E aqui chegamos ao
terceiro tópico da lista do desafio literário: Filme ou Livro? E como o próprio tema diz, a proposta era ler um livro cujo filme eu já tivesse visto.
As opções eram
tentadoras, mas admito ter ficado extremamente feliz ao conseguir este
exemplar. O desafio de março não poderia ter sido mais perfeito; simplesmente a
obra que inspirou o clássico absoluto de Alfred Hitchcock: Psicose, de Robert Bloch.
Nem consigo calcular
a quanto tempo eu estava procurando esse livro. Consegui uma tradução antiga; já
houve pelo menos duas reformas ortográficas depois de sua impressão, mas a
essência da história ainda estava ali. Toda a obsessão, toda a loucura, o apego
insano de Norman Bates pela presença da mãe; sua personalidade doentia; a
necessidade de se livrar de tudo o que poderia interferir em sua relação supostamente
perfeita com a mãe; uma necessidade que parece ter sido desencadeada pela
chegada de Mary Crane (Marion, no filme; talvez tenha sido erro de tradução no
livro), a moça que fez aflorar, quem sabe pela primeira vez, algum desejo em
Norman Bates. Um desejo perigoso que ele – ou a mãe, ou ambos – precisava castrar.
Vou lhes contar um
fato impressionante que me aconteceu enquanto lia a cena do assassinato de Mary
Crane, e que quase me provocou um mini ataque cardíaco.
Estava eu lendo:
“Mary
começou a gritar. Então a cortina se abriu totalmente e apareceu a mão
empunhando uma faca de açougueiro. E foi a faca que, pouco depois, decepou-lhe
o grito.
E
a cabeça também.”
Neste exato momento,
meu celular tocou. Qual é meu alerta de chamada? A canção sinistra da faca de
psicose!
Tive um sobressalto.
Numa lista infinita de coincidências mundo afora, esta poderia ser de longe a
mais grotesca. Agradeci aos céus por não conhecer nenhuma Norma, porque, se
conhecesse, na certa, seria ela me ligando.
Mas quem é que tem
esse senso de oportunidade diabólico?
_A VIVO tem uma mensagem importante para você! Para ouvi-la, tecle... –
disse a voz da gravação antes de eu mandá-la para... [insira complemento
aqui]
Não teclei, óbvio. As
mensagens importantes da operadora geralmente não são importantes. Só anúncios
de promoções velhas que, na cabeça do pessoal do marketing, vão te interessar
se eles te oferecerem 700 vezes!
Desculpem, me desviei
do foco.
Como ia dizendo...
Desliguei na cara da gravação. A suposta mensagem importante, decerto, não
seria tão interessante quanto a leitura.
Reza a lenda, que na
época em que rodou o filme, Alfred Hitchcock comprou todos os exemplares do
livro em circulação nos Estados Unidos, para que ninguém soubesse o final da
história de antemão.
E ele foi essencialmente
fiel à obra ao filmá-lo. De uma maneira que eu acredito nunca ter visto em
outro filme.
É impossível – se fosse
essa a proposta do desafio – decidir qual é melhor: o livro ou o filme, no caso
de “Psicose”. Porque ambos mostram a história de maneira coerente, com riqueza
de detalhes.
O livro foca em um
acontecimento por vez; ora nos levando a acompanhar Norman Bates no motel, ora
acompanhando Mary Crane, e depois da morte dela, sua irmã Lila, e o noivo de
Mary, Sam Loomis, ou o detetive Arbogast. Cada cena é incrivelmente detalhada,
não se perde um único passo dos personagens, e parece ter sido escrito por uma
mente verdadeiramente detalhista; tão detalhista como a mente de um psicopata.
O filme, do mesmo
modo, retrata as cenas com detalhes, com o cuidado primoroso de seu laureado
diretor.
Eu penso que não se
conhece realmente uma história até ler o livro: até ter contato com a palavra
escrita. Porque geralmente muita coisa fica de fora do filme: cenas são
cortadas, diálogos reduzidos, frases são trocadas... Sem falar que às vezes a
emoção descrita no livro não é a mesma que se vê no filme. Por isso eu prefiro
sempre conhecer os dois lados da moeda, para ter a história inteira na minha
cabeça.
No caso de Psicose,
ambos, livro e filme, tiveram o cuidado de explorar as mesmas emoções – ou ausência
delas –, e imprimir tudo de uma forma bem específica, cada um à sua maneira.
NOTA: Não estou
participando oficialmente do desafio, porque não tenho certeza se vou cumprir
todos os tópicos. Apenas embarquei na brincadeira, mas clandestinamente, por
isso não há autolinks das minhas resenhas no blog que lançou a ideia.
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