Aproveitando
a deixa do Dia Internacional da Mulher, quero citar dez exemplos de personagens
(sendo que uma delas é uma figura real, mas tão icônica que se tornou uma
lenda) que demonstraram que deixamos de ser o sexo frágil há muito tempo.
Scarlett O’Hara
Acredito
já ter falado dela algumas (ou muitas) vezes no blog, mas nunca é demais. A
personagem criada por Margaret Mitchell em seu romance “E O Vento Levou” é um
bom exemplo de uma mulher de garra. Scarlett, a princípio, era uma garota fútil
e mimada, mas amadureceu muito ao experimentar na própria carne os horrores da
guerra civil americana, tendo de encarar a fome, doenças, mortes de pessoas
próximas (dois maridos que ela não amava, uma amiga, seus pais, sua filha ainda
pequena e o bebê que nem chegou a nascer), e lutou com unhas e dentes para
conseguir pagar os impostos e não perder sua amada fazenda. E mesmo quando tudo
estava contra ela, Scarlett não desanimou. Com um otimismo invejável, ela
seguiu lutando suas batalhas, em busca do seu final feliz. Ou, em suas próprias
palavras “amanhã será um novo dia...”.
Hester Prynne
Falando
em mulheres fortes do século XIX... Este talvez seja o exemplo mais admirável.
A protagonista do romance “A Letra Escarlate”, de Nathaniel Hawthorne,
enfrentou o preconceito e a moral de toda uma sociedade puritana ao assumir,
até com certo orgulho, a punição por seu pecado: carregar indefinidamente a
letra “A” escarlate em suas vestes. A de adúltera.
Hester
era nova na comunidade da Nova Inglaterra, e de repente encontrou-se grávida de
um homem que certamente não era seu marido, pois este não se sabia se estava
morto ou se tinha ficado na Europa. E foi justamente a dúvida que poupou sua
vida. Como não se podia comprovar que houve adultério, Hester foi condenada a
exibir o estigma de seu pecado diante de toda a sociedade, o que para qualquer
mulher da época, era uma humilhação moral, talvez o pior de todos os castigos:
ser vista por todos como algo semelhante a uma meretriz. E o mais doloroso de
tudo: saber que esta punição machucaria tanto a ela quanto à criança que ela
parira.
Mas
Hester não baixou a cabeça nem mesmo quando seu marido apareceu para
chantageá-la, descobrir e vingar-se de seu amante, enquanto tinha a vida dela
nas mãos. Se revelasse à sociedade que ele era o marido dela, Hester seria
punida com a morte.
Hester
enfrentou a sociedade puritana, cuidou de sua filha com grande esmero, e venceu
com muito mais dignidade do que aqueles que usam o pretexto da moral para
esconder suas próprias transgressões. No fim das contas, a letra vermelha em
sua roupa, que deveria ser o estigma da vergonha, tornou-se a marca de seu
orgulho, de sua força inabalável, e de sua dignidade firmemente preservada.
Cleópatra
Eu
disse que mencionaria mulheres admiráveis da “ficção”, e Cleópatra, tendo sido
uma pessoa real, não deveria estar nesta lista, mas sua história fez da notória
rainha do Egito um símbolo da mulher poderosa.
Cleópatra
foi a última e possivelmente a mais notória governante do Egito, antes de
tornar-se província de Roma. Conseguir confirmar seu lugar no trono foi uma
batalha a parte, que levou-a a tornar-se amante do imperador romano Júlio
César, de quem teve um filho. Embora sua história de amor com Marco Antônio
tenha sido mais bela que seu caso com o imperador.
Mas
Cleópatra não foi apenas a amante do homem mais poderoso de sua época. Ela
também era uma grande estrategista de guerra (possivelmente melhor que seu pai,
que conseguiu com seu mau jeito o desprezo do povo egípcio), e uma excelente
negociadora. Sem mencionar que ela sabia usar seus atributos para manipular os
poderosos a seu favor.
Esta
Rainha do Egito foi um grande exemplo de que mesmo os homens mais poderosos tornam-se
extremamente vulneráveis quando estão diante de uma bela e inteligente mulher!
Sherazade
Por
falar em rainhas inteligentes... Sherazade foi uma lendária rainha da Pérsia,
que chegou ao trono pelo caminho mais tenebroso: o rei Shariar havia sido
traído pela esposa, e mandou executá-la. Desde então, para não ser traído
novamente, ele se casava todas as noites com uma nova mulher, e mandava
executá-la no dia seguinte. Foi assim que, um belo dia, ele desposou Sherazade.
Mas
ela não era uma mulher qualquer. Sherazade conhecia histórias de várias partes
do mundo, aventuras de reis, de heróis, de grandes viagens e fábulas
maravilhosas, que começou a contar ao rei na noite de núpcias, mas antes que o
sol nascesse, ela interrompia a história na melhor parte. Assim, o rei, curioso
por conhecer o final, decidia poupá-la até a noite seguinte. É provável que ela
não tenha passado, de fato, mil e uma noites contando histórias ao rei, mas a
tradição oriental de evitar números inteiros pode ter originado este cálculo,
que representa uma soma muito grande de histórias.
Enquanto
deixava suas histórias inacabadas para terminar na noite seguinte e iniciar
outra, Sherazade foi conquistando o carinho do rei, que, apaixonado, decidiu
poupá-la definitivamente, acabando também com o horror da morte das esposas
todas as manhãs.
Mais
que uma mulher marcante, e magistralmente inteligente, Sherazade pode ser
considerada uma heroína.
Capitu
Dom
Casmurro dá título ao livro, mas, vamos falar a verdade, esta história é dela!
Foi contada por causa dela, girava em torno dela, e a grande questão do romance
(traiu ou não traiu, eis a questão) é mérito dela. Então, como deixar de
mencioná-la? Capitu é, e sempre será uma das personagens femininas mais
marcantes da literatura brasileira.
Aurélia Camargo
É
verdade que José de Alencar criou inúmeras mulheres marcantes, e eu poderia
escrever um artigo mencionando cada uma delas por um motivo diferente, mas para
esta pequena lista, creio que um exemplo bastará.
A
protagonista do romance “Senhora” foi escolhida por ter sido, de todas as
mulheres de Alencar, na minha humilde opinião, a mais paciente.
Aurélia
era uma moça pobre, que foi desprezada por Fernando Seixas, e trocada por uma
moça rica. Descobriu-se que o avô de Aurélia era um homem rico, que a fez
herdeira de sua fortuna. Então ela viu nisso a oportunidade de dar o troco em
Fernando e recuperar sua dignidade maculada. Como ela fez isso? Comprando o
marido!
Sim,
Fernando casou-se com Aurélia pelo dinheiro, mas só pôde tocar nela quando
reconheceu-se apaixonado pela esposa. E até lá, quem deu as cartas foi sempre
ela: controlando seus gastos e fazendo-o saber o tempo todo que, estando numa
posição mais vulnerável – sobretudo financeiramente –, ele lhe devia obediência
e respeito – o que explica o título do romance.
Em
suma, Aurélia foi, das mulheres de Alencar, a única que teve coragem de assumir
o posto de “homem da casa”, algo inusitado para o século XIX. Prova de que
Aurélia estava muito à frente de seu tempo.
Ana Clara
A
protagonista da novela “Fascinação”, de Walcyr Carrasco, é uma das mocinhas
mais sofridas e lutadoras que eu já vi na dramaturgia brasileira. Enganada pelo
homem que amava, expulsa de casa e grávida, Ana Clara acaba indo parar num
prostíbulo. Ela bem que tentou manter-se pura, mesmo naquele antro, mas ao ter
seu filho sequestrado pelo cafetão do lugar e dado para adoção, Ana Clara se
despe de todo o seu orgulho e de sua honra, e se torna a meretriz mais desejada
da Casa de Madame Therèze, para reunir o dinheiro necessário para procurar seu
filho.
A
mocinha é retirada do bordel pela bondade do tutor de sua antiga melhor amiga, Berenice,
que nos últimos tempos de vida odiou Clara por pensar que ela tentava roubar
seu marido, o homem que enganou Clara no passado e pai de seu filho, mas que
descobriu a verdade antes de morrer e pôde perdoá-la e pedir por ela ao tutor.
Mas
o calvário de Clara não tinha fim. Após a morte do tutor de Berenice, ela
trilha um caminho semelhante ao de Aurélia, comprando o homem que lhe enganou
como marido, mas em vez de vingança, o que Clara precisa é de um homem ao seu
lado para ajudá-la a recuperar a posse de seu filho. E quem melhor para isso
que o pai do menino? Se ele ao menos acreditasse que o filho era dele...
Enfim,
Ana Clara merece lugar nesta lista por demonstrar que não há limites no que uma
mãe é capaz de fazer para recuperar seu filho. Ainda que tenha que abrir mão de
sua honra.
Carolina Oliveira... Ou Teresa
Soares?... Enfim, Gaivota!
Admito
que se a novela não estivesse no ar, eu provavelmente não me lembraria dela na
hora de escrever esta lista. Mas a verdade é que a Gaivota, de “Café Com Aroma
de Mulher” também é um exemplo da força da mulher. Com uma personalidade forte
e determinada, a personagem evolui da simples e sonhadora colhedora de café,
que viaja para lá e para cá com sua mãe para trabalhar nas plantações, para uma
alta executiva do ramo cafeeiro.
Sem muitos recursos nem uma educação primorosa, Gaivota aprende o que precisa na raça, sem depender de ninguém, e faz muitos marmanjos formados se tornarem dependentes dela (de seu profissionalismo, quero dizer). Ela não sossega enquanto não consegue um emprego na empresa exportadora de café da família de seu antigo amor, e assim que é admitida, começa a galgar uma ascensão monumental na empresa, passando rapidamente, com poucas escalas, de recepcionista a sub-gerente da empresa, a segunda maior autoridade no lugar, atrás apenas – a grande ironia – de seu antigo amor, Sebastião Valejo.
Sem muitos recursos nem uma educação primorosa, Gaivota aprende o que precisa na raça, sem depender de ninguém, e faz muitos marmanjos formados se tornarem dependentes dela (de seu profissionalismo, quero dizer). Ela não sossega enquanto não consegue um emprego na empresa exportadora de café da família de seu antigo amor, e assim que é admitida, começa a galgar uma ascensão monumental na empresa, passando rapidamente, com poucas escalas, de recepcionista a sub-gerente da empresa, a segunda maior autoridade no lugar, atrás apenas – a grande ironia – de seu antigo amor, Sebastião Valejo.
A
razão porque Gaivota foi escolhida para figurar esta lista é que ela representa
a capacidade da mulher moderna de conquistar um lugar de destaque no mercado de
trabalho, mesmo em funções antes regidas unicamente por homens.
Andréa Sachs
Ok.
Você pode questionar: o que essa mulher está fazendo nesta lista? Certo, Andréa
(de O Diabo Veste Prada) não é exatamente marcante, mas sem dúvida merece
destaque por um simples motivo: ela era secretária da Hitler da moda Miranda
Priestly; desempenhou sua função com profissionalismo e uma dose cavalar de santa
paciência, e teve que se ajustar física e mentalmente ao seu ambiente de
trabalho. E tudo isso sem jogar a chefe pela janela do vigésimo andar! (Sei lá
se o escritório da Miranda ficava no vigésimo andar do prédio, só estou dando
um exemplo).
Por
essas e outras, acho Andréa Sachs uma mulher de garra. Porque, convenhamos
meninas, qual de nós no lugar dela não cogitaria “acidentalmente” prender o bico
torto da chefe terrorista com o grampeador?
Hermione Granger
Pode
parecer tolice, mas por toda a trajetória da personagem, Hermione
definitivamente merece lugar nessa lista. Quando chegou em Hogwarts, aos onze
anos de idade, Hermione não era mais que uma irritante sabe-tudo, como (o
mestre favorito da que vos fala) Severo Snape tão eloquentemente colocou. Mas
logo ela provou ser também uma garota corajosa ao ajudar os amigos em suas
aventuras, enfrentando vilões que em tudo eram mais maduros e poderosos que
eles, além de ser uma amiga extremamente leal.
Hermione
amadureceu nas páginas e nas telas. Enfrentou os mesmos dramas de toda
adolescente (uma paixão não correspondida, um namorado de temporada que logo
teve que partir para longe, uma luta com um trasgo montanhês no banheiro da
escola...), ampliou sua já generosa inteligência, e jamais abandonou seus
verdadeiros amigos, mesmo diante do perigo e da morte.
Por
tudo isso, Hermione é, independente de seus poderes mágicos, a mulher que toda
mulher deveria ser.
Eu
deveria fazer aqui também algumas menções honrosas, já que dez exemplos não
bastam para demonstrar toda a força da mulher dentro e fora da ficção, então,
não vamos nos esquecer das emblemáticas e memoráveis:
Gilda, interpretada por Rita Hayworth no filme homônimo.
Norma
Desmond, a estrela decadente do cinema mudo interpretada por Gloria Swanson em “Crepúsculo
dos Deuses”.
Brünhild,
a guerreira apaixonada por Siegfried em “O Anel dos Nibelungos” e nas lendas
escandinavas.
Penélope,
de “A Odisséia”, que manteve-se fiel ao marido, mesmo sem ter esperança de que
ele retornasse com vida de sua viagem.
E
Maria, de “A Noviça Rebelde”... Por ser a Maria!
E
para não perder o costume (nem a piada):
Seu Madruga
Por
nunca ter levantado a mão para uma mulher, mesmo sendo constantemente vítima
das injustiças de uma!
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