O Halloween, embora seja uma
festa mais comum nos Estados Unidos, tem conquistado os brasileiros nas últimas
décadas e se consolidado como uma espécie de tradição. Quem nunca disse no mês
de outubro a frase “eu trocaria o Carnaval do Brasil pelo Halloween dos Estados
Unidos”?
O que pouca gente sabe é que o
Halloween é uma mescla de tradições de muitos povos, com origens pagãs e
católicas misturadas.
Há quem acredite que os
primeiros a comemorar o Halloween tenham sido os celtas, com a festa dos
mortos, celebrada na primeira semana de novembro junto com o Samhain, que
marcava o fim do verão e o ano novo celta.
Depois, os católicos no século
IV começaram a comemorar o dia de Todos os Mártires, que quatro séculos mais
tarde se tornou o dia de Todos os Santos, iniciado na noite de 31 de outubro
até primeiro de novembro.
Mas a tradição “Gostosuras ou
Travessuras” só nasceu no século XV na Inglaterra, originada por um fato
histórico: os católicos ingleses planejaram um atentado ao rei protestante
Jorge I, pois naquela época haviam sido privados inclusive do direito de
realizar missas. Eles planejaram explodir o Parlamento para matar o rei, mas o
plano foi descoberto em 5 de novembro de 1605. Então nasceu a tradição de pedir
cervejas e pastéis na casa dos católicos nesta data dizendo “gostosuras ou
travessuras”.
Na América esta tradição foi
transferida para 31 de outubro unindo-se à festa do Halloween.
A seguir, seis dos personagens
mais tradicionais do Halloween e suas histórias:
JACK-O’-LANTERN
A abóbora com o rosto esculpido,
iluminada por uma vela em seu interior é o símbolo do Halloween nos Estados
Unidos. A lenda, porém, nasceu na Irlanda, e fala de um homem que enganou o
diabo por duas vezes para evitar que ele pedisse sua alma quando morresse.
Então, quando Jack morreu, também não foi aceito no céu, de modo que passou a
vagar pela terra com um nabo esculpido com um rosto, em cujo interior havia uma
vela para iluminar seu caminho.
Com o passar do tempo, o rosto
de Jack foi esculpido em outros vegetais, até chegar à tradicional abóbora.
BRUXAS
Talvez o personagem mais
comumente ligado ao Halloween, por ser também conhecido como Dia das Bruxas.
Alguns as representam como velhas feias com verrugas no nariz, outros como
moças belas e sedutoras. Já foram causa de histeria entre muitos povos ao longo
da História.
O caso mais famoso aconteceu em
Salem, Massachusetts, em 1692. Algumas meninas, entre nove e vinte anos, foram
flagradas dançando em volta da fogueira, depois de ouvir lendas sobre evocar
espíritos da escrava nativa Tituba. O que culminou na histeria local, foi o
fato de que duas das meninas caíram inexplicavelmente em coma. Depois disso, as
meninas acusaram várias pessoas de bruxaria.
A personagem mais famosa desta
história é Abigail Williams, na época com doze anos. Sua história foi contada
no filme As Bruxas de Salem.
Aparentemente ela teve um caso com John Proctor, um fazendeiro casado, e depois
do rompimento, fez várias acusações até atingir Elizabeth Proctor, esposa dele.
Trinta e sete pessoas foram
julgadas por bruxaria, com base nas acusações das meninas, e enforcadas.
Apesar de não ter sido o
primeiro caso do gênero, este é o que mais chamou atenção, já que a aldeia era
pequena, e as pessoas condenadas eram conhecidas de todos.
Na época da Inquisição houve
vários casos de pessoas sendo acusadas de bruxaria e queimadas em praça
pública.
Com o tempo, porém, as lendas
sobre bruxas caíram na graça dos contadores de histórias, ainda que por muito
tempo elas foram consideradas vilãs naturais. Só muito recentemente começaram a
surgir contos de bruxas do bem, ainda que se mantenha o fato de que sua magia
provém de alguma força maligna ou desconhecida.
VAMPIROS
Embora o mais famoso de todos
seja Drácula, ele não foi o primeiro. A lenda do vampiro é quase tão antiga
quanto a História do Mundo. Houve vários episódios de histeria ao longo da
História, em que pessoas enfiaram estacas no coração dos cadáveres de seus
familiares, e por vezes os queimaram para garantir que não se tornariam
mortos-vivos.
Só houve dois casos oficialmente
registrados de vampiros: o de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, da Sérvia. O
primeiro, depois de morto voltou para pedir comida ao filho, e como este
recusou, foi morto pelo pai. Ele também teria atacado alguns vizinhos que
morreram por perda de sangue. Paole teria sido atacado por um vampiro alguns
anos antes. Após sua morte várias pessoas morreram nas redondezas, então
acreditava-se que ele havia retornado dos mortos para atacar os vivos.
O caso mais recente registrado
foi o de Mercy Brown, que morreu aos 19 anos em Exeter, Rhode Island, em 1892.
Anos antes sua mãe e sua irmã mais velha também morreram de tuberculose. Após a
morte dela, seu irmão menor Edwin adoeceu. Várias pessoas na região alegaram
ter visto o fantasma de Mercy vagando durante a noite. A pressão foi tanta que
seu pai, George Brown abriu os túmulos da mulher e das duas filhas para
descobrir quem estava causando aquela desgraça. Os corpos de sua esposa Mary, e
da filha mais velha, Mary Olive já estavam decompostos, restando apenas ossos
secos. O de Mercy, porém, estava intacto, mesmo depois de dois meses enterrada.
O
coração de Mercy foi arrancado – ainda possuía grande quantidade de sangue –, e
queimado. As cinzas foram misturadas em água e dadas a beber ao pequeno Edwin,
como remédio, mas de nada adiantou, e o menino faleceu pouco depois. As mortes
repentinas da família cessaram depois disso.
Algumas
pessoas acreditam que o inverno gelado seja a explicação para o corpo de Mercy
ter permanecido intacto por tanto tempo, como preservada numa espécie de
freezer.
Apesar
de todas estas histórias tidas como verdadeiras, nenhuma ficou tão famosa
quanto a lenda de Drácula.
Bram Stoker se inspirou em Vlad,
o Empalador para compor seu personagem de sucesso. Vlad foi por três vezes príncipe
da Valáquia, uma província romena próxima à Transilvânia. Três vezes, porque
foi exilado duas vezes, e nesse período, seus inimigos instituíram novos
governantes ao trono.
Também conhecido como Vlad Tepeş
(palavra romena que significa empalador), e como Vlad Draculea, derivado de
Vlad Dracul, apelido que seu pai recebera dos súditos após se juntar à Ordem do
Dragão.
Vlad ficou conhecido por sua
crueldade para com inimigos e súditos. O apelido de Empalador veio justamente
do fato de ele ser adepto desta prática para assassinar seus opositores.
Algumas lendas contam inclusive que ele assistia às empalações enquanto fazia
suas refeições.
É sabido que sua primeira esposa
cometeu suicídio, pulando de uma das torres do castelo de Draculea nas águas do
rio Arges, para não se render aos Turcos, quando estes fizeram Vlad fugir para
a Transilvânia – história mostrada na adaptação para o cinema Drácula de Bram Stoker, de 1992.
Embora ele tenha ficado 12 anos
na Transilvânia, acredita-se que não passou tanto tempo como prisioneiro, pois
sua segunda esposa pertencia à família real, possivelmente a irmã de Matthius
Corvinus, Rei da Hungria, e seus filhos tinham em torno de dez anos quando
reconquistou a Valáquia.
O que alimentou a lenda de sua
imortalidade foi que, após seu retornou do exílio, o povo pensou que era seu
pai, Vlad Dracul, que havia retornado dos mortos.
A morte dele, no entanto, é uma
história com várias versões. Sabe-se com certeza que foi na batalha contra os
Turcos perto de Bucareste, em 1476. Alguns dizem que foi assassinado por
burgueses valáquios desleais quando ele estava prestes a varrer os Turcos do
campo de batalha. Outros dizem que ele foi, na verdade, vencido pelos Turcos. E
numa versão mais interessante, Draculea teria sido morto acidentalmente por
um de seus homens no momento da vitória.
Bram Stoker não teve acesso a
esta informação quando escreveu seu romance, mas em 1931 – 19 anos após a morte
do autor –, arqueólogos escavaram o túmulo de Draculea em Snagov, uma
ilha-monastério perto de Bucareste, e não encontraram nada além de ossos de animais,
o que contribuiu para o mistério.
FANTASMAS
É idiotice definir a questão.
Fantasmas são almas de pessoas mortas que voltam do além para assombrar suas
casas, seus parentes ou para se vingar... Coisas que todos estão carecas de
saber.
Houve muitos fantasmas famosos
na ficção, embora nem sempre assustadores, como Gasparzinho e Beetlejuice, e
outros mais aterrorizantes como Poltergeist.
O interessante é que, entre as
lendas de fantasmas, existem exemplos não-humanos, como o navio Holandês
Voador, um lendário Galeão que supostamente navega contra o vento, cujo capitão
teria sido amaldiçoado e condenado a navegar para sempre. Avistar o navio é um
sinistro de fracasso naval.
Existem várias versões da
história, com diferentes capitães. Numa delas, o veleiro teria sido avistado em
1881 perto da Austrália, sob o comando do capitão Cornelius Van Der Decken, que
depois de ser amaldiçoado perdeu a noção de rota, a bússola rodopiou e não
aponta para lado nenhum desde aquela data.
Existe uma lenda que diz que o capitão fantasma do
Holandês Voador, Amos Dutchman e seus tripulantes teriam rosto de peixe em
corpo de homem. Outra fala que o capitão do navio é Davy Jones, que teria sido
amaldiçoado por Calypso, ninfa do mar, e condenado a vagar até o fim dos
tempos, podendo desembarcar por um dia a cada dez anos. Estas duas lendas se
misturaram e se tornaram populares com o filme Piratas do Caribe.
O
fato é que existem registros de um navio real que zarpou de Amsterdã em 1680, e
foi lançado por uma tormenta no Cabo da Boa Esperança, vindo a naufragar. O
Capitão teria insistido em dobrar o cabo, e fora condenado a vagar para sempre
pelos mares atraindo navios para as profundezas. Porém, a visão do navio é
considerada por muitos como miragem.
Esta
lenda nada tem a ver com o Haloween, mas falar de fantasmas humanos é um tema
um tanto delicado, e as referências cinematográficas e literárias quase sempre
remetem à comédia de horror, então, é melhor deixar para quando estiver falando
de um personagem específico.
FRANKENSTEIN
O monstro criado por Mary
Shelley ganhou vida graças à experiência do Dr. Victor Frankenstein, que o
confeccionou com partes de cadáveres. A criatura era mais alta que a maioria
dos humanos, e sua aparência era repugnante.
Frankenstein planejara fazê-lo
belo, porém, sua escolha das partes e as incisões feitas na pele da criatura
tornaram-na repulsiva, e assustou até mesmo seu criador.
Ao contrário do que é mostrado
nos filmes, o monstro era amarelo, e possuía cabelos negros e lustrosos mal
cortados, e nenhum eletrodo ou parafuso. A aparência verde, cabeça achatada e
todo o resto que se conhece foi introduzida na adaptação mais famosa para o
cinema, em 1933, que teve Boris Karloff como intérprete do monstro. Os
movimentos da criatura no livro eram ágeis, ao contrário do filme, em que ele
se movia de maneira pesada e lenta.
Mary Shelley nunca deu nome ao
monstro. Frankenstein era o sobrenome de seu criador, mas como entende-se que
ele era de algum modo “filho” do doutor Frankenstein, atribuíram-lhe o nome
dele.
Embora tenha assassinado algumas
pessoas, o monstro de Shelley não era a criatura irracional representada na
maioria dos filmes. Ele era, na verdade, eloquente, inteligente, e chegou até a
chorar a morte de seu criador. Sua amargura vinha do fato de ser rejeitado pela
humanidade devido a sua aparência.
Sendo assim, eu ressalto que
talvez a interpretação mais coerente do monstro tenha sido a mostrada em Van Helsing O caçador de Monstros, de
que já falei anteriormente.
LOBISOMEM
A ideia do ser híbrido – metade
homem, metade animal – remete à Grécia Antiga, às lendas dos centauros (metade
homens, metade cavalos), sátiros (meio homem, meio bode), entre outros.
O lobisomem é uma lenda comum em
várias culturas, e particularmente difícil de identificar a origem. Alguns
acreditam que tenha nascido na Europa, devido a casos de hipertricose, um
distúrbio orgânico que causa crescimento desproporcional de pelos em várias
partes do corpo, incluindo o rosto. Um caso conhecido é o de Pedro Gonzales,
que habitou a corte de Henrique II.
A licantropia, que causa um
sério transtorno mental, fazendo a pessoa agir selvagemente e grunhir como um
lobo, além de se alimentar de carne crua e ensanguentada é outra possibilidade
para a origem da lenda.
Na mitologia Grega existe ainda
a história de Licaão, rei da Arcádia, que serviu a carne de Árcade a Zeus,
sendo por isso amaldiçoado e transformado em lobo.
No Brasil, a lenda comum é a de
que, numa família de sete filhos homens sequentes, o sétimo se tornará um
lobisomem (neste caso, os Wesley devem ser gratos pelo nascimento de Gina!
Apesar de Gui ter sido mordido por Greyback depois de adulto...). Em outras
versões é o oitavo menino que se torna lobo, ou o nascimento de um menino
depois de sete meninas o tornará um lobisomem.
Pessoalmente acho mais
interessante a lenda mexicana, sobre uma aldeia de índios que não fazia contato
com o homem branco, e tinham os lobos como animais sagrados, por isso cuidavam
e preservavam as alcateias que habitavam a região.
Porém, os índios e os lobos
começaram a ser mortos por caçadores que invadiam a floresta. Então os índios
atacaram o acampamento dos caçadores, mas estavam vulneráveis, pois todas as
suas armas eram machados e lanças, que só podiam ferir os caçadores se
chegassem muito perto. À distância, só podiam atirar com arco e flecha. Porém
os caçadores tinham armas de fogo, e mataram os índios antes que tivessem a
chance de se defender.
O único sobrevivente foi o filho
do líder da aldeia. Ele foi amarrado, torturado e abandonado à mercê do calor
escaldante do sol e do frio vento da noite. Ele permaneceu ali por sete dias,
até que na sétima noite, quando a lua cheia brilhava no céu, o lobo alfa da
alcateia, o único que tinha sobrevivido ao ataque dos caçadores, chegou perto
do índio e o mordeu. Naquele momento seu sangue esquentou dez vezes mais,
nasceram pelos por todo o seu corpo e ele se libertou das amarras transformado
em lobisomem.
Pode ter sido esta lenda que
inspirou Stephenie Meyer na criação dos lobisomens Quileutes, que também tinham
como característica o aumento do calor corporal, além da origem indígena.
Obviamente, todas as histórias
sobre bruxas, vampiros, lobisomens e outros monstros não passam de folclore, e
mesmo os casos documentados foram gerados da histeria de povos ignorantes.
Curiosamente, o gênero de terror
é o que mais atrai a atenção das pessoas, e se perpetua desde tempos muito
remotos através de contos orais e escritos.
Como a proposta do blog é
ressaltar as criações fantásticas mais memoráveis – literárias,
cinematográficas e culturais –, o Halloween não podia ficar de fora. Afinal,
esta é a data em que se mistura mais lendas e criaturas inventadas.
Então, agora, eu só posso pegar
emprestada a frase de J.K. Rowling em Harry Potter e dizer:
“Malfeito
Feito!”
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