[As Noivas de Robert Griplen] Capítulo 10 - O Diário de Robert Griplen

em sexta-feira, 30 de março de 2018

Ao passarem pelas grandes portas da entrada da igreja, as irmãs Dawson ouviram uma voz rouca e velha grasnar de longe:
– Ela foi tocada! Ela foi tocada!
Susan olhou na direção da voz, e viu Norma Sofer, a louca, caída sobre os quadris na calçada do outro lado da praça, com a mão estendida, apontando para Anne.
Que destino horrível tivera a Sra. Sofer, Susan pensou várias vezes ao longo dos anos. Não tinha muitas lembranças de quando a filha dela era viva, mas lembrava vagamente de que a beleza de Norma era invejável, como a de Lizbet também fora. No entanto, agora, sua aparência era absolutamente repugnante: usava sempre as mesmas vestes esgarçadas e sebosas, o cabelo grisalho e desgrenhado caía ao redor de seus ombros como fios de palha, o rosto estava sempre coberto de fuligem, e os dentes que lhe restavam estavam completamente podres. Era difícil não sentir pena ao olhar para aquela mulher, outrora tão rica, vivendo pelas ruas como uma mendiga.
Não era incomum o aspecto daquela mulher causar medo. Susan imaginou algumas vezes que aquela bem poderia ser a aparência exata das bruxas que a cidade inteira caçou cento e cinquenta anos atrás.
Mas além da aparência, a louca também era uma mulher hostil: sempre apontando o dedo para alguém, fazendo acusações ou predições agourentas. E ela ficava particularmente insuportável no mês de março, quando repetia exaustivamente as palavras que Lizbet deixara de herança. Todavia agora, depois de tudo o que havia presenciado e descoberto nos últimos dias, Susan começava a suspeitar que, talvez, bem lá no fundo, a loucura da Sra. Sofer tivesse alguma sensatez.
Mesmo assim, Susan escudou a irmã com o próprio corpo, e encarou a mulher, enquanto tentava tirar Anne dali, para evitar que a louca a deixasse mais perturbada do que já estava.
– Ela foi tocada pelo demônio! – grasnou a mulher, ainda mais alto, chamando a atenção das pessoas que passavam pela praça. – Ela é a próxima!
LEIA MAIS

Tudo Por Dinheiro... E Um Cupcake!

em domingo, 25 de março de 2018

Em se tratando de filmes, três gêneros capturam minha atenção instantaneamente: fantasia, aventura e comédia romântica. É verdade que eu também gosto de suspense, ação, e, contanto que não tenha insetos, terror. E animações, é claro. Sou eclética em se tratando de cinema. Mas os três primeiros são os favoritos.
É provável que você tenha torcido o nariz ao me ouvir falar em comédia romântica, mas, qual é? Aposto que você também tem uma favorita. E se não estou muito enganada, a protagonista é a Sandra Bullock, a Meg Ryan, a Julia Roberts ou a Cameron Diaz.
Bem, para falar a verdade, na minha lista de comédias românticas favoritas, não tem Julia Roberts nem Meg Ryan no Top 10. As divas da minha coleção são, em sua maioria, Sandra Bullock, Kate Hudson, Jennifer Lopez, Katherine Heigl e Reese Witherspoon – embora Sandra Bullock tenha uma carreira bem eclética, em que destaco entre os meus favoritos os filmes de ação Velocidade Máxima 1 e 2 e os suspenses A Rede, Cálculo Mortal e O Silêncio do Lago. Mas não vou negar que paro mesmo é para assistir suas CRs, como Enquanto Você Dormia, Da Magia à Sedução, A Proposta, Miss Simpatia, etc. Kate Hudson praticamente não fez outra coisa na vida; J-Lo até trabalhou em gêneros diferentes, mas nada que se aproveite – não me xinguem por não gostar de Anaconda! –; Reese Witherspoon também só fez de bom as comédias – não me fale de Água Para Elefantes! Todo mundo sabe que eu implico com o Pattinson –; e Kate Heigl tem basicamente a mesma quantidade de filmes de terror e comédias românticas no currículo, mas os filmes de terror dela são uma droga...
Enfim... Não é para explanar sobre comédias românticas e suas protagonistas que iniciei esse post. Foi para falar de um dos meus filmes favoritos do gênero – muito embora Katherine Heigl tenha concorrido ao Framboesa de Ouro como pior atriz por esse filme e eu discorde totalmente dessa indicação; curiosamente, ela perdeu o prêmio para Kristen Stewart por Amanhecer – Parte 2, com o que eu concordo alegremente. Quanto a Kate, estava muito engraçada no filme.
Baseado no romance “Só Por Dinheiro” (ou “Um Dinheiro Nada Fácil”, na tradução mais conhecida no Brasil) de Janet Evanovich – que é maravilhoso, por sinal –, Como Agarrar Meu Ex-Namorado conta a história de uma mulher que estava numa crise tão grande, que sua única saída foi se transformar numa Caçadora de Recompensas.
LEIA MAIS

[As Noivas de Robert Griplen] Capítulo 9 - A Tragédia da Mansão Griplen

em sexta-feira, 23 de março de 2018

O Reverendo Arthur Bichop residia numa pequena casa a poucos metros da igreja, e naquela mesma tarde elas bateram em sua porta. Ao ver as duas sozinhas, e não achando prudente recebê-las em sua própria casa, mesmo sendo seu tutor, ele as conduziu até a igreja.
Ao entrarem no templo, as duas sentiram um arrepio desconfortável varrer seus corpos. Parecia um sacrilégio entrarem naquele lugar santo depois de terem estado sob o efeito de magia. Sobretudo, sendo a razão de estarem ali justamente o desejo de desvendar o mistério sobre a magia das noites anteriores.
O Reverendo Bichop as conduziu por uma porta atrás do altar a uma pequena secretaria, e se sentou atrás de uma mesa de cedro, apontando as cadeiras à sua frente para as duas irmãs. Susan foi a primeira a se aproximar, receosa. Julgou que seria menos constrangedor ser ela a dirigir as perguntas ao pastor, uma vez que ele não sabia que ela também estivera acometida pelas mesmas perturbações que Anne vinha apresentando desde o início de março.
– Em primeiro lugar – começou Susan –, gostaria de lhe pedir encarecidamente que esta conversa seja mantida em absoluto sigilo.
O Reverendo analisou a expressão no rosto da garota, com alguma confusão no olhar. Talvez estivesse se perguntando se ela havia revelado à irmã seus planos de trancá-la no sanatório até que os sintomas da peste desaparecessem. Era evidente na expressão de Bichop que ele já se sentia culpado por uma traição que ainda sequer havia cometido. Mas como Susan se mostrou muito decidida no que estava pedindo, ele aquiesceu brevemente.
Ela fez uma pausa para organizar as palavras no pensamento, e então prosseguiu:
– Eu queria lhe perguntar o que o senhor sabe a respeito da mansão que jaz nas profundezas do mar que banha esta cidade?
O Reverendo suspirou e estendeu o silêncio por um instante.
– Por que está me perguntando isso, minha filha? – quis saber o religioso.
– Minha irmã e eu estivemos na mansão noite passada, e também na anterior – revelou Susan, hesitante, e com a voz trêmula.
Arthur Bichop franziu o cenho e cobriu o rosto com uma das mãos, preocupado. Susan se sentiu constrangida por continuar a encará-lo, temendo permitir que seu olhar pousasse por muito tempo sobre a horrível queimadura que havia na mão do Reverendo. Era uma marca estranha, que fazia lembrar um S ou um N, como se em algum momento no passado, alguém tivesse tentado marcá-lo com um ferro em brasa. Ela sabia que ele se envergonhava daquela marca, e normalmente tentava mantê-la longe da vista das pessoas, mas a gravidade do assunto pareceu despi-lo momentaneamente dessas reservas.
LEIA MAIS

[As Noivas de Robert Griplen] Capítulo 8 - Perguntas Sem Respostas

em sexta-feira, 16 de março de 2018

23 de março de 1846
A Sra. Garber dormia profundamente quando Susan e Anne retornaram de sua excursão à mansão submersa, e pela manhã, ela sequer suspeitaria que as duas irmãs haviam saído de casa. Apesar de todo cuidado e dedicação que a governanta demonstrava com as duas, especialmente nas últimas semanas, desde que Anne começara a apresentar os sintomas da peste, ao contrário de Susan, ela não havia perdido o sono uma noite sequer. E na verdade, Susan não a recriminava por isso. Na primeira noite em que Susan havia encontrado a cama da irmã vazia, ela tentara acordar a Sra. Garber, para que ajudasse a procurá-la, no entanto, por mais que a chamasse e sacudisse, Susan não fora capaz de despertá-la. Se não tivesse sentido sua respiração, ela poderia ter pensado que a governanta estava morta.
Todavia Susan não tinha sossego. Parecia sentir cada vez que a irmã despertava no meio da noite, e saía no sereno para caminhar pela praia. Quando eram pequenas, sua mãe costumava dizer que havia um cordão umbilical invisível unindo Susan e Anne desde o ventre, e que nada no mundo seria capaz de parti-lo. No entanto, agora Susan não conseguia ter tanta convicção nisto, pois desde que Anne adoecera – se é que estava, de fato, doente –, ela sentia que esse cordão se equilibrava fragilmente sobre uma navalha, e o coração de Susan se apertava e doía simplesmente por pensar que a qualquer momento ele poderia se partir.
Como na noite anterior, as duas irmãs trocaram de roupa e se enfiaram na cama de Anne, exaustas. Susan se certificou de ter trancado a porta e a janela do quarto da irmã, antes de se deitar ao seu lado na cama, e por algum tempo lutou contra o cansaço para vigiar seu sono.
Anne adormecera quase imediatamente após se deitar. Os delírios, e certamente, o mergulho no mar, exauriram completamente suas forças. Seu sono desta vez parecia muito tranquilo, ao contrário da sesta que tirara durante a tarde. E logo, a própria Susan não resistiu e adormeceu também ao seu lado.
Como na noite anterior, não se passou muito tempo até que a brisa invadiu o quarto, carregada do sobrenatural odor de jasmim. Em seu sonho, Susan teve a súbita lembrança das jardineiras que tinha visto nas janelas da mansão submersa, carregadas com belos e vistosos jasmins. Mas ao mesmo tempo ela estava consciente de estarem muito longe da mansão submersa naquele momento.
Então ela sentiu as cobertas se moverem, e no minuto seguinte, estava novamente aconchegada ao peito do mascarado. Embora não conseguisse abrir os olhos, a presença dele era tão forte que ela quase podia vê-lo. A voz suave e aveludada sussurrava em seu ouvido que ela seria sua para sempre, e mais uma vez ela não foi capaz de contestá-lo.
Com um sussurro melodioso ele embalou o sono de Susan, fazendo-a mergulhar num absoluto e poderoso torpor. Talvez só tenha durado um minuto; ou talvez ela tenha realmente dormido por horas, até ser novamente despertada pelo mascarado, mas desta vez, além de sua presença, eram seus beijos que a tiravam dos braços de Morfeu.
Susan não conseguiu abrir os olhos, mas sentia os braços do mascarado ao seu redor, e seus beijos eram tão inebriantes quanto os do pesadelo na noite anterior. Ao seu lado, Anne ressonava baixinho, e Susan mal estava consciente da presença dela, na verdade. Estava a uma só vez assustada e apaixonada. Se a presença deste homem era real, então ela estava completamente perdida agora, pois era inadmissível para qualquer moça solteira se permitir ser tocada tão intimamente por um homem.
LEIA MAIS

Vampiros, Vampiros... Diabinhos a Parte

em sábado, 10 de março de 2018

Desde que a história voltou à moda, pegando carona no sucesso da saga Crepúsculo e no crescente interesse do público por romances adolescentes com vampiros, desenvolvi uma relação de amor e ódio com Diários do Vampiro.
Originalmente, a saga foi publicada em 1991, e tinha somente quatro livros. É bem provável que sua autora, L. J. Smith tenha deixado uma segunda saga engatilhada e talvez até escrita para o caso de os vampiros voltarem à moda, o que aconteceu em 2006, com a publicação de Crepúsculo. Em 2009 a autora começou a publicar a trilogia Diários do Vampiro – O Retorno. No mesmo ano estreou a série de TV vagamente – e apenas vagamente – baseada em seus livros, finalizada ano passado após oito temporadas.
Meu relacionamento com a série de TV é bastante controverso. Não foi amor ao primeiro episódio, como costuma acontecer – não que eu tenha visto o primeiro episódio, é modo de falar; o primeiro que eu vi foi o dezoito da primeira temporada, e não achei grande coisa; anos depois, quando decidi dar outra chance à série, peguei o bonde andando de novo, mas desta vez pelo episódio sete, o da Casa Assombrada da escola, onde a Vickie é assassinada por um dos mocinhos, e foi aí que eu passei a gostar da série. Depois disso, acompanhei assiduamente até o último episódio, mesmo depois que a qualidade caiu na quarta temporada. Enfim, outro dia falaremos disso, quando eu finalmente concluir a interminável série de reviews e começar a postar. Tenham fé. E paciência.
Enquanto as reviews da série não ficam prontas – estou preparando essas postagens desde que a série estava na quinta temporada, mas por uma série de motivos complicados demais para relacionar aqui, não ficou pronta ainda –, vamos falar dos livros.
Dá para resumir a saga Diários do Vampiro da seguinte forma:
1- O Despertar: Elena conhece Stefan. Elena o quer. Elena o tem. Mesmo ele tendo feito doce no início.
2- O Confronto: Damon quer Elena. Elena quer mandá-lo para o inferno. Elena não resiste ao charme de Damon.
3- A Fúria: Elena, agora vampira, convence Stefan e Damon a se aliarem contra um inimigo misterioso que está atacando a cidade. Aliás, que bom que a série de TV recriou o personagem da Katherine, porque a vampira do livro não chega aos pés daquela diva do mal.
4- Reunião Sombria: Quem estava faltando nessa história? Quem é o vampiro Original mais perversamente charmoso do mundo? Pois é... Não é o Klaus dos livros, onde ele praticamente só aparece em uma cena. Outro personagem que a série recriou muito melhor.
LEIA MAIS

[As Noivas de Robert Griplen] Capítulo 7 - Uma Noite de Paixão e Morte

em sexta-feira, 9 de março de 2018

A lua cheia ascendia no céu quando o barco de Robert ancorou na ilha Griplen. Como para cumprir o que ele havia dito à Lucy, não se via uma única estrela no céu naquela noite. Mas a lua estava manchada de sangue, o que somado ao corvo que caiu morto aos seus pés, só podia significar que algo terrível estava a caminho.
Levado pelo instinto, Robert deu a volta por trás da mansão, e se esgueirou silenciosamente até a porta do galpão. As janelas daquela construção ficavam altas demais para que qualquer pessoa pudesse espiar através delas, mas deixavam escapar uma luz baixa e fraca que certamente vinha das velas acesas. Deduzindo que o pai ainda podia estar lá dentro, Robert caminhou até a porta, e muito calmamente, abriu uma fresta para espiar lá dentro, cuidando não fazer nenhum ruído.
Como havia percebido antes mesmo de se aproximar, as velas simetricamente espalhadas pelo galpão estavam acesas. Havia um círculo de cal desenhado bem no meio do salão, e dentro dele, desenhados com terra, os vinte e quatro símbolos rúnicos: uma das últimas conexões com seus ancestrais. Acompanhando o contorno do círculo, também pelo lado de dentro, jaziam doze carcaças sanguinolentas de doze corvos mortos. O corvo, em sua comunidade mística era reconhecido como o espectro da morte, um arauto que vinha à sua frente para escolher a alma a ser levada por ela. Quando um corvo era usado em um ritual, a intenção não podia ser outra, senão invocar a morte.
LEIA MAIS

ATENÇÃO! NOTÍCIA URGENTE!!!

em quinta-feira, 8 de março de 2018



INTERROMPEMOS NOSSA PROGRAMAÇÃO PARA COMUNICAR UMA NOTÍCIA MARA!!!!
Bem no Dia das Mulheres – a propósito: parabéns, minhas amoras, leitoras amadas, idolatradas, um salve-salve para todas vocês! ♥ – olha só o presentão que eu ganhei:

LEIA MAIS

[As Noivas de Robert Griplen] Capítulo 6 - O Pacto de Sangue

em sexta-feira, 2 de março de 2018

23 de março de 1646
O crepúsculo manchava o céu de Salem com cores vibrantes, quando Robert terminou a subida ao penhasco, onde costumava encontrar-se com sua amada Lucy. Tinha lhe enviado uma mensagem mais cedo, por um moleque que ele sabia que era analfabeto, pedindo que ela fosse encontrá-lo no fim da tarde. Não podia realmente ter escolhido paisagem mais bela para emoldurar sua amada: de um lado do céu, o laranja brilhante do sol baixando no horizonte; do outro, um violeta profundo se aproximava mansamente, arrastando em sua calda o escuro véu da noite.
Lucy o aguardava, sentada numa pedra perto da beira do penhasco. Usava um vestido azul celeste, com um xale de crochê extremamente delicado. Brincava com uma mecha de seus cabelos negros quando Robert chegou, e sua postura e beleza lhe fazia compará-la a uma sereia.
Como ele gostaria de ter uma tela à mão neste momento, para pintá-la exatamente como a encontrara: sua beleza de bronze emoldurada pelas cores exuberantes do crepúsculo.
Lembrou-se, desgraçadamente, de uma discussão que tivera com o pai naquele dia mais cedo – a última, Robert havia decidido –, em que George jurara que o filho jamais seria feliz ao lado de Lucy. Em qualquer outra família, um juramento dessa natureza não passaria de um punhado de palavras amargas, proferidas com rancor; mas o juramento de um Griplen jamais deve ser subestimado.
Lucy olhou para ele e sorriu. E então o coração de Robert se perdeu completamente sob o encanto dela.
– Esta noite não haverá uma só estrela no céu de Salem – anunciou Robert, sorrindo de volta.
Lucy ficou de pé, ergueu os olhos para o lado escuro do horizonte, e franziu o cenho.
– Como pode saber disso? – ela perguntou, confusa, procurando no céu em quê ele se baseava para dizer isso.
– Elas estão intimidadas com sua beleza – declarou Robert, olhando intensamente no rosto dela.
LEIA MAIS

Esse Cara Também É Filho de Zeus

em quinta-feira, 1 de março de 2018


Eu confesso que não estava nos meus planos falar sobre o desenho do Hércules esse mês, mas aí o TBS resolveu desencavá-lo do fundo do baú – sério, acho que a última vez que eu tinha assistido essa versão do Hércules foi logo que ela saiu –, e depois a Disney também exibiu, e então me bateu uma vontadinha de resenhá-lo.
Antes de mais nada, é importante dizer que a Disney tomou diversas liberdades com o mito grego ao conceber este desenho. Parte disso se deve ao fato de a história do herói conter diversos traços que o compasso moral do estúdio não aprovaria – tipo Hércules ser fruto de um adultério –, e a outra parte se deve ao bom andamento do roteiro.
Permita-me explicar um pouco essa verdadeira salada que a Disney fez com os personagens das lendas gregas, antes de começar nosso desenho de hoje.
* Para começar, Hércules era filho de Zeus, mas não de Hera. Zeus se envolveu com a mortal Alcmena, esposa de Anfitrião, que havia sido banido de Micenas e foi viver em Tebas, e Hércules foi o fruto dessa união – aliás, algo muito comum na vida do soberano do Olimpo, que teve inúmeros filhos bastardos com mortais, ninfas e deusas menores ao longo dos séculos. Na ocasião do nascimento de Hércules, Hera ficou revoltada, e tentou inclusive matar o menino, atiçando uma cobra contra ele no berço, e Hércules deu um nó na danada, e ficou brincando com ela até algum adulto perceber e tirá-la de sua mão.
* Agonia e Pânico, os lacaios de Hades, foram inspirados em Phobos e Deimos (respectivamente Medo e Pânico), mas no mito grego eles eram filhos de Ares, deus da guerra, com Afrodite, deusa do amor.
* A Disney também cruzou as Moiras (ou Parcas, como dizem os romanos), as três entidades que determinavam o destino das pessoas, com as Greias, as velhacas que dividiam um único olho, e transformou-as em bruxas demoníacas lá do Mundo Inferior.
* Pégaso nasceu do sangue da Medusa, depois que Perseu a decapitou, e nunca chegou nem perto de Hércules.
* Mégara foi de fato esposa do herói, mas ela era filha de Creonte, rei de Tebas.
* O mito de Hércules é mais famoso pela descrição de seus doze trabalhos, impostos por Euristeu, rei de Micenas, depois que o herói, num acesso de loucura provocado por Hera, matou a esposa Mégara e todos os seus filhos. Seus trabalhos consistiam em matar o Leão da Nemeia; derrotar a Hidra de Lerna; furtar a Corça de Cerínia; capturar o Javali de Erimanto; limpar os estábulos imundos de Áugias – que ele precisou desviar o curso de dois rios para conseguir lavar, prova de que a coisa estava realmente feia! –; matar as Aves Carnívoras do Lago Estínfalo; roubar o cinto de Hipólita, rainha das amazonas – as guerreiras selvagens, não o estado brasileiro –; capturar os cavalos de Diomedes, rei da Trácia; e os bois do gigante Gerião; domar o Touro de Creta; roubar as maçãs douradas de Hera no Jardim das Hespérides; e por fim, capturar Cérbero, o cão infernal de três cabeças, que guarda a entrada para o Mundo Inferior.
Ufa! Só depois de toda essa trabalheira o herói pôde finalmente limpar seu nome, e mais tarde, curtir a aposentadoria no Olimpo, ao lado da deusa Hebe, mas isso é outra história.
Como o filme da Disney não podia ter mais de uma hora e meia, a maior parte dessa jornada acabou ficando de fora. Detalhadamente, mostraram apenas a luta do herói contra a Hidra, mas em vez de Lerna, ela aconteceu em Tebas, e a monstra foi enviada por Hades para perturbar nosso herói. Durante uma das canções do filme, vemos flashes do combate de Hércules contra o Pumba de Erimanto, uma ave gigante que provavelmente é uma das Aves Carnívoras do Lago Estínfalo, o Touro de Creta, a Medusa – que no mito original foi morta por Perseu, muito antes do nascimento de Hércules –, o Leão da Nemeia – que aqui foi interpretado por Scar, de O Rei Leão, que estava desempregado desde o fim do filme, sinal de que não tá fácil pra ninguém –, e até uma serpente aquática gigante, que deve ser parente do Monstro do Lago Ness, mas não consegui identificar o mito grego de onde ela saiu. Quanto ao Cérbero, Hércules até pôs uma coleira nele no desenho, mas só quando foi tirar satisfações com Hades pela morte de Mégara. Todo o resto não coube na película.
Enfim, vamos ao que interessa!
LEIA MAIS


Apoie o Blog Comprando Pelo Nosso Link




Topo