Era
o ano de 1970. Um talentoso ator e roteirista de comédia de uma importante
emissora mexicana criava um novo programa para a grade, sem jamais prever que
quarenta anos depois seus personagens ainda estariam tão vivos na cultura de
tantos países, e que ainda seriam tão queridos e admirados. Crianças, jovens,
velhos; gerações de pessoas acompanharam e acompanham até hoje esse sucesso,
que provavelmente nunca irá se desgastar.
Era
1970, quando ia ao ar pela primeira vez o programa criado pelo “supergênio da
mesa quadrada”, Chespirito (Roberto Gomez Bolaños).
Em
mais de vinte e cinco anos de programa, Bolaños criou inúmeros personagens que
se tornaram ícones da comédia mundial. Alguns são bem famosos aqui no Brasil,
outros nem tanto, e alguns permanecem inéditos para nós (exceto para os que,
como eu, assistiram os esquetes com áudio original em espanhol na internet –
valeu YouTube!).
OS SUPERGÊNIOS
DA MESA QUADRADA
Primeiro
quadro do programa, que foi ao ar entre 1970 e 1972, era uma sátira das tradicionais
“mesas redondas”. A “mesa quadrada” era composta por Dr. Chapatin, Ramón
Valdés, Maria Antonieta de Las Nieves e Professor Girafales – teoricamente o
primeiro personagem do famoso programa Chaves
del Ocho a ser criado por Bolaños, embora ele tenha feito sua estreia no
quadro apenas em 1973.
Esse
quadro era bastante semelhante ao “Rodada da Noite”, no atual The Noite do
Danilo Gentili: os quatro humoristas liam notícias reais, e em seguida as
debatiam e satirizavam.
Como
o quadro nunca foi exibido no Brasil, a maior parte dos vídeos na internet estão em espanhol. Este foi dublado por fãs:
Foi
também no Programa Chespirito que nasceram os dois personagens mais famosos de
Bolaños:
CHAPOLIN
COLORADO
(cuja
permanência fora do ar no SBT ainda me enoja)
Criado
para ser o oposto dos consagrados super-heróis americanos, Chapolin era fraco,
feio, covarde, pobre, medroso e estabanado, que na maioria das vezes vencia os
vilões com uma boa ajuda da sorte; e outras vezes tornando-os vítimas de suas
trapalhadas.
Ao
longo de tantas temporadas (entre a série independente e os esquetes do Programa
Chespirito), Chapolin enfrentou um sem-número de vilões, sendo os mais notórios:
Tripa Seca (Ramón Valdés), Quase Nada (Carlos Villagrán), Poucas Trancas (Ruben
Aguirre), Botina (Edgar Vivar), Bruxa Baratuxa (Maria Antonieta de Las Nieves),
e meu favorito, o Pirata Alma Negra (Ramón Valdés).
Um
detalhe particularmente interessante neste quadro, foi a introdução de um
segundo super-herói: Super Sam, este mais parecido com o estereótipo americano,
mas tão atrapalhado quanto o Chapolin. Se era uma tentativa de emplacar uma
dupla de super-heróis (para competir com Batman e Robin), ou apenas uma sátira
mais explícita dos heróis americanos (cujos disfarces nem sempre escondem muito
bem suas verdadeiras identidades), não me atrevo a especular. Vou aceitar a
explicação de Florinda Meza no episódio “Poucas Trancas”:
“Super Sam é uma espécie de
Chapolin Colorado, só que com conta bancária”.
Episódio
de 1991, só foi exibido uma vez no SBT:
Que Cachorrada, Cunhado!
CHAVES DEL
OCHO –
ou simplesmente CHAVES
O
quadro que consagrou definitivamente o gênio Bolaños, e seu time de atores como
os grandes comediantes deste século. Está no ar quase initerruptamente desde
mil novecentos e qualquer coisinha, provando que um formato de humor simples e
sem apelos é perfeitamente capaz de garantir bons índices de audiência mesmo
depois de já ter sido reprisado um sem-número de vezes. Isso, ou Bolaños coou
café na cueca da sorte do Silvio Santos, para explicar esse sucesso monumental!
Curiosamente
Chaves não foi o primeiro personagem do quadro a ser criado. Antes dele vieram
o Professor Girafales, como já falei, e Chiquinha, que tinha seu próprio
esquete no Programa Chespirito, em 1970 – na época, ela ainda não usava óculos,
não era pobre, e o pai dela era interpretado por Ruben Aguirre.
Os
primeiros episódios de Chaves mostravam uma formação um pouco diferente da que
conhecemos: Chiquinha morava com seu pai, agora Seu Madruga, no número 14;
Quico e Dona Florinda ainda não tinham sido criados; Chaves ainda não fazia
“pipipi” quando chorava; e o Seu Madruga ainda não devia 14 meses de aluguel –
que, convenhamos, o Sr. Barriga nunca esteve lá muito interessado em receber.
Foi
lá no comecinho da série que vimos as melhores participações especiais do
programa, das quais destaco:
Malicha
(traduzida como Malu em algumas dublagens), interpretada por Maria Luísa Alcalá
(famosa em novelas mexicanas como “A Usurpadora” e “O Privilégio de Amar”),
personagem criada como tapa-buraco, durante a licença maternidade de Maria
Antonieta de Las Nieves, mas que só participou de três episódios. Na história,
Malicha era afilhada de Seu Madruga, e era quase tão malandra quanto a própria
Chiquinha, mas sem o mesmo sucesso.
Dona Edwiges, a “louca da
escadaria”, interpretada por Janett Arceo, que apareceu
somente em dois episódios, cobrindo uma ausência da Dona Clotilde. Assim como a
Bruxa do 71, a Louca da Escadaria tinha uma forte admiração por Seu Madruga. Uma
curiosidade é que a atriz tinha somente 18 anos quando interpretou a personagem
– um excelente trabalho de maquiagem para envelhecê-la, convenhamos.
Um
episódio de 1981, nunca exibido no Brasil, legendado, realizando o sonho da
Bruxa do 71... Digo, da Dona Clotilde:
Uma
coisa que é impressionante em relação ao Programa Chespirito, é que apesar do
sucesso estrondoso de alguns personagens no Brasil, os quadros gravados a
partir de 1980 ou não agradaram tanto ao nosso público, ou não conseguiram
conquistar espaço fixo na nossa TV, como é o caso de Chômpiras (ou Chaveco,
como preferirem) e Pancada Bonaparte, e alguns esquetes sequer foram
transmitidos no nosso país pela TV aberta, como é o caso de:
CIDADÃO GOMEZ
O
personagem é o típico abelhudo que ninguém quer ter por perto. Com
aparentemente nada mais para fazer além de ser intrometer na vida dos outros,
Cidadão Gomez nos diverte com situações típicas levadas ao absurdo pelo molde
mais simples do mundo: um grupo de poucos personagens com uma situação
problemática para resolver, e um estranho ou um colega não muito chegado dando
um monte de pitacos não solicitados para resolver a questão.
Um
esquete bastante divertido. Uma pena que a emissora de Silvio Santos não o
tenha colocado no ar.
Cantinflas
No Céu Salva Um Casamento Na Terra
LA CHICHARRA (A
BUZINA)
O
quadro é protagonizado pelo jornalista Vicente Chambón (Bolaños), repórter
curinga do jornal La Chicharra (o periódico que faz barulho), e como tal, cobre
reportagens sobre os mais variados assuntos, e consequentemente, entra nas mais
imprevisíveis confusões, sempre acompanhado da fotógrafa Cândida (Florinda
Meza). O jornal é dirigido por Don Lino Tapia (Ruben Aguirre), e além dele a
única personagem regular é a secretária Úrsula (Angelines Fernández). O
restante do elenco tradicional de Chespirito não têm personagens fixos, como
era comum nos esquetes de Chapolin, por exemplo.
Além
de ser enviado para cobrir as sobras de reportagens (aquelas que Don Lino julga
não valer a pena enviar um repórter de categoria averiguar), Chambón é a pessoa
mais distraída do mundo, capaz até de calçar o sapato direito no pé esquerdo e
vice-versa, sem sequer perceber o engano. É sua distração, aliás, que dá o tom
da comédia do quadro.
Oficialmente,
apenas um episódio dessa série foi dublado em português, e ele não se passa na
redação do jornal, nem mostra Chambón cobrindo suas matérias alopradas, mas
recentemente, um estúdio (acredito que independente) começou a dublar outros
episódios e postá-los no YouTube.
Então,
aqui, o episódio dublado oficialmente – único da série –, e o mais divertido
dentre os que foram dublados para o YouTube:
O
Mistério de Chambón
A
Vítima Foi Um Famoso Pintor
Além
dos quadros de sua autoria, Bolaños também fez, ao longo da história do
programa, diversas homenagens a personagens consagrados da literatura e do
cinema: Don Juan Tenório, Juleo e Romieta (digo... Romeu e Julieta), entre
outros. Mas os tributos mais notáveis são aos mestres da comédia pastelão
(gênero em que Bolaños e sua turma indubitavelmente se destacam) O Gordo e o
Magro e Charles Chaplin.
Você
Sabe Fazer Bolo?
O
Jornal e o Poste
E
é por causa de todos esses personagens maravilhosos, por seu talento
inesgotável, que Chespirito é o grande gênio da comédia do século XX, pois suas
séries nunca deixarão de ser atuais nem de ser divertidas.
Chespirito:
esse humor é eterno!
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