Saudade
das séries teen dos anos 1990. Não se passou tanto tempo assim, e no entanto as
diferenças são gritantes. Havia conteúdo nas séries da Disney e da Nickelodeon
duas décadas atrás, os episódios contavam uma história completa, abordavam um
assunto coerente com o cotidiano de jovens e adolescentes da idade dos
personagens, retratavam problemas reais, e todas as idiotices que esses jovens
cometiam para resolver seus dramas, que pareciam boa ideia na hora, mas que
depois se revelavam catalisadores de grandes confusões. A comédia era só um
detalhe, um bônus delicioso para quem assistia. Havia maturidade nos roteiros,
mostravam que adolescentes são seres pensantes, racionais, inteligentes. Que
cometem erros? Sim, o aprendizado faz parte da vida. Mas cometiam erros reais,
que você ou eu também poderíamos cometer, em vez das situações bizarras
mostradas nas séries atuais, com roteiros surreais, e situações que
dificilmente aconteceriam na vida real, nem em um milhão de anos.
Nada
contra quem gosta e se diverte com séries como iCarly, Sam & Cat, Liv &
Maddie e outras do gênero. Claro que, no meio de tanta bizarrice, é possível
rir de alguma coisa, mas às vezes eu
tenho a impressão de que esses roteiros são muito forçados, soam mais como
besteirol do que comédia infantil. Não retrata qualquer realidade, não existe
moral da história, por mais que tentem imprimir essa ideia. Não que uma série
infantojuvenil precise ter uma moral, mas se no passado era possível
transmitir um aprendizado ao mesmo tempo que divertia, por que não agora?
Sei
lá, pode ser que eu esteja ficando rabugenta, ou nostálgica, ou as duas coisas,
mas o fato é que não estou gostando dos rumos que canais como a Disney e a
Nickelodeon, que costumavam ser referência de qualidade em entretenimento
infantojuvenil – e que, verdade seja dita, eram tão apreciadas por adultos
quanto por crianças, justamente por causa da alta qualidade de suas produções
–, e que agora parecem decididas a se manter no ar a base de novelas teen
latino-americanas e séries de comédia besteirol infantil. Cadê os desenhos?
Cadê os bons roteiros? Lembrar que esses canais já foram responsáveis pela
produção de Hey Arnold, As Told By Ginger – um bom exemplo de rara maturidade
para um desenho –, DuckTales – que está de volta, só que com um design bem
diferente do que estávamos acostumados –, e tantas séries que seria até difícil
escolher só algumas para mencionar, e perceber a overdose de bobagens exibidas
neles hoje em dia, chega a dar desgosto.
Enfim,
depois deste imenso desabafo, chegou a hora de apresentar o momento nostalgia
de hoje, em que desencavei um episódio de outra série que está fora do ar há um
bom tempo.
A
série foi protagonizada pela namorada de Sheldon Cooper, Mayim Bialik. Isso foi
muito antes de ela conhecer a turma de nerds de The Big Bang Theory, antes de a
atriz fazer uma pausa na carreira para frequentar a universidade, e conseguir
seu Ph.D – sim, a moça é a única atriz de The Big Bang Theory que realmente
possui um Ph.D na vida real – em neurociência.
Blossom
foi produzida pela NBC, e teve cinco temporadas, exibidas também pelo SBT lá no
finalzinho dos anos 1990, e contava a história de uma adolescente, filha de
pais divorciados, que morava com o pai, que era músico e frequentemente
trabalhava à noite, e com seus dois irmãos mais velhos, e todos os dramas envolviam
principalmente o fato de viver num ambiente exclusivamente masculino. Blossom
não era muito diferente de outras meninas de sua idade, mas por ser a única
presença feminina na casa, os problemas típicos de meninas acabavam parecendo
muito maiores do que eram de fato. Seu pai era um pouco inseguro sobre a
maneira correta de criar uma moça, e sentia que havia cometido erros na
educação de seus irmãos – um deles havia tido um envolvimento com drogas, e o
outro vivia no mundo da lua, e parecia estar dez anos atrasado em idade mental.
Deixando de lado o segundo, não dá para imaginar a Disney ou a Nickelodeon
abordando temas como drogas ou sexo nas séries atuais. Na teoria, a mentalidade
do mundo evoluiu, mas na prática, a censura hoje é muito maior do que há vinte
anos, quando uma série infantojuvenil podia abordar tranquilamente temas tão
complexos, e botar o dedo na ferida de diversas famílias sem medo de uma
repercussão negativa ou passeatas em protesto, clamando para tirar a série ou o
canal do ar. Havia a preocupação de informar e mostrar a possibilidade de
recuperação. Não consigo imaginar Sam & Cat abordando temas como esses. O
mais próximo que já chegaram das drogas foi mostrar o vício da Cat por Bibbles
– um tipo de pipoca caramelada inglesa! Haja insulina, mas não chega nem perto
de ter tantas toxinas.
Além
desses temas polêmicos, e do roteiro repleto de personagens realmente cômicos –
sem a forçação de barra das séries teen atuais –, Blossom retratava diversos
problemas comuns dessa fase da vida com muito bom humor e uma pitada de exagero
– vão notar pelo episódio escolhido para a resenha de hoje que essa garota era
especialista em fazer tempestade em copo d’água, o que na verdade é a definição
da palavra “adolescente”: aquela fase difícil, em que pensamos ter todas as
respostas do mundo, e queremos todos os nossos problemas resolvidos pra ontem!
E frequentemente fazemos um monte de bobagens, pensando estar no caminho certo.
Blossom,
na verdade, nunca esteve entre as minhas séries preferidas dos anos 1990, mas
eu sempre ri muito com esse episódio, em que a garota transforma uma simples
mudança de escola numa tremenda encrenca.
E,
convenhamos que a trama é bem apropriada para essa época do ano.
Então,
sigam-me os bons!