Esse Aí É Filho de Papai Noel!

em domingo, 30 de dezembro de 2018


Eu já tinha dado o ano por encerrado aqui no blog, mas calhou de me cair às mãos esse desenho, e sempre há espaço para mais uma boa história natalina, né?
Com uma história simples, porém, inusitada, cheia de trocadilhos natalinos, Operação Presente é um dos desenhos mais divertidos sobre o Bom Velhinho que já foram produzidos. Nessa aventura, o filho mais novo do Papai Noel faz uma confusão danada para conseguir entregar o presente de uma criança que foi esquecida, antes que termine a noite de Natal.
Então, com vocês:
Primeiro vemos uma menininha muito fofa correndo para colocar uma carta no correio. E como este é um desenho natalino, adivinhe para quem ela escreveu?
Dá para perceber que é uma menininha curiosa, esperta e adorável. E nem se deparou com aquela eterna dúvida do Chaves, se bicicleta se escreve com “c” de “cego” ou “s” de “sonso”. Naturalmente, a educação nas escolas inglesas é muito boa.
A carta dela foi lida pelo filho mais novo do Papai Noel, Arthur, responsável pelo Departamento de Cartas – ele foi transferido da Manutenção depois que tropeçou numa tomada, e quase derreteu o alojamento dos Elfos. Alguns perderam tudo naquela inundação; por aí vocês já imaginam como é a figura –, e ele achou graça do desenho que Gwen fez do Papai Noel, decidindo responder à carta dela, dizendo que enviará a bicicletinha rosa, e pedindo que ela continue acreditando no Papai Noel.
Aparentemente, Arthur – Estabanado Noel, como gosto de chamá-lo – seleciona as melhores cartas que recebem para decorar as paredes de sua pequena sala de trabalho, e a de Gwen, com aquele desenho divertido foi uma das escolhidas este ano.
Guardem essa informação, porque será importante mais adiante.
Eis que chega a noite de Natal, quando uma grande sombra recobre as cidades.
Porque, como Gwen observou, a alta taxa de crescimento populacional obrigou o Bom Velhinho a dinamizar a entrega de presentes para conseguir atender toda a demanda numa noite – ou em duas, considerando que o Japão e boa parte da Ásia fica num fuso horário com doze horas de diferença daqui, por exemplo. Isso significa que enquanto nos preparamos para o almoço na véspera de Natal, lá no Japão, o Bom Velhinho já está invadindo as casas das pessoas pela chaminé – ou pelo duto do ar-condicionado, ou pela janela, ou pelo ralo do banheiro... Vai saber...
O caso é que agora Papai Noel efetua as entregas graças a uma grande Operação comandada por seu filho mais velho e sucessor, Steve, que basicamente transformou os Elfos do Polo Norte em miniaturas do Tom Cruise, para conseguirem realizar essa Missão Impossível, que é entregar dois bilhões de presentes numa única noite. Toda a ação é coordenada e cronometrada para que nada dê errado. Enquanto uns verificam se os pais e as crianças estão dormindo, outros entram nas casas por qualquer abertura disponível – inclusive destrancando as portas com michas –, mordem os biscoitos e as cenouras que as crianças deixam para o Papai Noel – porque algumas parecem não diferenciar o Bom Velhinho do Coelho da Páscoa –, e esvaziam copos e mais copos de leite. Ah, e também operam o aparelho medidor de bonzinhos – muitas vezes trapaceando para elevar a taxa de certas crianças – o que, na minha opinião é um absurdo, e provavelmente um dos motivos porque a molecada de hoje em dia não respeita mais ninguém. Cadê o corretivo, gente? A criatura bota fogo na escola sem precisar se preocupar em entrar para a lista negra do Papai Noel!? Isso tá muito errado! Cadê a função pedagógica da lenda do Bom Velhinho, que basicamente consistia em manter a criançada na linha para não correr o risco de ficar sem presente? Esses Elfos trapaceiros estão estragando nossas crianças, é o que eu digo.
Enquanto isso, no Quartel General lá no Polo Norte, Steve coordena toda a Operação, e os Elfos vão registrando os locais do planeta em que a missão vai sendo completada.
E esta é uma noite importante, porque é a septuagésima missão do Papai Noel, o que significa que quando retornar ao Polo Norte ele passará o bastão oficialmente para o filho mais velho, que passará a cuidar da entrega dos presentes pelos próximos setenta anos.
E com isso já sabemos que Papai Noel se aposenta após setenta anos de contribuição para o INSS. É bom que essa informação não chegue aos ouvidos dos políticos brasileiros...
O interessante é que a única pessoa animada nessa noite de Natal é o Arthur, que continua respondendo as cartas das crianças – um trabalho desnecessário, na minha opinião, pois as crianças saberão que seus pedidos foram atendidos no momento em que acordarem e encontrarem seus presentes embaixo da árvore. Mas é importante conhecermos esse lado da personalidade de Arthur, empolgado como pipoca, só para podermos comparar com a frieza de seu irmão mais velho e futuro Papai Noel, que trata toda a Operação como um trabalho qualquer, sem qualquer emoção.
De repente...
Oh-oh!
Opa! Sintonizei o canal errado. Peraí, gente...
 
Agora, sim. Restauramos nossa transmissão.
E o problema é pior do que se pensava, porque tem um Elfo pendurado no teto, outro atrás da cortina, outro no meio dos ursos de pelúcia, não sei quantos embaixo da cama, e Papai Noel está deitado no chão, com a cabeça apoiada no brinquedo. E não qualquer brinquedo, o Kit da Fazendinha Quack-Quack, com doze sons de animais diferentes, incluindo a canção do Velho McDonald.
O quê? Você não conhece a canção do Velho McDonald?
Fiz uma paródia com essa canção no título da review de Alice No País das Maravilhas, de Tim Burton, no ano passado: O Ronald McDonald Tinha Um Dragão, YA-YA-OH!

Vide cabeção.
Mas como eu ia dizendo, a criança acordada em questão ia ganhar um troço barulhento, com doze sons de animais, mais a canção do Velho McDonald, que provavelmente enlouquecerá seus pais antes do Dia de Reis, fazendo com que eles desejem esganar o Bom Velhinho por ter enviado aquilo para o filho, e socar o focinho de todas as renas até ficarem todos vermelhos que nem o nariz do Rudolf... E o Papai Noel estava nesse momento com a cabeça apoiada em cima do botão que aciona toda a palhaçada. Se ele se levantar agora, disparará os ruídos de todos os animais do brinquedo.
Esse papo de entrar pelo passarinho...
Deixa pra lá. Afinal, agora a coisa ganha um pouco de emoção. Vovô Noel decidiu até estourar uma pipoca para assistir essa operação de emergência no brinquedo barulhento.
Mas não tem jeito, mesmo tirando as pilhas, a coisa ainda dispara a bagunça toda. Isso porque a moça do leite tem energia própria. Ou seja, em cinco segundos a porca vai piar!
Agora só tem um jeito.
Quê isso, Vovô?! Esse é seu espírito natalino? Eu ia dizer para jogar uma luz na cara do garoto, para dar tempo do Papai Noel fugir pela janela...
Lamento discordar, meus caros. Até o fim da noite, vocês descobrirão que esse momento de tensão provocou um pequeno problema no resultado final da Operação.
Mas por enquanto, vamos deixar o povo comemorar.
Porque o Papai Noel está de volta ao Polo Norte, sendo recebido com toda a pompa e circunstância por toda a população Élfica, numa grande celebração. Afinal, ele realizou a entrega de dois bilhões de presentes esta noite! O que não seria possível se seu veículo, a imponente nave S-1 não viajasse a 200 mil quilômetros por hora. E você aí achando que o Lewis Hamilton era rápido, hein...
Mas na hora de anunciar a aposentadoria...
O Steve já tinha até preparado o discurso de posse, encomendado sua roupa vermelha oficial – um novo modelo desenhado por ninguém menos que Versace, um dos estilistas mais famosos do mundo –, deixado crescer um cavanhaque sem-vergonha em forma de árvore de Natal...
E tudo isso para o Papai Noel chegar em casa e dizer que vai adiar a aposentadoria!?
Pode imaginar a torta de climão que será servida de sobremesa na ceia dos Noéis, né...
O Arthur tenta suavizar o choque, propondo um Quiz natalino com perguntas do tipo:
Lembrei das piadas do Quico...
Quem sabe no Ano Novo alguém ria?
Já que o Quiz não deu certo, Arthur propõe um jogo de tabuleiro, mas, de novo, o tiro sai pela culatra, e todo mundo acaba se zangando: primeiro, porque todo mundo queria ficar com a pecinha do Papai Noel, até que o verdadeiro a requisitou, forçando Steve a ser a Vela; depois, porque Papai Noel estava trapaceando (!); e ninguém dá a menor bola para o fato de Mamãe Noel quase ter sido devorada por um urso polar essa noite – tudo por culpa do Arthur, cujo rabo é muito comprido, e vive esquecendo de fechar as portas. Sem falar que o povo se recusou a encerrar a discussão sobre o adiamento da aposentadoria do Papai Noel, o que provavelmente forçará Steve a puxar o tapete do pai, se quiser herdar seu posto um dia; e o Vovô ainda desaprova todas aquelas bugigangas tecnológicas que Steve criou para otimizar o sistema de entregas, alegando que o verdadeiro Natal foi pras cucuias, e que Steve é só um carteiro metido a besta.
Bons tempos...
E o Vovô conseguiu fazer tudo sozinho, num trenó coberto de tinta tóxica, e sem toda aquela parafernália que o Steve inventou. Aquele era o verdadeiro espírito do Natal.
Tudo vai muito bem – quer dizer, mais ou menos –, até...
Por volta das cinco da manhã, Bryony, uma Elfa do Departamento de Embrulhos encontrar um pacote jogado perto das esteiras. E, seguindo o protocolo, notificou Steve imediatamente através do HOHO 3000, um aparelho parecido com um celular, que serve para armazenamento de dados, comunicação entre os Elfos, e para gerenciar toda a missão.
A boa notícia é que o pacote parece não ter sofrido nenhum tipo de dano, e encontra-se em perfeito estado de embrulhamento. A má notícia é que aquilo não deveria estar ali. O presente deveria ter sido entregue naquela noite, o que significa que UMA CRIANÇA FOI ESQUECIDA!
O que aconteceu foi o seguinte, Steve: está lembrado daquele momento tenso em que o Papai Noel estava com a cabeça em cima do botão barulhento, e o Elfo precisou fazer uma incisão no passarinho? Pois nesse exato momento, um dos Elfos na central de comando apoiou a caneca de café num botão. Ele acionou uma alavanca, que empurrou o brinquedo para fora da esteira na seção de carga.
E quem é que fica desesperado ao saber do ocorrido?
Isso mesmo: o Arthur!
Papai Noel também lamenta, é claro, afinal, uma criança, provavelmente boazinha – porque esse tipo de azar dificilmente pega os diabinhos – ficará sem presente de Natal, mas, infelizmente, não há nada que se possa fazer. A S-1 acabou de viajar doze milhões de quilômetros; se a usarem de novo esta noite, sem que ela tenha passado pela manutenção, ficará danificada, e isso poderia comprometer o Natal do ano que vem. O sol nasce às 7:39 onde a menina do pedido 47785BXK, Gwen Hines – lembra dela? – mora. Nunca chegariam lá a tempo sem a S-1. Só lhes resta enviar a bicicleta pelo correio, que fará a entrega em no máximo cinco dias. Claro, o encanto será quebrado, mas pelo menos ela não ficará sem presente.
Mas ele já está com a carta da Gwen na mão, conferindo o endereço. Agora, a grande questão: como ir do Polo Norte até a Inglaterra em menos de duas horas horas?
Que, a propósito, já devia ter sido desmontado e virado lenha, se alguém no Polo Norte ligasse para o que o Steve diz. Felizmente, como ninguém liga – e o Vovô ameaçou transformar os Elfos em comida de urso se alguém tocasse em sua Eve –, o trenó continua intacto, guardado no celeiro, e as renas, tataranetas das oito originais continuam vivinhas da Silva no estábulo.
Estão esperando o quê, então? Vão logo entregar o presente da menina!
Para dizer a verdade, Arthur não fazia questão nenhuma de ir com o Vovô Noel nessa aventura, pois morre de medo de trenó, de altura, renas, passarinhos, poluição, tempestades, ventanias, botões... Enfim, o rapaz é um grande bunda mole. Mas o Vovô tem 136 anos, sua licença para dirigir trenó já foi caçada há muito tempo. De modo que alguém precisa acompanhá-lo, só para o caso de serem parados por algum guarda de trânsito...
Além disso, é uma antiga tradição de família: todos os herdeiros dos Noéis precisam viajar no velho trenó ao menos uma vez, e eles respeitam essa tradição desde o São Nicolau original. A única exceção é Steve, é claro, pois ele se acha bom demais para aquele trenó velho.
E se havia uma boa hora para um alerta de spoiler, é agora. Mas o filme sinalizou? Claro que não.
Ah, sim... Não tem cinto de segurança, tá Arthur. SEGUUUURA PEÃÃÃÃÃOOOOO!!!
Espero que saibam para onde estão indo.
Isso aí é da época em que Chicago ainda nem estava no mapa!
É sério! Eles debateram sobre isso.
E assim eles foram se acidentando, errando o caminho, e destruindo enfeites de Natal pelo mundo inteiro.
A propósito, há um clandestino a bordo: Bryony, a Elfa.
E foi assim que eles perderam uma das renas numa curva.
Ou seja: precisam de uma nova rena. E como não fazem a menor ideia de onde conseguir uma de verdade, serve aquele enfeite do letreiro de uma loja perdida no meio do nada.
Mas a menina não deveria estar dormindo enquanto Papai – no caso, Vovô – Noel faz a entrega?
É, lascou! O sujeito sai para ver que balbúrdia é essa em seu quintal, dá de cara com um cidadão de cabeça pontuda, com olhos brilhantes nos pés – as pantufas natalinas que Arthur ganhou de Natal – empoleirado no telhado, se apropriando indevidamente de seu enfeite natalino. Mas a criatura garante que vieram em paz, que sua nave precisa dar a volta ao mundo numa noite, e que eles precisam daquele enfeite. E como o lugar de onde ele veio não trabalha com dinheiro, não terão como pagar. Então, Feliz Natal!
E é claro que o sujeito sacou na hora de quem se tratava.
Quase isso, seu moço.
Felizmente, os “ETs de Varginha” partiram sem fazer mal nenhum ao pobre coitado. Acho que eles deviam ter aproveitado o ensejo para pedir informação, afinal, de acordo com aquele mapa velhíssimo, eles estão mais perdidos que camaleão no show do Restart. E eu nem sei se o Restart ainda existe...
Espero que não.
A propósito, devia fazer mais frio na Inglaterra nessa época do ano, não acham? De duas uma: ou é culpa do aquecimento global, ou eles erraram o caminho...
Adivinhe qual é a alternativa certa?
Ou vai ver vocês estão na África. Mais especificamente, Parque Nacional do Serengeti, Tanzânia. E acho que eu vi um gatinho...
Na verdade, um gatão!
Tipo o seguinte:
Mas aí...
É o seguinte, Vovô, longe de mim fazer fofoca... Mas um Elfo sem-vergonha foi lá reportar pro Steve que o senhor foi visto no celeiro onde o velho trenó ficava guardado; daí o seu neto chamou o velho operador de telégrafo para tentar contactar vocês e mandar dar meia volta, ou ele vai transformar sua rena de estimação adoentada em pano de chão. Daí quando o Elfo pra lá de velho enviou a mensagem, ela foi captada pelo trenó, fazendo toda a algazarra que vocês estão vendo, acordando os leões que vocês tiveram tanto trabalho para fazer dormir, e por conta disso, vocês estão a segundos de virar ceia de Natal.
Então, perna pra quem tem!
Os leões tentam subir a bordo, enquanto o trenó decola, e os Noéis fazem o que podem para jogá-los para fora. Bryony mostra seu talento de embrulhadora, embrulhando a cabeça de um leão. Com lacinho e tudo, uma gracinha. A rena do pescoço imobilizado – que provavelmente é a tataravó de algumas das que estão puxando o trenó nesse momento –, acorda assustada de seu sono de beleza, ergue a cabeça, e acaba jogando outro leão para fora do estádio. Daí eles jogam mais pó mágico nas renas para acelerar a subida, e com isso conseguem colocar algumas zebras, elefantes e suricatos pra voar...
Para quem já foi confundido com alienígena esta noite, isso aí é bobagem... Nem vai chamar atenção...
A boa notícia é que ainda dá tempo de entregar o presente. A má notícia é que a câmera do Vovô quebrou, então agora ele não poderá tirar a foto que tinha planejado do trenó no telhado, para esfregar na cara do neto mais velho, que não estava nem aí para a criança esquecida, que ele foi lá corrigir seu erro.
A outra boa notícia é que agora eles já têm como saber para onde estão indo, pois Bryony se lembrou de pegar seu HOHO antes de deixar o Polo Norte, e o treco tem GPS. Século 21 é outro nível, né...
O problema é que Arthur não é muito fã de geografia, e quando o GPS mostrou uma lista de cidades chamadas Trelew, ele clicou na primeira, sem se dar conta de que essa Trelew ficava no México.
Curiosamente, também havia uma Av. Mimosa nessa Trelew, e a criança que morava na casa n° 23 também havia pedido uma bicicleta, que já se encontrava embaixo da árvore, com a etiqueta do Papai Noel, o que deixou Arthur e Bryony bastante confusos.
Vovô não pegou essa parte da confusão, porque ele simplesmente se recusou a entrar na casa para fazer a entrega.
Hum... Orgulhoso...
Acontece que ele ainda estava aborrecido por ter quebrado a câmera, e porque ele tomou um esporro do Arthur, porque ele na verdade não se importava com a criança esquecida, só queria provar pro Steve que o trabalho à moda antiga era mais eficiente que suas parafernálias modernas.
E já que o Arthur também é um Noel, ele decidiu seguir a tradição da família e entrar com a Elfa para deixar o presente embaixo da árvore. Eles só não contavam que haveria um alarme instalado na casa; de modo que quando ela entrou pela portinha do gato e destrancou a porta por dentro, o alarme foi acionado, e só não disparou imediatamente porque ela o embrulhou. Literalmente.
Mas isso não foi suficiente para conter a balbúrdia por muito tempo. Então, enquanto eles olhavam de uma bicicleta embrulhada para a outra, confusos com a situação, os papeis de presente que Bryony usara para embrulhar o alarme estouraram, e começou a barulheira.
Daí um cachorrinho minúsculo, mas metido a valentão, saiu debaixo da cômoda, fazendo o maior escarcéu, e abocanhando uma das pantufas de Arthur.
Eles conseguiram sair pela janela antes de serem vistos por algum humano, mas o cachorrinho, coitado, enfiou a cara no vidro, e ficou choramingando. Daí, como é Natal, Arthur decidiu deixar uma das pantufas que o bichinho tanto gostou, e o cãozinho imediatamente começou a mordê-la, abanando o rabinho.
Uma gracinha.
Enquanto eles fugiam da cena do crime, Steve finalmente se lembrou que seu avô biruta e o irmão pateta tinham sido acompanhados por uma Elfa intrometida, e arriscou contactá-los através do HOHO dela. E foi logo comendo o rabo deles por estarem atraindo tanta atenção. E aproveitou para jogar na cara do avô o que aconteceu da última vez que ele saiu com aquele trenó, quando provocou um reboliço tão grande que quase causou a Terceira Guerra Mundial.
E eu adoraria dizer que o Steve estava exagerando, mas nossos amigos já foram confundidos com alienígenas esta noite, roubaram um enfeite de Natal, destruíram metade de Pequim, botaram meia reserva africana pra voar, assanharam os leões, invadiram a casa da criança errada, e a coisa ainda vai piorar. Muito.
Ao se dar conta de que o pai também está pouco se lixando para a criança que foi esquecida, Arthur fica completamente decepcionado. Afinal, Papai Noel deveria ser o homem mais atencioso do mundo e se importar com cada criança. Em vez disso, ele está lá roncando, sonhando com a rabanada da Mamãe Noel, e pouco se importando se a Gwen vai ficar decepcionada ao acordar e não encontrar sua bicicletinha rosa embaixo da árvore de manhã.
É oficial: às 6:48 da manhã, o filho do Papai Noel deixou de acreditar em seu pai.
E ainda largou o avô na duna da amargura, depois que o trenó deu um solavanco, e esqueceu deles na hora de voar.
Na primeira vez que assisti esse filme, a julgar pelas dunas, pensei que eles estivessem justamente em Natal (RN).
Mas é Cuba.
Perdidos, sem trenó, sem esperança de fazer a entrega a tempo, e até mesmo de conseguir voltar para casa, Arthur joga o outro pé de pantufa na água, e Bryony começa a queimar o papel de presente da bicicleta para alimentar uma fogueirinha.
Enquanto isso, os Elfos vão lá fazer fofoca, e perguntar ao Papai Noel se é verdade que uma criança foi esquecida, e se ele realmente não se importa. Ele até tenta florear a coisa, usar a porcentagem complicada que Steve criou para justificar o êxito da Operação desta noite, apesar do brinquedo que não foi entregue, mas os Elfos não engolem essa conversinha fiada. E se dão conta de que seu trabalho é completamente inútil, se o Papai Noel não se importa com uma criança que foi esquecida.
Ou seja, numa única noite, o filho caçula e todos os Elfos do Polo Norte perderam a fé no Bom Velhinho.
Deve ser algum tipo de recorde.
E isso faz Papai Noel acordar. Afinal, se o filho mais novo está tão determinado a corrigir seu erro, o mínimo que ele pode fazer, como detentor do título mais importante do Polo Norte, é convencer Steve a ajudar. Ainda mais depois de ver as cartas que Arthur respondeu, e ficar comovido com seu entusiasmo.
E foi justamente uma carta que reacendeu a animação de Arthur. Quando Bryony pediu para queimar a carta da Gwen – já que ele tinha milhões iguais àquela –, Arthur viu o desenho ser jogado na fogueira, e se deu conta de que a menina não desenhara seu pai, ou o Vovô, nem mesmo Steve; ela desenhara o Papai Noel. E se eles conseguirem entregar o presente antes do amanhecer, ela continuará acreditando.
E para deixá-lo ainda mais animado, o trisavô do Sven recuperou a pantufa que ele jogou no mar.
A determinação era tanta, que o piradinho decidiu cruzar o Atlântico remando um barco roubado – mais uma infração da família Noel para a gente anotar nesse Natal. O problema é que só faltam 37 minutos para o sol nascer na cidade da Gwen; nunca chegarão a tempo nessa velocidade. Felizmente o Vovô se lembra que estiveram rodando em círculos a noite toda, e como as renas são burras feito portas, ainda devem estar andando em círculos, a uma velocidade incalculável, o que significa que logo, logo elas passarão por ali de novo. Ou seja, Arthur pode usar o pó mágico que restou para voar com a âncora do barco e prendê-la ao trenó quando ele passar.
Só tem um probleminha nesse plano: o rapaz tem medo de altura. E de âncoras. E de voar...
E de praticamente tudo, exceto ler e escrever cartas. Se fosse na época que o Antraz estava na moda, ele pensaria duas vezes...
O jeito foi pedir para o Vovô e a Bryony colocarem pilha, para aumentar sua preocupação dele com a Gwen, e com isso diminuir seu medo de praticamente tudo, para forçá-lo a recuperar o trenó.
Mas o HOHO já era. Na confusão para puxar o Vovô e a Elfa para bordo, o troço acabou afundando no Atlântico.
  
Pelo menos, agora eles finalmente poderão voar até a Gwen. Isto é, se conseguirem descobrir para que lado fica a Inglaterra...
Enquanto isso, Papai Noel decide que já é hora de assumir o controle da situação: pega a S-1 escondido do filho mais velho, decidido a voar até Trelew com a Mamãe Noel para realizar pessoalmente a última entrega da noite.
O problema é que ele não sabe pilotar aquela geringonça.
E o Steve já se deu conta do que ele pretendia fazer, e correu para defender sua nave, custe o que custar.
E começa a reclamar com o pai, por ter entrado na pilha do Arthur e enlouquecido com essa história de criança esquecida, como se as bilhões de entregas que ele ajudou a fazer naquela noite simplesmente não importassem. Mas o Papai Noel sabe que aquele buraco é mais embaixo, e que ele está aborrecido porque essa história da Gwen o fez lembrar da mesa de sinuca que ele nunca recebeu...
Ou seja, ele sabe como a Gwen vai se sentir amanhã. E não tá nem aí...
Até que Mamãe Noel decide botar ordem no galinheiro.
E um defunto que fedeu sabe-se lá há quantos séculos...
Então Steve se rende, e decide operar pessoalmente a nave para fazer a entrega. Já que a família inteira faz tanta questão...
Ao ver os Noéis partindo, os Elfos se desesperam, achando que o Natal não tem mais importância, e por isso deve ser deletado. O problema é que, ao apertar o botão, o Polo Norte inteiro começará a derreter.
Todo mundo pirou na batatinha por causa de UM brinquedo. Será que a coisa ainda pode piorar?
A resposta é: SIM!
Tudo porque, na falta de um mapa, o Vovô Noel decidiu tentar uma manobra que já era proibida na época dele, mas esse é um caso de vida ou morte, e esse é o único jeito de localizar a cidade certa a tempo. Ele distribui máscaras de oxigênio para todos a bordo do trenó, inclusive as renas, e atravessa a atmosfera para o espaço sideral, para consultar o maior mapa do mundo: o próprio planeta Terra.
Daí as autoridades que já pensavam se tratar de uma invasão alienígena, passam a ter certeza disso, e organizam um contra-ataque.
Vovô embica na descida, larga o trenó na banguela, e desce em direção à cidade da Gwen. Os humanos já os viram, sabem que estão prestes a atravessar a atmosfera de volta ao planeta, e os colocam em seus alvos. E já que perdido por um é perdido por mil, Vovô agora decide lhes dar um motivo para atacar, camuflando a nave com a forma exata de um disco-voador. Tem até a figura de um alien estampada embaixo.
E ninguém se tocou que ele também tinha a forma exata de uma rena!
A propósito, é o trisavô do Sven quem está pilotando o trenó agora. Resumindo ridiculamente: todas as outras renas foram pra cucuia.
Vovô, Arthur e Bryony até começaram a cantar canções natalinas para animar a reninha idosa a continuar puxando o trenó.
E bem na hora que eles finalmente avistam a Trelew certa, um caça do exército começa a persegui-los.
Mas já que é a Eve que os homens querem, é a Eve que eles terão. O Vovô está disposto a sacrificar seu trenó para levar um feliz Natal à Gwen. Pelo visto, não há espaço para relíquias no mundo moderno.
Então Vovô começa a disparar laranjas e bengalas de açúcar contra os caças do exército, para distraí-los enquanto Arthur e Bryony saltam de paraquedas sobre a Cornualha.
Melhor que a encomenda, eu diria.
Então Vovô solta a rédea do trisavô do Sven, e salta no vazio enquanto o trenó é bombardeado.
E o exército é parabenizado por ter salvo o Natal. Sabe de nada, inocente...
Aliás, se eles ao menos sonhassem com o que acabaram de destruir, arrancariam cada fio de cabelo, aposto.
Enquanto isso, Steve veste sua fantasia de Papai Noel confeccionada pelo Versace – e que, diga-se de passagem, o deixa com mais aspecto de boiola do que ele já tem –, e desce da nave para fazer a entrega. E o faz como um carteiro faria: bate na porta, se desculpa com a suposta criança esquecida, conta que por causa do transtorno tomou a liberdade de fazer um upgrade em seu pedido para uma bicicleta maior, portanto melhor, e pede que assine o recibo da entrega...
... e só então se dá conta de que bateu na casa errada.
Como assim, você não fala espanhol, Steve? Como diabos vai saber, então, o que as crianças hispânicas pediram de Natal?
Ah, entendi, você usa o Google tradutor.
Também conhecido como Arthur.
Enquanto ele tenta se livrar do ratinho que se sente um cachorro... E o coitado do Pedrinho abre um berreiro, porque, como é a criança errada, Noel Boiola vai levar a bicicleta de volta... E Papai e Mamãe Noel se perguntam onde erraram com aquele filho ali... E Steve admite que não é leva jeito com crianças, mas não vê o que gostar ou não dos pestinhas tem a ver com ser um bom Papai Noel... Arthur está a um quilômetro da casa de Gwen, sem trenó, sem rena, mal conseguindo andar depois de ter se acidentado com o paraquedas, de modo que sua única alternativa é pedalar a bicicletinha da menina nesse trajeto final.
Algo que não seria tão difícil, se Bryony não tentasse embrulhar a bicicleta durante o trajeto.
Naturalmente, essa ação conjunta faz com que Arthur vá tropicando, batendo e se acidentando pra todo lado no caminho.
Enquanto isso, Vovô Noel achou outro transporte para substituir seu trenó.
E pelo visto deu uma passadinha no boteco da esquina... Não que ele já não seja pirado o suficiente sem precisar de um goró.
O embrulho fica pronto no exato momento em que chegam ao quintal da Gwen. O problema é que Bryony ficou entalada na árvore em frente – depois de os dois malucos terem assustado o coitado de um esquilo que só queria comer sua noz na santa paz. De modo que Arthur precisará concluir sua entrega sozinho. Mas ele se lembra de levar o rolo de fita, pois, como ela sempre diz: “sempre há tempo para um laço”.
E bem agora, o sol começa a nascer, ameaçando acordar a menininha. Felizmente, a S-1 chega e cobre a cidade de sombras, dando ao jovem Noel mais uns minutinhos para entregar a bicicleta.
Steve e Papai Noel descem da nave. Agora todos os Noéis farão a entrega do presente da criança que foi esquecida. E assistir isso lá no Polo Norte pelas câmeras de monitoramento da rua faz com que os Elfos pausem o derretimento do QG do Papai Noel, e se emocionem naqueles minutos finais da noite – tecnicamente manhã – de Natal.
Cada um entra na casa a seu modo: Arthur pela janela do armário de casacos, Steve destrancando a porta da frente com um aplicativo de celular que é melhor não cair nas mãos do crime organizado, Papai Noel pela janela do banheiro, e o Vovô pela chaminé – o único que optou pelo modo tradicional. E respondendo a pergunta que a Gwen fez lá no começo do filme: parece que sua chaminé não é estreita demais para o Bom Velhinho. Nem para o pai dele.
Arthur vai até o quarto da menina, e coloca um bilhete na meia que está pendurada ao pé da cama, avisando que o presente dela está embaixo da árvore, e estende a fita como uma trilha até a sala de estar. Só então ele percebe que sua família inteira está dentro da casa, e eles imediatamente começam a discutir sobre quem vai terminar a entrega, cada um tentando tomar a bicicleta das mãos dos outros, até que Papai Noel resolve a encrenca, decidindo que, já que Arthur se esforçou tanto para que nenhuma criança fosse esquecida, então caberia a ele a honra de realizar a entrega.
Assim sendo, Arthur coloca a bicicleta embaixo da árvore de Natal, dá o lacinho na fita... enquanto o Vovô doidão cobre a sala inteira de lixo.
Agora todos os Noéis se amontoam dentro do armário de casacos para assistir Gwen descendo as escadas, seguindo a fita vermelha, e desembrulhando sua bicicleta.
É... Então... Na hora que estava dando a última volta com o papel de presente para embrulhar a roda traseira da bicicleta, e o Arthur voou por cima do galho da árvore, Bryony pode ter acidentalmente embrulhado o Tico – ou esse aí é o Teco? – junto com a roda da bicicleta. Fica de brinde, tá, Gwen!
Ao ver a alegria da menina ao abrir o presente, Papai Noel se vira para Steve, emocionado, e diz ao filho mais velho que ele merece ser Papai Noel... Mas... está se perguntando se a Gwen não tem razão...
Então, Steve, vendo a felicidade estampada no rosto de Arthur por ter feito a alegria daquela criança, faz a escolha certa, e dá a ele o bonequinho do Papai Noel do jogo de tabuleiro que jogaram mais cedo naquela noite, quando pensaram ter concluído as entregas, e diz que se conformará em ser a vela.
Finalmente, depois desse trabalhão danado, todos os Noéis deixam a casa, e Bryony anuncia aos Elfos pelo HOHO – outro HOHO, não aquele que afundou no oceano. Esse aí ela deve ter tirado, sei lá, de dentro do papel de embrulho... Ou do rabo do Sven... – que a entrega foi concluída.
E olha só a surpresa da Gwen: quando está saindo para brincar com sua nova bicicletinha – que deu tanto trabalho aos Noéis naquela noite –, ela dá de cara com Arthur, que se atrapalhou com os cabos para abordar a S-1, bateu na árvore e acabou enfiando a cara na neve; de modo que ela e o vê com cabelo e barba brancos e o blusão vermelho inflado pelo vento, dando na cara que ela está diante do Bom Velhinho em pessoa – ou do filho dele, que seja...
A menina se emociona com a visão, mas bem nesse momento, o esquilo pulou por cima do ombro dela, fazendo-a perder Arthur de vista por um instante, e quando olha de novo, ele já desapareceu.
Que nem um fantasma.
Então ela sai pedalando feliz, enquanto os Noéis voltam tranquilamente para o Polo Norte, com a sensação de dever cumprido.
Acham que a história acabou?
Um ano depois...
E que 100% dos seus Natais sejam felizes!
HO-HO-HO!

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