Todo
mundo deve ter pensado pelo menos uma vez na vida como algumas pessoas
simplesmente nascem com muita sorte, enquanto outras parecem ter um incrível
talento para o azar. A roleta da sorte é a distribuição mais desequilibrada da
humanidade. Talvez porque a vida não teria muita graça se todo mundo
conseguisse magicamente tudo o que quisesse. Se bem que, em alguns casos, o
azar realmente abusa.
E
quando se trata de ficção, os personagens azarados são, invariavelmente,
aqueles que mais nos cativam.
Peguem
aí seus pés de coelho, ferraduras, trevos de quatro folhas e demais amuletos,
porque você está prestes a penetrar um território habitado por pessoas para
quem a sorte raramente sorri.
Não
necessariamente nessa ordem, eis os azarados da ficção:
Esse cara
realmente nasceu com o pé esquerdo. Não basta ser um divorciado de meia idade,
frequentemente esculachado pela ex-mulher, em um relacionamento sério com a lei
de Murphy, ele ainda é pai de um garoto com muita fome e sem nada na cabeça,
não consegue se sustentar sozinho, e acaba tendo que morar com seu irmão mais
velho, Charlie, que é o seu exato oposto: um compositor de Jingles com muito
dinheiro e muito tempo livre para torrá-lo, muito popular com as mulheres, que
parece ter herdado sozinho a parcela de sorte que deveria ter sido distribuída
a todos os seres humanos de sua geração. Não bastasse o contraste patético com
seu irmão, Alan ainda sofre bullying da empregada de Charlie diariamente, e
parece ter um inacreditável talento para espantar a mulherada.
E ele ainda
acabou casado com um homem, o bilionário Walden Schmidt – primeiro, porque passou
a ser sustentado por ele após a morte de Charlie, e segundo, para ajudá-lo a
adotar uma criança.
Alguns de seus
momentos mais memoráveis na série são:
* A vez em que ele confessou ter sido
rejeitado inúmeras vezes, e, segundo a alegação das mulheres, nunca por culpa
dele – o típico pretexto “não é você, sou eu”;
* A vez em que ele marcou hora para
renovar a habilitação, mas trocou sua senha com uma mulher que também estava
aguardando sua vez, pensando que podia conquistá-la, só para descobrir meio
minuto depois que ela tinha um namorado chorão com cara de chefe de gangue;
* A vez em que sua namorada de vinte e
dois anos decidiu trocá-lo por sua ex-mulher;
* A vez em que a mesma ex-namorada de
vinte e dois anos se tornou uma atriz famosa, e um paparazzi o fotografou em
posições comprometedoras no apartamento dela, só para melar o relacionamento
dele com Lindsay;
* E tem um episódio particularmente
memorável em que o azar de Alan caprichou: ele saiu do manicômio, depois de ter
incorporado Charlie Harper no episódio anterior, pegou carona para casa com o
Jake, ficou sabendo no caminho que estava prestes a se tornar avô do Frodo – o
nome escolhido por Jake para o bebê que sua namorada esperava –, protagonizou
um momento constrangedor com Judith quando Walden destacou como a filha dela e
do Herb era parecida com Alan, foi auditado pela Receita Federal, teve que
entregar tudo o que tinha – ou seja, quatro dólares do bolso –, descobriu que
Lindsey o trocara por Walden, foi convidado a se retirar da casa do bilionário,
fundiu o motor do carro na hora de ir embora, teve que “agradar” um
caminhoneiro para conseguir carona até a casa de sua mãe, debaixo de um toró, e
ela lhe negou abrigo, porque estava, aparentemente, fazendo algum tipo de
degustação com um pasteleiro chinês – ou mais provavelmente com o presidente da
Bolsa de Valores de Pequim –, foi dormir no depósito onde Walden guardara suas tralhas,
e quando parecia que as coisas finalmente começariam a melhorar, ao conhecer
uma mulher bonita com dificuldade para iluminar seu box e desesperada o
bastante para lhe dar mole, eis que aparece o Herb com uma arma na mão, dizendo
ter descoberto – antes tarde do que nunca – que foi corneado pelo Harper
azarado. Mas só desta vez, a maré de azar era apenas um pesadelo. Afinal, todos
sabemos que Two And A Half Men não sobreviveria sem esse azarado de plantão.
Já deu para ter
uma ideia do status de relacionamento dele com o azar.
Ok, para ser
justa, Alan teve momentos em que a sorte pareceu
estar do seu lado. Como quando ele conseguiu até se casar com Kandy, uma garota
de vinte e dois anos, muito bonita, do tipo que sempre se envolve com Charlie,
em vez do Alan. O único inconveniente é que ela tinha o Q.I. mais ou menos
equivalente ao de uma ameba. Tá explicado...
Mas o fato é que a onda de azar que frequentemente atingia Alan, pode na verdade, ter sido um
golpe de sorte disfarçado, pois ninguém acreditava que Two And A Half Men
pudesse sobreviver sem Charlie Sheen. Mas a série não apenas sobreviveu, como
ainda durou três temporadas após a saída do Harper mais sortudo. Porque,
convenhamos, era o azar de Alan, mais do que qualquer coisa, que produzia os
momentos mais cômicos da série.
O
grande barato da série Todo Mundo Odeia o Chris é justamente acompanhar as
encrencas em que o protagonista costuma se envolver. Não basta ser o único
garoto negro no colégio – que o torna o saco de pancadas oficial do valentão do
lugar –, ele ainda é frequentemente chantageado ou incriminado pela irmãzinha
encrenqueira, Tonya. Sem falar que toda garota de quem ele gosta foge dele. Ou
fica com o Drew, um irmão que é uma porrada em sua autoestima: mais novo, porém
mais bonito, mais popular, mais sortudo e mais talentoso em tudo que decide
fazer, exceto cantar. Chris até conseguiu namorar a menina de quem gostou a
série inteira, sua vizinha Tasha, mas descobriu que se relacionavam melhor
quando eram só amigos. E a única garota que realmente gostou dele, ele preferia
não exibir em público.
Alguns
de seus momentos azarados mais memoráveis na série são:
* A vez em que ele
foi eleito presidente do grêmio estudantil do colégio Corleone, mas acabou
sofrendo impeachment logo em seguida, porque não tinha como cumprir suas
promessas de campanha – algo que todo político faz, sem que ninguém tome
providências. Desta vez eu aceito o argumento: só pegaram no pé do Chris porque
ele é negro;
* A vez em que ele
recebeu um ovo como dever de casa, para fingir que era seu filho. Chris
pretendia escrever a redação com base em suas próprias experiências ajudando na
criação de seus irmãos mais novos, mas Rochelle descobriu a tarefa e decidiu
fazê-lo sentir na própria pele como era criar um filho de verdade. Tudo ia
muito bem – tirando o fato de ele passar a semana inteira sem que a mãe o
deixasse dormir direito –, até seu ovo se misturar com as compras de um freguês
do mercadinho onde trabalhava e ele ter que falsificar outro ovo para não tirar
zero. E não adiantou recuperar o verdadeiro, pois na hora de entregar o
trabalho, Caruso – seu bully particular na escola –, só para ferrar com o
coitado, colocou o ovo na cadeira para o Chris sentar em cima. Quer dizer, além
da nota zero, ele ainda voltou para casa com uma mancha de ovo na busanfa. Não
se sabe se ele apanhou mais pela nota ou pela calça lambuzada;
* A vez em que o
Drew, seu irmão do meio, decidiu matar aula para conhecer seu ídolo de hóquei,
Wayne Gretsky. Chris decidiu acompanhá-lo, para evitar que se metesse em
encrenca sozinho, e também que os pais descobrissem. Ele só esqueceu um
detalhe: que Drew era o cara mais popular de sua escola, de modo que sua
ausência acabou sendo notificada aos pais, que colocaram a polícia atrás deles;
* A vez em que ele
arrumou um trabalho temporário com o Sr. Omar – o inquilino papa defuntos, ou
melhor, papa viúvas, de seus pais – para pagar o ingresso de um show, que ele
acabou não assistindo, graças a uma cliente mala que se recusava a ir embora.
No final do dia, ele ainda descobriu que o pagamento seria feito em livros. Ou
seja, trabalhou à toa, e ainda ficou devendo uma grana ao seu coroa, que havia
financiado o ingresso, esperando receber o dinheiro de volta quando Chris
recebesse o pagamento do estágio;
* A vez em que ele
comprou seu primeiro carro, que ele nem chegou a dirigir, porque quando
conseguia a gasolina, alguém roubava os pneus; quando recolocava os pneus,
alguém roubava a gasolina... No fim, ele acabou vendendo o carro, com o
porta-malas fechado, sem saber que dentro de umas latas guardadas lá atrás
havia cinco mil dólares;
* A vez em que ele
convenceu a mãe a lhe comprar uma roupa nova para tirar foto na escola, mas
elas acabaram sendo roubadas de seu armário durante a aula de educação física.
Daí ele tentou arranjar alguma coisa no Achados e Perdidos, mas de repente,
todas as crianças reconheceram nele suas roupas perdidas, e ele acabou tirando
a foto com uma fantasia emprestada do clube de teatro da escola;
* E não vamos nos
esquecer da vez em que ele tentou bancar o bad boy para impressionar Tasha,
arrumou encrenca no restaurante onde sua família estava jantando, e terminou a
noite com o sapato de Rochelle enterrado no rabo.
Curiosamente,
o azar do personagem chegou a afetar a série, que não teve grande repercussão
quando foi produzida, e acabou cancelada na quarta temporada, terminando com um
final sem pé nem cabeça, em que nem chegamos a saber se Chris passou na prova
para o supletivo. O mais impressionante é que, pouco tempo depois de ter sido
cancelada, a série acabou sendo “descoberta” pelo público, e se tornou um
grande sucesso, que, falando só pelo Brasil, já foi exibida em uns três ou
quatro canais, sempre garantindo boa audiência.
Isso
é o que eu chamo de golpe de sorte com efeito retardado!
Nem
é preciso explanar muito sobre esse personagem, né, afinal o cara praticamente
faz parte das nossas famílias. Seu Madruga é um sujeito mal-humorado e meio
preguiçoso, que fracassa em tudo com que tenta trabalhar, e sempre acaba
levando a culpa pelas travessuras do Chaves – principalmente porque o Quico
nunca faz muita questão de esclarecer quem de fato é o autor das encrencas.
Por
exemplo:
* Quando
Chaves e Chiquinha ficaram atazanando a Dona Florinda, para saber se os churros
que ela estava preparando para o Seu Madruga vender já estavam prontos. Eles
perguntavam como se fosse por ordens do pai da Chiquinha, que nada estava
sabendo, até que ele levou uma panelada de massa na cabeça, quando só queria
mostrar à sócia a mesinha que estava montando para vender os churros;
* Quando
ele usou sarcasmo ao dizer ao Chaves que a substância branca que ele estava
usando para rebocar as paredes era leite de burra. O garoto não apenas levou a
sério, como ainda deixou o Quico levar um pouco para a mãe dele experimentar,
deixando claro que ele tinha que dizer que foi o Seu Madruga quem mandou, já
que o suposto leite de burra era dele. Daí já imaginam, né? Depois de beber uma
golada de gesso, a Valentona do 14 desceu bofetada no Seu Madruga. Ela devia
ter se tocado que burra não existe, e a mula (feminina do burro), geralmente é
estéril, e portanto não dá leite;
* Quando
Chaves tenta dar marteladas, tijoladas ou vassouradas no Quico. Seu Madruga
toma o instrumento dele, Dona Florinda chega, e Quico sabe contar o crime, mas
nunca esclarece quem é o criminoso. Daí... Cacetada! E em muitas dessas tretas,
antes de ser confundido com o agressor do Quico, o coitado do Seu Madruga acaba
levando o golpe no lugar dele. Ou seja: é cacetada em dobro! Ou, como
provavelmente diria a Chiquinha, rebatimento;
* Quando
Chaves arrancou uma folha do caderno do Quico para fazer um barquinho de papel.
Seu Madruga toma o caderno para repreendê-lo e... Cacetada;
* Quando
o Quico e o Chaves mancharam de tinta os lençóis da Dona Florinda, que estavam
no varal, com o pincel que, por acaso, era dele... Mais cacetada;
* Quando
Quico se escondeu dentro de uma caixa de madeira, cuja tampa o Seu Madruga
pregou. Dona Florinda nem pensou que o burrinho do tesouro podia ter avisado ao
cidadão que estava lá dentro. Cacetada outra vez! E ainda pregou o coitado
dentro da caixa;
* Quando
as crianças estavam se pelando de medo do Velho do Saco, e o Quico pensou que
fosse esta a nova profissão do Seu Madruga. A história que primeiro chegou ao
ouvido da Valentona do 14 foi que o Seu Madruga queria levar o Quico embora
dentro do saco, e ela não pensou duas vezes em descer a mão no suposto
sequestrador. E o pior é que quem apavorou a molecada com a lenda do Velho do
Saco naquele episódio foi ela mesma;
* Aliás,
contar histórias pela metade também é a especialidade do Chaves. Como quando
Dona Florinda quis saber quem fofocou ao seu tesouro que ela devolveu o
Madruguinha ao Professor Girafales. Chaves começou a história contando que
tinha se escondido no barril porque Seu Madruga lhe bateu... E foi só o que a
Dona Florinda se preocupou em saber;
* Até
quando Dona Florinda rompeu o romance com o Professor Girafales, sobrou
bofetada pro coitado. E olha que ele não tinha nada a ver com esse rolo...
Tudo
bem que, às vezes, o motivo de seu azar não é exatamente uma das crianças, mas
sua própria desatenção. Como na ocasião em que o Professor Girafales deixou o
ramalhete de flores que trouxera para Dona Florinda largado na sapataria
improvisada do Seu Madruga, presenteando-a com os sapatos fedendo a chulé do
Seu Barriga. Quando percebeu o engano, o Mestre Linguiça retornou ao pátio da
vila, bem a tempo de ver Seu Madruga utilizar as flores como martelo por
engano, e usar isso como pretexto para nocauteá-lo.
* Ou
quando, depois de ver o show de ioiôs na rua, Chaves decidiu imitá-los, e pediu
um cigarro ao Seu Madruga para tirar com o ioiô da orelha do Quico, e Seu
Madruga, distraído, tentando convencer o Seu Barriga a aceitar um relógio velho
como pagamento de um mês de aluguel, cedeu o cigarro. Dona Florinda interpretou
que o vizinho estava induzindo as crianças ao vício, e... Arrebentou-o na
pancada! Se bem que, nesse caso, foi uma distração irresponsável, mesmo. Até
que ele mereceu apanhar, para se ligar um pouquinho;
* E
não vamos nos esquecer do episódio inesquecível em que ele acabou esmagado pelo
Seu Barriga, depois de lhe dar o beliscão prometido ao Quico. Porque para o
gorducho não bastou lhe dar um murro na boca.
Aliás,
Seu Madruga apanhou do elenco inteiro do programa. Nem a Bruxa do 71, que era
apaixonada por ele, perdoou, quando Chaves e Quico fizeram a maior confusão com
as cestas que continham a compra que Seu Madruga encomendara ao dono da Venda
da Esquina, e aquela na qual Dona Clotilde transportava sua sobrinha, que ela
estava abrigando pelas costas da Dona Florinda – que baixara uma lei no
cortiço, proibindo a presença de animais e crianças; sabe-se lá com que
autoridade; provavelmente aproveitando-se do fato de ser a única naquele pátio
que paga o aluguel sempre em dia. Seu Madruga acabou ficando com a cesta que
abrigava a criança, e assim que a troca foi descoberta, Dona Clotilde não
pensou duas vezes em enchê-lo de pancadas. E provavelmente não trouxe de volta
a comida que ele comprou, e que foi parar na casa de sua irmã. Ou seja, além da
surra, o prejuízo.
Vai
ver é por isso – e por viver correndo de todo mundo para não apanhar ou pagar o
aluguel – que o cidadão é tão magro.
Seu
único golpe de sorte foi quando ele se apaixonou pela nova vizinha, a Srta.
Paraíso... Digo, Céu... Digo, Glória. Não chegou a rolar nada, mas bem que ela
estava dando condição. Principalmente depois de admitir que gostava de homens
feios.
É...
Pensando bem, a maior sorte do Seu Madruga, mesmo, foi nunca ter sido expulso
da vila, apesar de quase nunca conseguir pagar o aluguel.
O
cara tinha um emprego que ninguém conhecia. Dividia apartamento com um cara que
era um soco na autoestima de qualquer homem impopular com as mulheres. E quando
finalmente parecia se encontrar na vida, descobriu que não podia dar um filho à
sua amada. Sinceramente, não lembro se os roteiristas chegaram a esclarecer
quem era o estéril da dupla, mas não deixa de ser uma pitada de azar.
Não
foi fácil a vida do Chandler.
Algumas
de suas desventuras incluem:
*
A vez em que ele não conseguiu chutar a chefe maluca da Rachel, e acabou
ficando amarrado no escritório dela. E de cueca!
*
A vez em que ele pôs um chifre no Joey e passou o episódio inteiro trancado
numa caixa, tentando achar um jeito de se desculpar.
*
E não vamos nos esquecer que volta e meia ele era assombrado por sua
ex-namorada mala com voz de taquara rachada, Janice, que ressurgia em sua vida
sempre nas horas mais inconvenientes.
*
Sem falar no trauma que ele guarda do Dia de Ação de Graças, quando descobriu
que seu pai era um travesti. Se fosse hoje em dia, seria mais uma quarta-feira
comum na vida de qualquer criança, mas nos anos, sei lá, 1970, deve ter sido
esquisito olhar para o pai um certo dia e perceber que ele era interpretado
pela Kathleen Turner.
A
única coisa a favor dele é ter sido o único ator masculino da série a continuar
tendo uma carreira relativamente estável após o fim de Friends. O spin-off de
Joey Tribbiani fracassou, e ele passou um bom tempo esquecido até reaparecer
recentemente em outra série da Warner, que, pelo menos por aqui, aparentemente já saiu do ar também.
Um
pouco era azar da dupla, um pouco era a malandragem inconsequente do Kenan, um
pouco era a burrice do Kel. Mas o fato é que os dois entravam e saíam de
confusão o tempo todo.
Como:
*
A vez em que Kenan não percebeu que não tinha desligado o telefone antes de
começar a xingar o chefe de seu pai, até perceber tarde demais que toda a
conversa havia ficado gravada na secretária eletrônica do cara. Daí eles foram
tentar trocar a fita antes que a família do sujeito chegasse em casa, mas Kel
colocou no lugar a fita da secretária eletrônica de Kenan, onde o pai dele
xingava o chefe de coisas ainda mais pesadas;
*
A vez em que eles ficaram responsáveis por regar as plantas e alimentar o peixe
do Chris, chefe do Kenan no mercadinho, enquanto ele viajava com a mãe;
acabaram esquecendo da obrigação, e Kel ainda destruiu a maior parte da casa
quando tentaram consertar os estragos;
*
A vez em que Kenan acidentalmente criou uma cura para a gripe, mas a segunda
dose que prepararam nocauteou seu pai, obrigando a dupla maluca a ajudar a
pousar um avião no lugar dele – o pai do Kenan era controlador de tráfego
aéreo, e tinha que ficar ligado para ajudar os aviões a pousarem com segurança;
*
A vez em que eles pensaram que sua nova colega de classe era uma bruxa, e
fizeram tudo quanto é teste bizarro com a garota, até perceber que toda a onda
de azar que estava atingindo Kenan desde que a conheceu era culpa do Kel;
*
A vez em que eles ficaram responsáveis por buscar uma pulseira de diamantes e o
bolo para o aniversário de casamento dos pais do Kenan, e o Kel quebrou o vidro
do balcão da joalheria, e Kenan espatifou o bolo, forçando os dois a prepararem
outro. Até aí, tirando o prejuízo, tudo bem. Até o Kel decidir experimentar a
pulseira da mãe do Kenan e perdê-la dentro da massa do novo bolo;
*
A vez em que Kenan tentou lançar Kel como pintor, depois que a dona de uma
galeria de arte decidiu comprar uma tela que o rapaz pintou na escola. Então
ele tentou aumentar ao máximo os lances sobre as obras de arte no leilão, sem
saber que a dona da galeria não havia contado aos compradores que o autor
dessas obras era apenas um homônimo de um famoso pintor sueco;
*
A vez em que bandidos assaltaram a casa do Kenan e roubaram todos os seus
móveis. Então Kenan deixou Kel responsável por reconhecer os móveis
interceptados pela polícia num caminhão, enquanto atrasava a chegada de seus
pais, que tinham levado sua irmãzinha para jantar, para comemorar uma nota A.
Na volta, descobriram que Kel trouxe os móveis de outras pessoas para a casa do
amigo;
*
A vez em que eles pensaram que o palhaço contratado para animar a festa de
aniversário de Kyra, irmã do Kenan, era um bandido que tinha assaltado a loja
onde Kenan trabalhava, e quase acabaram com a festa para desmascarar o palhaço
errado;
*
A vez em que Kenan marcou encontro com duas garotas para o mesmo dia no cinema,
e Kel, supostamente para livrá-lo da confusão, marcou um terceiro, e com uma
garota extremamente marrenta;
*
A vez em que Kenan marcou encontro com uma garota que só pediu que ele não se
atrasasse, mas ele acabou com a cabeça entalada numa grade do parque, ao tentar
recuperar o ioiô do Kel que tinha caído no canteiro, sem saber que a grade era
aberta do outro lado;
*
A vez em que Kenan processou uma fábrica de atum depois de ter engasgado com um
parafuso em seu sanduíche, e Kel esperou até a hora do depoimento das
testemunhas para confessar que foi ele quem deixou cair o parafuso na lata de
atum.
Já
deu para ter uma ideia.
Primeiro
ele não conseguia falar com as mulheres sem que estivesse bêbado – e quando eu
digo falar, quero dizer que ele não
conseguia pronunciar uma única palavra. Fazia a muda, total! Depois, quando
começa a perder o medo, não consegue atrair nenhuma mulher normal. Ele chegou a
ter breves relacionamentos durante a série: namorou por pouco tempo uma garota
tímida chamada Lucy, que também tinha algumas dificuldades para socializar, mas
ela acabou terminando com ele por e-mail após alguns encontros. Mais tarde ele
namorou uma dermatologista residente bonita chamada Emily, com predisposição a
se tornar uma serial killer. Depois uma faxineira latina da Caltech, que o
chutou quando percebeu que ele se envergonhava da profissão dela. Depois ele
tentou aceitar o compromisso que seus pais arranjaram com Anu, uma gerente de
hotel indiana bem sucedida, mas os dois não tinham praticamente nada em comum.
Acabou que Raj foi o único da trupe que não encontrou sua metade da laranja – e
estamos falando de uma turma que incluía o maníaco-obsessivo Sheldon Cooper e o
inconveniente Howard Wolowitz! –, e pareceu ser, durante a série inteira, o par
romântico do Stuart. Inclusive, eles chegaram a morar juntos durante um tempo,
quando estavam, segundo a escolha de palavras infeliz do próprio Raj,
preenchendo o buraco um do outro. Ele queria dizer o vazio em suas vidas, mas
dadas as circunstâncias, a alegação carecia de contexto.
O
primeiro azar de Leonard foi ser o colega de apartamento de Sheldon Cooper, o
físico teórico mais cheio de manias da ficção, e, quiçá, da vida real também.
O
segundo azar foi ter se apaixonado quase à primeira vista por sua vizinha da
frente, Penny, uma garçonete aspirante a atriz, cuja inteligência evoluiu ao
longo da série devido ao convívio com essa turma de nerds, e ter que competir
com os inúmeros namorados e ex-namorados boa pinta que frequentavam o prédio.
O
terceiro azar de Leonard foi ter como mãe a Dra. Beverly Hofstadter, que
claramente preferia ter sido a genitora de Sheldon Cooper, frequentemente
fazendo bullying contra o próprio filho.
E
eu posso estender a lista ad infinitum, se for relacionar:
Como
quando ele tentou estabelecer uma relação casual com sua colega de trabalho
Leslie Winkle; Leonard conseguiu a proeza de ser chutado pela mulher menos
atraente de uma série que tem Amy Farrah Fowler no elenco.
E
ele também conseguiu, numa noite em que estava sendo particularmente mala, ser
considerado por Penny a pessoa mais pé no saco de uma saída que incluía Howard
Wolowitz.
No
fim das contas, Leonard acabou se dando bem: casou com a Penny, e ela não
conseguiu cumprir seu intento de nunca ter filhos, graças a um porre que ela
tomou com o Sheldon seguido de um acidente de percurso com o Leonard.
Então,
pode-se dizer que o azar desse cara foi uma sorte disfarçada.
Esse
carinha aqui levou o azar até as últimas consequências. Não bastava não ter
talento para nenhum esporte, sempre bater com a bunda no chão cada vez que
tentava chutar a bola de futebol americano, quando esta estava na posse de sua
vizinha mau caráter Lucy, que a tirava do caminho na última hora só pelo prazer
de ver o garoto se estabacar no chão; Charlie nunca consegue manter sua pipa no
alto, frequentemente tem o dever de casa mais bem escrito da turma sendo levado
pelo vento no dia da entrega, nunca consegue uma oportunidade para demonstrar
seu afeto pela Menininha Ruiva, vive sofrendo bullying na mão da Lucy – que
ainda lhe arranca grana como terapeuta improvisada –, e até no Halloween,
quando todas as crianças estão ganhando doces, ele acaba com um saco cheio de
pedras.
Pois
é... Não é fácil ser um Charlie Brown. Isso porque eu nem mencionei que até o
seu cachorro, Snoopy tem uma vida social mais movimentada do que a dele.
Um
dia ainda vão descobrir que foi esse desenho que aumentou a taxa de suicídios
nos Estados Unidos, porque todo mundo, em algum ponto, e em algum momento,
acaba se identificando com o coitado do Charlie Brown.
O
sobrinho trapalhão do pato mais rico do mundo foi outro que nasceu com a pata
esquerda. Não importava o propósito da aventura, era sempre ele quem acabava
entalado, agredido, esfolado, espatifado, encrencado...
O
azar da pessoa – ou do pato, no caso – começa quando ele ganha FAUNTLEROY como
nome do meio...
Por
aí já dá para imaginar, né? E a coisa só piora...
Nascido
numa sexta-feira 13 (informação publicada na revista Essencial Disney N° 15,
embora outras fontes indiquem seu nascimento em 09 de junho, provavelmente
porque esta foi a data de sua primeira aparição em 1934, no desenho animado A Galinha Sábia), morando na Rua das
Flores N° 13 e com um carro frequentemente dando defeito cuja placa ostenta o
número 313... É tanto 13 na vida do coitado do Donald, que só podia resultar num
baita azar.
E
pior: um azar realmente difícil de remediar. Numa ocasião, Donald pediu ao
Professor Ludovico que lhe conseguisse um amuleto que espantasse o azar. O
sujeito arranjou, mas não adiantou de nada. No mesmo dia ele foi lavado por uma
poça d’água na rua, apanhou de uma velhinha quando tentava lhe devolver a
carteira, enfiou a cara numa porta de vidro automática que não quis abrir para
ele, caiu um vaso em sua cabeça quando passava sob uma sacada, caiu dentro de
uma lixeira, tudo isso antes de se dar conta de que o azar não o abandonara –
pode ser até que tenha se multiplicado – porque ele guardara o talismã num
bolso furado. Ou seja, perdeu o troço logo depois de ganhá-lo.
Junte
ao seu azar irremediável um tremendo de um pavio curto, que frequentemente é
responsável por muitas das furadas em que ele se envolve.
Explorado
no trabalho, estressado, frequentemente humilhado pela imensa sorte de seu
primo Gastão, às vezes vítima das distrações inconsequentes de seu outro primo
Peninha, às vezes usado como cobaia para as experiências do Professor Pardal –
que nós sabemos muito bem como são “seguras” –, sempre se desdobrando para
agradar sua namorada Margarida – que às vezes consegue ser osso duro de roer –,
e muitas vezes entrando ou sendo tirado de furadas pelos seus sobrinhos
trigêmeos, Huguinho, Zezinho e Luisinho. E é melhor nem mencionar os dissabores
que ele passa com o carro: pneu furado, bateria descarregada e pequenas
explosões configuram seus dias bons.
Não
bastasse isso tudo, o coitado ainda foi agraciado com uma vozinha de taquara
rachada que precisava vir acompanhada de uma tecla SAP para ser compreendida.
Principalmente em seus acessos de raiva.
Mas
nem só de azares é feita a vida do Pato Donald. O rapaz também tem um excelente
coração, ficando responsável pelos filhos de sua irmã gêmea Dumbela, quando
seria muito mais fácil – e menos custoso –, deixá-los numa cesta na porta de
seu tio quadrilhonário Patinhas, e ele que assumisse a bucha. Não que ele não
deixe os sobrinhos aos cuidados do pato mais rico do mundo sempre que tem
oportunidade...
Dá
para fazer uma lista com os personagens azarados só da turma dos Looney Tunes.
O
Coyote a gente pode até dizer que seu azar era justiça divina, pois ele estava
sempre mau intencionado, tentando jantar o coitado do Papa-Léguas, mas a grande
verdade é que o carnívoro não tinha culpa de estar num patamar mais alto na
cadeia alimentar. Agora, por que ele cismou com a ave, obcecado em caçá-lo,
bolando os planos mais mirabolantes para alcançar seu objetivo, mesmo depois de
sofrer todos os tipos de barbaridades que podem acometer um ser humano
animal, é algo que nunca descobriremos.
Seus
desastres cotidianos incluíam:
*
Enfiar a cara num paredão de pedra;
*
Ser vítima da explosão que ele mesmo queria provocar;
*
Despencar de penhascos com quilômetros de altura – sempre assistido de camarote
pelo rival;
*
Ser esmagado por uma bigorna, ou por uma pedra, um aerólito, um meteoro, como
quiserem chamar o objeto rochoso;
E por aí vai.
Pensando
bem, tirando a obsessão por uma ave específica, o Coyote era menos mau caráter
que o Patolino, por exemplo, que sempre se dava mal tentando encrencar o
Pernalonga, ou o Frajola, que igualmente se acidentava tentando pegar o
Piu-Piu. Já o Cérebro era tipo o Kenan dos Looney Tunes, sempre vítima de seus
planos mirabolantes e das maluquices de seu fiel escudeiro Pinky.
Esse
foi outro azarado que acabou dando sorte na vida. Neville poderia ter sido o protagonista do livro, pois a profecia a
respeito da ruína do tio Voldy falava de um menino nascido no fim de julho.
Daí, no uni-duni-tê, o vilão acabou
escolhendo Harry Potter como seu arqui-inimigo. Para Neville acabou sobrando o
papel de colega de quarto azarado, que vive sofrendo bullying dos alunos da
Sonserina, frequentemente perdendo suas coisas – principalmente seu sapo de
estimação –, e não raramente se borrando de medo de que as confusões dos amigos
acabem respingando nele.
Mas,
de vez em quando, ele também tinha seus momentos de sorte. Como na ocasião em
que foi paralisado pela Hermione, para que não tentasse impedir o trio de ir
atrás da Pedra Filosofal. Acabou que sua coragem em enfrentar os amigos rendeu
à Grifinória os dez pontos que precisavam para tomar a Taça das Casas das mãos
da Sonserina em seu primeiro ano em Hogwarts. Também foi ele o único com
coragem suficiente para enfrentar o Lorde das Trevas no último filme, de posse
da Espada de Gryfindor, que ele encontrou dentro do Chapéu Seletor, pouco antes
de Harry revelar que estava vivo. E também foi ele quem destruiu a última
Horcrux, a cobra Nagini, com a mesma espada.
E,
seu maior golpe de sorte: enquanto tanta gente mais sortuda morreu na batalha
contra os Bruxos das Trevas aliados de Voldemort, Neville sobreviveu, quase sem
nenhum arranhão.
Acho
que os Bruxos das Trevas estavam evitando chegar muito perto dele. Vai que seu
azar fosse contagioso...
Seu
azar tinha nome, sobrenome e a cara andrógina do Macaulay Culkin: Kevin
McCallister. Esses dois bandidos ligeiramente burros comeram o pão que o diabo
amassou nas mãos desse pestinha, quando pensaram que todos estavam viajando, e
tentaram roubar a casa de sua família em Esqueceram de Mim. Mais tarde, no
segundo filme, eles apanharam mais uma vez do guri, quando este seguiu para o
terminal errado no aeroporto e acabou indo parar em Nova York, enquanto toda a
sua família estava indo para a Flórida.
O
título do filme/livros já diz tudo: Desventuras Em Série. Os irmãos Violet, Klaus
e Sunny Baudelaire extrapolam todos os recordes na categoria azar.
Primeiro,
eles ficam órfãos e sozinhos, tendo que passar de mão em mão pelos parentes mais
esquisitos que uma única família é capaz de reunir. Depois ainda veem os mais
legais – ou mais mentalmente sãos – desses parentes sofrerem mortes bizarras.
Muito disso se deve à ambição de um dos parentes a quem eles foram entregues,
Conde Olaf, que está louco para pôr as mãos na herança dos Baudelaire.
Os
desastres são muitos, e bem curiosos de relacionar. Esses três jovens
desafortunados – e seus parentes – foram vítimas de incêndios criminosos,
sanguessugas carnívoras, quase foram atropelados por um trem, quase despencaram
de um penhasco quando a casa em ruínas de uma tia se desfazia durante uma tempestade,
e a coitada da Violet quase foi forçada a se casar com o cretino do Conde Olaf.
E olha que eu só estou falando do filme! A série de livros Desventuras em Série
tem treze volumes, e o filme utilizou apenas os três primeiros em seu enredo,
então, dá para imaginar a quantidade de infortúnios que ainda afligiram os
órfãos Baudelaire.
Lembrou de mais algum azarado? Deixe aí nos comentários. 😉
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita!
E já que chegou até aqui, deixe um comentário ♥
Se tiver um blog, deixe o link para que eu possa retribuir a visita.