Hoje vamos falar sobre um assunto de vital importância para
todos que, como eu, tiveram uma boa infância. Vamos falar de Histórias em
Quadrinhos. Mas não qualquer HQ. Vamos falar de uma turminha em particular que
já nos fez experimentar todos os tipos de sentimentos possíveis – desde pena
pelo protagonista constantemente sacaneado por sua vizinha mal-humorada (mas
secretamente apaixonada por ele, desconfio), até um tipo interessante de
vergonha alheia pelas alucinações de um cachorro chapado de chá de cogumelo ou
daquela água que o passarinho não bebe, misturado com o cigarro que o
passarinho não fuma.
Criada por Charles M. Schulz em 1950, e publicada em tiras
diárias em diversos jornais durante cinquenta anos, Peanuts tem uma história
interessante. A começar pelo fato de que seu criador, a princípio, não gostou
do título da tira, sugerido pelos executivos da United Feature Syndicate, de
Nova York. Mas, como a proposta era publicar a tirinha simultaneamente em sete
jornais diferentes nos Estados Unidos, Schulz colocou seus escrúpulos de lado,
aceitou o título sugerido pelos executivos, e deu vida aos traços iniciais do
que se tornaria o grande sucesso de sua carreira.
E o sucesso da turminha nos jornais foi tão grande que, em 1965,
um estúdio de TV decidiu produzir o especial A Charlie Brown Christmas (O Natal
do Charlie Brown), em desenho animado – outro pontapé inicial para uma série
de desenhos animados, longas-metragens e especiais para TV inspirados nos
quadrinhos de Schulz.
Dali em diante, o cartunista passou a ver seus personagens
estampados em toda parte: em cadernos, camisetas, cremes dentais infantis...
Desconfio que depois disso, Schulz passou a olhar com mais carinho para as
tigelinhas de amendoim (Peanuts, em inglês. Entendeu agora porque chamam o
garoto de Minduim, né!?).
A despedida da turminha dos quadrinhos aconteceu em 3 janeiro de
2000. Schulz sofrera de Mal de Parkinson nos últimos anos de sua vida, e como
consequência disso, é possível notar no traço de suas últimas tiras o tremor de
sua mão.
Em 12 de fevereiro de 2000, um mês após a publicação de sua
última tira nos jornais, Charles Monroe Schulz faleceu, aos 77 anos de idade. A
família respeitou seu pedido para que as tirinhas de Peanuts não continuassem
sendo produzidas por outro desenhista. Desde então, todas as tirinhas
publicadas nos jornais, são republicações das tiras originais de Schulz, apenas
com a data alterada e, mais recentemente, coloridas.
No ano passado, durante o Halloween Animado que produzi aqui no
blog, um dos desenhos resenhados foi o especial "É a Grande Abóbora,
Charlie Brown!", e, em breve, provavelmente, falarei sobre a animação em
3D Peanuts – O Filme.
Por hora, quero falar das tirinhas.
Sei que é desnecessário, afinal, todo mundo conhece as figuras,
mas vamos começar apresentando a galera:
Charlie Brown (Minduim,
para os íntimos) – é um garoto melancólico e azarado, com uma dificuldade
patológica de manter uma pipa no ar por mais do que um milésimo de segundo, e
que um dia precisará de uma cirurgia reparadora nos quadris, de tanto bater a
bunda no chão sempre que, ingenuamente, tenta chutar a bola de futebol
americano que é tirada do lugar no último instante por sua pé-de-cabra mal
humorada, Lucy. E, ao contrário do que sempre pensamos, Schulz explicou certa
vez que Charlie Brown, na realidade, não era careca, mas que seu cabelo loiro
era tão claro que só o que ficava visível era o topetinho enrolado. E
acreditamos para não perder a amizade...

Lucy van Pelt – já que mencionei o possível caso de amor a
la Helga Pataki de que Minduim pode ter sido vítima durante toda a sua
infância, vamos falar da possível outra metade de sua laranja podre.
Lucy é a vizinha mal-humorada, irmã do melhor amigo de Charlie,
que gosta de sacanear o coitado sempre que tem oportunidade. Especialmente
quando o convida para jogar futebol americano. É possível que a bruxinha tenha
um coração bom afinal de contas, já que, apesar de xingá-lo e criticá-lo o
tempo todo, Lucy está sempre disposta a cuidar e proteger seu irmão caçula,
Linus, mesmo quando ele está bancando o idiota, dormindo ao relento numa
plantação de abóboras, somente com a proteção de seu inseparável cobertorzinho,
no gélido outono norte-americano – para depois dar algumas chineladas no
moleque pela manhã, imagino.

Linus van Pelt – o melhor amigo de Charlie Brown, e irmão caçula
da Lucy. Linus era um garotinho engraçado e fofinho, que vivia andando por aí
com seu inseparável "cobertor de segurança" – na verdade, alguém
chame os seguranças para arrancar o cobertor desse moleque para a mãe dele
poder lavar, porque, pelo visto, um dia desses, o troço vai sair andando
sozinho. Linus também é um garoto crédulo, e tem esperança de que um dia verá a
Grande Abóbora surgir no meio da plantação de abóbora no Halloween, trazendo
presentes para todas as crianças boas. E não adianta dizer a ele que está
confundindo as lendas, porque ele sabe perfeitamente quem é o Bom Velhinho, e
só lamenta que ele tenha tido mais publicidade.

Snoopy – o beagle de estimação de Charlie, que tem manias de escritor,
gosta de datilografar histórias malucas em cima do telhado de sua casinha, e,
frequentemente, puxa um cigarrinho que o Woodstock não fuma, e imagina que é um
aviador da Primeira Guerra Mundial, combatendo o Barão Vermelho – que, por
acaso, é um antepassado da Suzane Richthofen. Mas isso não vem ao caso...
Também temos nessa turminha:
Patty Pimentinha – alguns a classificam como ingênua ou mesmo
burra; eu acho essa menina preguiçosa. Ela não é a melhor aluna da escola –
embora o mais recente filme do Minduim mais ou menos insinue o contrário,
embora o sucesso da Pimentinha tenha sido acidental –, mas é uma esportista de
primeira.


Violet Gray – uma amiga esnobe da Lucy, que também gosta
de ridicularizar Charlie Brown. Por exemplo, usando a cabeça dele como molde
para desenhar o rosto da abóbora de Halloween.


A Garotinha Ruiva – a primeira paixão não correspondida de
Charlie. Nunca foi desenhada nas tirinhas, mas sempre pareceu simpática nas
animações.


Schroeder – o amor da vida de Lucy. Apesar de que eu
desconfio que ele nunca passou de uma quedinha por menininhos bonitinhos que
essa mini Dona Florinda alimentava na infância, porque tenho a impressão de que
o coração da malvada batia mesmo era pelo Minduim. Seja lá como for, ela
tentava, sempre que podia, tirar uma casquinha de Schroeder enquanto ele tocava
música clássica em seu piano minúsculo.

Franklin Armstrong – e como Schulz também era obrigado a seguir
um rigoroso sistema de cotas, ele criou Franklin Armstrong, um garoto que gosta
de esportes, e único negro entre os personagens. Só estou comentando isso
porque, sinceramente, não consigo me lembrar de nenhuma outra característica
desse personagem, nem de ele ter tido qualquer participação relevante em
nenhuma das tirinhas. Parecia só estar ali para preencher uma cota, mesmo.
Frieda – a garota vaidosa de cabelo cacheado sem qualquer outra característica que mereça destaque.
Shermy – protagonista da primeira tirinha, que acabou perdendo espaço com o tempo.
Rerun – irmão mais novo de Lucy e Linus, frequentemente esquecido nas
animações.
Eudora – a amiga de Sally que usa uma boina, e que também fica esquecida
na maior parte da animações.
E os sete simpáticos irmãos do Snoopy: Spike, Andy, Olaf, Marbles, Belle, Molly e Rover, que também não ganharam muita notoriedade. Afinal, um
cachorro chapado já é suficiente para dar comicidade à história.
Mas por que ficar aqui falando, se podemos deixar a obra de
Schulz falar por si?
Veja bem:
Temos o cachorro mais esperto do mundo.
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Tamo junto
nessa luta, Snoopy!
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Uma
turminha que não precisa dizer uma palavra para ser engraçada.
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Cá entre
nós, essa ela mereceu. Vai mexer com quem tá quieto...
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Com
dramas que muita gente se identifica.
Dão
conselhos pro Datena.
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Mesmo que,
infelizmente, ele não tenha lhes dado ouvidos...
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Essa,
na verdade, serve para ele e para o pessoal de Brasília:
Simplificam
a vida com filosofias básicas.
![]() |
Mas é melhor
que essa moda não pegue, Snoopy.
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E
nos brindam com preciosas lições de vida.
Para
encerrar, fiquem com a comédia simples e cativante neste quadrinho colorido:
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