Uma
das minhas autoras favoritas é a alemã Cornelia Funke – autora da trilogia
Coração de Tinta. Apesar de ser considerada uma autora infantojuvenil, seus
livros – tanto em extensão quanto em enredo – não são exatamente infantis.
Uma
grande dose de fantasia, sim; infantilidade, não.
Título Original: Herr der DiebeAutora: Cornelia FunkeEditora: Companhia das LetrasPáginas: 367Gênero: Fantasia
Sinopse:Cornelia Funke pertence a uma categoria especialíssima da literatura juvenil: muito premiada, é best-seller em diversos países e amada por leitores de todas as idades. Não por acaso, vem sendo comparada à sueca Astrid Lindgren (de Píppi Meialonga) e a J. K. Rowling (de Harry Potter).Uma das maiores forças de seus textos é a originalidade com que trata o tema da infância e da idade adulta, um dos principais eixos de O Senhor dos Ladrões, que conta a história de um grupo de crianças órfãs que mora num cinema abandonado na cidade de Veneza. Seu protetor é Scipio, o autointitulado Senhor dos Ladrões, um garoto que rouba casas luxuosas de Veneza para sustentar as crianças de rua. Scipio é contratado para um trabalho especial: surrupiar uma asa de madeira da casa da fotógrafa Ida Spavento. O objeto tem propriedades mágicas, e logo todos estarão envolvidos numa aventura onde crianças viram adultos e vice-versa.O Senhor dos Ladrões teve seus direitos de publicação comprados por mais de 36 países. Depois de grande sucesso na Alemanha, onde vendeu 500 mil exemplares, e nos países de língua inglesa (mais meio milhão de exemplares vendidos), o livro também recebeu seis prêmios internacionais de literatura infantil.EEEEE
O
Senhor dos Ladrões é uma espécie de Peter Pan subvertido.
Num
primeiro momento, conhecemos Victor Getz, detetive particular contratado por um
casal alemão para procurar seus sobrinhos desaparecidos. A irmã de Esther
Hartlieb morrera recentemente, e desde então, ela ficara com a guarda dos dois
filhos dela, Próspero e Bonifácio – carinhosamente apelidado de Bo –, mas os
dois fugiram de sua casa quando descobriram que o casal pretendia criar somente
o caçula, Bo, relegando o irmão mais velho a um internato. E como sua irmã
enchera a cabeça dos meninos de fantasias a respeito das maravilhas de Veneza,
os Hartlieb deduziram que eles só poderiam ter se dirigido para lá – apesar de
a cidade ficar a mais de mil quilômetros de Hamburgo, onde residem.
Na
sequência, conhecemos as duas figuras procuradas: Próspero e Bo de fato
conseguiram chegar à Veneza, onde encontraram abrigo num velho cinema
abandonado, que serve como esconderijo para outras três crianças órfãs, Mosca,
Riccio e Vespa, que sobrevivem graças à ajuda do Senhor dos Ladrões.
O
que ninguém em Veneza desconfia é que este Senhor dos Ladrões é um menino de
doze anos, que anda por aí mascarado, e usando botas de salto alto.
Ao
longo do livro, nos deparamos com várias revelações interessantes a respeito
deste ladrão misterioso – que na verdade, não tem necessidade de roubar –,
sobre seus protegidos e também sobre o detetive que está em seu encalço.
A
histórias dessas crianças sofre uma grande reviravolta quando o Senhor dos
Ladrões é contratado para roubar um misterioso objeto, aparentemente sem valor
comercial, na casa de uma fotógrafa da cidade. É onde conhecemos o lado místico
da trama – que, naturalmente, em se tratando de um livro de Cornelia Funke, não
poderia faltar.
Esta
foi uma das mais maravilhosas leituras que fiz este ano, e apesar de ter sido
escrito por uma das minhas autoras favoritas, eu o peguei sem qualquer
expectativa. Além das incríveis descrições acerca da arquitetura da cidade de
Veneza – que por si só já seria capaz de encantar o leitor mais exigente –,
ainda nos deparamos com uma história bastante envolvente, acerca de um grupo de
crianças para quem a vida não sorriu, e que apesar disso, se arranjavam formidavelmente.
Eu
chamei de Peter Pan subvertido porque, enquanto o menino de J.M. Barrie fugira
de casa porque não queria crescer, algumas dessas crianças de Cornelia Funke
não tinham outro desejo, senão se tornarem logo adultas – e alguns adultos
sonhavam ser crianças novamente; um desejo que, na verdade, não era
irrealizável.
Cornelia
somente pecou em algumas questões: certas soluções mirabolantes demais; alguns
personagens condescendentes demais com as travessuras deste grupo de crianças; o
passado de algumas das crianças chegou a ser enunciado muito misteriosamente,
mas nada de concreto foi revelado; e, com exceção do desejo de separar os dois
irmãos, e de ficar buscando uma criança perfeita – ao menos, aparentemente –,
não consegui ver nada errado no caráter de Esther Hartlieb, que os sobrinhos
descreveram como se fosse a pior pessoa do mundo, mas não chegaram a revelar
nenhuma característica que pudesse ser considerada vilanesca, tampouco nos
familiares do Senhor dos Ladrões. Tivemos nuances, mas nada que realmente
despertasse total antipatia. O único “vilão” bem representado no livro foi
Barbarossa, o comerciante de antiguidades para quem as crianças vendiam os
produtos que o Senhor dos Ladrões afanava das casas chiques, e somente ele
sofreu algo parecido com punição.
Em
suma, somos seduzidos pelos personagens bonzinhos, pelas crianças, pelos
protagonistas, e por certos personagens secundários, mas faltou certa coragem à
autora para embasar melhor o caráter dos vilões. O que de modo algum desanima a
leitura, ou desqualifica o livro. Afinal, estamos falando de uma obra
essencialmente infantojuvenil, que, dentro desta proposta, nos apresenta uma
das mais encantadoras histórias do gênero.
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