*Capítulo que abre
As Noivas de Robert Griplen – Parte 2 – Expiação.*
Salem, Massachusetts, 1692
–
Ele vem como um fantasma de noite, vagando pela cidade, em busca de uma mulher
para amar – disse Tituba, a escrava, em tom de mistério, a três meninas
reunidas em volta da fogueira. – Ninguém o vê; ninguém percebe sua presença,
exceto suas escolhidas. E durante um ano ele as seduz, como o noivo perfeito
cortejando suas noivas. Até a noite das núpcias. Pois para se tornarem esposas
dele, as escolhidas precisam abrir mão de suas vidas, e isso não é uma
metáfora. O amor desse homem é mortal. Pois assim como aconteceu com a mulher
que ele amou em vida, deve acontecer com todas as mulheres que ele amar depois
dela: o casamento com Robert Griplen é oficiado pela morte.
As
meninas a encaravam a um só tempo fascinadas e horrorizadas.
–
Mas vocês, minhas queridas, não precisam se preocupar com isso – prosseguiu a
escrava. – Pois vocês ainda são jovens demais para se tornarem noivas dele.
–
Por que ele não ficou com a noiva que ele amou? – perguntou uma das meninas,
hesitante. – Ela não quis abrir mão da vida dela por ele?
–
Ao contrário – disse a escrava. – Ela foi a primeira a abrir mão da própria
vida pelo amor de Robert. Ela se lançou do penhasco, de onde depois todas as
noivas têm se atirado nesses quase cinquenta anos. Mas, para ela, a morte não
foi uma aliança de casamento com ele; foi uma tentativa de findar suas dores.
Na noite em que se atirou do penhasco, o coração dela estava partido, porque
naquela noite ela havia dado à luz o filho morto de seu amado.
–
Que história triste – lamentou a menina.
–
Sim, minhas queridas. É muito triste, realmente. E o pior é que nenhuma dessas
noivas teve um final feliz. Nem ele, tampouco.
–
E não há mais esperança? – perguntou outra das meninas.
–
É claro que há esperança! Sempre há! Todas essas noivas e também o próprio Robert
Griplen poderão descansar em paz no dia em que a maldição for quebrada.
–
E quando será? – perguntou a menina, esperançosa.
–
Infelizmente, eu não sei. Foi o amor, e o uso imprudente do poder das trevas
que causou essa maldição. Só uma força muito poderosa pode quebrá-la. Mas não
dá para prever quando isso vai acontecer.
–
Mas que força pode ser maior do que a que causou essa maldição? – indagou uma
das meninas, cética.
–
Nada é mais poderoso do que o amor, minhas queridas.
–
Mas, se foi o amor que provocou tudo isso... – começou a menina, confusa.
–
Os feitiços funcionam de uma maneira engraçada: às vezes, pode-se usar a mesma
essência que o criou para desfazê-lo.
–
Então, o amor pode quebrar a maldição?
–
Receio que seja um pouquinho mais complicado que isso. Sabem... O amor de
Robert por sua noiva original era algo incomparável. Ele a amou com toda a sua
alma, e estava disposto a sacrificar tudo e abrir mão de tudo por ela. Somente
um amor tão forte quanto esse poderia vencer a maldição. Mas para quebrá-la,
não basta. As trevas selaram seu destino, e ao fazer isso, transformaram todo
aquele amor tão lindo numa coisa abominável. Então, para quebrar a maldição,
primeiro é preciso vencer as trevas.
–
E como se combate as trevas? – perguntou a menina cética.
Antes,
porém, que Tituba pudesse responder, os pais das meninas se aproximaram do
pequeno círculo que a escutava em volta da fogueira, esbravejando contra a
escrava, e acusando-a de estar enchendo a cabeça das garotas com histórias
pagãs.
Tituba
foi levada de volta à casa de seu dono, Samuel Parris, pai de uma das meninas a
quem a escrava contou a história dos Griplen, e severamente castigada.
Algumas
noites depois, todas as meninas que a ouviram contar a história em volta da
fogueira sofreram casos de sonambulismo e febre, e, pela manhã, alegaram terem
sido visitadas pelo espírito de Robert Griplen e possuídas por ele. Embora
todos na cidade soubessem que ele somente seduzia mulheres da idade de sua
noiva, e entre as meninas não houvesse nenhuma maior de doze anos, acusaram
Tituba de ter enfeitiçado as meninas, e invocado o espírito de Robert Griplen
para perturbá-las.
A
escrava foi enforcada no dia 31 de outubro de 1692.
Em
24 de março do ano seguinte, Agatha Sewall foi levada pelo espírito de Robert Griplen
para o fundo da baía de Salem. Ela nunca ouviu palavra alguma dita por Tituba.
Coincidência ou não, Agatha era a única filha do juiz que condenou a escrava à
morte.
CONTINUA...
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