Ela Só Não Herdou o Carisma dos Pais

em segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Estamos de volta, com a conclusão da apaixonante saga de Kiera Cass, que combinou conto de fadas num cenário distópico, e nos premiou com uma linda história de amor.

A HERDEIRA (A SELEÇÃO #4)

Título Original: The Heir

Autora: Kiera Cass

Editora: Seguinte

Páginas: 392

Gênero: Distopia | Romance


Sinopse:

Vinte anos atrás, America Singer participou da Seleção e conquistou o coração do príncipe Maxon. Agora chegou a vez da princesa Eadlyn, a filha mais velha do casal. Criada para ser uma líder forte e independentes, ela nunca quis viver um conto de fadas como o de seus pais. Por isso, antes de conhecer os trinta e cinco pretendentes que irão disputar sua mão numa nova Seleção, a jovem está totalmente descrente.

Mas, assim que a competição começa, a situação muda de figura, e Eadlyn percebe que encontrar seu príncipe encantado talvez não seja tão impossível quanto imaginava.

EEEEE

 


 

Ao contrário do que aconteceu com A Seleção, não foi fácil simpatizar com a nova protagonista, Eadlyn Schreave. América tinha uma personalidade forte, e sabia o que queria, era coerente em todos os sentidos. Ela se inscreveu na Seleção por pressão da família, mas não queria participar. Ela estava apaixonada por Aspen, e queria casar com ele. Uma vez sorteada, o chão de América sumiu, e ela foi ao palácio sem se importar em conquistar o coração de Maxon Schreave, e deixou isso claro para ele desde o início. Nós sabíamos, naturalmente, que ela seria a escolhida do príncipe, pois era ela a protagonista, mas o fato de ela não querer o Príncipe, para início de conversa, nos instigava a querer descobrir como esse romance aconteceria. Tínhamos expectativa para descobrir como Maxon conquistaria o coração de América, e vice-versa. Foi uma história apaixonante.

Mas A Herdeira não nos trouxe nada disso. A ideia aqui era mostrar o outro lado da Seleção, contar a história do ponto de vista da Princesa que teria que fazer uma escolha, e não dos selecionados que competiriam pela mão dela. Mas desta vez, a autora não nos entregou uma personagem fácil de gostar.

Eadlyn é a filha primogênita do Rei Maxon Schreave e da Rainha América Singer, monarcas revolucionários que, nos últimos vinte anos, promoveram diversas mudanças em Illéa, o reino fictício onde a história acontece. Além de dissolver o sistema de castas – aquele que determinava em qual patamar da sociedade cada família deveria viver, limitando suas opções profissionais com base em sua linhagem –, eles também aboliram a lei que dava o direito ao trono ao primeiro filho homem do monarca. Assim, como primogênita, Eadlyn era a herdeira, apesar de ser mulher. Uma mudança muito bem-vinda numa época em que tanto lutamos pelo empoderamento feminino.

O problema é que, apesar de representar uma grande mudança, tanto política quanto cultural, Eadlyn não faz outra coisa senão reclamar. O primeiro tópico de suas reclamações é o fato de ter se adiantado sete minutos ao irmão ao nascer, o que a transformou na herdeira imediata do trono. E mais tarde, ela engrossará a lista de reclamações com muitas futilidades.

Se estão lembrados, na época da Seleção de Maxon, havia uma rebelião ocorrendo em Illéa, e América exerceu um papel determinante para que o Príncipe pudesse compreender as razões dessa rebelião, até onde ia a tirania de seu pai, o Rei Clarkson, e de outros antepassados em sua linhagem – que chegaram a confiscar os livros de História do país para que o povo não soubesse que suas vidas podiam ser muito melhores do que eram naquele momento. E agora que mencionei isso, o mesmo está acontecendo aqui no Brasil, com o governo tirando dinheiro da Educação para investir nos militares: uma geração emburrecida é o que nos espera no futuro se essa situação continuar, e isso só tende a tornar esse país mais subdesenvolvido do que já é. O que esse governo está fazendo é admitir que prefere construir mais prisões do que investir em Educação, e o motivo é óbvio: quanto mais inteligente o povo ficar, menor a chance de essa corja maldita de ladrões, vigaristas, mentirosos e corruptos conseguir se eleger.

Acorda, Brasil!

De volta à resenha, na época de Maxon, o país estava em rebelião, e América agiu como uma verdadeira guerreira para descobrir a verdade por trás das revoltas e para pôr um fim numa guerra civil que estava prestes a começar. Maxon foi o primeiro Rei em muito tempo a realmente se interessar pelos problemas do povo, e em descobrir o que poderia fazer para tornar suas vidas melhores e trabalhar com essa finalidade.

Porém, Maxon não poderá reinar para sempre. E a sucessão de Eadlyn não parece promissora aos olhos do povo, que já começa a fomentar uma nova rebelião.

Para tentar acalmar os ânimos da população, que pretende derrubar a monarquia, e lhes dar tempo para agir, Maxon e América propõem que Eadlyn faça sua própria Seleção, o que soa quase como uma sentença de morte para a Princesa.

Eadlyn não faz a menor questão de se submeter à Seleção. Casar não está em seus planos. E embora ela tente argumentar o tempo todo que não acredita que encontrará um amor bonito como o dos pais, e que não quer se prender a um casamento conveniente, e blá-blá-blá, ao longo do livro, fica claro que suas reservas não têm muito a ver com o casamento em si, mas com o fato de Eadlyn não querer dividir a coroa.

Nem literal, nem metaforicamente. Um dos motivos por que ela implica tanto com Josie, a filha de Marlee – lembram da Favorita, a selecionada que foi açoitada por ter se apaixonado por um guarda do palácio, e que era a melhor amiga de América na época da Seleção? –, é o fato de a garota sempre pegar suas tiaras sem permissão. Tudo bem que a menina realmente é folgada, mas por aí já dá para ter uma ideia do quanto Eadlyn é possessiva e controladora.

Mas depois que os pais contam, muito superficialmente, sobre a insatisfação do povo com a monarquia, Eadlyn concorda em se submeter à Seleção, e promete distrair o povo durante três meses com esse reality show, para que os pais possam pensar numa saída. Contanto que eles concordem que ela possa rejeitar todos os pretendentes se não se apaixonar por ninguém nesse período.

Ali, entre seus botões, ela já começa a planejar como transformar a vida dos selecionados num grande inferno, para afugentá-los do palácio o mais rápido possível.

Esta Seleção será muito diferente da que conhecemos no início da saga, pois Maxon realmente não tinha escolha: ele precisava arranjar uma esposa entre as trinta e cinco selecionadas. Eadlyn, por outro lado, não quer nada disso, e só se preocupa consigo mesma, e com seu bem estar. Ah, e com o que ela vai vestir, é claro.

Enquanto América era determinada, doce, gentil, amável, preocupada com o próximo, e bem humorada, Eadlyn é egoísta, autocentrada e insípida. Ela passa a maior parte do tempo reclamando, e o restante dele zangada com as consequências de suas próprias ações.

A princípio, ela tenta fazer a Seleção parecer, para si mesma, uma piada. Especialmente depois que o outro filho de Marlee, Kile, é sorteado como o candidato de Angeles, a capital do país. Aí a gente já pode começar a se aborrecer: Kile cresceu no palácio, conhece Eadlyn a vida toda, mas – adivinha? – ela não o suporta. E o pior: ele nem se inscreveu; alguém fez isso por ele.

Está se desenhando um romance clichê e vulgar: a Princesa mimada e orgulhosa, vai ter que baixar a crista, aceitar a presença dos rapazes no palácio, e descobrir que o amor de sua vida estava bem diante do seu nariz o tempo todo, na figura daquele amigo de infância que ela mal tolerava, e mal reparava, até ser obrigada a isso.

Juro: se Kiera Cass tivesse tomado esse caminho, eu provavelmente teria abandonado o livro.

Ok, eu não o abandonaria, mas não o leria com o coração aberto, estejam certos disso.

Mas, apesar de uma cena clichê em que Eadlyn propõe fazer um favor ao Kile em troca da encenação de um beijo para as câmeras, para que o povo pense que a Seleção está funcionando, e de Eadlyn admitir que gostou muito do beijo dele, não há um romance acontecendo. Ao menos, por enquanto.

Eadlyn sabe que precisará dar atenção a todos os pretendentes se quiser que o público acredite que ela está se esforçando, mas vai descobrir que isso não será nada fácil. Primeiro, porque ela não quer deixar de lado suas outras funções – como a organização do orçamento do reino, e a criação dos vestidos que usará diante da imprensa em suas aparições públicas –, e depois porque ela quer analisar os selecionados sem permitir que eles a conheçam. O que, claro, atrapalha o flerte.

Se esse livro não foi totalmente maçante, o mérito não é de sua protagonista, mas de vários personagens do elenco de apoio.

Temos Ahren, o irmão gêmeo de Eadlyn, cujo cavalheirismo ao permitir que ela fosse na frente na hora de nascer a ressente até hoje. Esse cara é o irmão que toda garota gostaria de ter: sempre disposto a ajudar, aconselhar, chacoalhar e defender, fazer o que for preciso pela irmã. E uma das razões que me fizeram sentir muita, mas muita raiva da Eadlyn, é que ela está disposta a manipulá-lo a abrir mão da mulher que ele ama – Camille, a Princesa da França – só para que ele não tenha que se mudar do país. Eadlyn quer ter o irmão para sempre ao seu lado, e acha que ele tem que concordar. Afinal, ela é ou não é o centro do mundo?

Outro personagem que me cativou sem muito esforço foi Kile. Ele me fez lembrar um pouco da América: o cara que reúne todo mundo, que confraterniza e acalma as fúrias, e que sempre tem uma ideia em mente para resolver os problemas do mundo. Ou, pelo menos, os problemas de Illéa. Kile não cai de amores pela Princesa, mas está disposto a ajudá-la, já que não tem como fugir. Tipo a América com o Maxon: “você é um cara muito legal, mas eu só estou aqui pela comida”.

Tem também o Henri, um candidato nascido na Noruécia, e que só fala finlandês, o que exige que ele seja acompanhado o tempo todo por um intérprete. Apesar da barreira da comunicação, ele é o candidato mais gentil e um dos mais carismáticos desta Seleção, e de longe um dos meus favoritos do livro. Principalmente porque eu tinha certeza de que, a não ser que a história desse uma reviravolta muito louca, ele não teria que se casar com essa megera.

Temos ainda Hale, o cara que gosta tanto de moda quanto Eadlyn – e eu tinha medo de especular até onde podia ir essa afinidade dele com a Princesa –, e Ean, um candidato que deixou claro que não pretendia se apaixonar, nem desejava que ela se apaixonasse por ele, mas que gostaria de ser o escolhido, prometendo não ficar em seu caminho, e servi-la fielmente, da forma que ela desejasse, em troca do conforto de viver no palácio. Tudo leva a crer que Ean veio da camada pobre de Illéa, e estava mais interessado na boa vida do que no coração da Princesa. A proposta indecente é: escolha-me, e será livre para viver sua vida como desejar. Tarifa do corno manso inclusa.

As opções de Eadlyn até que são muito boas. Aliás, boas demais para quem não está interessada.

Sem falar num personagem que nem deveria estar lá, mas que pouco a pouco foi ganhando seu espaço no coração da Princesa... e no meu também: Erik, o intérprete de Henri, e minha principal aposta desde o início para fugir do clichê do amigo de infância.

Mas, como já dei a entender, nem tudo são flores nessa Seleção. Eadlyn foi descobrindo aos poucos que alguns candidatos não eram exatamente cavalheiros; alguns se enfureciam por nada; outros não foram exatamente leais – e, neste caso específico, acho que ele fez tempestade em copo d’água –; e que sua própria postura não está agradando ninguém. Ela quis ser a megera que faria os rapazes fugirem como o diabo da cruz, mas achou ruim quando se viu retratada dessa forma pela imprensa.

Os únicos momentos em que ela se permitiu se divertir com a Seleção ocorreram já no final do livro, mas terminaram num clima tenso, que me deixou com poucas expectativas sobre o destino da Princesa, mas ansiosa para saber sobre o destino de outros personagens.

Não dá para realmente não gostar de um livro da Kiera Cass. Mesmo quando alguns personagens não ajudam, ela é especialista em prender a atenção do leitor, de uma forma ou de outra. Então, só o que posso dizer é que estou ansiosa para saber como essa história termina: se Eadlyn conseguirá subir no conceito do povo – e no meu –, se ela aprenderá com os próprios erros, se deixará de lado a armadura da dama de ferro, e se abrirá seu coração para novas experiências. E principalmente, quero saber qual será o destino dos meus queridos América e Maxon, e já aviso que não aceito para eles nada menos que um felizes para sempre.

 

P.S.: “Eu sou Eadlyn Schreave. Nenhuma pessoa é tão poderosa quanto eu”. Repita esse mantra até se convencer. Ou até eu me irritar!

P.S.2: Garota Mau Humorada + Amigo de Infância Em Quem Ela Nunca Reparou: o senhor de todos os clichês! Por gentileza, me diga que eu não esperei tanto para ler um romance tão vulgar. (Não me venha com chorumelas!)

P.S.3: Sério que ninguém desconfiou que tinha armação demais naquele beijo? O povo se odeia por dezoito anos; basta cinco minutos de namoro forçado e todo mundo acredita que há um quê de romance no ar. Nem nos contos de fadas da Disney a coisa avançava tão rápido...

P.S.4: Por falar em garotas irritantes: Josie, se manca! Você não é da família real, e só mora no palácio porque a sua mãe é BFF da Rainha! Não força a barra!

P.S.5: Mantê-la desinformada das necessidades do povo não é uma maneira eficiente de se preparar uma rainha.

P.S.6: Taí uma forma interessante de conhecer a língua finlandesa. Será que também funciona com o grego?

P.S.7: Falando em língua, cuidado com a sua, moça! As paredes do palácio têm ouvidos. E os convidados também. E uma boca gigantesca para repetir tudinho para a imprensa.

P.S.8: Cara cegonha, faça o favor de entregar logo um bebê para a criada mais amada de Illéa, se não quiser se tornar o prato principal da ceia de Natal. Estou falando sério!

P.S.9: Futuras Rainhas também sentem inveja... de outras futuras Rainhas. Será que ela nunca pensou que o povo gostaria mais dela se deixasse a carranca em casa de vez em quando?

P.S.10: Se estivessem no Egito Antigo, aposto que ela teria proposto que o próprio irmão se casasse com ela, só para evitar que tivesse outra guria mandando nele, além dela. Essa garota precisa seriamente de terapia...

 

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