Uma Ideia Que Não Caberia Num Parênteses

em terça-feira, 2 de outubro de 2012



Outro dia alguém me perguntou se eu realmente odeio a Saga Crepúsculo. Na verdade eu adoro... fazer piada sobre ela. (Brinks, também preciso me divertir). Não, na verdade eu tenho uma relação de amor e ódio com esta saga. Os livros são realmente bons. Apesar de algumas incoerências, eu realmente gosto da forma como Stephenie Meyer conduziu a história. Não era um tema original desde o princípio. O fato de uma humana se apaixonar por um vampiro é uma fantasia tão antiga quanto a de que um beijo de amor verdadeiro quebra inúmeras maldições em contos de fadas.
Apesar de não ser algo novo, o romance me chamou atenção por vários motivos. É verdade que ela ignorou todo o mito que existe em torno dos vampiros e criou uma lenda nova, mas eu acho que este foi o ponto mais positivo. Não faria sentido pegar uma criatura mítica e escrever sobre ela do mesmo modo que “N” escritores já fizeram. Assim seria só mais um romance com vampiros iguais aos de Bram Stoker, Anne Rice, Darren Shan e etc. infinitos.

Vou falar só um pouquinho da protagonista. Bella é uma garota atrapalhada. Até aqui eu descrevi 70% da população feminina adolescente do planeta. E se fosse só isso ela seria realmente uma garota adorável. Mas Bella também é uma garota “altruísta”. Bem, eu não sei qual é exatamente a definição de altruísmo da autora.
Bella abre mão de viver numa cidade ensolarada, a qual ama, para ir morar com o pai, com quem é evidente que ela não tem nenhuma afinidade, na cidade com o clima mais úmido dos Estados Unidos, a qual ela odeia amargamente, apenas para que a mãe pudesse viajar livremente com seu novo e simpático marido Phil. Até aqui podemos dizer que ela é altruísta.
Poucas páginas depois ela conhece Edward, o motivo pelo qual Forks se torna sua cidade favorita no mundo inteiro, e por quem ela está disposta a se mudar até para o Alaska, e acho que nem preciso mencionar que é um dos lugares mais frios do planeta. Neste momento eu lhe atribuo um novo adjetivo: volúvel.
Então, no decorrer do primeiro livro – que, devo admitir, tem trechos maçantes de um questionário sem fim a respeito dos vampiros. Stephenie Meyer quis fazer um diário detalhado dos dias de Bella em Forks, diálogo por diálogo. Não estou dizendo que isso é ruim, mesmo porque, ao criar uma nova versão do mito dos vampiros, é bom que se inclua no texto detalhes sobre sua vida, seus hábitos, enfim... Mas uma boa parte do primeiro livro nos mostra apenas o quanto Bella foi curiosa a respeito da espécie de seu namorado, coisa que foi completamente ignorada no filme, onde, como já mencionei, ela não fez uma pergunta sequer, apenas absorveu o que ele quis compartilhar –, Bella se torna o alvo da caça de um vampiro considerado perigoso. A grande incoerência nesta parte da história, nos livros e no filme, é que os Cullen estavam em maior número do que o clã de James. Poderiam tê-los matado ali mesmo, no campo de beisebol, acabando assim com a matança na cidade – que só existiu no filme –, e com o perigo ao qual Bella estava exposta.
Em vez disso, cada clã toma seu rumo, James se utiliza de um artifício tolo para atrair Bella ao estúdio de balé – outra incoerência é Bella, que até onde se sabe tem dificuldade até para caminhar sem tropeçar nos próprios pés, ter praticado balé na infância, algo que DEVERIA ter melhorado sua coordenação e equilíbrio –, e ela vai sozinha ao seu encontro. Já comentei a respeito, mas vou acrescentar que, no livro, a intenção dela realmente foi altruísta. Ela pretendia salvar a mãe, mesmo este sendo um plano falho, correndo o risco de ser morta e sua mãe ter o mesmo destino em seguida. Bella não é muito inteligente, e se não fossem os Cullens, essa história teria terminado em tragédia naquele momento. (Por isso eu os odeio – rsrsrs).
Aliás, este é o momento em que se elucida o passado de Alice, que foi completamente excluído dos filmes. Como eu sei que não contarão esta história em Amanhecer – Parte 2? Porque Alice foi a única vítima que escapou do rastreador James. E como ele e seu clã foram eliminados, não há sentido em trazer isso à tona no último filme. Como se Crepúsculo fizesse algum sentido...
Não, eu não coloquei, por livre e espontânea vontade, um alerta de spoiler sobre o parágrafo anterior, porque suponho que mesmo quem não leu os livros já deve ter ouvido tudo em rodinhas de adolescentes por aí.
Eu realmente não me lembro se Bella se desculpou com o pai pelas coisas horríveis que lhe disse ao partir, mas de qualquer modo, não a vejo como uma pessoa egoísta apesar de tudo. Não no primeiro livro, pelo menos. No entanto, no segundo livro ela mereceu um adjetivo muito pior: ordinária!
Ao primeiro sinal de problema, Edward conclui que a única forma de mantê-la segura é partindo. E ao fazer isto, ele não dedica um único segundo para se preocupar com os sobreviventes do clã de James, Victória e Laurent, que ainda queriam o sangue de Bella. Então a garota fica dilacerada, com o coração partido em mil pedaços e todas as mulheres do planeta se identificam com a mocinha.
Mas como a história tem que continuar, Bella começa a passar algum tempo com seu amigo Jacob, que ela sabe que sente algo mais que amizade por ela. Ele lhe dá todo o suporte emocional que ela precisa para atravessar este momento difícil, resolve os problemas que Edward ignorou ao partir, mantém Bella segura... Resumindo: Jacob é o cara real (esqueçam por um instante o lobisomem!). Edward é a personificação do príncipe encantado, o sonho das garotas do mundo inteiro, perfeito, lindo, rico... Uma fantasia! Jacob é o cara de verdade, que a ama, simplesmente, sem complicações, sem enrolação, que está disposto a ser o que ela precisar – um irmão, um amigo, um bichinho de estimação, qualquer coisa.
Mas quando Edward se mete em confusão, ela deixa Jacob falando sozinho para ir atrás dele. Até aí, não vou criar um rótulo, sou a favor do humanismo. Mas quando chega a hora de escolher – time Edward ou time Jacob –, ela ignora todo o apoio que recebeu de Jacob, e decide voltar para o vampiro sonho de consumo, mesmo depois de ele tê-la abandonado a mercê de seus inimigos perigosos. Aquela visão de Edward que ela tinha quando se metia em problemas foi criada pela própria Bella, o que nunca foi explicado no filme – outra falha do diretor. Edward realmente se distanciou sem olhar para trás. A única vez em que ele se manifestou de verdade foi naquele telefonema que atrapalhou a tentativa de Jacob de tascar um beijo na mocinha.
A escolha de Bella foi a cena que mais contextualizou essa série como ficção. O grande problema, é que esta cena é muito mais real do que deveria, porque existem muitas garotas como Bella no mundo, capazes de ignorar um homem bom de verdade para fugir com um idiota que as abandonará ao primeiro sinal de problema. Por isso eu a chamei de ordinária, pois ela simplesmente jogou fora o apoio do Jacob, pisou no coração dele com um salto agulha de 22 centímetros, já que não precisava mais dele para nada. Ela tinha seu vampiro de volta, sua vida era perfeita de novo... Por que se importar com os sentimentos do pobre lobisomem? AGORA ela é EGOÍSTA!
Então, vem o terceiro livro, com uma história feijão com arroz, que eu prefiro nem comentar porque só encheria linguiça. E finalmente, em Amanhecer a história volta a ser o que é: uma fantasia vampiresca.
Bella tem seu momento verdadeiro de humanidade, ao decidir ter seu filho, mesmo sabendo que isso pode matá-la. Se esta foi a forma que a autora encontrou de dizer que é contra o aborto, pode-se dizer que se saiu razoavelmente bem. Tirando o fato de que todo mundo, exceto Bella e Rosalie, queriam triturar a criança dentro do útero da mãe, se fosse possível.
Como o último filme ainda não saiu, os próximos parágrafos são SPOILER – decidi ser boazinha e avisar desta vez.
Não consegui enxergar nenhuma mudança na personalidade da Bella depois da transformação em vampira. Ela continuou sendo uma garota sem graça, cheia de medos, com vontade de bancar a heroína, mas sem inteligência o bastante para fazer algum plano dar certo. Tudo o que ela fez foi jogar fora um monte de dinheiro do Edward com um plano alternativo ridículo e cheio de falhas, que acabou nem sendo utilizado, já que Alice e Jasper resolveram tudo (de novo!). E a batalha final contra os Volturi nem chega a acontecer e se torna um blá-blá-blá sem fim, sem sangue e sem sentido, que deixou a porta aberta para mais um capítulo desta tragédia.
Admito, Amanhecer não é o meu livro preferido; e Bella não é, nem de longe, uma protagonista interessante. Edward também não tem absolutamente nada de mais, exceto o fato de ser um vampiro, coisa que foi praticamente derrubada pelo fato de que ele não ataca humanos – se Stephenie Meyer pretendeu humanizar os vampiros, era mais fácil ter escrito sobre um híbrido, mas esta é só minha opinião. Jacob é, de longe, o melhor personagem deste triângulo, e a parte de Amanhecer que foi escrita sob seu ponto de vista foi exatamente o que tornou aquela história tolerável – e até engraçada, admito. Quisera eu que ele tivesse continuado. Teria poupado o mundo do blá-blá-blá interminável da Bella.
Dos personagens secundários, creio que o mais real é Alice. Ela é a melhor amiga, que parece não ter mais nada para fazer além de ajudar a protagonista a resolver seus problemas, e neste caso, até carregá-la literalmente no colo quando necessário. Charlie também foi a figura perfeita do pai zangado e zeloso com a filha. Todo o resto parece ter sido criado apenas para dar sustentação à trama.
Como eu disse, minha relação com Crepúsculo é de amor e ódio. Gosto dos livros – até certo ponto, como já expliquei. Agora os filmes... Crepúsculo foi... verde, cheio de caras constipadas, com um elenco fuleiro que mal conseguiu entender a trama, muito menos interpretá-la, um enredo que só era tolerável graças aos rostos bonitos de alguns atores, já que deixou um monte de eventos mal explicados, com um texto mal adaptado, interpretado por... Não vou me repetir!
Lua Nova foi a bomba dentro do bolo, que acabou de destruir os últimos suspiros de dignidade da adaptação, salvo é claro, pelo fato de que Taylor Lautner, diferentemente de Kristen Stewart, tinha mais de uma expressão para compor o Jacob. Curioso que o melhor ator desta bodega não seja o verdadeiro protagonista. Não vou mencionar, de novo, que Ashley Greene também desempenhou bem seu papel, e Billy Burke também se saiu bem interpretando Charlie em seus dez segundos de cena na saga inteira.
Eclipse foi um grande nada, onde não aconteceu coisa nenhuma, só se repetiu o drama “a mocinha está sendo caçada por um monte de vampiros, e os Estados Unidos se uniu à União Soviética e ao Japão para defendê-la”. E só para dar um pouco de emoção ao enredo, ela ensaiou uma traição que não causou nem cócegas no orgulho do Edward... Claro, porque ele é durão e só quer que Bella se divirta...
A primeira parte de Amanhecer, que eu ainda não comentei com detalhes, mas vou fazer até o final da semana, foi, até agora, a parte mais bem adaptada, e é com grande humildade que reconheço meu erro de pré-julgamento. Eu vi o trailer e achei que seria mais um desastre, semelhante aos três primeiros, considerando o elenco, os diretores e todo o resto. Mas este foi realmente o melhor até aqui. Sem esperança para a segunda parte, já que até o livro dá sono, com aquela guerra que só aconteceu mesmo nas preocupações da Bella.
Resumindo: a pessoa que apontou Crepúsculo como o sucessor de Harry Potter deve estar se contorcendo com cólicas intestinais depois de conferir o grande desastre que esta saga se tornou. Realmente, à primeira vista, por se tratar de um tema de interesse comum – vampiros, lobisomens, garotas idiotas apaixonadas por monstros lendários... –, esta PARECE uma daquelas sagas que será comentada por muitas décadas. O grande problema é que, aparentemente, na hora de colocá-la nas telas, alguém estava com pressa de competir com o poderoso Harry em bilheteria, e selecionou os primeiros atores que se inscreveram para o teste. E, eu realmente não sei o que levou Stephenie Meyer a escrever um final tão entediante para sua saga – neste momento estou admitindo que o resto da história não é tão entediante. Até João e Maria pode se tornar um fenômeno se alguém souber como conduzir a história com controle de informações e alguns toques dramáticos para prender a atenção e motivar o leitor a ler a página seguinte.
No entanto, vamos admitir que Crepúsculo é um marco cinematográfico, de qualquer modo.
Agora todos vocês dirão que eu estou louca! QUE RAIO DE MARCO CINEMATOGRÁFICO ESTA PORCARIA PODE REPRESENTAR?
Eu desafio qualquer um de vocês a postar nos comentários o nome de outro filme ruim que tenha arrecadado milhões em bilheteria, e conquistado uma legião de fãs com um enredo patético, um elenco furado, um monte de fenômenos não explicados, e tantos erros de edição, de gravação e de coerência que lotariam uma enciclopédia!
Se isso não se chama MARCO CINEMATOGRÁFICO, então a história do mundo é um grande blá-blá-blá... Me corrijam se eu estiver errada.

Um comentário:

  1. Eu ainda não entendi como tem tanta gente alienada que não percebe que essa história só enche linguiça e não faz nenhum sentido.
    Ta na cara que a autora desse blog já passou dos 25. Ninguém com menos que isso perceberia que Crepúsculo é uma merda! Ainda mais menina. Muito boa avaliação.

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