Da Série: Monstros do Cinema – UMA DINASTIA DE HORROR

em quarta-feira, 23 de outubro de 2013


Apesar de ser um filme clássico de terror, berço de um dos mais tradicionais monstros da Universal Pictures, eu me atreveria a dizer que A Múmia, de 1932 é, na verdade, um filme de amor e morte. Este foi, talvez, o monstro mais humano vivificado pelo estúdio.

Diferentemente de seus antecessores, este monstro não veio dos livros. Carl Laemmle Jr. estava impressionado com a descoberta da tumba do Faraó Tutancâmon, em 1922, e decidiu criar um filme de terror ambientado no Egito. Esta foi, provavelmente, a primeira aparição de uma múmia egípcia como figura assustadora no cinema.


O roteiro segue os moldes tradicionais das histórias de terror da época: uma donzela perseguida por um monstro que deixa um enorme rastro de morte pelo caminho, e um homem apaixonado lutando para salvá-la. Segue, inclusive uma linha de raciocínio similar a de Drácula, quando vista deste ângulo.


No entanto, eu gostaria de ressaltar que, mesmo numa época de precários efeitos especiais, o filme traz cenas que devem ter causado, no mínimo espanto, para não dizer medo no público da época. Como a cena em que a múmia sai de seu sarcófago, deixa uma marca de terra úmida ao tocar na mesa onde estava o pergaminho e vai embora arrastando suas faixas.


O rosto do astro Boris Karloff serviu de tela por duas vezes a um trabalho artístico de maquiagem: para as primeiras cenas como a múmia de Imhotep, ainda morto no sarcófago, sob faixas apodrecidas; depois, com o nome falso Ardath Bey, mostrou uma pele ressecada e flácida que lhe deu aparência semelhante a de um gato, animal sagrado no Egito antigo.

A atuação de Karloff, aliás, é um dos primores do filme. O ator, que ficou famoso interpretando o Monstro de Frankenstein no ano anterior, emprestou uma postura rígida e seu vozeirão ao personagem, tornando-o assustador quase sem precisar de roteiro.


Mas Imhotep não era simplesmente um monstro morto-vivo cheio de ódio. Ele foi um homem apaixonado, que levou seu amor pela princesa Anckesenamon até as últimas consequências, desafiando a ira dos deuses e do Faraó para trazer sua amada de volta à vida. Sofreu a pior morte possível e despertou 3.700 anos depois com o único propósito de reencontrar seu amor perdido. Em suas próprias palavras, na cena em que traz à tona as memórias de sua outra vida, ele diz à princesa que seu amor durou mais que os templos de seus deuses. Imhotep deu vida ao amor em sua forma mais destrutiva, alimentando-o até a insanidade.

O filme “A Múmia”, de 1999, é uma versão deste clássico, todavia, pensado para ser uma aventura no estilo Indiana Jones, perdendo completamente as nuances de horror. Foi escrito um roteiro que nada tinha a ver com o original, exceto pelo nome da múmia: Imhotep.


E embora esse remake seja realmente ótimo, há uma boa razão para o original ser chamado de clássico.


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Da Série: Monstros do Cinema – ESTÁ VIVO!!!

em sábado, 19 de outubro de 2013


No mesmo ano do lançamento de Drácula (1931), a Universal Pictures deu vida a outro monstro igualmente famoso: Frankenstein!

A princípio, o papel do Monstro foi oferecido ao ator Bela Lugosi, intérprete do Drácula, mas este o recusou. O papel acabou sendo conquistado pelo  até então, mero coadjuvante em Hollywood  ator britânico Boris Karloff.


No romance gótico de Mary Shelley, o Monstro foi descrito como muito alto, corpulento, de pele amarela como um cadáver de alguns dias, com cabelos negros mal cortados. Foram as incisões feitas pelo Dr. Victor Frankenstein para juntar as partes que o tornaram repugnante.


Sua aparência original distinguia-se completamente daquela que o mundo conhece, e que foi criada nesta adaptação.


Utilizando uma esplêndida maquiagem para dar rosto ao Monstro, Boris Karloff deu ao mundo uma nova visão da criatura, concedendo-lhe a cabeça chata e a pele verde, com eletrodos e parafusos que fizeram do Monstro um mito.

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Da Série: Monstros do Cinema – ELE BEBEU NAS VEIAS DO SUCESSO

em quarta-feira, 16 de outubro de 2013




Este é provavelmente o personagem mais adaptado – e imitado! – da história do cinema. Criado por Bram Stoker, que se inspirara na história do príncipe romeno Vlad Tepes para compor seu romance, Drácula foi o primeiro monstro da era de ouro da Universal Pictures.


É claro que o estúdio já vinha investindo e se consolidando no gênero com os filmes protagonizados por Lon Chaney, mas foi só a partir da década de 1930 que a Universal passou a investir pesadamente nos filmes de terror.


A primeira adaptação cinematográfica da história do vampiro foi o filme alemão Nosferatu, de 1922. No entanto, os direitos autorais não eram plenamente compreendidos na época, ou não houve interesse do estúdio alemão em adquiri-los da viúva de Stoker, optando por mudar os nomes dos personagens no filme. Assim, o Conde Drácula foi chamado Conde Orlok, Mina Murray se tornou Ellen Hutter, Jonathan Harker tornou-se Thomas Hutter, e o Professor Van Helsing foi chamado Professor Bulwer.


Após um processo por violação de direitos autorais, a justiça ordenou que as cópias do filme fossem destruídas (o que resultaria num pecado mortal, artisticamente falando!). Porém, algumas cópias já distribuídas permaneceram guardadas até a morte da viúva de Stoker, quando foram restauradas e redistribuídas. Resumindo, só conhecemos esta maravilhosa obra do expressionismo alemão hoje, graças a cópias “piratas”. Uma grande ironia!

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Da Série: Monstros do Cinema – O HOMEM DAS MIL FACES

em sexta-feira, 11 de outubro de 2013


Como estamos no mês do Halloween, nada mais apropriado do que relembrar alguns personagens que foram imortalizados nas telas ainda nos primórdios da era cinematográfica, os chamados Monstros do Cinema. Neste caso, há certa ambiguidade na palavra “monstro”, pois esses personagens eram, de fato, monstros assustadores – ao menos para a época em que foram lançados. Seria ambicioso demais esperar que hoje eles ainda provocassem susto em alguém –, mas também se tornaram “titãs”, gigantes imortais na categoria, alcançando sucesso verdadeiramente “monstruoso”.


A Universal Estúdios ainda engatinhava no mundo do cinema quando começou a experimentar o gosto do sucesso, graças ao talento de um ator que ficou mundialmente conhecido como “O Homem das Mil Faces”. A cada filme ele aparecia com um rosto diferente, a maioria monstruosos e deformados, tendo ele próprio inventado uma técnica de maquiagem. Hoje são conhecidas poucas fotos que mostram seu rosto limpo. E sem dizer uma única palavra – pois se tratava ainda da época dos filmes mudos –, Lon Chaney conseguia arrancar gritos de pavor dos espectadores.


A brilhante parceria de Chaney com o diretor fundador da Universal, Carl Laemmle, os tornou precursores do gênero de terror no cinema americano.

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NEVERMORE

em sexta-feira, 4 de outubro de 2013



Para abrir o tradicional mês de Halloween aqui no blog escolhi falar sobre, talvez o mais magnífico trabalho deste mestre do macabro, de quem já falei anteriormente, com seu conto igualmente fascinante e assombroso O Coração Delator. Desta vez falarei do poema que é ícone do próprio autor, tendo sido escolhido inclusive para intitular o filme mais recente, embora ficcional, sobre a história deste escritor.




O Corvo, o consagrado poema de Edgar Allan Poe, por vezes aceito como alcunha do próprio escritor.

Em versos e estrofes longas, Edgar Allan Poe conta a história de um homem atormentado pela dor da perda de sua amada, referida no poema simplesmente como “Lenora”. Enquanto busca distrair-se de seu pesar estudando textos antigos, o homem recebe a visita de um Corvo no meio da noite. A ave invade sua casa e pousa sobre um busto de Minerva (a deusa romana, também identificada como a Atena grega), e ali fica, repetindo seu refrão – ou epitáfio, como sugere o poeta, em sinal de uma sentença irrevogável para si mesmo – “nunca mais”.

Estas palavras tornaram-se a marca da história, sendo repetidas ao final de cada estrofe, como uma assinatura funesta à sentença a qual o próprio poeta condenou sua alma.

O Corvo representa a alma daquele homem, uma sombra fúnebre e agourenta, mortalmente atrelada à saudade e ao luto por Lenora.

Em resposta às perguntas do poeta – se dirigidas propriamente à ave ou à sua própria alma machucada, não importa, admitindo que ambas são provavelmente a mesma coisa –, o Corvo afirma que a saudade e a dor não lhe abandonarão “nunca mais”. E nem mesmo a esperança de reencontrar Lenora no Paraíso ele deve alimentar, pois a tristeza que o tortura também não achará alívio “nunca mais”.

Na última estrofe o autor afirma que o Corvo permaneceu para sempre inerte em seus umbrais; e que na sombra projetada pela ave no tapete está presa a sua própria alma, de onde não se erguerá “nunca mais”. Os umbrais a que se refere o poeta são os umbrais de seu coração, para sempre sombreados pela dor da ausência de Lenora. Nesta última estrofe ele atesta sua amargura, e sua desesperança de que um dia possa se recuperar da morte da amada.



Famoso por suas obras que envolvem o leitor num terror psicológico, com personagens que oscilam na linha tênue entre loucura e lucidez, Edgar Allan Poe nos dá um retrato ao mesmo tempo belo e grotesco da dor mais profunda e desumana que atormenta a alma do homem: o luto.

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