, como ninguém liga – e o Vovô ameaçou transformar os
Elfos em comida de urso se alguém tocasse em sua Eve –, o trenó continua
intacto, guardado no celeiro, e as renas, tataranetas das oito originais
continuam vivinhas da Silva no estábulo.
Estão esperando o quê, então?
Vão logo entregar o presente da menina!
Para dizer a verdade, Arthur
não fazia questão nenhuma de ir com o Vovô Noel nessa aventura, pois morre de
medo de trenó, de altura, renas, passarinhos, poluição, tempestades, ventanias,
botões... Enfim, o rapaz é um grande bunda mole. Mas o Vovô tem 136 anos, sua
licença para dirigir trenó já foi caçada há muito tempo. De modo que alguém
precisa acompanhá-lo, só para o caso de serem parados por algum guarda de
trânsito...
Além disso, é uma antiga
tradição de família: todos os herdeiros dos Noéis precisam viajar no velho
trenó ao menos uma vez, e eles respeitam essa tradição desde o São Nicolau
original. A única exceção é Steve, é claro, pois ele se acha bom demais para
aquele trenó velho.
E se havia uma boa hora para
um alerta de spoiler, é agora. Mas o filme sinalizou? Claro que não.
Ah, sim... Não tem cinto de
segurança, tá Arthur. SEGUUUURA PEÃÃÃÃÃOOOOO!!!
Espero que saibam para onde
estão indo.
Isso aí é da época em que
Chicago ainda nem estava no mapa!
É sério! Eles debateram sobre
isso.
E assim eles foram se
acidentando, errando o caminho, e destruindo enfeites de Natal pelo mundo
inteiro.
A propósito, há um
clandestino a bordo: Bryony, a Elfa.
E foi assim que eles perderam
uma das renas numa curva.
Ou seja: precisam de uma nova
rena. E como não fazem a menor ideia de onde conseguir uma de verdade, serve
aquele enfeite do letreiro de uma loja perdida no meio do nada.
Mas a menina não deveria
estar dormindo enquanto Papai – no caso, Vovô – Noel faz a entrega?
É, lascou! O sujeito sai para
ver que balbúrdia é essa em seu quintal, dá de cara com um cidadão de cabeça
pontuda, com olhos brilhantes nos pés – as pantufas natalinas que Arthur ganhou
de Natal – empoleirado no telhado, se apropriando indevidamente de seu enfeite
natalino. Mas a criatura garante que vieram em paz, que sua nave precisa dar a
volta ao mundo numa noite, e que eles precisam daquele enfeite. E como o lugar
de onde ele veio não trabalha com dinheiro, não terão como pagar. Então, Feliz
Natal!
E é claro que o sujeito sacou
na hora de quem se tratava.
Quase isso, seu moço.
Felizmente, os “ETs de
Varginha” partiram sem fazer mal nenhum ao pobre coitado. Acho que eles deviam
ter aproveitado o ensejo para pedir informação, afinal, de acordo com aquele
mapa velhíssimo, eles estão mais perdidos que camaleão no show do Restart. E eu
nem sei se o Restart ainda existe...
Espero que não.
A propósito, devia fazer mais
frio na Inglaterra nessa época do ano, não acham? De duas uma: ou é culpa do
aquecimento global, ou eles erraram o caminho...
Adivinhe qual é a alternativa
certa?
Ou vai ver vocês estão na
África. Mais especificamente, Parque Nacional do Serengeti, Tanzânia. E acho
que eu vi um gatinho...
Na verdade, um gatão!
Tipo o seguinte:
Mas aí...
É o seguinte, Vovô, longe de mim fazer fofoca... Mas um Elfo
sem-vergonha foi lá reportar pro Steve que o senhor foi visto no celeiro onde o
velho trenó ficava guardado; daí o seu neto chamou o velho operador de
telégrafo para tentar contactar vocês e mandar dar meia volta, ou ele vai
transformar sua rena de estimação adoentada em pano de chão. Daí quando o Elfo
pra lá de velho enviou a mensagem, ela foi captada pelo trenó, fazendo toda a
algazarra que vocês estão vendo, acordando os leões que vocês tiveram tanto
trabalho para fazer dormir, e por conta disso, vocês estão a segundos de virar
ceia de Natal.
Então, perna pra quem tem!
Os leões tentam subir a
bordo, enquanto o trenó decola, e os Noéis fazem o que podem para jogá-los para
fora. Bryony mostra seu talento de embrulhadora, embrulhando a cabeça de um
leão. Com lacinho e tudo, uma gracinha. A rena do pescoço imobilizado – que
provavelmente é a tataravó de algumas das que estão puxando o trenó nesse
momento –, acorda assustada de seu sono de beleza, ergue a cabeça, e acaba
jogando outro leão para fora do estádio. Daí eles jogam mais pó mágico nas
renas para acelerar a subida, e com isso conseguem colocar algumas zebras,
elefantes e suricatos pra voar...
Para quem já foi confundido
com alienígena esta noite, isso aí é bobagem... Nem vai chamar atenção...
A boa notícia é que ainda dá
tempo de entregar o presente. A má notícia é que a câmera do Vovô quebrou,
então agora ele não poderá tirar a foto que tinha planejado do trenó no
telhado, para esfregar na cara do neto mais velho, que não estava nem aí para a
criança esquecida, que ele foi lá corrigir seu erro.
A outra boa notícia é que
agora eles já têm como saber para onde estão indo, pois Bryony se lembrou de
pegar seu HOHO antes de deixar o Polo Norte, e o treco tem GPS. Século 21 é
outro nível, né...
O problema é que Arthur não é
muito fã de geografia, e quando o GPS mostrou uma lista de cidades chamadas
Trelew, ele clicou na primeira, sem se dar conta de que essa Trelew ficava no
México.
Curiosamente, também havia
uma Av. Mimosa nessa Trelew, e a criança que morava na casa n° 23 também havia
pedido uma bicicleta, que já se encontrava embaixo da árvore, com a etiqueta do
Papai Noel, o que deixou Arthur e Bryony bastante confusos.
Vovô não pegou essa parte da
confusão, porque ele simplesmente se recusou a entrar na casa para fazer a
entrega.
Hum...
Orgulhoso...
Acontece que ele ainda estava
aborrecido por ter quebrado a câmera, e porque ele tomou um esporro do Arthur,
porque ele na verdade não se importava com a criança esquecida, só queria
provar pro Steve que o trabalho à moda antiga era mais eficiente que suas
parafernálias modernas.
E já que o Arthur também é um
Noel, ele decidiu seguir a tradição da família e entrar com a Elfa para deixar
o presente embaixo da árvore. Eles só não contavam que haveria um alarme
instalado na casa; de modo que quando ela entrou pela portinha do gato e
destrancou a porta por dentro, o alarme foi acionado, e só não disparou
imediatamente porque ela o embrulhou. Literalmente.
Mas isso não foi suficiente
para conter a balbúrdia por muito tempo. Então, enquanto eles olhavam de uma
bicicleta embrulhada para a outra, confusos com a situação, os papeis de
presente que Bryony usara para embrulhar o alarme estouraram, e começou a
barulheira.
Daí um cachorrinho minúsculo,
mas metido a valentão, saiu debaixo da cômoda, fazendo o maior escarcéu, e
abocanhando uma das pantufas de Arthur.
Eles conseguiram sair pela
janela antes de serem vistos por algum humano, mas o cachorrinho, coitado,
enfiou a cara no vidro, e ficou choramingando. Daí, como é Natal, Arthur
decidiu deixar uma das pantufas que o bichinho tanto gostou, e o cãozinho
imediatamente começou a mordê-la, abanando o rabinho.
Uma gracinha.
Enquanto eles fugiam da cena
do crime, Steve finalmente se lembrou que seu avô biruta e o irmão pateta
tinham sido acompanhados por uma Elfa intrometida, e arriscou contactá-los
através do HOHO dela. E foi logo comendo o rabo deles por estarem atraindo
tanta atenção. E aproveitou para jogar na cara do avô o que aconteceu da última
vez que ele saiu com aquele trenó, quando provocou um reboliço tão grande que
quase causou a Terceira Guerra Mundial.
E eu adoraria dizer que o
Steve estava exagerando, mas nossos amigos já foram confundidos com alienígenas
esta noite, roubaram um enfeite de Natal, destruíram metade de Pequim, botaram
meia reserva africana pra voar, assanharam os leões, invadiram a casa da
criança errada, e a coisa ainda vai piorar. Muito.
Ao se dar conta de que o pai
também está pouco se lixando para a criança que foi esquecida, Arthur fica
completamente decepcionado. Afinal, Papai Noel deveria ser o homem mais
atencioso do mundo e se importar com cada criança. Em vez disso, ele está lá
roncando, sonhando com a rabanada da Mamãe Noel, e pouco se importando se a
Gwen vai ficar decepcionada ao acordar e não encontrar sua bicicletinha rosa
embaixo da árvore de manhã.
É oficial: às 6:48 da manhã,
o filho do Papai Noel deixou de acreditar em seu pai.
E ainda largou o avô na duna
da amargura, depois que o trenó deu um solavanco, e esqueceu deles na hora de
voar.
Na primeira vez que assisti
esse filme, a julgar pelas dunas, pensei que eles estivessem justamente em Natal (RN).
Mas é Cuba.
Perdidos, sem trenó, sem
esperança de fazer a entrega a tempo, e até mesmo de conseguir voltar para
casa, Arthur joga o outro pé de pantufa na água, e Bryony começa a queimar o
papel de presente da bicicleta para alimentar uma fogueirinha.
Enquanto isso, os Elfos vão
lá fazer fofoca, e perguntar ao Papai Noel se é verdade que uma criança foi
esquecida, e se ele realmente não se importa. Ele até tenta florear a coisa,
usar a porcentagem complicada que Steve criou para justificar o êxito da Operação
desta noite, apesar do brinquedo que não foi entregue, mas os Elfos não engolem
essa conversinha fiada. E se dão conta de que seu trabalho é completamente
inútil, se o Papai Noel não se importa com uma criança que foi esquecida.
Ou seja, numa única noite, o
filho caçula e todos os Elfos do Polo Norte perderam a fé no Bom Velhinho.
Deve ser algum tipo de
recorde.
E isso faz Papai Noel
acordar. Afinal, se o filho mais novo está tão determinado a corrigir seu erro,
o mínimo que ele pode fazer, como detentor do título mais importante do Polo
Norte, é convencer Steve a ajudar. Ainda mais depois de ver as cartas que
Arthur respondeu, e ficar comovido com seu entusiasmo.
E foi justamente uma carta
que reacendeu a animação de Arthur. Quando Bryony pediu para queimar a carta da
Gwen – já que ele tinha milhões iguais àquela –, Arthur viu o desenho ser
jogado na fogueira, e se deu conta de que a menina não desenhara seu pai, ou o
Vovô, nem mesmo Steve; ela desenhara o Papai
Noel. E se eles conseguirem entregar o presente antes do amanhecer, ela
continuará acreditando.
E para deixá-lo ainda mais
animado, o trisavô do Sven recuperou a pantufa que ele jogou no mar.
A determinação era tanta, que
o piradinho decidiu cruzar o Atlântico remando um barco roubado – mais uma
infração da família Noel para a gente anotar nesse Natal. O problema é que só
faltam 37 minutos para o sol nascer na cidade da Gwen; nunca chegarão a tempo
nessa velocidade. Felizmente o Vovô se lembra que estiveram rodando em círculos
a noite toda, e como as renas são burras feito portas, ainda devem estar
andando em círculos, a uma velocidade incalculável, o que significa que logo,
logo elas passarão por ali de novo. Ou seja, Arthur pode usar o pó mágico que
restou para voar com a âncora do barco e prendê-la ao trenó quando ele passar.
Só tem um probleminha nesse
plano: o rapaz tem medo de altura. E de âncoras. E de voar...
E de praticamente tudo,
exceto ler e escrever cartas. Se fosse na época que o Antraz estava na moda,
ele pensaria duas vezes...
O jeito foi pedir para o Vovô
e a Bryony colocarem pilha, para aumentar sua preocupação dele com a Gwen, e com
isso diminuir seu medo de praticamente tudo, para forçá-lo a recuperar o trenó.
Mas o HOHO já era. Na
confusão para puxar o Vovô e a Elfa para bordo, o troço acabou afundando no
Atlântico.
Pelo menos, agora eles
finalmente poderão voar até a Gwen. Isto é, se conseguirem descobrir para que
lado fica a Inglaterra...
Enquanto isso, Papai Noel
decide que já é hora de assumir o controle da situação: pega a S-1 escondido do
filho mais velho, decidido a voar até Trelew com a Mamãe Noel para realizar
pessoalmente a última entrega da noite.
O problema é que ele não sabe
pilotar aquela geringonça.
E o Steve já se deu conta do
que ele pretendia fazer, e correu para defender sua nave, custe o que custar.
E começa a reclamar com o
pai, por ter entrado na pilha do Arthur e enlouquecido com essa história de
criança esquecida, como se as bilhões de entregas que ele ajudou a fazer
naquela noite simplesmente não importassem. Mas o Papai Noel sabe que aquele
buraco é mais embaixo, e que ele está aborrecido porque essa história da Gwen o
fez lembrar da mesa de sinuca que ele nunca recebeu...
Ou seja, ele sabe como a Gwen
vai se sentir amanhã. E não tá nem aí...
Até que Mamãe Noel decide
botar ordem no galinheiro.
E um defunto que fedeu
sabe-se lá há quantos séculos...
Então Steve se rende, e
decide operar pessoalmente a nave para fazer a entrega. Já que a família
inteira faz tanta questão...
Ao ver os Noéis partindo, os
Elfos se desesperam, achando que o Natal não tem mais importância, e por isso
deve ser deletado. O problema é que, ao apertar o botão, o Polo Norte inteiro
começará a derreter.
Todo mundo pirou na batatinha
por causa de UM brinquedo. Será que a coisa ainda pode piorar?
A resposta é: SIM!
Tudo porque, na falta de um
mapa, o Vovô Noel decidiu tentar uma manobra que já era proibida na época dele,
mas esse é um caso de vida ou morte, e esse é o único jeito de localizar a
cidade certa a tempo. Ele distribui máscaras de oxigênio para todos a bordo do
trenó, inclusive as renas, e atravessa a atmosfera para o espaço sideral, para
consultar o maior mapa do mundo: o próprio planeta Terra.
Daí as autoridades que já
pensavam se tratar de uma invasão alienígena, passam a ter certeza disso, e
organizam um contra-ataque.
Vovô embica na descida, larga
o trenó na banguela, e desce em direção à cidade da Gwen. Os humanos já os
viram, sabem que estão prestes a atravessar a atmosfera de volta ao planeta, e
os colocam em seus alvos. E já que perdido por um é perdido por mil, Vovô agora
decide lhes dar um motivo para atacar, camuflando a nave com a forma exata de
um disco-voador. Tem até a figura de um alien estampada embaixo.
E ninguém se tocou que ele
também tinha a forma exata de uma rena!
A propósito, é o trisavô do
Sven quem está pilotando o trenó agora. Resumindo ridiculamente: todas as
outras renas foram pra cucuia.
Vovô, Arthur e Bryony até
começaram a cantar canções natalinas para animar a reninha idosa a continuar
puxando o trenó.
E bem na hora que eles
finalmente avistam a Trelew certa, um caça do exército começa a persegui-los.
Mas já que é a Eve que os
homens querem, é a Eve que eles terão. O Vovô está disposto a sacrificar seu
trenó para levar um feliz Natal à Gwen. Pelo visto, não há espaço para
relíquias no mundo moderno.
Então Vovô começa a disparar
laranjas e bengalas de açúcar contra os caças do exército, para distraí-los
enquanto Arthur e Bryony saltam de paraquedas sobre a Cornualha.
Melhor que a encomenda, eu
diria.
Então Vovô solta a rédea do trisavô
do Sven, e salta no vazio enquanto o trenó é bombardeado.
E o exército é parabenizado
por ter salvo o Natal. Sabe de nada, inocente...
Aliás, se eles ao menos
sonhassem com o que acabaram de destruir, arrancariam cada fio de cabelo,
aposto.
Enquanto isso, Steve veste
sua fantasia de Papai Noel confeccionada pelo Versace – e que, diga-se de
passagem, o deixa com mais aspecto de boiola do que ele já tem –, e desce da
nave para fazer a entrega. E o faz como um carteiro faria: bate na porta, se
desculpa com a suposta criança esquecida, conta que por causa do transtorno
tomou a liberdade de fazer um upgrade em seu pedido para uma bicicleta maior,
portanto melhor, e pede que assine o recibo da entrega...
... e só então se dá conta de
que bateu na casa errada.
Como assim, você não fala
espanhol, Steve? Como diabos vai saber, então, o que as crianças hispânicas
pediram de Natal?
Ah, entendi, você usa o
Google tradutor.
Também conhecido como Arthur.
Enquanto ele tenta se livrar
do ratinho que se sente um cachorro... E o coitado do Pedrinho abre um
berreiro, porque, como é a criança errada, Noel Boiola vai levar a bicicleta de
volta... E Papai e Mamãe Noel se perguntam onde erraram com aquele filho ali...
E Steve admite que não é leva jeito com crianças, mas não vê o que gostar ou
não dos pestinhas tem a ver com ser um bom Papai Noel... Arthur está a um
quilômetro da casa de Gwen, sem trenó, sem rena, mal conseguindo andar depois
de ter se acidentado com o paraquedas, de modo que sua única alternativa é
pedalar a bicicletinha da menina nesse trajeto final.
Algo que não seria tão
difícil, se Bryony não tentasse embrulhar a bicicleta durante o trajeto.
Naturalmente, essa ação
conjunta faz com que Arthur vá tropicando, batendo e se acidentando pra todo
lado no caminho.
Enquanto isso, Vovô Noel achou
outro transporte para substituir seu trenó.
E pelo visto deu uma
passadinha no boteco da esquina... Não que ele já não seja pirado o suficiente
sem precisar de um goró.
O embrulho fica pronto no
exato momento em que chegam ao quintal da Gwen. O problema é que Bryony ficou
entalada na árvore em frente – depois de os dois malucos terem assustado o
coitado de um esquilo que só queria comer sua noz na santa paz. De modo que
Arthur precisará concluir sua entrega sozinho. Mas ele se lembra de levar o
rolo de fita, pois, como ela sempre diz: “sempre
há tempo para um laço”.
E bem agora, o sol começa a
nascer, ameaçando acordar a menininha. Felizmente, a S-1 chega e cobre a cidade
de sombras, dando ao jovem Noel mais uns minutinhos para entregar a bicicleta.
Steve e Papai Noel descem da
nave. Agora todos os Noéis farão a entrega do presente da criança que foi
esquecida. E assistir isso lá no Polo Norte pelas câmeras de monitoramento da
rua faz com que os Elfos pausem o derretimento do QG do Papai Noel, e se
emocionem naqueles minutos finais da noite – tecnicamente manhã – de Natal.
Cada um entra na casa a seu
modo: Arthur pela janela do armário de casacos, Steve destrancando a porta da
frente com um aplicativo de celular que é melhor não cair nas mãos do crime
organizado, Papai Noel pela janela do banheiro, e o Vovô pela chaminé – o único
que optou pelo modo tradicional. E respondendo a pergunta que a Gwen fez lá no
começo do filme: parece que sua chaminé não é estreita demais para o Bom Velhinho.
Nem para o pai dele.
Arthur vai até o quarto da
menina, e coloca um bilhete na meia que está pendurada ao pé da cama, avisando
que o presente dela está embaixo da árvore, e estende a fita como uma trilha
até a sala de estar. Só então ele percebe que sua família inteira está dentro
da casa, e eles imediatamente começam a discutir sobre quem vai terminar a
entrega, cada um tentando tomar a bicicleta das mãos dos outros, até que Papai
Noel resolve a encrenca, decidindo que, já que Arthur se esforçou tanto para
que nenhuma criança fosse esquecida, então caberia a ele a honra de realizar a
entrega.
Assim sendo, Arthur coloca a
bicicleta embaixo da árvore de Natal, dá o lacinho na fita... enquanto o Vovô
doidão cobre a sala inteira de lixo.
Agora todos os Noéis se
amontoam dentro do armário de casacos para assistir Gwen descendo as escadas,
seguindo a fita vermelha, e desembrulhando sua bicicleta.
É... Então... Na hora que
estava dando a última volta com o papel de presente para embrulhar a roda
traseira da bicicleta, e o Arthur voou por cima do galho da árvore, Bryony pode
ter acidentalmente embrulhado o Tico – ou esse aí é o Teco? – junto com a roda
da bicicleta. Fica de brinde, tá, Gwen!
Ao ver a alegria da menina ao
abrir o presente, Papai Noel se vira para Steve, emocionado, e diz ao filho
mais velho que ele merece ser Papai Noel... Mas... está se perguntando se a
Gwen não tem razão...
Então, Steve, vendo a felicidade
estampada no rosto de Arthur por ter feito a alegria daquela criança, faz a
escolha certa, e dá a ele o bonequinho do Papai Noel do jogo de tabuleiro que
jogaram mais cedo naquela noite, quando pensaram ter concluído as entregas, e
diz que se conformará em ser a vela.
Finalmente, depois desse
trabalhão danado, todos os Noéis deixam a casa, e Bryony anuncia aos Elfos pelo
HOHO – outro HOHO, não aquele que afundou no oceano. Esse aí ela deve ter
tirado, sei lá, de dentro do papel de embrulho... Ou do rabo do Sven... – que a
entrega foi concluída.
E olha só a surpresa da Gwen:
quando está saindo para brincar com sua nova bicicletinha – que deu tanto
trabalho aos Noéis naquela noite –, ela dá de cara com Arthur, que se
atrapalhou com os cabos para abordar a S-1, bateu na árvore e acabou enfiando a
cara na neve; de modo que ela e o vê com cabelo e barba brancos e o blusão
vermelho inflado pelo vento, dando na cara que ela está diante do Bom Velhinho
em pessoa – ou do filho dele, que seja...
A menina se emociona com a
visão, mas bem nesse momento, o esquilo pulou por cima do ombro dela, fazendo-a
perder Arthur de vista por um instante, e quando olha de novo, ele já
desapareceu.
Que nem um fantasma.
Então ela sai pedalando
feliz, enquanto os Noéis voltam tranquilamente para o Polo Norte, com a
sensação de dever cumprido.
Acham que a história acabou?
Um ano depois...
E
que 100% dos seus Natais sejam felizes!
HO-HO-HO!
Ótimo desenho
ResponderExcluir