Dia
das Mães é um dia de grandes homenagens, e poucas histórias na ficção
homenagearam tão bem essa pessoa tão importante em nossas vidas quanto esse que
é um dos filmes brasileiros mais engraçados dos últimos tempos. Criada por
Paulo Gustavo, que já fazia sucesso no teatro com a personagem inspirada em sua
própria mãe, Dona Hermínia migrou para a Sétima Arte, e se tornou um dos filmes
de maior sucesso no cinema nacional. Por que será, né, gente? Alguém mais se
identifica com essa mãe? Olha, a minha
é uma temporada inteira, mas a mãe
dele é só uma peça.
Enquanto
Dona Hermínia tenta domesticar os filhos, seu ex-marido Carlos Alberto chega
para buscá-los para um passeio.
Notaram
a grafia do nome do sujeito? Acontece que Hermínia fala tão atropelado o nome
do ex-marido que o som sai parecido com isso. Seria mais fácil simplesmente
escolher Carlos ou Alberto, mas ela prefere falar os dois, e na velocidade
cinco do créu.
Cazalberto faz
uma parada no salão de beleza para buscar sua nova esposa, Soraya...
...
E em seguida leva a família ao clube. E os problemas na relação com a mãe
pioram quando Hermínia se dá conta de que Juliano esqueceu a bombinha de asma
em casa, e decide telefonar para pedir ao ex-marido que dê meia-volta e venha
buscar, esquecida de que havia outra bombinha no carro dele. Então as
“crianças” pensam que desligaram o celular e começam a desfiar um rosário de
reclamações, porque a mãe é chata, dramática, exagerada, enche o saco, obriga
os dois a comerem legumes, corta o presunto da dieta, reclama da pelota de
açúcar no fundo do copo de achocolatado, não tira aqueles bobs nem pra ir ao supermercado,
vive dando escândalo no condômino, jogando o cachorro no lixo, chamando
Marcelina de gorda, achando ruim quando Juliano traz alguma coisa rosa pra
casa, e que eles têm vontade de morar com o pai e ter uma mãe legal que nem a
Soraya.
Só
que Hermínia estava do outro lado da linha ouvindo tudo, e, magoada por ser
preterida pela madrasta piranha, e por despertar tanta raiva nos filhos, faz as
malas e decide passar uns dias na casa de sua tia Zélia, dando um gelo nas
“crianças” para que aprendam a valorizá-la.
E
então, durante essa estadia na casa da tia, Hermínia começa a compartilhar
conosco algumas cenas de sua convivência com os filhos, que nos fazem
compreender que essa indisposição tem dois lados, porque, se Hermínia não é das
pessoas mais agradáveis, os filhos também estão muito longe da perfeição.
Veja,
por exemplo, a Marcelina: vai com a mãe ao supermercado, derruba prateleira – e
já era adolescente; já vi isso acontecer na vida real, mas a criança atentada
devia ter no máximo dez anos –; depois começa a brigar com a mãe no caixa
porque ela não vai comprar presunto. Acontece que Hermínia não é cega, e está
vendo que aquele manequim XG da filha não é muito saudável, e pretende aliviar
a vida da balança, fazendo-a emagrecer.
Pode
falar o que quiser de Dona Hermínia, mas ninguém pode acusá-la de não ser uma mãe
preocupada. Em vez de colocar a filha numa dieta a pão e água, essa mãe zelosa levou
Marcelina numa endocrinologista para lhe transcrever uma dieta mais balanceada,
e a médica recomendou que ela comesse a cada três horas.
Não
escutava nem quando era criança. Almoço em família era uma coisa animada. Hermínia
ficava até com inveja vendo que os filhos de sua irmã Iesa comiam salada, e tudo
o que a mãe botasse no prato. Se ela tentasse dar salada pra Marcelina, estava
arriscado a menina tacar na cara dela de volta.
Depois
de ver esse filme percebi o quanto o pessoal aqui de casa é refinado, também...
Se deixar, aqui, além da banana, o povo mistura até melancia na comida.
Mas
enfim...
Enquanto
Hermínia e Iesa faziam sua disputa de finesse, Marcelina estava se quebrando de
novo. Porque escreveu não leu, Marcelina estava no chão, toda arrebentada:
quebrou braço, perna, dente... Quando ela levou o primeiro namorado em casa,
Hermínia fez questão de deixar claro para o rapaz que a moça ali não era
original de fábrica, não, já estava toda remendada.
E
isso não chegou nem perto de ser um grande constrangimento para Marcelina. Pelo
menos, não se compara com a ocasião em que Dona Hermínia foi buscá-la numa
boate de camisola.
Mas
o figurino veio bem a calhar, porque quando chegou ao local, a mamushka foi informada de que o tema da
noite era “festa do pijama”. E como ela estava à caráter, pôde entrar sem
problemas. Já o Juliano, precisou tirar a calça para fingir que estava vestido
– no caso, despido – para dormir.
E
como seria muito difícil encontrar sua filha no meio de tantos bananas de
pijamas, e a luz não estava ajudando, Dona Hermínia foi direto à mesa do DJ,
tomou posse do microfone e começou a interagir com a galera para forçar
Marcelina a aparecer e segui-la para casa, se não quisesse passar a maior
vergonha de sua vida, com a mãe contando todos os seus podres para o público.
O
mais engraçado é que Paulo Gustavo conseguiu representar exatamente aquele
jeito tipicamente irritante que as mães têm de manifestar as coisas com as
quais não concordam. Parecia até uma mãe de verdade falando.
Vem
cá, mas e o Juliano? Você me pergunta. Afinal, Marcelina não é filha única, mas
só vimos Dona Hermínia reclamar dela. Acontece que Juliano sempre foi mais
carinhoso com a mãe. Prova disso, é que ele fica preocupado quando chega em
casa e descobre que Hermínia saiu de mala e cuia, e mais ainda quando telefonam
para tia Zélia para saber se sua mãe está lá, e ela diz que Hermínia vai dar um
gelo neles. Dona Hermínia até gostaria que ele tivesse metade do ímpeto da
irmã, mas ele sempre foi diferente.
Na
verdade, nem tão diferente assim. Ele só não gostava do futebol de salão, nem
do boxe, nem do judô, nem do skate. Ele preferia ser cobaia da irmã para testar
novas técnicas de maquiagem e brincar de boneca... Ah, sim, e ele também preferia
ganhar qualquer presente que fosse cor-de-rosa.
E
antes que alguém comente sobre estereótipos, quando escreveu a história de Dona
Hermínia, o ator Paulo Gustavo se inspirou em sua própria família: ele tem uma
irmã um pouco acima do peso, e todo mundo sabe de que fruta ele gosta, né?
O
bonitinho aí, no caso, é Tiago, namorado do pururuquinha da Dona Hermínia
(palavras dela!).
Enquanto
Hermínia relembra o passado, no presente seus filhos estão com um grave
problema: a mãe não deixou nenhuma quentinha para eles, e eles não sabem nem
para que servem os botões do fogão. E se pedirem ajuda para sua tia Iesa, que
mora no apartamento ao lado, aí é que a mãe endoida de vez. Por sorte, sua
empregada Valdéia está fazendo hora extra na casa da irmã de sua patroa, então
eles já sabem a quem pedir socorro; mas ela está de férias de sua casa, e quer
mais é que eles se virem.
Enquanto
os filhos disputam o último biscoito do pacote com o cachorro, Hermínia dá uma
volta na praia, na companhia de sua tia, aproveitando a vista, feliz por
finalmente tirar férias daquele prédio cheio de gente maluca.
Daí
ela muda o foco da reclamação dos filhos para os vizinhos. Aliás, que bela
vizinhança! Tem a Dona Lourdes, que adora compartilhar o status de seu lamentável
problema intestinal com Hermínia; tem a síndica, que se sente a dona do prédio;
e tem a nova moradora do 302 que passou a noite toda berrando com o marido no
karaokê, não deixando ninguém dormir. Mas quando o marido da fulana decidiu dar
uma estragadinha em Pense Em Mim, a
casa caiu. Dona Hermínia ficou fula, e arrancou o microfone da mão do sujeito,
disposta a formar uma dupla um pouco menos desafinada. Só não viraram sucesso
na rádio Estourando os Tímpanos FM
porque a Dona Florind... digo, Dona Hermínia estava atrasada para a reunião de
condomínio.
Que,
aliás, é uma das cenas mais hilárias do filme.
Já
deu pra ver que no dia da reunião de condomínio essa mulher estava atacada,
né?!
E
enquanto Hermínia conta suas peripécias com a vizinhança, seus filhos recorrem
ao dengão do Juliano para lhes trazer
sanduíches, já que eles não sabem fazer nem ovo cozido. E como já era de se
esperar, Marcelina escolhe o sanduíche maior e mais gorduroso que ele trouxe.
Aliás,
Marcelina tem uma teoria sobre seu probleminha metabólico: segundo ela, está
crescendo cheia de traumas por causa das “chatices” da mãe, então ela somatiza
tudo no corpo e não consegue parar de comer. Tudo porque Hermínia proibiu os
filhos de Iesa, João Marcelo e André Luís de irem à sua casa e ficar trancados
no quarto com Juliano e Marcelina.
Ela
estava ótima! Só fingiu o piripaque para sair daquela conversa. E Marcelina
podia ter chamado qualquer pessoa no prédio, escolheu chamar justamente quem
sua mãe não queria em casa. Vou te contar...
Mas
tempos depois Hermínia ficou com peso no coração por essa encrenca, quando
André Luís morreu num acidente de carro; a cena mais triste dessa comédia, que retrata
o sofrimento de uma mãe diante da perda de um filho.
Outra
cena comovente é quando Marcelina começa a revirar as gavetas da mãe,
supostamente procurando os cinquenta reais que Hermínia estava lhe devendo, e
se depara com uma caixa de recordações, que tem desenhos que eles fizeram na
infância, cartinhas dos filhos, e também as cartas de amor de Carlos Alberto.
Então
Marcelina e Juliano sentem um básico remorso por terem magoado a mãe, e decidem
ligar de novo para a casa da tia Zélia para descobrir o motivo daquela birra, e
como podem fazer as pazes.
E
como Zélia também acha que essa encrenca já foi longe demais, ela avisa que está
indo com Hermínia ao supermercado, mas que eles podem fazer plantão na portaria
do prédio para pegar sua mãe quando elas retornarem. Mas no caminho, os dois
filhos da mãe param para fazer uma boquinha numa lanchonete.
De
repente, coisa mais extraordinária: eles se deparam com sua mãe na televisão!
Era para ser apenas uma entrevista de rua para opinar sobre o aumento no preço
dos alimentos, mas Hermínia, com aquele seu jeito tagarela, começa a contar sua
vida inteira, e reclamar de todos os aparelhos que quebraram em horas
impróprias em sua casa, e aproveita para passar um sermão nessa molecada, para
começarem a respeitar mais suas mães, porque elas são meio doidas, mas é pelo
bem dos filhos, e para aproveitarem o tempo que terão com elas, porque a única
certeza que se tem na vida é que um dia todos vão morrer.
E
é nesse momento que seus filhos invadem a cena correndo, depois de terem
abandonado um sanduíche do tamanho daqueles que o Salsicha e o Scooby-Doo
costumam comer, para fazer as pazes com a mãe.
No
calor do momento, todo mundo concorda em colaborar para manter o tratado de
paz. Mas é só sumir da frente das câmeras para as coisas voltarem ao normal na
casa de Dona Hermínia. Ou seja...
E
o detalhe é que o discurso emocionado de Hermínia foi a audiência mais alta da
emissora em anos, o que dias depois lhe rendeu uma proposta para apresentar um
programa de televisão.
E
foi assim que Dona Hermínia trocou os bobs por um microfone, e passou a
apresentar o Hermínia Show, que deve
seguir mais ou menos o molde do programa da Oprah Winfrey. Ou Hebe Camargo, que
seja...
No
dia da estreia, Hermínia reúne a família inteira em seu apartamento, incluindo
o ex-marido, Cazalberto e a vaca da
Soraya, que já chega causando, arrumando encrenca com a Valdéia, ignorando que,
ao contrário dela, a empregada de Dona Hermínia é considerada como parte da
família.
Até
o filho mais velho de Hermínia, Garib, de quem esqueci de falar ao longo de
toda a review, veio de Brasília especialmente para prestigiar a estreia do
programa da mãe, e ainda trouxe uma notícia bombástica.
Nem
um pouco exagerada, né? O retrato perfeito de uma MÃE. Essa figura realmente é
uma peça.
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