♪ É dos Vilões Que Ela Gosta Mais ♪♪

em sexta-feira, 9 de novembro de 2018


Uma palavra resume a maior parte do livro: clichê! Aliás, esse foi mais ou menos o tema de uma das histórias. Outra boa definição é que simplicidade demais às vezes é sinônimo de maçante. E em alguns casos, o contexto também deixa muito a desejar.
O Livro das Princesas nos traz releituras modernas dos clássicos contos de fadas, escritos por quatro grandes autoras contemporâneas: duas brasileiras e duas americanas. Aliás, a primeira coisa de que senti falta nesse livro foi de um autor masculino. Você pode até dizer: ah, tá, homem escrevendo contos de fadas... Mas, ei! E os Irmãos Grimm? Hans Christian Andersen? Charles Perrault? E me atrevo até a dizer: Charles Dickens! Os grandes autores ou coletores de contos de fadas foram homens; então é coerente querer que a pena deles também esteja envolvida nas versões modernas. Provavelmente mais alguém sentiu falta disso, pois no segundo volume, O Livro dos Vilões, convidaram um autor brasileiro maravilhoso para participar – aliás, o autor do melhor conto do livro, conforme comentei na resenha.
Mas o tema de hoje é o Livro das Princesas. E, de novo, como o livro nos traz quatro contos escritos por autoras diferentes, vamos falar de cada um individualmente.


O Livro das Princesas
Autores: Meg Cabot, Paula Pimenta, Lauren Kate, Patrícia Barboza
Editora: Galera Record
Páginas: 288
Gênero: Contos de Fadas | Jovem Adulto

Sinopse:
As mais populares autoras contemporâneas norte-americanas, Meg Cabot ('Diário da Princesa e A Mediadora') e Lauren Kate (Fallen), se unem às brasileiras e igualmente bem-sucedidas Paula Pimenta ('Fazendo Meu filme') e Patricia Barboza ('As MAIS') em uma coletânea que reinventa contos de fadas clássicos e traz para a realidade das crianças e jovens de hoje em dia. Uma Cinderela Dj, uma Rapunzel popstar, a Fera se apaixona por uma supermodelo, e existem unicórnios na história da Bela Adormecida.
'O Livro das Princesas' é o novo clássico. Meg Cabot recria a história de 'A Bela e a Fera' em 'A Modelo e o Monstro'. A bordo de um transatlântico de Miami para Santos, em São Paulo, Belle, uma modelo famosa, irá questionar os próprios valores depois de conhecer um rapaz misterioso e gentil, que se esconde nas sombras.
Em 'Princesa Pop', Paula Pimenta reinventa 'Cinderela'. Cintia vê seu cotidiano virar de cabeça para baixo depois da separação dos pais: vai morar com a tia, se afasta do pai e, principalmente, deixa de acreditar no amor. Até que um encontro inesperado e revelador a faz rever as próprias escolhas.
'A Bela Adormecida' é recontada por Lauren Kate em 'O Eclipse do Unicórnio'. Duas realidades e três personagens têm seus destinos entrelaçados: um jovem que levou um fora da namorada e se vê obrigado a participar de uma excursão da escola para Paris, uma princesa que há séculos foi vítima de uma maldição e o unicórnio responsável por sua desgraça.
Patricia Barboza reconta a história de 'Rapunzel' em 'Do Alto da Torre'. Camila tem cabelos muito compridos por causa de uma promessa feita pela madrinha quando estava doente, mas que acaba quando ela fizer 15 anos. Finalmente ela poderá cortar o cabelo e ser normal como as outras meninas. Só que um acidente com o melhor amigo vai mostrar que primeiro ela precisa aceitar quem realmente é.

EEEEE 





Mas antes de começar a resenha, gostaria de fazer uma observação.



Não, sério, gente. Notei uma coisa curiosa na organização desses livros de contos de fadas da Galera Record: o primeiro conto é sempre o mais tosco; o segundo, é o da autora com expectativa mais alta – e invariavelmente o melhor ou um dos melhores do livro –; e o terceiro é o sonífero... Digo, A Bela Adormecida. A única diferença ficou por conta do último, que, se no Livro dos Vilões foi o supra sumo, aqui nos fez voltar ao início do livro.
Mas para ser justa com cada conto individualmente, vamos por partes.


EEEE
Meg Cabot, autora de O Diário da Princesa, A Mediadora, Avalon High, e inúmeros outros livros e séries de livros de sucesso, nos apresenta sua versão de A Bela e a Fera.
Aqui, Belle Morris é uma famosa modelo de dezoito anos, que entrou nessa profissão para pagar as contas da casa, depois que sua mãe ficou gravemente doente, e o pai acabou sendo demitido por ter faltado demais ao trabalho para cuidar dela. A história é realmente muito triste. Mas as coisas estão começando a melhorar: seu pai, depois de um período apático, conseguiu se reerguer com a ajuda de uma mulher chamada Vivian, e Belle decidiu dar ao casal uma viagem num cruzeiro de Miami para o Brasil como presente de casamento. Porém, seu pai só aceitou com a condição de que ela e sua nova irmã Penny fossem junto.
Assim, Belle acabou embarcando no Enchantment of the Seas com sua nova família, acreditando que seu pai estava planejando bancar o alcoviteiro e juntá-la com o famoso jogador de futebol Gus Stanton (soa parecido com Gaston?), mas ela não dá muita bola para o artilheiro, pois tem sua atenção imediatamente conquistada pelo Sombrio Misterioso Adam.
E quando eu digo imediatamente, é imediatamente mesmo! Ela o vê na varanda de sua suíte, nem consegue enxergá-lo direito, e já fica toda impressionada. Não sei se é porque eu já passei dessa fase adolescente de acreditar que amor acontece num plim, ou de fantasiar com minha ideia sobre uma pessoa, mas esse tipo de trama anda me incomodando bastante ultimamente. Ela cruza aquele limite entre a ficção e o surrealismo.
Mas como estamos diante de uma nova versão de A Bela e a Fera, esqueçam a parte em que o garoto é lindo, maravilhoso, deslumbrante, o príncipe dos seus sonhos. Adam não tem a melhor das aparências, mas Belle vai descobrir que seu caráter é o que o torna especial.
Já tinha lido algumas coisas da Meg Cabot de que gostei mais, então acho que isso explica porque fiquei tão frustrada ao descobrir que o conto dela, que teve como inspiração o melhor da lista – e também o mais difícil de adaptar, é bom que isso seja levado em consideração –, foi o mais sem graça do livro. Basicamente, a história vai do nada a lugar nenhum, e o desenvolvimento ficou muito abaixo da fama da autora.
A única coisa interessante nesse conto, e preciso mencionar, porque, como dizem os argentinos – eu acho –, brasileiro tem complexo de vira-lata; mas Meg Cabot pesquisou corretamente, e fez uma menção importante em seu conto: um dos motivos para certa pessoa estar a bordo do cruzeiro era o desejo de vir para São Paulo consultar médicos especialistas para uma cirurgia que o livraria de seu probleminha – vou falar assim, meio misteriosamente sobre o caso para não dar muito spoiler. É bom que uma autora americana tenha feito essa menção, porque, apesar de a gente não dar muito valor a nossa pátria amada, temos aqui no Brasil alguns dos melhores profissionais em diversas áreas da medicina e estética, como ortopedia, cirurgia plástica, cardiologia, entre outros.
Ponto para a Sra. Cabot pela referência!





PRINCESA POP
Autores: Paula Pimenta
Editora: Galera Record
Páginas: 160
Gênero: Conto de Fadas | Jovem Adulto

Sinopse:
Cintia é uma princesa dos dias atuais: antenada, com opiniões próprias, decidida e adora música!
Essa princesa pop morava com os pais em um castelo enorme de onde via toda a cidade. Todas as noites ela olhava pela janela, de onde ficava admirando a vista e sonhando... com um príncipe que ainda não conhecia.
Porém, um dia, o castelo de Cintia desmoronou e com ele tudo à sua volta. Desiludida, ela deixou de acreditar em romances e teve que reconstruir cada parte de sua vida, sem deixar o mínimo espaço para o amor.
Ela só não contava com um detalhe... Havia mesmo um belo príncipe em sua história. E tudo o que ele mais queria era descongelar o coração da nossa gata (nada) borralheira!

EEEE




Como de costume, o melhor conto tinha que ser brasileiro!
Comecei esse conto com a expectativa enterrada no pré-sal. Todo mundo sabe da minha implicância com a Cinderela, com as irmãs da Cinderela, e com quase todas as versões desse conto de fadas – com exceção de minha querida Aschenputtel, da série alemã que resenhei algum tempo atrás aqui no blog. Minha vontade sempre foi enterrar o sapatinho de cristal, ou de vidro, ou de ouro, ou de seda, ou seja lá do que ele for feito na fuça de quem inventou esse conto de fadas enjoativo – corre um boato de que foram os chineses. Mas aí veio a Paula Pimenta com a sua Cinderela Pop, e me fez morder a língua grandão com o melhor conto desse livro.
Melhor dizendo: com o ÚNICO conto bom desse livro.
A trama segue os moldes do conto original, só que, desta vez, Cinderela não é órfã. Seus pais se divorciaram há pouco mais de um ano, e como sua mãe está trabalhando no Japão, e Cíntia não queria morar com o pai, de quem estava com raiva – por uma boa razão –, e com sua nova família entojada, ficou morando com uma tia materna.
E não é a tia quem tenta transformar sua vida num inferno. Tia Helena, na verdade, está mais para ajudante de Fada Madrinha, já que a figura com o Bibit Bobit Bum é alguém muito mais importante na vida da nossa protagonista.
Depois que a diretoria decide proibir o uso de celulares nas dependências da escola, e por causa do fuso horário Cíntia só tem oportunidade de conversar com a mãe pelo Skype na hora do intervalo, a moça acaba cedendo à chantagem do pai: para que ele converse com a diretora e a convença a abrir uma exceção por causa de seu motivo de força maior, ela concorda em ir à festa de debutante das duas bruxinhas – as filhas gêmeas de sua madrasta.
O problema é que Cíntia já tinha um compromisso marcado para a mesma noite: ser DJ numa festa de aniversário – o novo trabalho que ela arrumou com o namorado de sua tia. Ela só não sabia ainda que iria mixar justamente na festa das gêmeas. E como imagina que seu pai não vai entender que o trabalho à noite não é tão bagunçado assim – sua tia tem regras bem rígidas para que ela não saia da linha –, ela acaba indo disfarçada.
O plano me lembra um pouco as várias versões da Nova Cinderela da Disney – para quem não gosta do conto, eu vi todas as versões, para ver se alguma me fazia mudar de ideia, e porque, tal como a protagonista do conto de fadas de Paula Pimenta, gosto de criticar com conhecimento de causa. Que seja: as versões com a Hilary Duff e com a Lucy Hale não são assim tããããão ruins. Só muito clichês.
Mas nossa princesa disfarçada acaba – que surpresa! – conhecendo um príncipe naquela noite, mas ele não chega a ver o rosto dela, que estava coberto por uma máscara. Mas ela soube perfeitamente quem ele era minutos depois, e isso mudou completamente a ideia formada que ela tinha a seu respeito, com base no que via e lia por aí.
Bem, todo mundo conhece o andamento da história, né? Ela vai embora sob as badaladas da meia-noite – na verdade, pouco depois da meia-noite, porque essa aqui é uma Cinderela festeira –, mas deixa o sapatinho para trás para que o Príncipe possa tentar encontrar sua DJ Cinderela.
E ele realmente tenta. Candidatas não lhe faltam – inclusive as duas bruxinhas, que a madrasta, como já era de se esperar, tenta empurrar para cima dele. E é depois disso que a casa começa a cair em cima da nossa mocinha.
Forçada a voltar para a casa do pai, onde é alimentada com doses cavalares do pão que a madrasta amassou, Cíntia vê sua última chance de ir ao encontro de seu príncipe evaporar por causa de uma tramoia. Mas ela não contava com a astúcia de sua Fada Madrinha internacional, que vem assim que é informada dos horrores pelos quais Cíntia está passando, para socorrê-la e recolocá-la no caminho de sua felicidade.
Contando assim, parece mais uma versão idêntica a todas as outras Cinderelas. De fato, o formato é o mesmo. Mas diferentemente dos outros contos – desse livro, pelo menos –, não houve uma paixão à primeira vista, a coisa não aconteceu instantaneamente, ninguém precisava de ninguém ou iria morrer. Cíntia é uma pessoa real, passando por problemas reais – inclusive muito atuais, como a separação dos pais, ocasionada por um adultério –, e que está tentando levar uma vida realmente normal. Ela não sonha em ser uma princesa, ou famosa, ou conquistar o cara mais gato do colégio. Ela só quer se formar logo para poder voltar a morar com a mãe, onde quer que ela esteja trabalhando.
E a forma como tudo acontece no conto também soa muito menos artificial do que nos outros contos do Livro das Princesas. E é o que melhor recria o conto escolhido, sem soar como uma história infantil.



EEEEE 
Da minha implicância com A Bela Adormecida todo mundo está careca de saber também, né? Mas, se por um lado eu não fui com a cara do conto de Diana Peterfreund, que recriou a adolescência da Malévola no Livro dos Vilões por causa do clichê, desta vez o que me incomodou foi a falta de criatividade. Você pode me perguntar: mas não dá no mesmo? Não exatamente: clichê é contar uma história sem qualquer surpresa, usando uma trama que acontece o tempo todo, dentro daquele contexto ou não. Falta de criatividade é nem se dar ao trabalho de escrever uma versão da história.
Lauren Kate, autora da série Fallen, simplesmente escreveu o mesmo conto da Bela Adormecida que todos estamos carecas de conhecer, trocou o fuso de uma roca pelo chifre de um unicórnio, as fadas por anjos e chamou isso de versão. É a mesma história, pura e simplesmente. A princesa Talia foi adormecida ao se furar com o chifre do unicórnio, exatamente como a anja malvada Darnile disse que aconteceria, e ficou lá deitada no castelo por um milênio – porque para Lauren Kate não bastam cem anos. Até que um jovem estudante, excursionando com a turma em Paris – a história se passa no Vale do Loire, na França –, deprimido por ter tomado um pé na bunda, se perde propositalmente de sua turma durante a visita a um castelo, encontra uma floresta esquisita, que o leva a outro castelo igualzinho ao que a turma veio visitar, só que coberto por trepadeiras espinhentas, e, montado no unicórnio, que ficou no celeiro esses mil anos – provavelmente sem ter sido alimentado durante todo esse tempo –, invade o castelo, para despertá-la com um beijo... na mão.
E essa é toda a modificação que Lauren Kate é capaz de desenvolver nesse conto de fadas.
E o mais fantástico da coisa é que a mulher dormiu no ponto e sonhou em ser beijada por um unicórnio... Estou começando a simpatizar com o uísque vencido dos roteiristas de Once Upon a Time...



EEEE
Antes que alguém pergunte: nunca tive nada contra nem a favor do conto da Rapunzel. Para mim ela não cheira nem fede. Então, nem criei expectativa sobre esse conto.
Patrícia Barboza decidiu escrever sobre uma menina prestes a fazer quinze anos, órfã, que mora no décimo segundo andar de um prédio com sua madrinha, desde a morte dos pais, e que por causa de uma promessa religiosa quando esteve gravemente doente, não pôde cortar o cabelo durante quatro anos, o que lhe conferiu como apelido o nome da princesa de longas tranças douradas.
Mas Camila realmente se sente meio presa numa torre, porque sua madrinha, supostamente, é rígida demais sobre quem pode visitá-la e o que ela pode fazer em sua vida. Supostamente, porque a trama aconteceu tão rápido que mal deu tempo de assimilar as nuances dos personagens. Para mim ela pareceu só uma mulher que não estava preparada para assumir a responsabilidade de criar uma criança que caiu em seus braços, e que não sabia direito o que estava fazendo, ou como deveria proceder.
Seja lá como for, Camila, o clichê dos clichês, está interessada no galã da escola, e ignora a paixão de seu melhor amigo nerd; até que sua melhor amiga e um acidente, felizmente, não muito grave, a fazem acordar para o que sente por ele.
E porque clichê era o tema do conto – Patrícia deixou isso claro na narrativa –, Camila é uma espécie de Hannah Montana, que tem um famoso canal no Youtube, em que ela canta sob o disfarce de Mila Tower – o curioso é que o canal foi criado e explodiu em coisa de um mês! Como essa menina ainda não apareceu no programa do Raul Gil? Ou do Danilo Gentili?
Enfim, eu já tinha lido As Mais, da Patrícia Barboza. Sua narrativa é boa – para o público adolescente, claro –, mas não particularmente surpreendente. O conto é bobinho, mas considerando o romance relâmpago de Belle e seu monstro, ou o chifre do unicórnio de Lauren Kate, não posso dizer que tenha sido ruim.

Um comentário:

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