
Por Talita Vasconcelos
Quarentena, Dia 50
Hoje faz exatamente
cinquenta dias que eu não tenho nenhum arranca-rabo com a Dona Lourdes. Não
estou nos reconhecendo! Sério: nenhuma treta por causa da vaga na garagem,
nenhum desentendimento pelo descarte do lixo, nenhuma acusação de termos jogado
seu gato na lixeira – só para constar: nunca fizemos isso com o bichinho; o
caso é que ele sempre mergulha por cima do ombro de quem quer que abra a lata
de lixo no dia em que o seu Horácio do 62 faz macarrão com sardinha –, nenhuma
queixa porque a Dona Horrores(?) largou o saco de lixo no elevador – às vezes
eu desconfio que a Dona Lourdes reclama comigo porque me acha boa ouvinte –,
nada sobre o excesso de fumaça que sai pela janela da nossa cozinha – essa
reclamação é típica das sextas-feiras, que é o meu dia de cozinhar, e aí, só
orando; mas nos últimos tempos não tenho tido muitas oportunidades de
frequentar a cozinha, já que duas cozinheiras de mão cheia a tem mantido
ocupada quase vinte e quatro horas por dia. Enfim, Dona Lourdes não reclama de
absolutamente nada com a minha pessoa há exatos cinquenta dias. Estou começando
a ficar preocupada. Será que não seria o caso de pedir que um médico venha dar
uma examinada na síndica? Porque isso não é normal...
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