Como nós estamos no mês do Halloween – o único
mês além de dezembro que a programação da TV realmente vale a pena – decidi
falar sobre este tema.
Admito que sempre tive certo fascínio por
histórias assombradas, e recentemente encontrei um conto que li pela primeira
vez aos nove anos. Foi publicado na Revista Disney Explora, no primeiro ano, e
acho que foi só o que guardei daquela revista.
Escrito por Franz Lupo, este conto não é
adulto nem infantil. É apenas uma história assombrada, como tantas outras, mas
para começar esta série de Halloween, me pareceu realmente bom.
A APOSTA
De Franz Lupo
A velha tinha fama de bruxa. Quando ela
morreu, muita gente do povoado se sentiu aliviada e livre de suas feitiçarias.
Mas também havia quem fizesse piada sobre o assunto e zombasse daqueles que por
anos tremiam só de ouvir falar sobre a velha. Um desses gozadores era um rapaz
que todos conheciam como Zé do Óleo, porque trabalhava no posto de gasolina.
Valentão, Zé do Óleo apostou com dois colegas de trabalho: ele dizia ser capaz
de visitar o túmulo da velha à noite, só para mostrar que não acreditava
naquelas bobagens do povo.
_Vou levar tinta spray para pintar uma cruz no
túmulo. Assim, no dia seguinte vocês terão uma prova de que estive lá –
prometeu.
À meia-noite em ponto, ele se despediu dos
amigos no posto de gasolina. E saiu de bicicleta levando uma lanterna e a lata
de tinta. Nos arredores do cemitério, a escuridão era quase absoluta. Zé do
Óleo deixou a bicicleta escondida no matagal e, decidido, escalou o muro.
Quando começou a caminhar pela alameda principal do cemitério, sentiu-se
inquieto. A uns 40 metros teve de seguir por um caminho estreito, que conduzia
ao local onde estavam as sepulturas. Zé do Óleo avançava com cuidado, mas por
mais que se empenhasse em não fazer barulho, seus passos ressoavam sobre o
calçamento e ecoavam ao longe. Pensou então que, depois de pintar a lápide da
velha, teria de voltar até o portão do cemitério: ou seja, teria de ficar de
costas para a tumba.
Sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo,
mas sabia que agora não poderia mais desistir. Continuou, com os olhos atentos
a tudo em sua volta, pois pressentia algo deslizando atrás dele. Alguns metros
adiante, ouviu um barulho. Prendeu a respiração e, apesar da vontade de sair
correndo, apoiou as costas contra uma parede de tijolos. Tremendo, conseguiu
tirar a lanterna do bolso, mas não a acendeu: algo estava roçando suavemente
suas pernas, que ficaram imediatamente paralisadas de terror. Demorou uma
eternidade até o rapaz perceber que se assustara com um simples gatinho. A
tremedeira durou alguns minutos. Recuperado, ele acendeu a lanterna e retomou
seu caminho. Com o fraco facho de luz que saía de sua mão, sentiu-se mais
exposto do que protegido. Mas encontrou o túmulo da velha, cravado no setor
mais pobre do cemitério.
Com as mãos trêmulas, começou a manchar a
lápide com a tinta spray. Pensou que, se algo de sobrenatural fosse acontecer –
como, por exemplo, a aparição da velha –, ocorreria agora, nesse instante. O
tremor estendeu-se de suas mãos para todo o corpo e o restinho de calam que lhe
sobrava esgotou-se.
Imediatamente deu por terminado o “trabalho” e
voltou a caminhar até a saída. Ia passando como se algo o perseguisse. Começou
a correr, desesperado. Nem mesmo ele saberia explicar como chegou tão rápido
até a bicicleta. Depois de afastar-se seis ou sete quadras do cemitério,
sentiu-se mais seguro. A dez quadras já se felicitava por sua valentia. Chegou
ao posto de gasolina e foi direto para o local onde estavam seus companheiros.
Empurrou a porta de vidro e parou na frente deles. Já ia abrindo a boca para
dizer que tinha cumprido a aposta quando percebeu uma expressão estranha no
rosto dos colegas de trabalho: estavam assustadíssimos. O terror expresso em
seus olhares era tão claro que ele mesmo, apavorado, voltou-se devagar para a
porta que acabara de ultrapassar. Mas não havia nada atrás dele que pudesse
causar tanto medo. Mesmo assim, seus companheiros se precipitaram pela porta
dos fundos, fugindo. Zé do Óleo foi atrás deles, perguntando o que havia de
errado, mas a essa altura os rapazes já estavam correndo pela estrada. Desistiu
de segui-los. De repente, um clarão invadiu sua mente. Atendendo a uma secreta
e horrível intuição, aproximou-se do espelho que havia na parede. E soltou um
berro por entender porque seus colegas gritavam “A velha! A velha!” enquanto
fugiam.
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