Mais
um momento nostalgia diretamente do Admirável Mundo Inventado para o mundo!
Uma
das minhas séries de TV favoritas quando eu estava crescendo era Os Arquivos de Shelby Woo, que era
exibida na Nickelodeon na sequência de Kenan
& Kel e Sabrina, A Aprendiz de
Feiticeira, e antecedia o Clube do
Terror. Era uma série de detetive, protagonizada por uma adolescente de
ascendência asiática chamada Shelby Woo, que trabalhava como arquivista e
assistente do Detetive Whit Hineline no Departamento de Polícia de Cocoa Beach,
Flórida, e sempre se intrometia nas investigações, invariavelmente solucionando
os mistérios antes da polícia. Shelby e seus amigos eram tipo a turma do Scooby
Doo: um bando de crianças enxeridas, metendo o bedelho nas investigações dos
crimes e colocando os criminosos na cadeia.
Cada
episódio seguia a estrutura básica de um mistério investigativo: a cena do
crime era mostrada primeiro, sem revelar o culpado; depois Shelby ficava
sabendo do caso e começava a investigar por fora com seus amigos Noah e Cindy,
tentando responder a três perguntas: quem, como e por quê? O roteiro nos dava
várias pistas, quase sempre as mais importantes eram introduzidas de maneira
sutil. E por se tratar de uma série para adolescentes, era meio fácil
solucionar o mistério antes do fim do episódio, por mais que alguém tentasse
confundir as pistas.
Não
é segredo para ninguém que eu sempre fui apaixonada por histórias de detetive –
inclusive o primeiro livro que escrevi foi um romance policial, ainda não
publicado –, e Shelby Woo era um prato cheio para esta então pré-adolescente.
Pena que a série esteja fora do ar há tanto tempo, e tenha praticamente caído
no esquecimento.
Recentemente
consegui recuperar alguns episódios que eu tinha gravado em VHS – aquele
dinossauro que antecedeu os DVDs e Blu-Rays –, então decidi compartilhar com
vocês um dos meus episódios favoritos dessa série.
Gosto
desse episódio porque ele me lembra alguns dos mistérios da Agatha Christie, só
que numa versão mais leve.
Como
o episódio envolve um mistério a ser resolvido, tentarei incluir todos os
detalhes importantes, para que vocês também possam pensar em seus suspeitos.
Mas antes de mais nada, devo adverti-los de que o narrador nem sempre é
confiável. Gosto de aplicar essa ideia nos meus contos de terror e de mistério,
e aplicarei também nessa review.
Sem
mais delongas, o episódio de hoje é:
Como
era costume, o episódio começa na Delegacia de Polícia de Cocoa Beach, onde
Shelby comenta os acontecimentos mais recentes da cidade. Todos estão se
mobilizando para repor os suprimentos de emergência, algo com que precisam se
preocupar na Flórida, pois ainda estão fazendo a faxina do furacão Isadore, que
passou pela costa leste há poucos dias.
E
nem foi só o furacão que andou movimentando as coisas por ali. Durante sua
passagem, Shelby e seus amigos precisaram resolver um crime na pensão Brisa do
Oriente, de propriedade do avô dela. Se bem que isso é rotina na vida dessa
adolescente.
Shelby
e seus amigos Cindy, Noah e Melanie – esta, recém-chegada à cidade –, estavam
fazendo os preparativos para irem para o abrigo municipal, onde aguardariam a
passagem do furacão. Cindy e Melanie estavam enchendo galões com água potável –
a recomendação era levar dez litros por pessoa –, enquanto Shelby e Noah
vedavam as janelas com placas de madeira para evitar que a água invadisse a
pensão em sua ausência.
Os
hóspedes também estavam fazendo seus próprios preparativos: Chase Cavanaugh, um
estudante universitário, que estava monitorando a passagem do furacão em Cocoa
Beach, aproveita os dez minutos que restam antes da partida para entrevistar
Shelby sobre as providências que estão sendo tomadas para minimizar os
prejuízos na pensão, respondendo ele mesmo às perguntas que faz a ela; Alex
Michaels, mais conhecido como Alexander, o Grande, um mágico que estava de
passagem pela cidade está na varanda dos fundos, escondendo alguma coisa numa
caixinha dourada quando Cindy vai buscar mais galões vazios para encher de
água; sua mulher e adorável assistente de mágica, Gina, quase o surpreende
também; e a outra hóspede, uma escritora chamada Elizabeth Guthrie, está no
telefone m seu quarto, planejando um assassinato. Mas, calma, gente, a vítima é
um personagem de seu próximo livro; ela escreve assassinatos misteriosos.
Se
a coisa toda fosse real, chegar assim de mansinho e ficar ouvindo atrás da
porta certamente te colocaria em maus lençóis, moça.
Melanie
apressa a mulher a descer, mas descobrem que é tarde demais. O chefe de Shelby
na delegacia, o Detetive Whit Hineline acaba de chegar com a notícia de que o
furacão está vindo mais depressa do que calculavam, por isso a prefeitura
precisou fechar a ponte mais cedo, de modo que terão que esperar a passagem do
furacão ali mesmo, na pensão. E como tinha ido levar uma van cheia de velhinhos
para o abrigo mais cedo, o avô de Shelby não terá como retornar à pensão,
portanto a garota está oficialmente no comando. E embora acredite que estão em
boas mãos, o detetive se compromete a ficar lá para ajudar no que puder.
Por
precaução, cada um toma uma providência para garantir que tudo corra bem.
Melanie diminui a temperatura da geladeira, deixando-a bem fria, para o caso de
faltar energia elétrica; Cindy enche as banheiras de água, para garantir água
potável extra – tomara que essas banheiras estejam limpas... E Noah reforça as
venezianas das janelas do andar de baixo, pois a madeira está acabando.
Enquanto isso, os hóspedes reclamam que é inaceitável terem que esperar a
tempestade passar dentro da pensão, pois precisam de comida e de segurança.
Além disso, o panfleto não falava nada sobre risco de vida.
Isso
aí, detetive! Coloca ordem nesse galinheiro!
Bem,
já que não vão a lugar nenhum, Guthrie decide guardar mais uma joia no cofre,
só para o caso de o vento soprar com força demais dentro da pensão. E é quando
Shelby percebe, ao abrir o cofre para guardar a joia da mulher, que o relógio
dela que guardara mais cedo desapareceu.
Todos
são convocados para a sala de estar, onde o detetive os interroga sobre onde
estavam quando Shelby guardou o relógio da escritora no cofre. Todos estavam na
sala naquele momento, mas, de acordo com suas lembranças, só Melanie estava
numa posição e numa distância em que poderia ter visto a combinação, o que a
deixa profundamente ofendida.
Como
isso é um mistério de detetive, vou detalhar bem a história para que vocês
possam chegar às suas próprias conclusões e tentar descobrir o culpado. Como
era uma série infanto-juvenil, o mistério não é tão difícil.
Os
fatos do crime são os seguintes: Shelby estava colocando pilhas novas nas
lanternas quando Guthrie pediu que ela guardasse o relógio no cofre, do qual só
ela e seu avô conhecem a combinação. Melanie gostou do relógio e pediu para
vê-lo, e Guthrie permitiu que ela o experimentasse. Depois ela se afastou
alguns passos para que Shelby o guardasse. Mas Melanie não era a única pessoa
na sala naquele momento. A escritora ficou ao lado de Shelby enquanto ela abria
o cofre, o casal de mágicos estava na porta, e Chase, o garoto do tempo Júnior
estava filmando o documentário. Noah e Cindy também estavam na sala, mas não
fica claro onde exatamente eles estavam. De qualquer modo, eles são pessoas de
confiança, e nunca foram suspeitos.
Bem,
embora o relógio valesse vinte mil dólares, e tivesse grande valor sentimental
para sua dona, pois foi presente do editor em comemoração ao seu primeiro best-seller, a conclusão do mistério vai
ter que esperar, pois precisam terminar os preparativos para a passagem do
furacão.
Aqui
entre nós: editores nos Estados Unidos presenteiam autores de best-sellers com relógios que valem
VINTE MIL DÓLARES? Goodbye, darlings!
Estou me mudando hoje mesmo para a terra do Tio Sam!
O
avô de Shelby telefona para saber como estão indo as coisas, mas o telefone
fica mudo no meio da conversa.
Enquanto
Shelby recolhe as plantas da varanda, para evitar que sejam levadas pelo vento,
Noah e Cindy discutem a culpabilidade de Melanie no roubo. Afinal, ela é nova
no grupo, e, de acordo com boatos, foi expulsa da outra escola por roubar
dinheiro da cantina. Ofendida por ouvir os amigos duvidando dela – exceto Noah,
que está apaixonado pela mocinha, e é o único que a defende –, ela reúne todas
as pessoas na sala e diz que de onde estava não poderia ter visto a combinação,
pois a mão de Shelby estava na frente. Cindy faz o teste e confirma que era
impossível Melanie ter visto alguma coisa. Mas a garota acredita que sabe quem
roubou o relógio, e está prestes a fazer sua revelação quando a energia cai.
Quando as pessoas acendem as lanternas, percebem que Melanie sumiu.
O
grupo então se separa para procurá-la, e o episódio fica com cara de que se
transformará numa história de terror. Cindy e Shelby sobem para procurá-la nos
quartos, aparentemente morrendo de medo de encontrar o bicho-papão embaixo do
cama, enquanto os hóspedes procuram no térreo. Mas ninguém a encontra.
Até
que todos se reúnem novamente na sala, e Shelby coloca as engrenagens para
funcionar. O apagão durou somente alguns segundos; onde quem quer que seja
poderia ter escondido a moça num intervalo de tempo tão pequeno?
É
óbvio que, com um mágico no recinto, não há nada mais natural do que fazer
alguém desaparecer dentro da sua caixa mágica.
E,
NÃO! Isso NÃO foi um spoiler!
O
problema é que devem ter batido com muita força na cabeça dessa menina, porque
ela não faz a menor ideia de quem estava prestes a acusar quando foi atacada.
O
que os leva de volta à estaca zero.
A
propósito, não teriam um lanchinho aí?
Falando
em cutucar onça com vara curta, Guthrie aproveitou que o detetive estava
examinando o cofre para comentar sua incompetência.
Pelo
menos a luz retorna em seguida. E o detetive garante aos mágicos que ninguém
vai pegar nada deles, embora eles não estejam muito convencidos disso. A outra
boa notícia é que Shelby preparou uma bandeja grande com sanduíches de atum,
ovo e salada e peru com queijo. E enquanto o pessoal reabastece as energias, o
Detetive Hineline aproveita para interrogar o casal de mágicos, e eles afirmam
que estavam no quarto fazendo as malas no momento em que o relógio foi roubado.
Enquanto
isso, Chase mostra a Cindy as imagens do último furacão que registrou, passando-as
em câmera lenta para parecer menos assustador. Com aquele equipamento, ele
consegue fazer imagens impressionantes da tempestade a vários metros de
distância parecendo que está bem no meio de tudo.
Shelby
também aproveita a hora do lanche para papear um pouco com Guthrie, que é sua
escritora favorita. E aproveita para comentar sobre sua aventura favorita da
Detetive Kelsie O’Connor, A Ampulheta
Dourada e perguntar como Guthrie bolou aquela história.
Sentiram
o drama? Vamos apenas lembrar que, no começo desse episódio, Guthrie estava se
queixando de estar novamente bloqueada. E de repente, um mistério cai em seu
colo, e envolvendo seu próprio relógio. Parece suspeito, não acham?
Logo
na sequência da pausa para o lanche, os suspeitos começam a trocar acusações.
Chase afirma que estava checando as escalas em seu equipamento, portanto não
tinha nem como saber que estavam falando sobre o relógio. Mas ele se lembra que
logo depois viu o mágico realizando o truque das algemas, e ficou pensando que,
se ele podia abrir algemas, talvez pudesse abrir um cofre também. Já a mulher
do mágico é da opinião de que Noah tenha roubado o relógio para dar de presente
à Melanie, embora os amigos garantam que ele jamais faria isso.
E
estourar a janela fazia parte do truque?
A
troca de acusações vai ter que esperar. Eles estão quase no olho do furacão,
quando terão alguns minutos antes que ele volte, então, precisam arrumar aquela
janela rápido. Shelby assume o comando: manda Cindy buscar a caixa de
ferramentas na cozinha, Noah pegar mais um pedaço de madeira, e Chase e o
Mágico tirarem o galho que quebrou a vidraça. Enquanto eles preparam a nova
proteção para a janela, o detetive pega uma lanterna para ajudar.
Depois
que o problema da janela é resolvido, Shelby, Noah e Cindy se reúnem no quarto
da chinesinha para tomar sorvete e repassar a lista de suspeitos, desta vez
listando os motivos que cada um teria para roubar o relógio.
Notaram
que Melanie saiu da lista de suspeitos? Afinal, todos os outros tinham motivo,
embora ninguém tivesse acesso ao cofre. Mas o relógio sumiu, sinal de que
alguém teve. A questão é: como?
É
quando ouvem um barulho de vidro quebrando, e encontram Chase desmaiado e
ferido no quarto do mágico. Ele conta que estava procurando Alex para conversar
e acalmar os ânimos quando alguém o atacou, mas o mágico alega inocência. Além
do mais, Alex estava com o detetive quando isso aconteceu.
Então
Shelby coloca novamente a cabeça para funcionar, tentando achar o fio perdido
desse mistério. Quem poderia ter aberto o cofre, atacado a Melanie e batido no
Chase?
Nesse
momento, o equipamento começa a emitir sons estranhos ao registrar a velocidade
e direção do vento quando eles saem do olho do furacão e de sua momentânea
calmaria.
DING!
DING! DING! Senhoras e Senhores, Shelby Woo está com aquele olhar. Aquele que
Robert Langdon deu ao símbolo da rosa gravado no chão diante do museu do
Louvre; aquele que Sherlock Holmes dava ao seu fiel amigo, e que precedia a
frase Elementar, Meu Caro Watson; aquele
que Florinda Meza deu ao Chapolin Colorado ao descobrir que o esqueleto do pirata era falso, e que os empregados da mansão mal-assombrada estavam tentando afugentá-los; aquele que Velma Dinkley sempre dava aos seus amigos ao chegar à
conclusão de um mistério.
A
garota desvendou o caso!
Primeiro:
é preciso ter em mente que Melanie foi encontrada na caixa do mágico, e que ele
estava bravo com Chase quando este foi atacado; também é preciso ter em mente
que o mágico e sua mulher mentiram quando disseram que estavam fazendo as malas
quando o relógio foi roubado, pois Cindy viu Alex no pátio procurando uma coisa
numa caixinha.
Ele
estava literalmente escondendo o doce! Acontece que o mágico deveria estar de
dieta, embora seja sua esposa e assistente quem esteja um pouco fora de forma
para participar da maior parte dos truques do Mister M.
Descartado
este par de suspeitos, a lista diminui consideravelmente. Acontece que o
detetive Hineline esbarrou sem querer na prova do crime duas vezes nesse
episódio, sem se dar conta.
Vamos
recapitular o que aconteceu lá no início do episódio: Shelby estava colocando
pilhas novas nas lanternas, quando Guthrie pediu que ela guardasse o relógio no
cofre. Lembram? E estão lembrados de uma reclamação que o detetive fez
recentemente nesse episódio?
Shelby
trocou a pilha de todas as lanternas, mas duas vezes o detetive pegou uma
lanterna que não funcionava. Por quê?
Elementar,
meus caros: mesmo do outro lado da sala, Chase pode ter visto a combinação do
cofre com o zoom da câmera de vídeo que faz parte de seu equipamento. E não
importa que Shelby tenha feito isso rápido, pois ele podia passar o vídeo em
câmera lenta quantas vezes quisesse. Se olharem as imagens das fitas,
certamente encontrarão um belo close do cofre sendo aberto. Quanto ao blecaute
quando Melanie foi atacada, também não foi coincidência. Chase sobrecarregou a
energia com seu equipamento para provocar o apagão. E deve ter tido muita
coragem para bater na própria cabeça, pois é a única maneira de ter acontecido.
Enfim,
Chase foi preso, Guthrie está usando o incidente durante a tempestade como
inspiração para o livro, e Melanie perdoou os amigos por não terem confiado
nela. E agradeceu especialmente à única pessoa que nunca duvidou dela.
Tudo
bem quando termina bem. No caso de Noah, acabou saindo melhor do que a
encomenda.
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