Este é provavelmente
o personagem mais adaptado – e imitado! – da história do cinema. Criado por
Bram Stoker, que se inspirara na história do príncipe romeno Vlad Tepes
para compor seu romance, Drácula foi o primeiro monstro da era de ouro da
Universal Pictures.
É claro que o estúdio
já vinha investindo e se consolidando no gênero com os filmes protagonizados
por Lon Chaney, mas foi só a partir da década de 1930 que a Universal passou a
investir pesadamente nos filmes de terror.
A primeira adaptação
cinematográfica da história do vampiro foi o filme alemão Nosferatu, de 1922.
No entanto, os direitos autorais não eram plenamente compreendidos na época, ou
não houve interesse do estúdio alemão em adquiri-los da viúva de Stoker,
optando por mudar os nomes dos personagens no filme. Assim, o Conde Drácula foi
chamado Conde Orlok, Mina Murray se tornou Ellen Hutter, Jonathan Harker
tornou-se Thomas Hutter, e o Professor Van Helsing foi chamado Professor
Bulwer.
Após um processo por
violação de direitos autorais, a justiça ordenou que as cópias do filme fossem
destruídas (o que resultaria num pecado mortal, artisticamente falando!).
Porém, algumas cópias já distribuídas permaneceram guardadas até a morte da
viúva de Stoker, quando foram restauradas e redistribuídas. Resumindo, só
conhecemos esta maravilhosa obra do expressionismo alemão hoje, graças a cópias
“piratas”. Uma grande ironia!
Nosferatu é até hoje
a versão mais fiel do personagem Drácula descrito por Bram Stoker: um homem
velho e alto, com nariz curvo como o bico de uma águia, orelhas pontudas, rosto
estreito, grossas sobrancelhas, mãos finas, de dedos longos, unhas compridas e
pontudas, e pele pálida. Embora Stoker tenha descrito uma bela cabeleira,
rareando nas têmporas, mas abundante no resto da cabeça, o Conde Orlok foi
retratado sem cabelo nenhum, conferindo à sua figura aparência semelhante à de
um rato.
A mesma ideia foi
utilizada nas primeiras aparições de Drácula no filme de 1992, interpretado por
Gary Oldman, que depois de se alimentar com o sangue dos marinheiros do navio
que o levou à Inglaterra, assim como no livro, mostrou considerável
rejuvenescimento. Claro que, apesar de esta versão ser quase tão boa quanto às
anteriores em vários aspectos, o trabalho de maquiagem é visivelmente inferior.
Apesar da forte
iluminação no filme, que não priorizou nuances mais sombrias nas aparições do
vampiro para lhe dar um aspecto mais apavorante, o monstro interpretado por Max
Schreck em Nosferatu é até hoje uma das versões mais assustadoras do
personagem.
Embora o filme alemão
seja talvez a melhor “versão” da obra de Bram Stoker, sua primeira adaptação
oficial só foi realizada em 1931 pela Universal, e foi o primeiro filme de
terror sobrenatural falado, embora a ausência de trilha sonora durante o filme
cause grande estranheza. Hoje isso não é tão notado, pois algumas versões
restauradas inseriram trilha sonora em ao menos uma opção de áudio – versões em
DVD possuem o áudio original em inglês com e sem trilha sonora.
Inicialmente, quando
fez o projeto do filme, Carl Laemmle Jr., filho do fundador da Universal
Pictures, queria que o vampiro fosse interpretado por Lon Chaney. Estava
impressionado com os personagens de filmes de terror do cinema mudo que Chaney
havia imortalizado, e queria ver – assim como o resto do mundo deve ter
desejado – a versão de Chaney do vampiro de Bram Stoker. Porém, o ator faleceu subitamente
em 1930, vítima de um câncer. Laemmle, então, se viu forçado a procurar um novo
Drácula.
O ator escolhido,
então, foi Bela Lugosi, um desconhecido do público americano, que já havia
interpretado o vampiro no teatro.
Por ter sido rodado
numa época de transição do cinema mudo para os filmes falados, Drácula foi
originalmente produzido para se adaptar a ambos os formatos. Cópias da versão
muda, com os tradicionais letreiros narrativos foram distribuídas igualmente às
versões com áudio. Todavia, na versão muda o filme certamente perde o seu
brilho.
O ator Bela Lugosi
era húngaro, o que conferiu veracidade e um sotaque extremamente realista ao
personagem.
Além disso, a criação
de Lugosi foi um divisor de águas para o personagem. Ele imaginou Drácula como
uma figura elegante e extremamente calma, com gestos lentos e fala pausada,
estendendo a fonética em alguns momentos para lhe conferir um ar mais sombrio.
Seu Drácula conseguia ir da calma absoluta a um soberbo ataque de fúria, e
retornar à mesma calma em seguida.
Foi um trabalho
cuidadoso e caprichoso. Não meramente uma representação de um personagem,
lembrada apenas por ter sido a primeira. Bela Lugosi ensinou ao mundo como um
vampiro deve ser, falar e se comportar. A imagem do vampiro de capa preta, cabelos
lustrosos, e olhar penetrante tornou-se uma referência.
É notório que
adaptações posteriores deixaram de ser inspiradas no livro, e passaram a usar
como base o Drácula de Bela Lugosi.
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