Por Talita
Vasconcelos
Foi
numa festa, sem gelo nem cuba-libre; e na vitrola também não tocava Whisky a Go-go. Na verdade, nem mesmo
era uma vitrola, mas uma moderna pick-up, onde o DJ mixava clássicos do rock
dos anos 1990. Ele estava sentado
junto ao balcão, saboreando devagar o segundo scotch da noite, enquanto a
observava na pista de dança. Ela não
parecia notar os olhares que atraía. Estava à vontade, desenvolta, balançando o
corpo numa cadência que parecia interagir diretamente com a corrente sanguínea
daquele rapaz, que não desgrudava os olhos dela um instante sequer,
deliciando-se com cada movimento do tecido vermelho deslizando sobre a pele
dela conforme se movia, e sem perder nenhuma nuance daquela dança sinuosa que as
luzes giratórias e coloridas da boate provocavam sobre ela.
A
garota ao lado dele estava seguindo
seu olhar havia alguns minutos, desde que percebeu que ele não estava mais
acompanhando o que ela dizia.
–
Cuidado – disse a garota. – Vai acabar babando dentro do copo.
Ele
fez menção de responder, mas interrompeu-se ao ver um rapaz de olhos verdes se
aproximar de sua musa e começar a dançar junto com ela.
–
É... Devia ter ido até lá quando teve chance – zombou a garota no balcão,
percebendo o vinco entre as sobrancelhas dele, e a maneira ruidosa como ele
trincou os dentes.
O
rapaz que agora dançava com a garota de vermelho aproximou os lábios do ouvido dela, e disse alguma coisa que a fez assentir,
e em seguida começou a se afastar, e caminhar em direção ao bar.
–
Quebra o meu galho, que eu te dou o que você quiser – propôs ele à garota que estava ao seu lado no
balcão.
–
Eu não saio com homens, e você sabe disso – retrucou ela.
–
Dois minutos! – insistiu ele. – E não
estou economizando.
A
garota olhou bem para o rapaz que se aproximava, agora a um metro deles, vindo
em direção ao espaço vazio ao lado dela no balcão. Em seguida, mirou a mulher
de vermelho, sorrindo despretensiosamente.
–
Vai custar caro, irmãozinho – brincou ela.
–
Pode mandar a fatura que eu pago com prazer.
E
dando-lhe uma piscadinha, ele virou o
resto do uísque na boca de uma vez, pousou o copo no balcão e se levantou. A
garota o deteve um instante pelo braço, e sussurrou ao seu ouvido:
–
É melhor você conseguir algo com ela, senão, eu mesma vou tentar minha sorte! –
E lhe deu também uma piscadela discreta, virando-se em seguida para puxar
assunto com o rapaz de olhos verdes, que esperava as bebidas ao seu lado.
Ele
passou a mão nos cabelos e começou a caminhar em direção à mulher de vermelho,
balançando o corpo discretamente, mas aumentando o ritmo à medida que se
aproximava, para parecer que estava dançando. E fingindo estar distraído,
deixou-se esbarrar, de costas com ela.
–
Desculpe – disse ela, a voz suave
retinindo como um sino nos ouvidos dele.
Ele
riu, já de frente para ela, e continuou dançando, como se estivessem juntos
desde o início da música.
–
Não... Eu fiz de propósito – admitiu ele. – Estava ali te vendo dançar, e não
resisti a chegar mais perto.
Os
olhos castanhos da garota de vermelho fitaram os dele, como se mergulhassem em
águas profundas. A atração dela agora espelhava a dele.
–
Nossa! Você é sincero, hein! – comentou ela, dançando mais devagar, num
compasso que ambos já haviam perdido.
–
Não, não sou sincero, não. Sou Eduardo.
Ela
riu, e os dentes de marfim dominaram o olhar dele.
–
Cadê o seu par? – perguntou ele.
–
Eu... não sei... – respondeu ela, ligeiramente desconcertada, olhando
discretamente ao redor, mas, aparentemente, sem muita vontade de procurar
qualquer pessoa no salão lotado.
–
Mas eu sei – disse Eduardo. – A garota que estava comigo está dançando com o
cara que te deixou esperando.
Franzindo
o cenho, ela correu os olhos rapidamente ao redor, até localizar o rapaz de
olhos verdes dançando com uma garota loira e bonita. E sem dar muita
importância para o fato, voltou os olhos ao desconhecido que lhe informara seu
bolo.
–
E eu aposto que você não tem nada a ver com isso – especulou ela, com ironia.
–
Claro que não – disse Eduardo, com naturalidade, sutilmente envolvendo a garota
de vestido vermelho pela cintura e trazendo-a para mais perto. – É só o seu
destino me dando uma mãozinha para eu fazer o meu.
Sentindo-se
desconcertada, ao mesmo tempo pelas palavras e pelas mãos dele em sua cintura,
ela sibilou:
–
Você fala cada coisa...
–
Talvez seja melhor eu parar de falar... – E tomou delicadamente uma das mãos
dela, acariciando devagar, entrelaçando os dedos dela nos seus. Ela não o
repeliu, e colocou a outra mão em seu ombro. Com um sorriso satisfeito, Eduardo
acrescentou: – Quando a gente encontra o que estava procurando, as palavras não
fazem mais sentido.
Ela
sentiu o rosto corar.
–
Eu acho que você encontrou a pessoa errada... – disse ela, mordendo o lábio de
leve.
–
Tenho certeza que não – afirmou ele, com convicção.
Ela
deu um passo para trás, sem soltá-lo e sem que ele a soltasse, distanciando-se
apenas o suficiente para encará-lo melhor, e disse:
–
Eu não saio com um cara que acabei de conhecer.
–
Então, vamos fazer o seguinte... – propôs ele, soltando-a um instante. – Eu vou
adiantar o meu relógio em duas semanas. – E fingiu mexer rapidamente no
relógio, para em seguida envolver a cintura dela outra vez. – Prontinho! E,
como você me conhece há duas semanas, já pode sair comigo...
Ela
riu, e o som de sua risada provocou um arrepio gostoso na pele dele.
–
Para você é tudo muito fácil, né?
–
A vida é fácil! – disse Eduardo. – A
gente é que fica complicando.
–
E você simplifica demais!
–
Sou objetivo. A propósito, eu te conheço há duas semanas, e você ainda não me
disse seu nome...
Ela
hesitou um instante, mergulhando novamente nos olhos de Eduardo quando a mão
dele tornou a envolver a sua.
–
Luísa.
–
Nome bonito. Pena que precisei de duas semanas para conseguir que você me
dissesse.
Ela
deu uma risada baixa, fazendo outro arrepio subir pelo corpo dele, e debochou:
–
Você é maluco, né?
–
Não, por quê? – perguntou ele, rindo também, e trazendo-a para mais perto. – A
gente já sabe que vai terminar junto... Então, por que não começa logo?
A
cabeça dele se inclinou para ela devagar, os lábios de Eduardo roçaram
suavemente os de Luísa.
–
Você não tem medo de que o meu par desista da sua amiga e venha tirar
satisfações por você ter cortado o barato dele? – indagou ela, mal afastando os
lábios a um centímetro dos dele, e sem fazer nenhum esforço legítimo para
detê-lo.
–
Ele já desistiu há dois minutos – informou ele, sem recuar. – E acaba de dar o
drinque que tinha ido buscar para você à outra loira do outro lado do balcão.
Luísa
deu um meio sorriso, sem se virar para conferir.
–
E deixou a sua amiga a ver navios?
Eduardo
deu de ombros.
–
Ela fez a parte dela – disse ele. – Agora sumiu de vista. Mas deve estar atrás
de uma morena.
Os
olhos de Luísa brilharam sobressaltados.
–
Então...
–
Essa é a diferença entre homens como ele e homens como eu – disse Eduardo,
tocando o pescoço dela com as pontas dos dedos, até alcançar sua nuca. – Ele
procurava opções; eu procurava você.
E
inclinou-se novamente para beijá-la. Luísa suspirou, um segundo antes de
recebê-lo com prazer. A música terminou e recomeçou; pessoas iam e vinham ao
seu redor; mas Eduardo e Luísa não estavam mais ali.
Para
ela, talvez, ele fosse só um cara bonito com uma cantada atraente. Para ele,
porém, ela poderia ser muito mais do que uma conquista. Mas nenhum dos dois
tinha pressa de descobrir. Afinal, ainda teriam algum tempo até que todos os
relógios do mundo alcançassem o de Eduardo...
E,
de repente, ele poderia estar certo: se vão terminar juntos, então, por que não
começar de uma vez?
Simples
assim.
* Conto
publicado também no Wattpad, como parte do livro “Encontros & Encantos Em Contos”, que traz uma série de contos e cartas para mostrar que o amor pode
surgir nos momentos e nas formas mais inesperadas. *♥*
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