Em
1980, após o cancelamento das séries de inigualável sucesso Chaves e Chapolin,
Roberto Gomez Bolaños retornou ao projeto que deu origem a elas: o Programa
Chespirito.
O
humorístico era composto por quatro ou cinco (às vezes seis) esquetes de
diversos personagens criados por Bolaños, entre eles, os dois ícones que se
tornaram sucesso mundial, Chaves e Chapolin, mas agora com histórias curtas, de
cerca de dez minutos cada. Os outros esquetes incluíam Dr. Chapatin, Chômpiras,
o ladrão aloprado que era carregador de malas num hotel, de quem eu já falei
aqui, e outros esquetes de personagens sem nome, classificados simplesmente
como Chespirito.
Um
dos mais divertidos desde o princípio desse novo Programa Chespirito era, sem
dúvida nenhuma, o Pancada Bonaparte (ou Chaparrón Bonaparte, dependendo da
dublagem). No México, o esquete era intitulado “Los Chifladitos”.
O
personagem, como o próprio nome diz, era um sujeito pancada das ideias. O
sobrenome Bonaparte também é curioso, pois Napoleão Bonaparte, imperador da
França também foi considerado louco por muitos, e várias sátiras no programa
Chapolin mencionaram que todo louco se diz Napoleão.
Pancada mora numa casa composta por um enorme pátio usado como sala de estar, junto com seu amigo Lucas Pirado (o nome é autoexplicativo), e a relação de Pancada com esse amigo é muito engraçada, e semelhante à relação de Chômpiras com seus amigos Peterete e Botijão: Pancada tinha um tique nervoso, uma mania denominada rebimboca, que consiste em ficar repuxando compulsivamente uma perna à frente do corpo, requebrando o tronco repetidas vezes, sempre no meio da frase “além do mais...”; então para interromper o ataque Lucas lhe dava uma pancada nas costas, que o fazia girar no próprio eixo e em seguida se endireitar. A cena era repetida em todos os episódios, como o tradicional beliscão no Kiko, o tabefe da Dona Florinda no Seu Madruga, o grito de “Gentalha” do Kiko, e os croques na cabeça de Chaves; ou como o penteado e o tapa no topete que Peterete e Botijão davam em Chômpiras. Bolaños é um mestre em criar sequências marcantes de comédia pastelão para os seus personagens, que mesmo depois de serem repetidas milhares de vezes, continuam a divertir o telespectador como na primeira vez.
Os
personagens secundários desse esquete eram igualmente divertidos e malucos:
Maria
Esperança de Macho é a vizinha que vive indo à casa dos louquinhos para pedir
uma xícara de açúcar, e aproveita para bisbilhotar a nova maluquice que eles
inventaram dessa vez. Essa vizinha, pelo que se sabe, é uma mulher solteira e
encalhada, que vive com seu tio, Abúdio, a personagem mais sensata (dentro deste
contexto alucinado) do quadro. Embora ele conviva bem com os vizinhos, percebe
que eles são piradinhos, ao contrário de sua sobrinha, que sempre leva a serio
as invencionices deles.
A
outra vizinha de Lucas e Pancada é interpretada por Paulina Gomez, filha caçula
de Bolaños na vida real (não lembro se em algum momento foi dado um nome a essa
personagem), uma mocinha que sempre vai à casa deles pedir para usar o
telefone. Essa vizinha é igualmente curiosa, porém, menos ingênua. Ela percebe
que eles não regulam muito bem, e sempre que pode tenta passar a perna neles.
Houve um episódio em que ela comprou deles uma maleta cheia de dinheiro, em
troca de um saco de moedas, pois eles pensavam que eram figurinhas (lembram-se
do episódio do Chaves, com as notas de dinheiro de todos os países? Então...).
Só que, enquanto ela foi buscar as moedas, Pancada trocou o dinheiro na maleta
por figurinhas, de modo que a vizinha saiu toda contente e apressada, sem saber
que tinha gasto suas economias num monte de papel inútil!
Além
dos vizinhos malucos, Pancada e Lucas recebem frequentemente a visita do Guarda
Padilha, que, como Maria Esperança de Macho, demora a perceber que os dois são
malucos. O resultado é que a dupla sempre faz gato e sapato desse policial
distraído.
Não
satisfeitos em atazanar os vizinhos com suas maluquices, Lucas e Pancada vão
frequentemente à delegacia do bairro denunciar os crimes mais inacreditáveis: um
casal de irmãos que queimaram uma velhinha empurrando-a num forno aceso (João e
Maria); um caçador que abriu a barriga do Sr. Lobo com um facão, porque
supostamente ele tinha engolido uma menina e sua vovozinha (Chapeuzinho
Vermelho); o príncipe que assassinou uma velhinha que vendia maçãs (Branca de
Neve e Os Sete Anões); uma anestesista desleixada que deixou uma mulher
dormindo por cem anos (A Bela Adormecida); um homicídio cometido por um irmão
contra o outro irmão (Caim e Abel); entre outros. Todas essas histórias deixam
a delegada Justina (interpretada por Maria Carmen Vela) furiosa com os dois
malucos.
Como
os outros esquetes de Bolaños, Pancada Bonaparte tinha vários bordões
extremamente divertidos, que compunham pequenos diálogos rotineiros com seu
amigo Lucas:
PANCADA:
Escuta, Lucas...
LUCAS:
Fala belo!
PANCADA:
Belo!
LUCAS:
Obrigado, muitíssimo obrigado.
PANCADA:
Não há de queijo, só de batatas.
LUCAS:
Sabia que as pessoas continuam dizendo
que você e eu estamos loucos?
PANCADA:
Que você e eu estamos loucos, Lucas?
LUCAS:
Imagina!
PANCADA:
Larga mão, Lucas! O mesmo diziam do meu
tio Genovevo e já viu...
E
aí seguia um relato curioso sobre as esquisitices e loucuras do tio em questão.
Às
vezes esse diálogo era inverso: Pancada chegava com a trágica notícia de que as
pessoas continuavam dizendo que eles estavam loucos, e era Lucas quem
aconselhava a não dar bola.
PANCADA: Sim, você deve estar certo. [Geralmente respondendo a algum
argumento insano de Lucas].
E
o mais curioso de todos, que geralmente encerrava o episódio:
LUCAS:
O pior é que parecia uma pessoa normal...
PANCADA:
Sim, como você [apontando para si
mesmo] ou como eu [apontando para
Lucas].
Abaixo,
um dos meus episódios favoritos de Pancada Bonaparte para vocês se divertirem:
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