Da atual mania hollywoodiana de produzir quinhentos remakes por ano, já apareceu de tudo, desde filmes de terror dos anos 1980 e 1990 que eram incríveis e se tornaram apenas uma versão mal contada do original, os irrelevantes e desnecessários – embora, na maioria das vezes, deslumbrantes aos olhos – live action dos desenhos clássicos da Disney, e, de vez em quando, uma versão razoável de um filme que marcou uma geração.
O escolhido para a review de hoje é uma versão mais que razoável de um queridinho da videoteca da maioria das pessoas.
Com um elenco de feras, que inclui Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway e Helena Bonham Carter, Oito Mulheres e Um Segredo exalta o charme e a inteligência das mulheres, principalmente quando decidem cometer um crime.
Enquanto que o filme original precisou de onze homens para guardar o segredo do audacioso roubo de um cassino em Las Vegas, a versão de 2018 só precisou de oito mulheres para perpetrar o roubo de um inatingível colar de diamantes, trancado a sete chaves, trezentas senhas e vigiado por centenas de guardas e câmeras de segurança. E o melhor de tudo: bem debaixo do nariz de todo mundo!
Senhoras e senhores, com vocês, um dos melhores reboots dos últimos anos: Oito Mulheres e Um Segredo.
Debbie Ocean, irmã do famigerado ladrão de cassinos Danny Ocean, aceita um acordo de condicional, depois de ter estado presa por cinco anos. Nesse acordo, ela se compromete a não ter contato com qualquer tipo de criminoso, o que, naturalmente, inclui a maior parte de sua família – exceto sua tia Ida, que é apenas uma dona de casa comum. Mas Debbie, coitada, ela não é criminosa. Seu irmão era criminoso, estava no sangue dele; ela só se apaixonou pelo cara errado, mas nunca quis cometer crime nenhum. E agora, se for posta em liberdade, ela só quer ter uma vida simples, arrumar um emprego, fazer novos amigos, sair para caminhar ao ar livre depois do trabalho, e pagar suas contas numa boa.
Cinco minutos depois...
Algumas pessoas simplesmente não mudam. E como tem 45 dólares no bolso, ela decide sair à caça de um bom cafofo para passar a noite. Tipo a suíte presidencial do melhor hotel da cidade.
Naturalmente, nenhum hotel oferece suítes maravilhosas por míseros 45 dólares, nem na Black Friday, mas...
E é assim que se rouba uma loja de maquiagem. E de roupas. E de sapatos... Na boa, Debbie Ocean fez uma limpa em meio Shopping Center, sem chamar atenção de um único segurança, sem arma, sem bagunça, e sem despentear o cabelo. Sei nem se valia a pena prender uma bandida tão bacana como essa.
Bora pro hotel?!
Debbie observa enquanto um casal faz o check-out na recepção; grava bem o sobrenome deles e o nome da recepcionista; espera alguns minutos e liga para a recepção, pede para falar com a mesma Mônica que os atendeu, e...
Sério que é fácil assim? Crianças, não façam isso na vida!
Enquanto Debbie rouba um casaco de peles e uma mala que estavam aos cuidados do carregador de bagagem, e sabonetes do carrinho do serviço de quarto, dispensa a camareira e toma um banhozinho relaxante, Lou, outra peça importante nessa história, está ensinando a uma das garçonetes de seu bar como deve preparar as garrafas que entrarão em serviço.
Não que a cena faça diferença, narrativamente, mas por aí dá para se ter uma ideia do caráter ilibado da outra protagonista.
No dia seguinte, depois de estar devidamente descansada, Debbie visita o túmulo do irmão, mesmo sem ter absoluta certeza de que ele esteja mesmo lá – porque, afinal, existe uma polêmica sobre ele ter realmente morrido ou não. E nesse momento, ela recebe a visita de Reuben Tishkoff, antigo financiador de Danny Ocean, que aparentemente já está a par do plano que Debbie está prestes a executar, e embora saiba que é brilhante, aconselha-a a não fazer, pois pode acabar voltando para a prisão.
E como conselho, se fosse bom, o povo não dava, vendia, Debbie sai do mausoléu, entra no carro de Lou e começa a compartilhar os detalhes a respeito do plano.
Moleza! Convenhamos, ela podia ter pensado em roubar um banco ou a casa de um deputado, mas ela só quer uma joiazinha bonitinha para combinar com seu perfume roubado...
Ok, Debbie sabe que roubar uma joalheria ou um museu não é o mesmo que assaltar o mercadinho da esquina.
É o seguinte, Lou: todo ano, o Metropolitan Museum of Art (MET) dá a maior festa do mundo, o baile de gala anual do MET, e sempre tem uma celebridade como anfitriã. Este ano, será a famosa atriz Daphne Kluger – aquela que já interpretou a Princesa Mia de Genóvia, a assistente favorita da Miranda Priestly, a Rainha Branca do País das Maravilhas, a Agente 99, etc. Mas Daphne não é o alvo, exatamente. Ela será apenas um meio para um fim. Vão fazê-la usar o colar que desejam e tomar dela durante o baile. Simples assim.
Pode conferir, Lou, Debbie já fez o orçamento. Ela repassou esse plano durante cinco anos, até torná-lo à prova de falhas. Claro que pensar com cinco mulheres tagarelando em sua cela não era nada fácil, mas ela descobriu que a solitária é um ótimo lugar para colocar as ideias em ordem. Agora, como uma arruaceira, frequentadora assídua da solitária conseguiu sair em condicional, é um mistério...
O primeiro passo agora é recrutar as ajudantes certas.
Para cometer o crime do ano de forma perfeita, você precisa de:
1) Uma estilista decadente, cheia de dívidas com a Receita Federal, cujo passaporte tenha sido confiscado até a quitação dos débitos;
2) Uma joalheira indiana com mãos extremamente ágeis e zero prestígio na família, que esteja sofrendo bullying em casa por já ter passado dos trinta sem arranjar um marido.
3) Uma hacker que, de preferência, não seja russa (porque no hablamos russo. Mas capengamos no alemão.)
Sim, eu sei que o Trump não é mais o Presidente dos Estados Unidos – graças ao bom Deus! –, mas era quando escrevi a review, e eu não queria desperdiçar essa piada.
4) Alguém com mãos extremamente leves – de preferência pequenas –, para Daphne não senti-las em seu lindo pescocinho.
5) Uma receptadora com talento especial para conseguir brinquedinhos interessantes.
Equipe formada, agora vamos desenvolver esse grande plano. Todas se reúnem no cafofo da Lou – que, aliás, é um lugar incrível; difícil de aquecer, mas muito estiloso –, onde examinam uma maquete do MET e elaboram todos os detalhes do plano.
O colar que pretendem roubar chama-se Toussaint, e tem quase três quilos de diamantes. Foi batizado em homenagem a Jeanne Toussaint, diretora da Cartier nos anos 1930. Depois que ela morreu, a joalheria trancou o colar no cofre e nunca mais o tirou de lá.
Seu primeiro passo para pegá-lo, é conseguir que Rose chame a atenção de Daphne Kluger, para que a escolha como sua estilista para o evento. O que não é tão difícil. O plano foi elaborado, desenvolvido e patenteado pelo Seu Madruga, quando decidiu se tornar vendedor de balões.
Mas é melhor não ir com muita sede ao pote, não, Dona Rose. Se puxar o saco dessa moça, ela logo vai enjoar de você.
Uma vez contratada, Rose deve insistir que Daphne pegue o Toussaint emprestado na Cartier, para combinar com a exposição de joias da coroa de oito famílias reais da Europa, que estará no MET na época do baile.
Quando tiverem acesso a ele, as garotas vão copiá-lo e se tudo der certo, no fim do dia cada uma delas ficará 16 milhões de dólares mais rica.
Rose usará um par de óculos especiais com conexão wifi, para escanear o colar verdadeiro e enviar um modelo digital para a espetacular impressora 3D que Tammy contrabandeou em Deus Sabe Onde, para produzir uma cópia do Toussaint em zircônia.
Rose e Amita vão à Cartier pedir que liberem o colar em nome de Daphne Kluger, mas isso não é tão fácil, porque, devido ao seu tamanho, peso e valor de mercado, a joalheria tem certa dificuldade em colocar o Toussaint no seguro.
Essa negociação precisou ser realizada em francês. E assim que conseguiu permissão, a estilista biruta desceu ao cofre para “ver de perto” o magnífico colar. E foi aí que começaram os problemas...
Vencida a parte mais difícil, só precisam dar um jeitinho de se infiltrar na mais exclusiva lista de convidados do país; o que é bem mais fácil quando se tem uma pessoa infiltrada na organização do evento.
Além disso, Debbie já conferiu pessoalmente que a segurança do museu não é lá essas coisas, pois ela acrescentou uma tela à exposição e ninguém viu.
Nossas amigas ouviram essa conversa em detalhes, porque a Constance, nossa japinha de dedos leves, afanou um crachá de acesso para que Bola 9 pudesse entrar no museu fantasiada de faxineira, interromper a reunião para “tirar o lixo” e plantar uma escuta na sala da segurança. E agora que já sabem qual é o sistema de câmeras operado no MET, e qual a empresa que o projetou, fica fácil mexer nele.
Seu objetivo é criar um ponto cego, para que as moças possam tirar o colar de circulação sem serem detectadas. Por causa de uma lei estadual – que vou ficar realmente chocada se tiver exceções pelo mundo –, não é permitido ter câmeras dentro dos banheiros em Nova York, mas há uma focalizando a porta do banheiro feminino do lado de fora, e é essa câmera que elas pretendem mover. Qualquer pessoa que for vista saindo do banheiro será considerada suspeita, de modo que precisarão de uma mula. Por sorte, Constance não precisará de mais do que três metros para plantar o colar em alguém no corredor. Mas se moverem a câmera de uma vez, o pessoal da segurança vai perceber. Bola 9 promete movê-la bem devagar, e isso levará dez ou doze dias.
Exatamente o tempo que ela passou no xadrez.
Bola 9 só terá que criar um link falso para atrair o responsável pelo monitoramento do sistema de câmeras do MET, para ter acesso à sua Webcam e ao sistema completo de segurança do museu.
Os óculos da impressora 3D entram em ação ainda mais uma vez, quando Tammy o usa para escanear o mapa das mesas, para que as amigas possam saber quem estará na festa e onde estarão sentados. Há um lugar vazio ao lado de Daphne, reservado para o seu acompanhante, que ainda não foi escolhido. Bem, foi, mas pela Debbie, e não pela organização do evento.
Além disso, Debbie já tinha feito uma visitinha ao palhaço em sua galeria. Até chamou atenção para o fato de que na prisão as pessoas não são nada gentis com dedos-duros.
Acontece que alguns anos atrás, Debbie e Claude davam golpes aumentando subitamente os preços de obras de arte quando aparecia um comprador interessado, fazendo parecer que tinham outro comprador na jogada, subindo os lances. Pura vigarice, é claro. Até o dia em que Claude fez Debbie assinar documentos como sendo a vendedora, e não a compradora em potencial, como de costume. Justamente nessa ocasião, a polícia preparara uma armadilha para pegar os trambiqueiros com a boca na botija. Debbie foi presa, e Claude contou tudinho na delação premiada. E é por isso que agora ela está determinada a se vingar dele.
Agora que já escolheram o bode expiatório que vai levar a culpa pelo roubo, e que o ponto cego de quatro metros está garantido, basta arrumar um motivo para Daphne dar um pulinho no banheiro durante a festa.
Tammy chama atenção da organização do evento para o fato de que o buffet contratado não tem um nutricionista, e eles terão pelo menos 30% de refeições especiais esta noite: vegetariana, vegana, com pouco sal, sem glúten, sem lactose... E ela “já viu isso dar processo”. Assim, ela consegue autorização para contratar uma nutricionista que acabou de chegar da Austrália. Adivinha quem? Quem é australiana nesse elenco? Lou.
Enquanto elas se preparam para o grande dia – inclusive experimentando os figurinos e roupas de gala –, Daphne mostra a exposição do MET para a imprensa na véspera do baile.
O suficiente para comprar uma ilha no Caribe!
A propósito, Rose Weil acompanhou pessoalmente a prova do colar, que ela garantiu à Daphne que seu pescoço é o único no mundo digno de usar. Contudo, o mais impressionante não é nem o tamanho enorme da joia, nem o peso de três quilos de diamantes, mas a surpreendente descoberta de que ele só pode ser aberto com um imã especial. Sorte que Rose pensou rápido, e filmou a reprise da abertura do colar para mostrar às amigas, ou o plano todo teria ido por água abaixo naquele instante.
Por sorte, Bola 9 tem uma irmãzinha esperta, que conseguiu descobrir o segredo desse imã especial, e prometeu conseguir um igual para elas.
Chega finalmente o grande dia. Rose acompanha Daphne no tapete vermelho, onde a imprensa que faz a cobertura do evento fica empolgada com a visão do magnífico colar.
Enquanto a exuberante anfitriã assume seu lugar no jantar, Lou lidera a equipe na cozinha, e aproveita para pingar uma substância desconhecida na sopa que Daphne começará a devorar assim que chegar à mesa.
Sim, você está sendo mal educada, moça! O Chaves tem mais modos à mesa do que você! Mas como faz parte do plano, vai fundo.
De repente, porém, ela começa a se sentir mal e corre para o banheiro, arrastando os seguranças que a Cartier enviou para acompanhar o Toussaint atrás dela. Mas...
Debbie Ocean foi ao baile fantasiada de alemã, passando-se por Hilda Schneider, executiva da Lufthansa.
E enquanto ela impede que os seguranças entrem no banheiro, e retorna calmamente ao limite visível do ponto cego, para ser vista pela câmera o tempo todo, Daphne coloca os bofes para fora, enquanto Constance, passando-se por assistente de toilette – coisa de gente chique, ter alguém para trazer mais papel higiênico numa emergência, tipo o Alfredo –, segura seu cabelo e afana sorrateiramente o colar.
Agora é só colocar na borda da abarrotada bandeja que um garçom está carregando e... A mula partiu!
Mas o que aconteceu com esse rapaz que está demorando tanto para levar essa bandeja para a cozinha? Será que morreu no caminho?
Isso aí, Bola 9, conta tudo pra sua mãe, Quico! Põe ordem nesse galinheiro, contrabandista do eBay! Essa molecada de hoje em dia não está nem aí com nada... Atrasando um negócio importante desses...
O jantar das celebridades, gente! Do que vocês pensaram que eu estava falando?
Até aqui, tudo bem. Mas esperem só até a Daphne sair do banheiro, pelo menos três quilos mais leve.
Aí começa a confusão. Porque o colar podia ter caído no vaso, podia ter caído no caminho, podia ter virado complemento da sopa mal digerida... Um claro desperdício de diamantes, convenhamos...
Como ninguém consegue esclarecer o que aconteceu, o museu é lacrado, os convidados são redirecionados para o jardim, e qualquer um menos famoso que o Leonardo Di Caprio será revistado até às orelhas. Sem falar nos funcionários da cozinha que não ficarão com uma verruga oculta no corpo depois da revista.
A confusão é grande. E vai piorar quando um segurança se aproximar do banheiro para funcionários onde Amita está desmontando o colar.
Está meio quentinho, gente, porque Tammy o tirou da calcinha.
E do lago, de onde supostamente foi tirado, o colar volta direto para o pescoço da Daphne, que não tira mais as mãos dele pelo resto da noite.
E agora que já passou o perigo, falta só nossa japinha, Constance distribuir as joias que Amita montou durante a confusão.
Claro que Amita montou uma peça a mais, um broche, que Debbie não teve dificuldade em plantar em seu bode expiatório, Claude Becker, com uma única esbarradinha.
Mas o crime não demora a ser descoberto. Assim que Daphne devolve o colar para a Cartier, o joalheiro que foi fazer a limpeza da peça antes de guardá-la de volta no cofre, percebe a falsificação, e aciona a seguradora, que envia imediatamente um fiscal para investigar se a troca não faz parte de uma fraude. Afinal, ele já viu muita coisa por aí, e sabe que as pessoas são capazes de tudo para dar golpes nas seguradoras. E cento e cinquenta milhões de dólares não podem ser pagos assim, sem uma investigação minuciosa.
Falando em suspeito...
Depois de interrogar meio mundo na Cartier, na equipe de segurança do MET, de checar cada centímetro dos encanamentos (eca!), e de descobrir apenas:
1) Que não ficou nenhum diamante no cano (ou vai ver eles não têm a mesma resistência do milho...);
2) Que o cara da segurança não gosta que chame aquela porta de banheiro invisível de ponto cego;
3) E que aquela erva (?) não era do garçom que foi usado como mula, e que ele jura só ter dado um traginho;
4) E que essa mula é anta demais para ter culpa de alguma coisa...
John Frazier, o fiscal da seguradora, decide investigar diretamente a cena do crime, ou seja, o pescoço de Daphne Kluger.
Mas, naturalmente, ela estava perturbada demais no momento do roubo, botando os bofes pra fora, para perceber quem poderia ter roubado o colar.
Dentro do banheiro ela não se lembra de ter visto ninguém – nem a funcionária simpática que segurou seu cabelo, enquanto ela chamava o Raul –, mas lá fora, tinha gente à beça em volta dela. Por isso o detetive decide mostrar algumas fotos de pessoas que estavam no baile, para ver o que Daphne sabe sobre elas.
Começando por Claude Becker, seu acompanhante. Ela não o conhecia antes do baile, e jura de pés juntos que não ficaram sozinhos em momento algum enquanto ela estava com o colar. Sinal de que havia pelo menos mais um ponto cego no museu, porque...
Mas isso não vem ao caso, detetive. Porque tinha outra celebridade interessante no baile.
Ou seja: ironicamente, ele tem um monte de gente inocente parecendo suspeita, e alguém que deveria ser suspeita, mas não é.
Depois de se livrar do interrogatório do detetive, Daphne vai direto ao QG das bandidas para avisá-las do perigo.
Porque, convenhamos, na melhor das hipóteses, ela devia ter sacado o interesse de Rose Weil em ver direito como os caras da Cartier abriam o colar. Além disso, ela reconheceu a atuação quando a estilista disse que o pescoço dela era o único digno do Toussaint, e seu desespero para convencê-la a pedir o colar. Sem falar que Daphne nunca vomita, nem quando está muito bêbada, e nunca esquece um rosto, não é, Debbie?
Felizmente, elas a convenceram a colaborar com o plano, e graças a isso, agora já sabem que tem um detetive em sua cola. Se bem que Debbie já sabia disso, e já conhece o sujeito de outros carnavais.
Claro que ele não tem por que ir direto atrás delas, pois tem outras pessoas para suspeitar, como ajudantes de cozinha maconheiros, seguranças distraídos, e Claude Becker, a quem Debbie garantiu pessoalmente que o detetive tivesse fortes motivos para investigar mais de perto. Embora John Frazier não entenda por que um cara rico como ele, dono de galerias de arte, roubaria um colar, como o cara não se lembra de onde suas mãos estavam durante a festa, e o detetive resgatou imagens do jantar em que as mãos do cara estiveram muito próximas do pescoço de Daphne, Debbie decide dar um empurrãozinho para o detetive concluir seu trabalho.
Contra fatos não há argumentos. O detetive nunca a viu com as mãos no colar. “Estão dizendo que ela pode ter roubado”. É o que diria o advogado de defesa, mas – protesto, meritíssimo! – isso é só especulação.
Mas o detetive está sem saco para esses joguinhos. Ele nem queria estar ali, para início de conversa, vir de Londres só para investigar o sumiço de umas pedrinhas brilhantes, encarar o Jet-Leg, o fuso horário, perder o Arsenal na final da Copa da Inglaterra naquele fim de semana (como o filme foi gravado em 2017, ano de renovação do contrato do Wenger, certeza que o Arsenal foi campeão. Porque o dito cujo sempre ganhava o título no ano de renovar o contrato, só para garantir mais dois anos no cargo, o filho da mãe! Mas Premier League que é bom, nada. Foi mal pelo desabafo, também sou Gunner. E quando finalmente decidem despachar o mané, ficam trocando seis por meia dúzia...).
Mas já que está ali, talvez Debbie possa ajudá-lo a recuperar uma parte do colar. Hipoteticamente, uns dez por cento.
Porque neste exato momento, Daphne está na casa de Claude Becker, seduzindo-o com um jogo de cartas. Strip-pôquer, ao que tudo indica. Isso, ou ela vai brincar de “ache a rainha” com o “valete” dele...
E depois de algemá-lo na cama, ela pede uma licencinha para ir ao banheiro, aproveita para fuçar seu closet, e fotografar o broche que Debbie plantou no smoking dele. O que dá ao detetive Frazier um motivo para pedir um mandado, e prender o dito cujo, com broche e tudo.
Além disso, quatro senhorinhas, que aparentemente não existem, transferiram uma grande soma de dinheiro para uma das empresas dele. Ou seja, eles já têm uma ideia do fim que levou o resto do colar.
Essas senhorinhas podem até ter sido as mesmas atrizes que elas contrataram para contar histórias comoventes aos joalheiros ao redor da cidade, para vender as peças que Amita montou com as pedras do colar.
Essa venda resultou em 85 milhões de dólares – porque não dava para garantir os cento e cinquenta milhões redondinho com o colar todo desmontado, e sem a parte usada no broche para incriminar seu bode expiatório –, mas, inexplicavelmente, cada uma delas ainda ficou com dezesseis milhões de dólares no final de tudo.
Elas não copiaram só o Toussaint com aquela impressora 3D, mas todas as joias europeias emprestadas pelo Dimitri Nome-Enorme-Em-Russo-Que-A-Daphne-Não-Sabe-Pronunciar. E enquanto se preparavam para sua grande noite, Lou foi visitar um velho amigo, Yen – o acrobata que era da panelinha do irmão da Debbie, e um ninja do crime. Literalmente. A exposição era temporária, por isso instalaram várias treliças de metal para pendurar os vestidos que acompanhavam as joias. Daí, elas tiveram a ideia de pendurar o Yen do mesmo jeito, e usar um submarino de controle remoto de brinquedo para transportar os colares verdadeiros e os falsos em sacos plásticos pelo fosso.
Por incrível que pareça, foi menos fácil roubar essas joias da coroa do que o Toussaint, porque os seguranças apareceram durante a ação, e Debbie precisou distraí-los, contando em alemão uma história fascinante sobre o dia em que seu marido guardou os sapatos na geladeira.
E agora elas finalmente podem curtir os frutos de seu “trabalho”:
Rose Weil abriu uma nova loja para sua grife na Quinta Avenida;
Tammy tem um novo depósito para guardar sua muamba; e agora “parece” uma distribuidora respeitável;
Amita saiu da casa da mãe, parou de sofrer bullying, e está curtindo la vie en rose em Paris;
Constance comprou um apê maneiro, e já postou tudinho no YouTube;
Daphne Kluger está dirigindo um filme. Ela ainda não tem a menor paciência com gente que não sabe atuar;
Lou caiu na estrada com sua moto mega irada;
E Debbie foi comemorar seu triunfo brindando com a lápide de seu irmão.
Moral da história: o crime não compensa. A menos que seja bem feito.
ATENÇÃO: O Admirável Mundo Inventado não faz apologia ao crime, e não é responsável por pessoas que levam uma piada a sério. Apenas admiramos histórias de ficção bem elaboradas e bem contadas.
Curiosidades:
O colar mostrado no filme, Toussaint, foi uma joia real, batizada em homenagem a Jeanne Toussaint, Diretora Criativa da Cartier nos anos 1930. Jacques Cartier desenhou a peça original para o Marajá de Nawanagar, membro da realeza indiana, em 1931, porém o destino da joia é incerto: não se sabe se ela não existe mais (tendo sido destruída ou desmontada) ou se ela simplesmente está desaparecida. Uma história apócrifa (portanto, duvidosa) que circula na internet, é que ela desapareceu quando seu dono foi supostamente exilado, mas não encontrei nenhuma fonte confiável que citasse esse exílio do marajá.
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